O curitibano João José Pedrosa (1844–1882) governou o Paraná por menos de um ano, entre agosto de 1880 e maio de 1881. Um dos primeiros governantes do Paraná a nascer em Curitiba, Pedrosa foi jornalista e também governou o Mato Grosso, de 1879 a 1881, antes, portanto, de retornar ao Paraná para assumir seu governo.
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No Mato Grosso, Pedrosa se deparou com queixas de coronéis reclamando de ataques indígenas. Para protegê-los, criou uma força paramilitar, a milícia chamada “Guarda Rural” ou “Ronda Volante”, composta por fazendeiros e sertanistas, mas paga pela administração provincial. Era a versão brasileira dos Texas Rangers estadunidenses.
Assumindo em seguida o governo do Paraná, Pedrosa quis repetir o sucesso da iniciativa: procurou se inteirar da situação dos conflitos entre brancos e índios e conduziu os primeiros à vitória. Os índios perderam as poucas terras que ainda cultivavam e a partir daí o caminho para a conquista do interior do Paraná estaria definitivamente aberto.
Abalo na colonização
A iniciativa de colonizar o interior, porém, deparou-se com um sério obstáculo. O Ministério da Agricultura suspendeu em abril de 1881 os subsídios concedidos a imigrantes, causando uma crise na frente colonizadora.
Colonos alemães, italianos e eslavos sofreram assim um forte golpe, que levou muitos a se retirar do Brasil. Os colonos que decidiam ficar, sem dinheiro para pagar os lotes adquiridos, são obrigados pelas circunstâncias a abrir estradas para o governo imperial.
Os índios, por sua vez, serviam de guias e mão-de-obra para os serviços mais pesados.
A descontinuidade administrativa, as crises econômicas e o planejamento frouxo seguiam sua trajetória de prejuízos ao desenvolvimento econômico e social do Paraná.
É nesse quadro que em maio de 1881 termina o governo provincial de João José Pedrosa, que dá posse a mais um baiano escalado para comandar o Paraná: Sancho de Barros Pimentel (1849–1924).
Começa a vila de Foz
Enquanto Pimentel começava a travar contato com as coisas do Paraná, Pedro Martins da Silva e Manuel Gonzalez, considerados espanhóis, vinham da Argentina para se instalar às margens do Rio Paraná. Era a virtual fundação da futura Foz do Iguaçu.
Logo em dezembro de 1881 e com íntima relação ao deslocamento de argentinos para a foz do Rio Iguaçu, o governo platino criava a Gobernación de Misiones na área tomada do Paraguai na Guerra da Tríplice Aliança.
O foco central era a extração da erva-mate, mas a ampla floresta e suas cobiçadas madeiras logo iriam atrair maior atenção.
As pretensões platinas sobre uma extensa porção do território paranaense, que então alcançava até o Norte do atual Rio Grande do Sul, foram o grande foco de indignação na época.
É a partir daí que amadurece de vez a proposta de criar uma Colônia Militar na foz do Rio Iguaçu: ela serviria como destino para a construção da Estrada Estratégica, futura BR-277.
A reação brasileira
Em janeiro de 1882, o ministro das Relações Exteriores, João Maurício Wanderley, o Barão de Cotegipe, bradava no Senado:
– Não se pode consentir que o território argentino adiante-se até o centro de três províncias brasileiras, comprometendo para sempre a nossa segurança nacional.
Em consequência da firme reação de Cotegipe, em março era instalada a Colônia Militar de Chapecó, em Xanxerê, e outras ações administrativas seriam tomadas em sequência para responder à tentativa argentina de controlar a região.
Mas foi a instalação da Colônia Militar do Chopim que espicaçou as reações negativas mais fortes da diplomacia do Prata. A Argentina considerava isso quase uma declaração de guerra.
Depois de oito meses de um governo sem grandes feitos, Sancho de Barros Pimentel vai embora em janeiro de 1882, quando o líder regional Jesuíno Marcondes preparou a posse do fluminense Carlos Augusto de Carvalho (1851–1905), em 6 de março.
Balconista virou latifundiário
O colonizador gaúcho Tomás Larangeira (grafia original) fez carreira. Saindo de Bagé para ganhar a vida em Porto Alegre, onde era balconista de uma loja portuguesa, foi um dos poucos brasileiros que realmente venceu a Guerra do Paraguai (1864–1870).
Sentiu que seu futuro estaria em participar da comissão encarregada de demarcar os mal definidos limites do Brasil com seus vizinhos. Foi assim que chegou ao Mato Grosso, do qual se tornaria em breve dono de uma vastíssima extensão de terras.
Em dezembro de 1882, agraciado inicialmente pelo Império, obteve permissão para explorar as terras do extremo-Oeste do Paraná, no que seria a primeira tentativa empresarial séria de explorar a região por um projeto real de colonização.
Era uma obrage típica. Estendia seus domínios entre o atual Mato Grosso do Sul e o Oeste paranaense. Laranjeira, para adotar a grafia usual, obteve concessão para que sua empresa, a Companhia Mate Laranjeira, fizesse produzir em moldes capitalistas áreas das quais os índios foram progressivamente expulsos.
Com apoio republicano
As vantagens obtidas por Laranjeira foram atribuídas ao apoio que ele prestou ao Império na Guerra do Paraguai, mas suas influentes amizades e sociedades empresariais feitas com capitalistas brasileiros e argentinos pesaram bem mais nesse processo.
Deixando de ser o simples empregado de uma comissão imperial para ser o controlador de uma área superior a vários estados brasileiros, seu empreendimento, no entanto, iria progredir ainda mais com a República, que faria dele o primeiro explorador brasileiro de erva-mate na vanguarda Oeste:
“O Marechal Manuel Deodoro da Fonseca, Chefe do Governo Provisório da República dos Estados Unidos do Brazil, constituído pelo Exército e Armada, em nome da Nação, atendendo à conveniência não só de promover o desenvolvimento da indústria extrativa de produtos florestais de Mato Grosso, como de aumentar a renda pública, resolve conceder permissão ao cidadão Tomás Laranjeira para a exploração de erva-mate em terrenos devolutos”.
Telégrafo e estrada
A permissão original do Império para explorar as terras da região, porém, limitava-se exclusivamente à extração da erva-mate pelo período de dez anos − ou seja, até 1892 −, sendo-lhe vedado o corte de madeiras de lei.
A decisão de não cumprir essa limitação está na origem da Guaíra de hoje. Se Laranjeira havia sido um dos vencedores da Guerra do Paraguai, ele também foi um dos raros sobreviventes dos interesses imperiais na nova ordem republicana.
A empresa tinha seu centro nervoso em Campanário (MS), “sede do imenso latifúndio da Mate Laranjeira, país dentro do país do Brasil, país da escravidão e da mais terrível exploração do homem pelo homem” (Jorge Amado, O Cavaleiro da Esperança) .
Uma forte ação empresarial agora estava fincada junto ao Rio Paraná e a necessidade de estender os fios do telégrafo pelo interior motivou uma ação conjunta dos governos imperial e provincial.
Segundo o acordo, os trabalhos de instalação da linha telegráfica ficavam a cargo do Império. Por sua vez, o governo provincial iria abrir, simultaneamente, uma estrada.
Seria a precursora da atual BR-277, ainda sem levar em conta o divisor de águas, acompanhando a posteação dos fios telegráficos. Agora já seria possível considerar que a conquista do Oeste realmente começava.
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