Um ano já se passou. Para quem não está na minha pele provavelmente se admire: “Mas, já?!”
Sim. Há um ano, o mês de junho praticamente não existiu para mim por conta da covid-19. O período entre os dias 2 e 29 passou num piscar de olhos, enfiado numa UTI e com delírios terríveis, que jamais esquecerei. Mas, tenho a certeza que para minha família e amigos mais próximos, foi um período longo e angustiante. Pra mim, sinceramente, o pior veio depois: a recuperação lenta e dolorosa e as sequelas dessa doença maldita, contra as quais talvez terei que lidar pelo resto da vida adicional que o Criador me proporcionou.
Virando a página, não quero me ater aos aspectos ruins, mas compartilhar dos muitos ensinamentos que essa experiência tem me proporcionado e que, diferente de lamúrias, talvez tenham alguma utilidade para alguém. Vou enumerá-los em 10 tópicos, para ficar mais didático.
1. A vida é um sopro. Nada dura para sempre. Um dia você pode estar fazendo os melhores planos do mundo e no outro a sombra da morte te rodeia, sem pedir licença. Vale muito a velha máxima de não deixar para amanhã aquilo que você pode realizar hoje.
2. Valorize o que lhe é caro. Não me refiro a bens materiais. Estes geralmente são inúteis na hora derradeira. Falo da família e dos amigos. São estes que realmente se importam e estarão ao teu lado quando a coisa ficar feia.
3. Tenha valores. O que ficará de você quando aqui não estiver mais? Por quanto tempo lembrarão de você e quais serão essas lembranças? Por isso, seja honesto, tenha coragem e seja responsável.
4. Não descuide da saúde. Dizem que a doença afeta os mais fortes, pois estes teriam melhores condições de lutar contra ela. Isso não passa de uma frase bonita e motivadora, mas tenha a certeza de que o seu cuidado com a saúde será determinante na hora da doença, não apenas para combatê-la, mas principalmente, para sequer pegá-la.
5. Tenha fé e ore. Mesmo aqueles que são ateus creem em algo superior. Por isso é verdadeiro sim que a fé restabelece o espírito na hora da dificuldade, por que ela alcança coisas que não vemos.
6. Confie na ciência e nos profissionais de saúde. É indiscutível o papel extraordinário que a ciência, a medicina e os profissionais de diversas áreas da saúde vêm exercendo para superar a pandemia. Uma missão de transcender o conhecimento científico em tempo recorde. E isso vale tanto para quem acredita mais na vacina e também para quem acredita mais na cloroquina, pois também esta é fruto da ciência. Graças à ciência, a tragédia da covid não é maior.
7. Construa uma casa com portas largas. Lembre-se de que algum dia você irá envelhecer ou poderá estar acamado ou ainda, numa cadeira de rodas e elas e nem as macas passam em portas estreitas ou casas com muitos cantos.
8. Não fique se lamentando. Às vezes a vida sepulta mais do que a própria morte. Por maior que seja a dificuldade, lembre que sempre haverá alguém em situação pior do que a sua. Reaprenda a viver da forma que a própria vida lhe permite e extraia disso o seu melhor, afinal justamente o melhor da vida ainda pode estar por vir.
9. Não se frustre à toa. Geralmente as pessoas se decepcionam consigo mesmas porque julgam o passado pior do que ele realmente foi, pensam no presente pior do que ele de fato é e ainda almejam um futuro muito melhor do que ele pode ser.
10. Faça da tragédia o seu novo ponto de partida. Toda vez que nos vitimizamos, fazemos sofrer também quem está ao nosso redor. A vida é uma travessia perigosa e sempre terá percalços. Não faça da tragédia um ponto de chegada. Faça dos episódios ruins da sua vida um novo ponto de partida. Gosto das músicas do saudoso Raul Seixas e uma delas há muitos anos já dizia: “Não diga que a vitória está perdida. Tenha fé em Deus, tenha fé na vida. Tente outra vez!”
Poderia me aprofundar mais em todos estes tópicos, mas acho desnecessário. Quem quiser, conseguirá interpretá-los à sua maneira e, quiçá, também aproveitar alguma coisa.
Para concluir, quero expor sobre um fato que marcou minha vida para sempre. Não, não foi a covid. Foi quando eu nasci. Todo o resto, inclusive essa doença, foi uma mera sequência de acontecimentos que já faz parte do passado.
Agora eu vivo o presente, que ainda está sendo feito, talvez de uma forma diferente de antes, mas continua sendo construído. Nada vai mudar o meu passado, os meus erros e nem meus acertos. Por isso não adianta ficar preso ao que passou. É vida que segue.
* Jadir Zimmermann é jornalista e diretor de conteúdo do Preto no Branco
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