Em 1883 terminava o governo de Carlos de Carvalho à frente da Província do Paraná, abalado pela Revolta do Vintém (também chamada “Revolta dos Comerciantes”), protesto popular ocorrido no final de março daquele ano em Curitiba.
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A revolta do comércio era contra a contra a cobrança de taxa extra sobre as rendas, conhecido na época por “Imposto do Vintém”.
Com Carlos de Carvalho praticamente expulso do Paraná, começa o mandato-tampão do comendador Antônio Alves de Araújo (1830−1887), presidente da Assembleia Legislativa.
Paranaense de Morretes, ligado como tantos outros líderes regionais ao chefe supremo Jesuíno Marcondes, o deputado Araújo presidiu a Assembleia Legislativa por oito anos, período em que ocupou o governo do Paraná para dar posse ao fluminense Luiz Alves Leite de Oliveira Belo II (1849−1915).
O declínio de Pedro II
Enquanto fervilhava o caldeirão de intrigas no governo imperial, o agravamento da situação abalava o prestígio do imperador Pedro II.
Enfraquecido e indiferente à política, o monarca era considerado por muitos como incapaz para seguir reinando ao se aproximar dos 60 anos. Doentio e apático, sequer reagia aos preconceitos contra a governança exercida pela princesa Isabel.
No governo, Oliveira Belo, apesar de enfrentar dificuldades para impor o ensino obrigatório no Paraná, comemorou a decisão do ministro dos Transportes, Manuel Alves de Araújo (1832−1908), de apresentar à Nação um novo Plano Ferroviário Nacional, que serviria de base para o primeiro plano republicano, em 1890.
As lideranças do Paraná estavam fortes no governo imperial. O PFN projetava a extensão de trilhos entre Paranaguá e o extremo-Oeste paranaense e um ramal ao Rio Grande do Sul.
Um projeto altamente ambicioso, considerando que ainda não existiam as cidades de Foz do Iguaçu e Guaíra, menos ainda Cascavel, que surge só em 1930.
A ferrovia que nunca veio
Araújo era cunhado daquele que foi o primeiro ministro araucariano − Jesuíno Marcondes, o grande líder do Paraná nos tempos imperiais. Como também era deputado, chegando a ser presidente da Câmara nacional até o fim da monarquia, Araújo conseguiu articular a aprovação de seu Plano Ferroviário.
No velho vício da descontinuidade administrativa decorrente da alternância de grupos antagônicos no poder, o projeto seria depois refeito por seus sucessores, sem mais a ousadia de duas ferrovias cortando o atual Oeste paranaense quase uma década antes do início da vila inicial de Foz do Iguaçu.
O governo de Oliveira Belo termina em 5 de junho de 1884, quando assume o paulista Brasílio Augusto Machado de Oliveira (1848−1919). Brasílio, fenômeno raro, seria um dos governantes provinciais paranaenses de maior permanência no poder.
Com Queiroz, a vanguarda
Nessa época, um descendente de bandeirantes paulistas, Firmo Mendes de Queiroz, começará a plantar cidades no interior do Paraná acompanhando o desbravamento telegráfico.
Queiroz possuía propriedades nas áreas por onde passavam a estrada e a linha telegráfica. Ele doou terras para que nelas fosse construída uma povoação de vanguarda.
O lugar passou a ser conhecido como São João Batista de Capanema − homenagem ao Barão de Capanema, Guilherme Schüch (1824−1908), diretor-geral do Telégrafo Nacional, que instalou a primeira linha telegráfica no Brasil.
Estender linhas telegráficas ao interior do Paraná, abrir estradas, ativar a navegação do Rio Iguaçu e ocupar os campos de Palmas até os atuais limites de Santa Catarina com o Rio Grande do Sul foram cartadas certeiras da administração pública paranaense nessa época.
A Questão das Missões
Deve-se a elas a decisão de um árbitro, o presidente norte-americano Stephen Grover Cleveland (1837–1908), de favorecer o Brasil em princípios de 1895 no conflito internacional com a Argentina conhecido como Questão das Missões.
Com isso, a região delimitada pelo Sudoeste do Paraná e Oeste de Santa Catarina passava a pertencer definitivamente ao território brasileiro. Mas o Paraná, que criou as condições estruturais para essa conquista, depois perderia metade dessa área para Santa Catarina.
Em 1885, uma séria crise se aproximava. No Rio de Janeiro, o Império estava em polvorosa e havia forte reação às manobras dos líderes liberais. Em agosto desse ano acontece a virada: o governo recai nas mãos dos conservadores, com a posse de João Maurício Wanderley, o Barão de Cotegipe.
Crise do mate e corrida ao pinheiro
A volta dos conservadores ao poder coincide com a percepção do declínio da erva-mate, cuja exportação desaba a níveis irrisórios, criando uma onda de desemprego que varre o Paraná.
O monopólio argentino da erva-mate, assim, viria a ser uma vingança platina contra a perda de seu pretenso Território de Misiones.
O estrangulamento da economia paranaense, no entanto, abriu caminho a uma tábua de salvação feita de pinho. As matas passam a ser sacudidas pela derrubada maciça dos pinheirais para exportação.
Depois do liberal Brasílio Augusto, que encerrou seu governo em agosto de 1885 com o saldo de concluir a Estrada de Ferro Paranaguá-Curitiba, em setembro assumiu o visconde Alfredo D’Escragnolle Taunay (1843–1899).
Ficando só por alguns meses à frente da administração paranaense, o conservador Taunay deixou boa impressão, marcada pela inauguração do Passeio Público, em Curitiba.
Ele gostou de encontrar europeus no Paraná, mas também soube que muitos imigrantes eslavos sofreram prejuízos e trapaças nas mãos de especuladores.
Taunay enfrentou reações
Um entusiasta da atração de mão-de-obra europeia, Taunay decidiu retomar a campanha de atração dos imigrantes, vendo neles o impulso que faltava ao desenvolvimento do País.
“Apontava o Império e o Paraná como a terra da promissão. Algumas lideranças políticas da Província, com posições xenófobas, culpavam-no de estrangeirismo. Acusavam-no de valorizar em excesso os imigrantes em detrimento do elemento caboclo nacional” (Ruy Christovam Wachowicz).
Essa oposição não impediu Taunay de organizar sociedades de imigração nos municípios do interior para estimular as correntes imigratórias e colonizadoras para a Província.
Se o liberal Brasílio Augusto foi fustigado pelos conservadores, Taunay teve o dissabor de ver em seu governo a criação, em Curitiba, do Clube Republicano.
Amigo do imperador, Taunay saiu do governo paranaense nomeado por Pedro II para uma vaga no Senado, representando Santa Catarina. Ambos iriam sucumbir ao golpe militar que iniciou a República no Brasil, em 1889.
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