Coronéis fazem corrida para dominar o interior

Venâncio José Lisboa: sobretudo um burocrata, o governador paulista não cuidou do Paraná

No Sul, em setembro de 1838, Bento Gonçalves divulga manifesto expondo os motivos da Revolução Farroupilha. Enquanto os conflitos do período regencial prosseguem pelo país, os líderes do futuro Paraná ficam diante de uma interrogação: aderir à República do Piratini ou estruturar a resistência aos rebeldes? 

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O esforço pela estrutura determinou a criação da primeira escola da povoação Guarapuava e mais áreas do sertão passavam a ser exploradas economicamente, em processo claramente a cargo de João da Silva Machado, o futuro Barão de Antonina.

É assim que começa, em 1838, a corrida de dois grupos de coronéis pelo domínio dos Campos de Palmas. 

Na primeira metade do século XIX, ocupar a terra ainda era a principal forma de assegurar a posse e garantir a propriedade. 

De início, sete famílias de estancieiros aparentados entre si formam uma sociedade sob o comando do fazendeiro guarapuavano José Ferreira dos Santos. 

Santos x Côrtes

O grupo de Santos firmou “contrato com o governo provincial que lhes dava direitos de, após escolhida a sua fazenda, dar posse de terras aos outros integrantes do grupo” (Lourdes Stefanello Lago, Origem e Evolução da População de Palmas [1840 – 1899]).

A corrida por Palmas não se limitaria ao grupo guarapuavano. Um segundo grupo, chefiado por Pedro de Siqueira Côrtes, apressou-se a assinar contrato ainda antes que o primeiro, em 28 de abril de 1839. 

Côrtes havia tentado participar do primeiro grupo, mas foi rejeitado por ser curitibano: era ligado à família de Mateus Martins Leme, considerado fundador de Curitiba e um de seus líderes históricos mais importantes. 

Conforme registros de José Cleto da Silva, Pedro de Siqueira Côrtes “firmou, com outros destemidos sertanistas, contrato para o povoamento dos Campos de Palmas, antiga região dos Campos dos Biturunas que, etimologicamente, significa terra alta”. 

Briga intensa

Assim, durante todo o ano de 1839 cerca de sessenta posseiros repartidos entre duas empresas concorrentes formadas por famílias importantes e militares, autorizadas pelo governo paulista mediante contrato, empregaram-se “na introdução de gado, trazido de Guarapuava e na precipitada fundação das suas fazendas, mas cada vez era mais viva a desarmonia entre todos” (Romário Martins, Bandeiras e bandeirantes em terras do Paraná).

Cada um, à sua maneira, relatou Bandeira, um dos mediadores do conflito, montava a casa e a fazenda onde lhe parecia mais conveniente. 

“Os que chegavam depois não respeitavam precedência e lançavam seus animais aonde julgavam próprio, estivesse ou não o lugar ocupado, deixando a decisão do negócio ao arbítrio das armas, derrubando casas e arrasando currais”. 

O conflito empresarial-militar intensificou o avanço das frentes de exploração econômica do interior paranaense. O resultado disso era que as discussões eram resolvidas com muita briga, “deixando a decisão do negócio ao arbítrio das armas; casas houve que foram derrubadas e currais arrasados”, ainda segundo Bandeira.

“Viva a República!”

Para resolver os conflitos, o governo paulista determinou a indicação de dois árbitros. Inicialmente, os escolhidos foram o capitão Domingos Ignácio de Araújo (1783–1851) e o alferes José Caetano de Oliveira (1794–1869), futuro Barão de Tibagi e cunhado de Araújo. Os dois conheciam perfeitamente a região, que exploraram na juventude.  

Enquanto a disputa entre dois grupos pelo controle dos Campos de Palmas continuava, o líder do litoral, Manoel Francisco Correia Júnior, denunciava em ofício enviado ao presidente provincial de São Paulo, Venâncio José Lisboa, o descaso com a região, que começava pelas instalações da força militar, em ruínas.

Em 3 de janeiro de 1839, Correia Junior informou que o quartel da Guarda Nacional em Paranaguá precisava de um “conserto indispensável”, mas seis meses depois tudo ainda estava na estaca zero.

Como a dar razão ao zeloso líder paranaense sobre a necessidade de dotar a região de uma estrutura militar para resistir à progressão das forças revolucionárias, um grupo se infiltrou pelo desguarnecido Oeste e em junho de 1839 os moradores da Freguesia de Nossa Senhora de Belém (Guarapuava) foram surpreendidos por um ataque repentino.

“O quartel da polícia foi atacado por 21 indivíduos… Os assaltantes ali surgiram com altos brados de ‘Viva a República!’” (Benjamin Cardoso Teixeira, Efemérides Guarapuavanas). “Ferem um dos 36 defensores do quartel e fogem” (Projeto Livrai-Nos!, Famílias, Fortunas & Façanhas).

Um novo país?

Entre as pressões para dar início às primeiras obras do sistema ferroviário e para reforçar as defesas do Paraná contra a progressão revolucionária farroupilha, em 11 de julho de 1839 o presidente provincial Venâncio José Lisboa passa o governo paulista ao advogado fluminense Manoel Machado Nunes (1799–1876).

A República Juliana é proclamada em 24 de julho e se instala em Laguna o Governo Provisório da República Catarinense, sob a presidência de Davi Canabarro. 

O novo governo paulista temia que o Paraná se cansasse de não ter suas demandas atendidas e passasse para o lado dos revolucionários. 

A República Juliana poderia vir a se tornar um país sul-americano abrangendo o território do atual Paraná se as forças imperiais não reagissem com rapidez e violência.

Os farroupilhas chegaram a atacar a barra de Paranaguá em 31 de outubro de 1839, capturando uma sumaca*, mas foram repelidos pela artilharia da fortaleza.

* Barco pequeno, de dois mastros.

A ideia da separação 

 “Mesmo os curitibanos provando sua sinceridade ao imperador, ao lutar em favor do governo central nas fronteiras provinciais, este medo persistiria, até porque, a ideia de separação era uma velha aspiração entre os habitantes daquela região” (Sérgio Buarque de Holanda, História Geral da Civilização Brasileira).

As autoridades paranaenses alertaram Nunes que para ocupar os Campos de Palmas o governo paulista precisaria primeiramente combinar a manobra com os índios, que poderiam pôr a perder as duas iniciativas empresariais-militares em andamento se decidissem atacar os colonos.

Para complicar, em setembro de 1839 já não havia qualquer dúvida: os farroupilhas estavam chegando – e vinham por terra e mar.

Machado Nunes mandou então criar uma força militar especial e destinou uma grande partida de armas e munições para apoiar a ocupação dos Campos de Palmas. Também determinou a formação de duas unidades da Guarda Nacional para combater a progressão dos farroupilhas. Muitas batalhas se anunciam.

 CLIQUE AQUI e veja episódios anteriores sobre A Grande História do Oeste, narrados pelo jornalista e escritor Alceu Sperança.

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