Criado com a República, em 1889, o Estado do Paraná tinha a pretensão de resolver os problemas que a Província do Paraná (1853–1889) não conseguiu. O principal deles era a ocupação dos territórios esvaziados de contingentes indígenas.
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No início da década de 1890 as apostas nesse sentido estavam na Colônia Militar do Iguaçu. Sob controle federal, a CMI permitiria ao Paraná cuidar da integração entre as regiões Norte, sob influência paulista, e Sudoeste, entregue aos coronéis curitibanos.
Provavelmente o maior importante homem público da história paranaense, o engenheiro Cândido de Abreu (1856–1918) foi enviado à região para avaliar os rumos da Colônia Militar e encontrou muitos problemas.
Seu relatório, porém, foi brando: “É de justiça consignar-se que o que ali existe de bom e de bem feito deve-se às administrações desse período, especialmente à do saudoso capitão Edmundo de Barros e seus auxiliares”, escreveu Abreu em 1894.
“Esse período caracterizou-se no empenho em dar à Colônia uma feição de liberdade e asilo; todos trabalhavam por sua prosperidade”.
O legado de Barros
Na verdade, no extremo-Oeste do Paraná a economia que prosperava era o contrabando, causando sérias dores de cabeça ao comando da Colônia Militar.
As maravilhas do lugar ainda estavam longe de sugerir seu aproveitamento econômico: o turismo na fronteira não era viável por absoluta falta de estrutura.
Embora se saiba que a influência do inventor Alberto Santos-Dumont (1873−1932) foi decisiva para a criação do Parque Estadual (depois, Nacional) do Iguaçu, em 1916, não foi ele quem o idealizou.
A origem do Parque Nacional do Iguaçu está no trabalho do militar e escritor goiano Edmundo Xavier de Barros (1861–1905), um dos formadores da cidade de Foz do Iguaçu, já mencionado elogiosamente em 1894 pelo engenheiro Cândido de Abreu.
Coube a Barros, em 1897, enquanto Santos-Dumont fazia seu primeiro voo de balão em Paris, iniciando sua histórica trajetória aeronáutica, a iniciativa de levantar a planta dos Saltos das Cataratas em detalhes, projetando um grande parque a ser construído na margem brasileira, diante das Cataratas.
Santos-Dumont, no século seguinte, será o responsável por agregar ao projeto a força de sua celebridade e levá-lo a se concretizar.
Contrabando à solta
O retrato otimista de Abreu em 1894, porém, ignorava a agricultura pouco expressiva, muito aquém de seu potencial. As culturas de subsistência normalmente mascaravam a atividade principal: o contrabando.
Nesse ponto, a Colônia Militar quase não saía do lugar: não convertia em ganhos econômicos o estímulo, ainda que mínimo, às culturas de café, fumo, mandioca, cana-de-açúcar, arroz, trigo, cevada, feijão, milho, batata e outros produtos que o Paraná pretendia para alimentar seu povo.
Para o governo do Paraná, nessa época, a prioridade foi reforçar as vias de transporte e as comunicações. O combate ao contrabando deveria ser feito pelas autoridades militares. Afinal, a colônia era militar e pertencia à União.
Foi assim, priorizando a infraestrutura, que em outubro de 1894 o Estado já punha em operação os serviços das linhas telefônicas de Foz do Iguaçu, sob o comando do alferes João Gualberto Gomes de Sá Filho (1874−1912), um jovem pernambucano de 20 anos.
João Gualberto foi em seguida também designado para cooperar com a Comissão Estratégica, encarregada de construir a estrada Guarapuava−Foz do Iguaçu.
Brasil vence Argentina
Terceiro presidente da República e primeiro civil no cargo, Prudente de Morais assume em 15 de novembro de 1894 um país mergulhado na crise, com muitas tensões políticas e derramamento de sangue.
Para a região, a gestão de Prudente foi positivo na medida em que foi sob seu governo que no início de 1895 chegou ao fim o contencioso entre Brasil e Argentina sobre a chamada Região das Missões.
