O período era muito especial, por conta do fim da II Guerra Mundial. Tudo era expectativa positiva, depois de tanto horror. Os sonhos e projetos de progresso precisavam ser postos em prática.
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Foi assim que os colonizadores Alfredo Ruaro e Alberto Dalcanale passaram o período de festas do fim de 1945, empreendendo uma incrível viagem que começou aérea, seguiu por navio, achou um raro automóvel em Foz do Iguaçu e prosseguiu com carroça, mulas e cavalo depois de alcançar Cascavel, onde encontraram nos irmãos Paulo e Jorge Maceno, servidores dos Correios e Telégrafos, anfitriões receptivos e solidários.
Ao chegar ao Rio Paraná, haviam feito uma verificação frustrante da Fazenda Britânia em sua região portuária, não encontrando caminhos rumo ao coração da propriedade, no Médio-Oeste. Para chegar a ele, teriam que ir primeiramente a Cascavel.
Sem ter noção do que precisariam enfrentar quando chegassem à antiga Encruzilhada dos Gomes, os viajantes encontraram em Foz do Iguaçu um único automóvel disponível, um Chrysler inglês que desafiou com sucesso os perigos da difícil Picada do Benjamin, o melhor caminho possível da época, a estrada que ligava a fronteira a Cascavel, substituída pela atual BR-277.
Sabiam que de Cascavel precisariam partir para chegar ao arroio Toledo, no sul da propriedade que pretendiam adquirir após essa vistoria. Para isso teriam que encontrar a linha telegráfica feita construir pelo general Cândido Rondon e que desde os anos 1930 ligava o lugar a Porto Mendes.
Os fios telegráficos seguiam a antiga picada da companhia Nuñez y Gibaja que por sua vez ligava antigos caminhos indígenas próximos ao lendário Peabiru.
Os prestativos irmãos Maceno
Chegando à vila de Cascavel, a próxima tarefa dos viajantes seria encontrar o responsável pelo serviço postal para saber como chegar ao arroio Toledo acompanhando as linhas do telégrafo.
Nessa época em que todos os cargos eram ocupados por homens, os viajantes encontraram os Correios em Cascavel chefiados por uma mulher: Maria Nogueira de Maceno.
Seu marido, o telegrafista Paulo Maceno, prontificou-se a chamar o irmão Jorge, responsável pelo posto telegráfico da localidade então conhecida como Campina, junto ao arroio Lopeí, que poderia fornecer orientações precisas aos visitantes.
Maria, Paulo e Jorge Maceno integravam uma família cuja história estava ligada aos serviços de interiorização dos Correios. Maria Nogueira de Maceno, a agente dos Correios, era filha do chefe dos guardas-linhas, Joaquim Nogueira.
Joaquim, por sua vez, era irmão do lendário militar José Nogueira do Amaral, que depois de condenado ao degredo para morrer a esmo na mata paranaense, conseguiu sobreviver, liderar uma comunidade de índios e brancos e fundar Laranjeiras do Sul.
Os Maceno, por sua vez, destacaram-se nos serviços de extensão e manutenção das redes telegráficas do interior paranaense, além de apoiar o desbravamento e as iniciativas de colonização das regiões Norte, Noroeste e Oeste.
Com o apoio deles, a aventura de Ruaro e Dalcanale estava prestes a chegar à etapa final, longe de ser mais fácil que as anteriores. Já levavam a anotação de que não havia caminhos entre Porto Mendes e o coração da Fazenda Britânia e souberam em Cascavel que a partir dali não teriam mais o conforto de um automóvel.
O palácio recusado
Ao chegar a Cascavel, Ruaro e Dalcanale localizaram facilmente na vila com meia dúzia de casas a modesta agência dos Correios do lugar, a essa altura já com muita história acumulada.
Ali foi decidido em 1931 que a vila não teria o nome de “Encruzilhada dos Gomes” nem “Aparecida dos Portos”: seria “Cascavel”.
