A safra paranaense de café em 1906 foi espetacular, acima de todos os prognósticos, mas o fantasma da superprodução ameaçava o desenvolvimento do Paraná nessa primeira década do século XX.
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O Brasil exportava, em média, de 9 a 10 milhões de sacas de café por ano. Em 1906, estimada inicialmente em 16 milhões de sacas, a safra da rubiácea rompeu a marca de 20 milhões, que se somavam a um estoque pré-existente de 9 milhões de sacas.
Os preços caem e a situação econômica, já difícil, vai se agravar. Os presidentes (governadores) de São Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais se reúnem em fevereiro de 1906 em Taubaté e decidem intervir no mercado cafeeiro para contornar o desastre.
Enquanto isso, no interior paranaense, o trabalho de integração estadual prosseguia, alcançando avanços importantes. Após as exaustivas tarefas conduzidas pelo capitão Félix Fleury de Souza Amorim na mata fechada, mais adversa que um exército inimigo, inaugura-se o terminal da linha telegráfica na Colônia Militar do Iguaçu, nesse mesmo ano de 1906.
Sertanejos pelados
Mas a crise cobra seu preço. Tão logo as obras da Estrada Estratégica alcançaram Catanduvas, a Comissão de Estradas Estratégicas foi dissolvida, ficando a construção paralisada por tempo indeterminado.
A estrada até Catanduvas e os fios telegráficos com os trabalhos encerrados na foz do Rio Iguaçu já constituíam uma estrutura bastante razoável para estimular a colonização. O problema era como fazê-la sem imigrantes para assentar.
Ao mesmo tempo, nasciam e cresciam os filhos dos sertanejos, que seriam chamados pejorativamente de “pelados” ou “jagunços”.
Jagunço era o nome que se dava a uma arma tosca, similar ao chuço – uma vara com ponta de flecha ou haste de metal. Por metonímia, a arma veio a designar o lanceiro.
Pelados, os sem-nada, quando tomados pelo desespero iriam confrontar os “peludos”: os republicanos com suas barbas bem cuidadas e fardas reluzentes.
Longe de ser uma comunidade
Antes de ser pelados ou jagunços, eles eram brasileiros pobres, sem dinheiro para comprar terras nem poder político para negociar concessões de posse com as oligarquias.
Ocupavam o remoto interior paranaense, especialmente a rota do antigo tropeirismo, esvaziada pela emergência das ferrovias. Ali, sem documentação, mantinham suas roças de subsistência, à margem do controle oficial.
Os sertanejos, no sentido Norte−Sul, preferem se instalar junto às estações ferroviárias. Na rota Leste−Oeste, preferem as aguadas lindeiras à Estrada Estratégica. Espalham-se pelo território contestado e se concentram às margens do Rio Paraná, servindo como peões ou se chocando com os interesses estrangeiros que exploram o mate e a madeira.
Não era ainda uma comunidade. População esparsa e fragmentada, composta por maioria de cidadãos não brasileiros, desorganizada, mesmo sendo uma população em torno de duas mil pessoas em 1906, a vila da Colônia Militar do Iguaçu ainda não tinha a menor ideia de como utilizar as Cataratas em benefício de sua economia.
O embrião de Foz do Iguaçu
A colônia militar se orgulhava de suas indústrias de açúcar e aguardente, mas o cerne da economia regional, excluindo o descontrolado contrabando da madeira, continuava a erva-mate, como atestou Silveira Neto, responsável pela instalação da Mesa de Rendas na futura Foz do Iguaçu.
A vila já possuía quatro estabelecimentos comerciais, as repartições militares e a agência de rendas, que encarnava a presença oficial do Estado do Paraná na fronteira.
Em novembro de 1906, a implantação do Distrito Policial de Iguaçu acrescentaria à Mesa de Rendas o poder local de polícia, ampliando a estrutura de serviços públicos.
A população de brasileiros aumentava em Vila Iguaçu, mas o controle estrangeiro ainda era total, parecendo aumentar mesmo com o monitoramento das autoridades brasileiras.
Tal situação gerava desconfianças no Rio de Janeiro e em Curitiba quanto à eficácia da fiscalização do Estado e à utilidade da Colônia Militar do Iguaçu para afirmar a soberania nacional na fronteira.
Estrangeiros tramam e organizam
O poder estrangeiro sobre o interior paranaense, aliás, iria aumentar em breve. Em 6 de agosto de 1906 formara-se em Buenos Aires a Companhia de Maderas Del Alto Paraná, constituída por capital inglês.
Uma subsidiária da matriz Alto Parana Development Company Ltda, sediada em Londres, essa empresa vinha para formar um vasto latifúndio denominado Fazenda Britânia, origem de Toledo e Marechal Cândido Rondon.
Com a criação do Distrito Policial, em 12 de novembro de 1906, a Vila Iguaçu também se tornava distrito administrativo de Guarapuava. Nesse mesmo dia era registrada em Portland (Maine, EUA) uma empresa estadunidense que a partir de agora vai intensificar o domínio estrangeiro sobre amplas áreas do Brasil, inclusive o Paraná.
A Brazil Railway Company surge com a garantia de que terá imensas facilidades e vantagens para operar nas terras paranaenses
Pena assume, Machado morre
Enquanto esses acontecimentos se sucedem, o Brasil novamente em crise vai a uma nova eleição presidencial. Com cerca de 98% dos votos nas eleições d 10 de março o mineiro Afonso Pena se elege para substituir Rodrigues Alves, mas só vai assumir em novembro.
No início de 1907, com o governador Vicente Machado já gravemente enfermo, João Cândido Ferreira assume como interino e decide assinar um ousado decreto.
A medida cria a Comissão de Colonização do Paraná, para assentamentos com “imigrantes estrangeiros, para o povoamento do território e progressivo e eficaz incremento de todos os ramos de atividade e de trabalho”.
Ferreira supera com essa iniciativa o desânimo de Vicente Machado, deprimido com os cortes dos subsídios federais à atração de colonos.
Ao decidir bancar a atração de imigrantes, Ferreira ganha a simpatia do novo presidente da República, Afonso Pena. Em 3 de março de 1907 ele assume em definitivo o governo do Paraná com a morte de seu maior líder, Vicente Machado, prematuramente, aos 46 anos
Colonizar sem mais retrocessos
Já em desenvolvimento, o novo programa estadual de colonização avançava em abril de 1907 com a entrega de concessão à empresa Iznardi, Alves & Cia para construir uma ferrovia ligando Guarapuava ao Rio Paraná.
É um projeto ambicioso e vem a calhar para as necessidades do Paraná de então. Essa empresa ofereceu efetivamente uma razoável contribuição ao desenvolvimento do Oeste paranaense, com o projeto colonizador da chamada Santa Helena Velha, mas a ferrovia jamais saiu do papel.
Nessa época, a União também decidiu estabelecer seu regulamento para a entrada de imigrantes no País. Em meio a uma série de exigências, o imigrante era obrigado a fornecer, além de dados como idade e profissão, uma relação de parentes e até prova de “moralidade”, assegurada por documentos apresentados ao chegar.
Combinando a legislação federal com a regional, em junho de 1907 o Paraná recebia com o decreto estadual 218 o regulamento para o Serviço de Colonização no Estado.
Segundo essas normas, a colonização com imigrantes no Paraná poderia ser empreendida pelo Estado, pela União ou por particulares que possuíssem imóveis capazes de comportar, no mínimo, cinquenta lotes de 20 hectares cada um. Ou seja, propriedades de pelo menos mil hectares.
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