Laudo emitido pelo presidente Grover Cleveland em fevereiro de 1895 acolheu a tese do barão do Rio Branco quanto à posse efetiva da área, assegurando ao Brasil a região Sudoeste do Paraná, barrando assim a pretensão platina.
O Brasil não perderia mais essa região, mas o Paraná perderia parte dela para Santa Catarina no século seguinte.
Com Andrade, paz e progresso
No fim do século XIX o Paraná foi governado por José Pereira dos Santos Andrade (1842–1900). Em tempos geralmente de brigas e rancores, o governo do conservador Santos Andrade foi de paz e progresso.
Em feito raro, politicamente perfeito e estrategicamente vencedor, começou chamando para a articulação política do governo seu maior adversário: o coronel Luiz França, em quem viu disposição e concordância em unir o Paraná para enfrentar seus grandes desafios.
Na grave crise decorrente da Revolução Federalista, amargando a invasão de aguerridas tropas gaúchas, Andrade abriu mão do salário de governador, que ficaria para ser pago quando o Paraná voltasse a prosperar.
Além de nunca mais ser pago, no final do governo ele foi surpreendido pela informação de que tropas catarinenses foram enviadas para ocupar o Sul e Sudoeste paranaense.
Forte coluna da polícia barriga-verde, embarcada em lanchas e vapores, pretendeu controlar a navegação dos rios Negro e Iguaçu, de jurisdição paranaense.
Santos Andrade reagiu, atacou, venceu e desarmou os soldados do Estado vizinho, arrecadando todas as armas e munições que portavam. Saiu do governo em fevereiro de 1900 e morreu logo depois.
CM tenta mostrar eficiência
O final do século XIX foi um período marcante para a história do Sul brasileiro, uma vez que em 1896 começou a construção da Estrada de Ferro São Paulo−Rio Grande, elemento decisivo na formação do Paraná.
É a ferrovia que fará a integração entre o Norte e o Sul do Estado. Cada estação ou posto avançado de trabalho com boas aguadas vai gerar um núcleo de colonização.
Um Paraná mais íntegro se esboça no avanço dos trilhos e os conservadores prevaleciam. A supremacia dos maragatos no Litoral havia sido quebrada na espinha com a derrota da Revolução Federalista.
A Oeste, a estruturação da Colônia Militar do Iguaçu já dava ao governo estadual a impressão de ter regularizado as explorações ervateiras nas margens do Rio Paraná.
Os números oficiais revelados em 1896 pelo comandante da Colônia Militar, tenente-coronel Joaquim de Sales Torres Homem (1851−1920), apontam que Foz do Iguaçu registrou nesse período um volume de exportação de erva-mate ao redor de 880 toneladas.
Torres Homem reconhecia, entretanto, que pelo menos um terço da produção total do mate seguia para a Argentina via contrabando, passando ao largo de qualquer fiscalização oficial.
Primeiro combate ao contrabando
O governo do Paraná resolve endurecer a fiscalização, em fins de 1897, procurando reforçar o erário estadual com o combate à sonegação.
Vai empreender uma repressão mais forte ao contrabando na fronteira, onde a omissão dos militares permite a sangria de riquezas paranaenses para a Argentina, via Rio Paraná.
As agências fiscais já existentes tiveram ações intensificadas e uma comissão do Estado foi enviada à Colônia Militar para criar uma agência fiscal de fronteira.
Ao criar a Administração dos Correios do Estado, em janeiro de 1898, o governo do Paraná concentra energias em uma de suas prioridades: a comunicação entre a capital, o litoral, o Sul ameaçado pelas tropas catarinenses e as regiões de desbravamento, especialmente a tríplice fronteira.
Faz parte do esforço para interiorizar a administração estadual a criação de entrepostos em postos-chaves ao longo da trilha militar que daria origem à Estrada Estratégica, hoje BR-277.
O século XIX se encerra com o Paraná amargando prejuízos com a cultura do café. A agricultura ainda estava longe de ser o negócio do Paraná. A sombra da indústria ervateira pairava permanentemente sobre o Estado e a primeira tentativa de exportar o café regional foi desastrosa.
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