Meu amigo Jô

Jô Soares: 16/01/1938 a 05/08/2022

Não. Eu nunca estive com o Jô Soares. Tenho amigos que estiveram e os invejo. Mas eu o considero meu amigo, pois admirava muito o seu talento, que era tão amplo quanto a sua circunferência. E nesse ponto tínhamos muito em comum.

Aliás, a brincadeira e a ironia em torno do seu tipo físico se misturavam ao seu senso de humor sofisticado, inteligente e irresistível. 

Quando eu era criança e adolescente já gostava dos seus programas. “Viva o Gordo” e depois “Veja o Gordo” foram programas de humor que divertiam gente de todas as classes e grupos sociais. E, cá entre nós, Jô Soares, assim como Chico Anysio, teve um papel muito relevante na crítica de costumes e na crítica política, que caminhavam juntas, muitas vezes driblando restrições, estabelecendo um padrão de humor a um só tempo popular e refinado, que talvez não tenha encontrado herdeiros.

Depois, quando partiu para o talk show, segmento em que foi pioneiro no Brasil, Jô Soares mais uma vez se superou, surpreendeu muita gente e ganhou ainda mais fãs. Eu, particularmente, sou um.

Apesar do horário um tanto quanto impróprio para quem é trabalhador e precisava acordar cedo, o “Jô Soares Onze e Meia”, entre os anos de 1988 e 1999 atraiu um grande público à audiência do SBT. Tanto é que levou a Globo a atrair o apresentador novamente para a sua programação, onde seguiu na mesma linha com o “Programa do Jô”, entre 2000 e 2016, e num horário ainda mais tardio.

Mas, independente do horário, as suas entrevistas marcaram época, reunindo um vasto mosaico de interesses e personagens. E, neste modelo de programa, que Jô importou da TV americana, ficou ainda mais evidente a sua inteligência, irreverência e as grandes sacadas de humor.

Morreu aos 84 anos. O Brasil não perdeu um comediante. Perdeu um intelectual do humor. Um gordo que viveu uma vida plena e que contribuiu de sobremaneira para o entretenimento, o diálogo e a cultura brasileira. 

Sem Jô, sem Chico Anysio, sem Millôr… que graça teremos daqui para frente? Por isso, vamos sentir muito a sua falta, Jô. Beijo do gordo!

* Jadir Zimmermann é jornalista, diretor de conteúdo do Preto no Branco

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