Muitas cidades surgem e logo são destruídas

Raposo Tavares e Manuel Preto: sobretudo a eles se deve o discutível heroísmo dos bandeirantes

Em 1626, mesmo ano em que teria surgido próxima às Cataratas a escondida redução jesuítica de Santa Maria la Mayor, o já muito rico sertanista Manuel Preto foi impedido de exercer o cargo de vereador para o qual foi eleito em São Paulo. 

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Era uma punição pela crueldade cometida com os nativos nas entradas que empreendeu pelo sertão. Entradas foram ações governamentais portuguesas de desbravamento dos territórios sob controle espanhol. Bandeiras eram as iniciativas privadas de captura dos índios no sertão.

A resposta de Manuel Preto, criador do bairro paulista Freguesia do Ó, foi voltar às matas do Oeste e promover uma destruição ainda maior. A propaganda do heroísmo bandeirante tem nele e em Antônio Raposo Tavares, a partir de 1627, seus grandes ícones. Eles dariam a pá de cal na república teocrática dos jesuítas em terras do futuro Paraná. 

Cidades de curta duração

Mesmo sofrendo agressões mais intensas, porém, os jesuítas ainda insistiam por essa época em plantar mais cidades de índios na região. A redução de Santo Antônio é formada junto ao Rio Ivaí, no atual Município de Grandes Rios, no centro do Paraná. 

Sete Arcanjos de Taiaoba surge às margens do Rio Corumbataí, entre Jardim Alegre e Ivaiporã. São Miguel ficava no atual Município de Tibagi. Era a cidade indígena mais avançada na direção Leste.

Também em 1627 vieram as reduções de São Pedro, no Rio Piquiri, em área do Município de Guarapuava, e Conceição de Nossa Senhora do Guaianá, ainda junto ao Piquiri, em Pitanga. 

A redução de São Paulo, entre os atuais municípios de São João do Ivaí e Jardim Alegre, ficava no Rio Ivaí, bem próximo do local em que 220 anos depois o médico Jean Maurice Faivre fundaria a Colônia Teresa Cristina. No ano seguinte, surge São Tomé, no Rio Corumbataí, em Jardim Alegre.

Jesuítas x Guairacá x portugueses

Por essa época também ocorrem as últimas escaramuças entre espanhóis e o já idoso cacique Guairacá, que os padres chamam de Guiraverá. Era vital para seu programa converter o grande cacique, que ameaçava devorar os espanhóis caso não se retirassem da região. 

Carta do padre Nicolau Durán datada dessa época revela que seus principais problemas ainda não eram causados pelos portugueses, “mas com os próprios espanhóis, que escravizavam os índios para o seu serviço, o que aumentava a desconfiança e a ferocidade de índios de outras tribos da região”. Explica-se assim o rancor de Guairacá para com os espanhóis, fossem eles militares, encomenderos ou padres. 

Mas o lendário cacique não era o verdadeiro problema. Em agosto de 1628, Manuel Preto “pôs-se à frente da grande bandeira que atacou e arrasou a maioria das reduções jesuíticas existentes na região do Guayrá e dos campos do Iguaçu, o que levou o donatário da Capitania, d. Álvaro Pires de Castro e Sousa, conde de Monsanto, a premiar-lhe com a patente de governador das Ilhas de Sant’Ana e Santa Catarina” (Pedro Wilson Carrano Albuquerque, Árvore de costado de Lucília de Castro Barroso).

O início da destruição

O padre jesuíta italiano Simão Maceta criou a povoação de Jesus-Maria junto ao Rio Ivaí, no atual Município de Prudentópolis, e também as reduções Conceição de Nossa Senhora do Guaianá (Rio Piquiri, interior de Pitanga), São Tomé (Rio Corumbataí, Município de Jardim Alegre) e a Ermida de Nossa Senhora de Copacabana (Rio Piquiri, no hoje Município de Ubiratã).

A formação rápida de novas reduções pretendia dar como fato consumado a ocupação espanhola, mas só fez incitar ataques mais fortes, até obrigar os padres a iniciar a transferência dos índios ainda não escravizados pelos paulistas para a região missioneira sulina. 

Em 18 de setembro de 1628, na mais ousada ação contra os jesuítas, partia de São Paulo a bandeira que iria destruir a redução de Guayrá. Raposo Tavares desceu até Iguape, de onde subiu o Vale do Ribeira e chegou ao planalto paranaense. 

Quartel de inverno

A bandeira de Raposo Tavares e Manuel Preto é uma cidade em movimento. Constitui-se de 900 mamelucos e dois mil índios auxiliares, dirigidos por 69 paulistas qualificados como lugares-tenentes de Raposo. Foi o estopim para a destruição do até então bem cuidado projeto de civilização no Oeste do Paraná.

A virtual cidade ambulante formada pelos bandeirantes para assediar as reduções indígenas criadas pelos espanhóis no Noroeste do Paraná se estabeleceu por quatro meses em posição estratégica, na forma de um campo entrincheirado à margem esquerda do Rio Tibagi, no atual distrito de Natingui, ao Norte de Ortigueira.

O bandeirante Raposo Tavares destruiu uma a uma todas as reduções a partir do Vale do Tibagi (Santo Antônio, Encarnación, Los Angeles etc). Parte da bandeira desceu ao Vale do Iguaçu, onde destruiu doze aldeamentos. Dentre as mais importantes, sucumbem as reduções de São Miguel, Jesus Maria, São Xavier e São José.

Maceta qualificou o amplo acampamento entrincheirado à margem esquerda do Rio Tibagi, estabelecido por Raposo Tavares e Manuel Preto, como “quartel de inverno dos bandeirantes” (Davi Carneiro, Afonso Botelho de São Payo e Souza) – “uma paliçada forte de paus, perto de nossas aldeias”. 

Ataque ao sonho jesuíta 

No princípio, o forte passou a manter intercâmbio comercial com os jesuítas, até ser forjado o pretexto para a ofensiva final. Um índio chamado Tataurana, instruído pelos paulistas, simulou escapar do acampamento bandeirante e pediu asilo na redução de Santo Antônio.

Alegou aos padres ter sido ali sua origem de catequese. Os paulistas exigiram a devolução do suposto fugitivo, mas o padre Pedro Mola, caindo na armadilha, recusou-se a restituí-lo, alegando ser “injusto cativar-se um homem livre e cristão”. 

A recusa a entregar Tataurana deu pretexto ao assalto final dos bandeirantes à redução jesuítica de Guayrá, em 29 de janeiro de 1629, sob o comando de Antônio Raposo Tavares e Manuel Preto, encontrando grande facilidade no ataque porque os índios Guaranis foram proibidos de portar armas – o rei espanhol Filipe IV mais tarde se arrependeu de proibi-las.

Depois dessa enorme bandeira, Manoel Morato Coelho, que deixaria descendentes no Paraná, em 20 de março desse mesmo ano bate um recorde: com 3.100 homens, chega com a orientação de Tavares e Preto para atacar a redução de Jesus-Maria e levar da região cerca de 20 mil índios “de corda” (amarrados).

CLIQUE AQUI e veja os episódios anteriores da Grande História do Oeste.

A Província espanhola do Guayrá ocupava a maior parte do atual Estado do Paraná

 

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