A relativa autonomia concedida pelo Império nos tempos regenciais às províncias e às câmaras das vilas (equivalentes aos atuais municípios) após a vitória eleitoral dos liberais em 1833 teve como consequência uma acirrada luta pelo poder local, com regras fixadas pelos próprios contendores.
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Os bens antes conquistados como recompensas concedidas pelo rei ou imperador em troca de serviços prestados à Coroa agora inspiravam as famílias a disputar entre si o poder e a obtenção de privilégios pela força das armas.
As ações se davam sobre as terras ainda em posse dos índios e também desalojando outras famílias de fazendeiros que por sua vez já haviam eliminado os nativos nas áreas conquistadas.
As disputas entre as famílias dos coronéis passam a dominar o cenário urbano e rural do interior paranaense. De passagem pela cidade de Castro, um visitante se assustou com “furiosas intrigas de famílias importantes da localidade”:
“Apareceu a vendetta corsa; o punhal e o bacamarte do assassino tiveram livre exercício até nas praças públicas”, muitos abandonaram a região “por causa dos distúrbios” e “tão grande imoralidade e insegurança individual, por longo tempo” afetou o desenvolvimento do interior paranaense, de acordo com Salvador José Correa Coelho, no livro Passeio à minha terra.
Siqueira Côrtes, o empreendedor
As fazendas que se estendiam entre Curitiba e os Campos Gerais agora já se somam às propriedades consolidadas até a região de Guarapuava, de onde passarão também a se estender ao Campo de Palmas.
A região é ainda temida pela presença de índios rebeldes que se afastaram para lá ao ser expulsos das áreas já ocupadas pelas fazendas de criação.
Vai começar a partir de 1833 uma série de expedições para testar até que ponto ainda haveria resistência indígena. Um dos proponentes dessa operação foi Pedro Siqueira Côrtes.
Natural de Palmeira, Côrtes é considerado o iniciador do povoamento dos Campos de Palmas, que resultou de uma disputa empresarial com outras famílias de fazendeiros.
Um dos meios para levar vantagem na disputa foi sair para massacrar os índios remanescentes. Outro, comunicar ao governo paulista a suposta frequência de ataques indígenas com a intenção de obter mais recursos militares para combatê-los. Era uma forma de ganhar mais gente para participar das expedições de conquista.
Siqueira Côrtes tentava demonstrar ao governo paulista que os índios não estavam dispostos a ser novamente expulsos e pedia apoio para conquistar a região.
Massacres sem explicação
A motivação principal para explorar os Campos de Palmas era a lenda corrente entre os índios de que haveria ouro e pedras preciosas em grande quantidade no morro do Bituruna, no atual Oeste de Santa Catarina.
John Henry Elliott, que esteve a serviço do futuro Barão de Antonina, João da Silva Machado, contou que no segundo dia de viagem a expedição de Siqueira Côrtes encontrou na saída de uma pequena campina um grupo de índios, que foram repentinamente atacados e “ferozmente assassinados, sem que até então tivessem dado indício algum de insubordinação”.
Uma segunda expedição, ainda segundo o registro de Elliot, “procedeu da mesma criminosa forma, com algumas famílias indígenas que andavam dispersas”.
Em 28 de maio de 1834, o padre Vicente Pires da Motta assume pela primeira vez o governo paulista – ainda governaria SP mais seis vezes, além do Paraná, Minas Gerais, Pernambuco e Ceará.
Sob sua gestão, por influência do tropeiro João da Silva Machado, os coronéis paranaenses tiveram acolhimento ao projeto de ocupar os “vazios”, como todo o extremo-Oeste habitado apenas por índios.
Acumulando poder
O crescimento político dos liberais favorecia a descentralização do poder e com isso cresceu a força dos paranaenses junto ao governo paulista, antes com Lourenço de Andrade e desde meados do século XIX com a influência de Machado.
A lei 16, de 12 de agosto de 1834, promoveu alterações na constituição política do Império que agradaram aos coronéis do interior paranaense, cuja luta principal consistia em expulsar os índios dos sertões inexplorados.
O parágrafo 5º do artigo 11 da lei trazia um presente às elites locais: estabelecia entre outras competências das assembleias provinciais as de “promover, cumulativamente com a Assembleia e o Governo Geral, a organização da estatística da Província, a catequese, a civilização dos indígenas e o estabelecimento de colônias”.
Determinar o destino dos índios e promover a colonização, portanto, caberia agora à iniciativa regional/local.
Pensando longe
Deputado no parlamento paulista e já com grande influência nos gabinetes conservadores dos governos imperial e provincial paulista, João da Silva Machado tratou de participar da Comissão do Comércio, Indústria e Trabalhos Públicos para favorecer seus projetos de desbravamento e colonização.
Uma das primeiras providências positivas nesse rumo se deu por um parecer apresentado na comissão em 10 de fevereiro de 1835 em favor da autorização de recursos da Caixa da Fazenda Provincial para um projeto de exploração dos “sertões entre os Rios Tietê, Paranapanema e Tibagi”.
As ações de Machado sugeriam expandir as áreas de exploração pecuária para suprir a demanda por animais do Centro-Sul e abrir bons caminhos para o transporte de gado. Impossível não ver nisso o embrião da futura Marcha para Oeste, posta em prática por Vargas um século depois.
Previdente e patriótico
Machado buscava ampliar ao máximo o alcance das iniciativas, como fez ao propor a exploração dos campos próximos das regiões de Missões, Entre Rios (em Corrientes) e Paraguai, apresentada em março de 1835.
O projeto rendeu elogios a Machado – era “previdente” e “patriótico”–, mas esbarrava em questões delicadas de ocupação da fronteira do Império, de competência do governo central.
Por ora, então, propunha a “exploração de uma grande camada de campo, que consta haver entre os rios Tietê, Paranapanema e Tibagi”. Um claro projeto de dominar toda a região do Iguaçu ao Tietê, de onde partiria para um projeto maior, com ligações viárias com Goiás e Cuiabá.
No empenho de apresentar projetos de estradas e expedições para explorar “sertões” e ampliar a ocupação do território, Machado favorecia seus negócios pecuários e projetos de colonização.
CLIQUE AQUI e veja episódios anteriores sobre A Grande História do Oeste, narrados pelo jornalista e escritor Alceu Sperança.

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