Por humanos mais humanos

Tela impressionista de Leonid Afremov

Acordei às 06:59, fiz um café para dois. Era dia 31 de março. Fui ver o noticiário: 800 mil casos de coronavírus no mundo, 38 mil mortos, 170 mil já se recuperaram. No Brasil, 4,6 mil casos e 165 mortos. Números e mais números, que se tornaram a nossa única certeza do dia seguinte nesta fase: quando você acordar, os números da pandemia já terão aumentado. E a dúvida é até quando? 

Parece que estamos vivendo um pesadelo, sendo que dormir nos permite sonhar. Sonhar com as pessoas se abraçando no parque. Acorda! Já tem novos números horripilantes para você encarar! A Espanha teve mais 849 mortos em 24 horas.

Será que temos tamanha insensibilidade para tratarmos a humanidade apenas como números? 

Sempre atual

Clarice Lispector escreveu, em 1971, a crônica: “Você é um número”. Nesse texto atemporal ela nos lembrou que na verdade somos vários números, desde o nosso registro civil. 

“Seu título de eleitor é um número. Profissionalmente falando você também é”. “Seu prédio, seu telefone, seu número de apartamento”. “Se você não tomar cuidado vira número até para si mesmo”.

Temos que concordar com a indignação da escritora: “Nós não somos ninguém? Protesto. Vamos ser gente, por favor”. 

Tenho rosto

Em noticiários desta semana constatei que veio da Espanha um apelo importante para todos nós. A cantora brasileira Luciene de Lemos, que mora em Barcelona e está com sintomas de coronavírus, gravou um vídeo em que nos faz um alerta: “As pessoas infectadas não são números. Tenho um rosto, tenho cabelo, tenho sonhos, tenho dores, tenho família. Eu não quero morrer. (…) Há que se lamentar as pessoas infectadas, há que se lamentar as pessoas que morreram. Não somos números”.

Esse é o nosso desafio: assumir que somos gente, suscetíveis, vulneráveis, sujeitos a erros e acertos, por vezes gananciosos, porém sociais. 

O sol é um só, a Terra é uma só, você é um(a) só. Temos nome, identidade, história, sentimentos. Temos vizinhos, amigos, parentes, não somos uma ilha. O poeta britânico John Donne escreveu, em 1623: “a morte de qualquer homem diminui-me, porque sou parte do gênero humano”. 

Todos juntos

Se você pesquisar o significado de “humanidade” no dicionário encontrará: sentimento de bondade, benevolência, em relação aos semelhantes, compaixão, piedade, em relação aos desfavorecidos. Portanto, não somos simplesmente 7,7 bilhões de humanos na Terra. Somos solidários, doadores, voluntários, então, sejamos humanos mais humanos.

O mês de abril poderá ser o mais duro para nós, brasileiros. Nessas horas precisamos de fé e atitude, como Clarice Lispector pontuou: “Deus não é número. Vamos amar, que amor não tem número. Ou tem?”

Amor e humanidade a todos!

*A autora é jornalista e investidora.

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