Demissão de ministro do GSI muda clima e governo deve passar a apoiar a CPMI do 8 de janeiro

Essa talvez seja a primeira vez que arrisco um comentário poucas horas após o episódio. Ainda tem muita coisa acontecendo nos bastidores, que vai demorar até vazar para a imprensa, assim como demorou mais de 3 meses para vazarem as imagens internas do Palácio do Planalto que derrubaram ontem o ministro do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), Gonçalves Dias. Por isso vamos em partes.

Primeiro, pra entender melhor, é preciso saber quem é Marco Edson Gonçalves Dias, o G. Dias? 

Começo por uma ironia. Justamente porque é muito irônico que a primeira queda de um ministro do terceiro governo Lula seja justamente a de um dos raros fardados próximos do presidente. G. Dias é um general do Exército muito próximo do atual presidente há duas décadas. Atuou no comando da segurança pessoal de Lula nos seus dois primeiros mandatos, entre 2003 e 2009. Na época, ficou conhecido como “sombra” do presidente, por estar ao lado de Lula em todos os deslocamentos, de compromissos oficiais a programas mais amenos, como pescarias.

Na campanha do ano passado, G. Dias voltou a dar apoio à equipe de segurança do então candidato Lula. Durante a transição, o general foi indicado para integrar a equipe de inteligência estratégica. Por ser militar, ele era, também, um dos conselheiros e interlocutores de Lula junto às Forças Armadas.

Segundo. E o que é o GSI?

O Gabinete de Segurança Institucional (GSI) tem como principal atividade auxiliar diretamente o presidente da República no desempenho de suas atribuições, especialmente em questões militares e de segurança. Historicamente ele é composto por militares e tem status de ministério. Com o vazamento de imagens que mostram claramente que o GSI não cumpriu com suas obrigações no dia 8 de janeiro, cresce a possibilidade da pasta, que já havia sido esvaziada no início do ano, ser reestruturada e até perder a condição de ministério. A ideia defendida por integrantes do governo é retirar a maior quantidade possível de militares atualmente lotada no GSI e transformar em uma secretaria subordinada à Casa Civil, assim como já aconteceu com a Agência Brasileira de Inteligência (Abin).

Terceiro. Como esse episódio repercutiu entre os militares?

A avaliação de militares de alta patente ouvidos por alguns veículos de comunicação é a de que será positivo para as investigações e para o próprio general seu afastamento do cargo até a conclusão do inquérito sobre os atos golpistas. A leitura é que, ao final das apurações, G. Dias, poderá até voltar a esse ou a outro posto no governo Lula. Os militares, responsáveis pelo GSI, dizem que há recortes de cenas sobre o que houve nas invasões e é importante que os membros das Forças Armadas deem sua versão dos fatos.

Por outro lado, também num entendimento dos fardados, a ausência do ex-ministro na audiência do Congresso para falar sobre o 8 de janeiro, foi ruim. Além disso, os militares afirmam, que a decisão de demissão não tem impacto sobre as Forças Armadas e que cabe ao presidente Lula cuidar desse tema.

E, por fim… O que muda tudo isso na investigação dos atos de 8 de janeiro?

Toda essa dinâmica agora vai virar uma grande jogada política em Brasília. O governo que, até agora fazia de tudo para evitar a CPI Mista do 8 de janeiro, para que isso não gerasse desgaste político e perda de tempo para pautas importantes, deve mudar de posição. É grande a possibilidade da base governista passar a apoiar a implantação da CPMI dos atos golpistas do dia 8 de janeiro. A própria presidente do PT, Gleisi Hoffmann, disse ontem que o PT deve se posicionar favorável à CPI.

Mas por que essa mudança de estratégia? Uma coisa que não resta dúvida é que, quando ocorreram os atos do 8 de janeiro, muitos dos agentes do GSI que estavam de serviço ainda eram homens nomeados pelo general Augusto Heleno, ministro que comandava o GSI no governo Bolsonaro. Claro que iriam fazer corpo mole aos vândalos na invasão aos prédios públicos da Praça dos Três Poderes. Mas, isso, pra quem vê as imagens, não significa nada. Por isso é preciso esclarecer também politicamente os fatos, mesmo que haja uma investigação da Polícia Federal em andamento sobre o caso. 

A controvérsia em torno da CPMI sobre o assunto é um exemplo da regra política fundamental, de que tudo sempre tem dois lados e, às vezes, um lado ganha força à medida que o outro perde. Por isso, para o governo, a melhor coisa agora é apoiar a CPI.

*Jadir Zimmermann é jornalista, analista político e diretor de conteúdo do Preto no Branco

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