Europeus queriam ouro e gente para trabalhar

Nuflo de Chaves: castigado por se vangloriar de suas vitórias sobre os índios

García Rodrigues de Vergara quis iniciar na primeira cidade do Oeste paranaense, Ontiveros, uma colonização planejada para ser um modelo de cooperação entre europeus e nativos, mas havia dois obstáculos: os soldados espanhóis que escravizavam os índios e as incursões dos exploradores portugueses – que viriam a ser conhecidos como bandeirantes – igualmente em busca de mão de obra escrava.

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Com a missão de repelir ou desestimular os portugueses, Nuflo de Chaves e sua tropa deixaram Assunção em setembro de 1555. Segundo Alfredo Demersay (História Geral do Paraguai), ele voltou contando que venceu “muitos combates” e a região estava controlada.

Os fatos demonstraram o contrário. Sob pressão, Ontiveros foi abandonada pela população espanhola e pelos índios Guaranis aldeados. Chaves, grande nome da história sul-americana, foi morto em combate com os índios em 1568.

Cidade Real

O governo espanhol decidiu transferir Ontiveros para três léguas ao Norte, com a denominação de Ciudad Real del Guayrá. A missão de fundar a cidade junto à foz do Rio Piquiri coube ao capitão Ruy Dias Melgarejo, que partiu de Assunção com cem soldados para reduzir e distribuir em encomiendas os índios subjugados.

Reduzir era aldear, reunir em um reduto ou fortificação. A encomienda era um método de exploração do trabalho indígena. Um soldado espanhol exercia o controle da produção e cobrava impostos. As encomiendas foram na prática doações de territórios aos espanhóis com interesse em se fixar na região, aprisionar índios e explorar seu trabalho. 

A Cidade Real do Guairá foi dividida em 60 partes, distribuídas entre igual número de soldados encomendeiros. Os índios que eles escravizavam no local (os encomiendados) chegavam a 40 mil (Gregorio Furnes, Ensayo de la Historia Civil del Paraguay).

Homenagem a Guairacá

As primeiras 320 encomiendas foram oficializadas por Domingos Martinez de Irala em 1556. Usar o trabalho forçado dos nativos para enriquecer os colonizadores estava na contramão de declarações reais e papais de piedade com os nativos, mas os interesses econômicos prevaleceram.

Aos índios capturados cabia lavrar a terra, caçar e pescar para os novos donos da região, além de prestar serviços na construção de habitações e, sobretudo, na coleta da erva-mate, que se tornaria a grande riqueza exportável da região.

O nome Guayrá para a Ciudad Real veio do lendário cacique Guairacá, dos Guaranis. Mais tarde a designação se estendeu a toda a região conquistada pelos espanhóis, entre os rios Paranapanema e Uruguai: Província del Guayrá.

“Estes estabelecimentos (Ontiveros e Ciudad Real) que ao princípio prosperaram, não tardaram a decair pelo excessivo trabalho, exigido por senhores ávidos de riquezas, para quanto antes deixarem o país e regressarem à Europa a gozar dos frutos de suas violentas exações e de sua avareza” (Alfredo Demersay).

Chegam os bandeirantes

No litoral do futuro Paraná, aumentava a população de portugueses atraídos pelas minas de ouro. No escambo com os índios são tecidas relações entre esses primeiros paranaenses com os nativos e assim começa a formação do Paraná: os nativos adquirem ferramentas diversas e anzóis dos portugueses em troca de algodão e alimentos.

Já a experiência espanhola se perdeu na falta de realidade dos informes a Madri e nas disputas por poder. Em 1557, a Coroa espanhola recebeu notícias mais exatas sobre as rebeliões indígenas na região do Guairá, resolvendo reagir às prepotências escravistas de Ruy Dias Melgarejo.

São enviados os padres jesuítas Manoel de Ortega e Tomás Filds, que percorrem a região e informam a existência de cerca de 200 mil índios na área. Esse “estoque” de braços atraía as atenções dos portugueses. Com isso, a captura e escravidão de índios se soma à busca do ouro como as primeiras atividades econômicas mais fortes do início da formação do Paraná.

A primeira bandeira conhecida a escravizar índios pelo vasto sertão do Paraná de hoje foi chefiada em 1558 pelo capitão Jerônimo Leitão, comandante de São Vicente.

Bandeiras eram as explorações territoriais de iniciativa particular. Entradas, as penetrações determinadas pelo governo luso. Leitão, portanto, foi o pioneiro das grandes apreensões de índios na região do Guayrá.

Bordado de araucárias

Os espanhóis já não conseguiriam mais conter as incursões das bandeiras lusitanas em busca de índios para aprisionar, mas o principal interesse dos portugueses ainda era achar ouro, missão a cargo das entradas. O litoral paranaense foi o palco das primeiras, no período 1550–1560.

As entradas e bandeiras portuguesas, segundo o historiador Afrânio Peixoto, ao “devassar o sertão em busca de minas, dão endereços ao Brasil colonial predador, agrário, criador e mineiro” e “trouxeram a consequência da integração do país, além do litoral possuído”.

No interior do atual Paraná, ao chegar à década de 1560, ainda prevalecia a iniciativa espanhola. Em 1561, o capitão Alonso Riquelme de Guzmán (1523–1577), com cem soldados, penetrou em direção Leste nas matas entre os rios Ivaí e Piquiri. “Ali ele iria encontrar e assinalar o Campo Aberto Bordado de Araucárias” (Pedro Altoé, Campina da Lagoa, Estrela do Vale do Piquiri).

É a região da atual Campo Mourão, que Riquelme qualificou de “formosos campos”.

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Província do Guairá: de Ontiveiros, a cidade de índios se transferiu para a Ciudad Real

 

 

 

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