Joaquim Torres, o “pai” do Oeste

Carneiro Leão, o Marquês de Paraná: talvez o melhor governante do Brasil em todos os tempos

A Revolução Liberal começa em Sorocaba (SP) em 17 de maio de 1842 e em 10 de julho triunfa em Barbacena (MG). Se os liberais radicais do Sul cruzassem o Paraná, logo tomariam conta do Brasil. 

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Sob o comando seguro do Barão de Caxias, as tropas imperiais derrotaram os liberais em 20 de agosto na Batalha de Santa Luzia (MG). Eles ainda resistiram por algum tempo em São Paulo, mas o apoio que poderia vir do Sul jamais chegou.

O eixo da ofensiva conservadora nos momentos que antecederam à revolução liberal foi “dificultar a aquisição de terras […] pois a proliferação das doações de terra tem contribuído, mais que outras causas, na dificuldade que hoje se sente para obter trabalhadores livres”.

Era o que afirmavam em 8 de agosto de 1842 os lobistas conservadores Bernardo de Vasconcelos e José Cesário de Miranda Ribeiro em diagnóstico sobre a escassez de mão de obra.

Vasconcelos, um ex-liberal, virou um ardente defensor da escravidão. Miranda Ribeiro, jurista e parlamentar, chegou a governar São Paulo.

Regra cruel

A manobra de não distribuir terras definiu o princípio vencedor nos embates políticos até 1850: para garantir mão de obra aos fazendeiros nobres ligados ao governo, as terras não poderiam mais ser ocupadas pelos necessitados (índios e ex-escravos) e requerentes (imigrantes) – o acesso deveria se dar somente pela compra, sem exceção, a preços inflados.

“Ao aumentar assim o valor das terras e dificultar em consequência sua aquisição, é de se esperar que o imigrante pobre alugue seu trabalho efetivamente por algum tempo antes de ganhar meios de se fazer proprietário”, sugeriam Vasconcelos e José Cesário.  

Assim, para que o interessado em possuir terras pudesse ter recursos para a aquisição, teria que trabalhar vários anos para os grandes latifundiários beneficiados pelo Reino de Portugal e pelo Império. 

Para os índios, tarefa impossível. Para os ex-escravos, muito difícil. Essa crueldade está na raiz do atraso brasileiro.

Com Leão, Torres

Ao nomear Honório Hermeto Carneiro Leão em 20 de janeiro de 1843 para chefiar o novo gabinete ministerial do Império, Pedro II começava a definir o nome do futuro Paraná.

O mais bem-sucedido governante do Brasil, o conservador Carneiro Leão dissolveu o cerco paulista que impedia esta região de ter autonomia. Ele próprio passou à história como o Marquês de Paraná.

Ao selecionar pessoalmente os membros do Ministério, Leão se tornou de fato o primeiro primeiro-ministro da história brasileira.

É quando entra em cena o fluminense Joaquim José Rodrigues Torres, o Visconde de Itaboraí. Geralmente ignorado pela historiografia do Paraná e do Oeste, foi deputado geral e ministro da Marinha, função na qual foi a primeira autoridade a propor a formação de uma colônia militar na foz do Rio Iguaçu, em 1843. Era o primeiro esboço da futura Foz do Iguaçu.

Razões de geopolítica

Joaquim Torres, mais um liberal convertido ao conservadorismo, enquanto parlamentar fez ainda mais: apoiou a proposta da região de se desmembrar da Província de São Paulo, apresentada em projeto de lei pelo deputado baiano Carlos Carneiro de Campos.

Campos, municiado pelos líderes paranaenses, apresentou dados sobre a população, produção, renda fiscal e despesas, concluindo pela viabilidade da nova Província. 

Joaquim Torres de imediato veio em apoio, defendendo a conveniência de emancipar a Comarca, “que limita com a república do Paraguai e de Entre-Rios*”, porque atender ao reclamo dos locais iria contribuir também para “sufocar movimentos revolucionários”.

* Entre-Rios: República formada pelas atuais províncias argentinas de Entre Ríos e Corrientes, fundada em 1820 pelo general Francisco Ramírez

Meio século depois

Para o território fronteiriço despovoado, estendendo a proposta de Carneiro de Campos, Torres recomendou então “criar uma administração que se ocupe de colonizá-lo e fortificá-lo, evitando sua ocupação por colonos estrangeiros e criando para o futuro conflitos e contestações de limites”. 

Pela primeira vez alguém ligado diretamente ao governo brasileiro projetava a futura política de formação de colônias militares, que daria origem a Foz do Iguaçu. 

A ideia teve longa maturação por meio século e só se concretizou em fins de 1889, nos primeiros dias da República.

Machado consolida seu poder

Na década de 1840, a frente de ocupação do interior, localizada nos Campos de Palmas, era disputada por dois grupos empresariais-militares. 

Nos arranjos de poder que disputavam a hegemonia da colonização na época, despontaram como operadores principais de cada grupo o ex-comandante do destacamento militar de Palmas, Hermógenes Carneiro Lobo, partidário de oferecer presentes aos índios para garantir o apoio deles frente aos índios arredios, e seu sucessor, Pedro de Siqueira Côrtes, partidário de expulsar os índios pela força militar.

Manobrando com os dois, foi combinando política, ação militar e ocupação pioneira de áreas economicamente promissoras que João da Silva Machado estruturou uma grande fortuna e estendeu seu poder sobre amplas áreas do futuro Paraná. 

Para avançar na extensão de domínios, o futuro Barão de Antonina se associou no início de 1844 ao sertanista mineiro Joaquim Francisco Lopes (1805–1884), cuja equipe passou a estudar a navegação dos afluentes do Rio Paraná e avaliar a exploração econômica de suas margens.

Monarca da coxilha

Lopes e Machado, com financiamento deste, já haviam feito uma bem-sucedida exploração no Sul mato-grossense em 1829.

Antes dessas iniciativas, apesar da existência das frentes de ocupação de Guarapuava e Palmas, o interior do Paraná bem conhecido era só a região dos Campos Gerais, onde a população se dedicava à criação de animais “e é muito dada aos jogos de cartas e às corridas de cavalos” (Salvador José Correa Coelho, Passeio à minha terra).

A descrição de Coelho sobre o homem paranaense do interior, nessa época, é a mesma a ser futuramente atribuída aos nascidos no Rio Grande do Sul: 

“O indivíduo que faz o serviço no campo o faz sempre a cavalo e é conhecido como monarca da coxilha. Traz na cabeça um chapéu de copa rasa e abas um tanto largas, preso na testa por uma fita de tecido colorido. Por cima da camisa usa o poncho listrado de lã que é chamado de pala. Na cintura usa a guaiaca que serve ao mesmo tempo de bolsa e cinta”.

O sertanista paranaense, portanto, é o primeiro gaúcho.

 CLIQUE AQUI e veja episódios anteriores sobre A Grande História do Oeste, narrados pelo jornalista e escritor Alceu Sperança.

Joaquim Torres, o Visconde de Itaboraí: um esquecido “pai” do Paraná

 

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