Além de Curitiba, o litoral, Guarapuava e os setores navegáveis do Médio-Iguaçu (o Sul), a autoridade provincial paranaense era completamente ausente nas demais regiões – Norte, Oeste e Sudoeste.
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Com essa preocupação, o presidente (governador) Zacarias Vasconcelos elaborou um plano de ocupação do interior. Para isso teria que criar condições para tornar mais consistente a atração de estrangeiros à Província.
Essa meta levou a uma lei provincial, datada de 21 de março de 1854, autorizando o governo do Paraná a promover a atração de estrangeiros ao interior e fornecer apoio à formação de colônias agrícolas.
Para as autoridades imperiais e provinciais, a tarefa que se apresentava era patrocinar a ocupação dos espaços vazios, promovendo a propaganda das terras paranaenses na Europa, de modo a atrair braços para a agricultura, que, até então, era tarefa ancestralmente praticada pelos índios e na região colonizada se reservava unicamente aos escravos.
Mas os escravos haviam sido arrematados pelos cafeicultores paulistas, a bom preço, quando o tráfico escravocrata foi proibido por pressão britânica.
O Paraná, com uma população crescentemente branca e avessa ao trabalho no campo, precisava atrair gente para ocupar as terras mais generosas do mundo e fazê-las, finalmente, produzir.
Primeiras escaramuças do Contestado
Logo no início da governança provincial paranaense, em 1854, começaram a se destacar as divergências com Santa Catarina quanto à extensão territorial do Paraná. E havia ainda o problema da reivindicação argentina sobre a porção Oeste de Santa Catarina e Sudoeste do atual Paraná – região que seria conhecida como Contestado.
Por conta disso, o Exército iria fundar colônias militares, das quais um protótipo foi a Colônia Militar de Jataí, nos arredores de São Pedro de Alcântara e São Jerônimo da Serra, junto ao Rio Tibagi.
Ocupar o amplo território do Paraná e garantir a autoridade provincial sobre ele era essencial para construir uma estrutura agrícola.
Havia um surto de criminalidade na região, cuja causa era justamente a falta de interesse pela agricultura. Um juiz da Vila de Castro atribuiu as ocorrências violentas à desocupação proveniente da inexistência de empregos industriais, devido à predominância da criação de animais e aos negócios com o mate.
Era mais fácil roubar gado que tratar de lavouras, como faziam os índios. Para o senso comum, não havia o propósito de alternar a criação de gado ou a indústria ervateira com o trabalho agrícola. Caberia ao governo preencher essa lacuna com incentivos.
Rohan precursor de Rondon
Primeiro governante paranaense, o baiano Zacarias Vasconcellos deixa o Paraná no início de maio de 1855, substituído em julho desse ano pelo paulista Teófilo Vitório Ribeiro de Rezende (1815–1884).
Mais tarde, Zacarias governaria o Brasil duas vezes. Na primeira vez, por apenas uma semana (1864) e depois por dois anos (1866–1868), em tentativa de unir conservadores e liberais na mesma gestão para romper os prejuízos da polarização.
Com Zacarias fora, o Império evitou entregar o governo local a um líder nascido na região porque líder local também significa oposição local.
O próximo dirigente provincial, Henrique Beaurepaire Rohan (1812–1894), que assumiu em 27 de julho de 1855, era fluminense, filho do nobre português Jacques Antonio Marcos de Beaurepaire, o Conde de Beaurepaire.
Ainda antes de Cândido Rondon (1865–1958), Rohan foi um defensor dos povos indígenas. Pode também ser considerado um dos precursores da expansão das etnias europeias na formação demográfica do Paraná, na medida em que foi um entusiasta da atração aos imigrantes.
“É meu sentimento, senhores, que a Província do Paraná, nos seus ensaios de colonização (…), crie um estabelecimento agrícola, onde se admitam os estrangeiros e nacionais, que se quiserem sujeitar ao trabalho de parceria, mediante um contrato, pelo qual se obriguem a servir até haverem satisfeito seus empenhos” (Rohan, relatório ao parlamento provincial, março de 1856).
Vários governantes, poucos resultados
José Antônio Vaz de Carvalhaes (1823–1888) assume o governo do Paraná em setembro de 1856. Paulista de Santos, teve como grande destaque da gestão a entrega da Biblioteca Pública do Paraná, em março de 1857.
Quando se proclamou a Republica Juliana (ou Catarinense), em julho de 1857, ficou mais uma vez evidenciada a importância estratégica do Paraná.
Afirmando-se um “Estado livre independente”, aliado à “República Rio-grandense de Piratini”, a República Juliana foi um sinal de alerta para a necessidade de fortalecer o Paraná no contexto geopolítico imperial para resistir aos ataques que viriam do Sul.
Um ano de grave crise inflacionária e febre especulativa, 1857 findou, para os paranaenses, também com o término do governo Carvalhaes, em novembro, com a posse do soteropolitano Francisco Liberato de Matos (1813–1892). Mais um baiano ia dirigir o Paraná.
Índios ou argentinos?
A tentativa de ocupar produtivamente o território paranaense se abriria então em duas frentes na segunda metade do século XIX: a iniciativa privada, que dependia do interesse de empresas nacionais e estrangeiras, e a pública, ainda muito limitada.
No final de 1859 haveria uma orientação mais segura para esse processo. O decreto imperial 2.502 determinava a criação de duas colônias militares para futura instalação no território do Paraná:
“Estas colônias são destinadas à defesa da fronteira, à proteção dos habitantes dos Campos de Palma(s), Erê, Xagu e Guarapuava, contra a incursão dos índios, com o auxílio da catequese à civilização”.
Nas entrelinhas, porém, parecia claro que a iniciativa pretendia resolver pela ocupação territorial a questão de limites com a Argentina.
Não era exatamente fruto da alegada ameaça indígena, embora ainda houvesse alguns índios hostis, porque para isso havia aldeamentos como os de Palmas e Xagu. ]
Não por outro motivo Leônidas Boutin, no livro Colônias Militares na Província do Paraná, conta que o governo argentino reagiu à medida reclamando o adiamento da instalação das duas colônias até que o litígio fosse resolvido no foro internacional.
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