O estabelecimento foi também a causa da decisão do primeiro governador do Território Federal do Iguaçu, João Garcez do Nascimento, de rejeitar Cascavel como sua capital, sugerida pelo engenheiro militar Luiz Carlos Pereira Tourinho.
Única instalação pública de Cascavel, só ali naquele simples ranchinho de madeira sem pintura nem sofisticação seria possível instalar o palácio do governo territorial. Garcez descartou de pronto estabelecer seu gabinete de governo em lugar tão distante e sem recursos para a burocracia habituada ao Rio de Janeiro.
Travando o contato positivo com a família Maceno, “na manhã do dia seguinte Paulo levou-os numa carroça puxada por duas mulas, e assim chegaram à tardinha na Campina Lopeí, onde ainda se via algumas casas de madeira da antiga sede da obrage Nuñez y Gibaja” (Ondy H. Niederauer, Toledo no Paraná).
Cama dura e bons sonhos
Ruaro e Dalcanale jantaram na casa de Jorge Maceno, onde foram assombrados por uma nuvem de insetos que atacavam os pratos de comida quente enquanto se alimentavam.
Ajeitando-se por cima de uma pilha de couros secos, foram dormir remoendo o cansaço dos últimos dias, a situação de abandono de Porto Mendes e as feras aladas sedentas de sangue que não permitiam uma só refeição sossegada no interior de Cascavel.
Foi, ainda assim, uma noite agradável pela acolhida que receberam desde Cascavel e pela ansiosa expectativa dos magníficos pinheirais que supunham existir na grande Fazenda Britânia.
“No dia seguinte, cedo, partiram em dois cavalos que lhes foram emprestados pelos fiscais da conservação da linha telegráfica”, segue a narrativa de Ondy Niederauer:
“No caminho examinaram atentamente a vegetação, e com especial atenção para a mata e de modo muito particular ao seu maior objetivo, o objetivo número um: os pinheiros. Durante todo o trajeto, viram as grandes árvores que, lá no alto terminavam em forma de festivas taças”.
Os desejados pinheirais, vislumbrados no espetáculo de copas de pinheiros a perder de vista, apagaram até o cansaço, a longa duração da viagem e o incômodo da esquadrilha de insetos sedentos de sangue.
“Já escurecia quando chegaram ao arroio Toledo, em cuja margem havia um pequeno descampado tomado por capoeira agreste, e cercado por vasto e frondoso pinhal. Destoando com a mata virgem, alguns cinamomos procuravam também dar sua sombra. Era, sem dúvida, o local de troca de muares que transportavam a erva-mate da Nuñez y Gibaja, o antigo Pouso Toledo”.
“De Toledo não tinha mais caminho”, lembrou Alfredo Ruaro, já sabendo o tamanho da tarefa que precisariam cumprir para levar seu projeto adiante. “Felizes pelo que viram, regressaram no dia seguinte. Alfredo também estava muito satisfeito com o vasto pinhal que divisava”.
De volta ao avião
Como não podiam adivinhar que o Território do Iguaçu iria fracassar, também não souberam com antecedência que a maravilha imaginada como um extenso pinhal terminava uns três quilômetros adiante de onde estavam. Na verdade, ali era o ponto final do pinhal paranaense.
“Verificamos a área britânica e voltamos à Foz do Iguaçu, onde pegamos um avião e voltamos”, recordou Ruaro.
A rota aérea os levaria mais facilmente a Porto Alegre que a longa via fluvial para retornar a Porto Alegre, onde eram esperados pelos sócios ansiosos pelo relatório dos emissários para decidir se embarcariam no ousado empreendimento de comprar a Fazenda Britânia.
Após essa demorada e difícil vistoria, atrapalhada pela falta de caminhos mas estimulada pela vontade de levar o projeto adiante, Dalcanale e Ruaro voltavam ao Rio Grande do Sul já com a decisão tomada de propor o fechamento do negócio com os ingleses.
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