“O suinocultor está pagando para produzir”

“O meu desejo é que a pessoas que venha a se eleger, principalmente à presidência do Brasil, que seja uma pessoas que tenha capacidade de fazer as coisas sem pensar nos companheiros, amigos e tirar proveito disso”.

 

A crise enfrentada pelos suinocultores independentes é pauta da entrevista dessa semana do Preto no Branco. O produtor participa de todas as etapas da produção, desde a inseminação, maternidade e crechário, até o período de desenvolvimento e engorda, ou seja, a preparação para o abate. Para abordar esse assunto o Preto no Branco conversou com o presidente da Associação Paranaense de Suinocultores (APS) Jacir José Dariva, que fala sobre os desafios, o  que deu errado nos ultimos anos, a situação atual dos suinocultores e o que está sendo feito para resolver a situação. Existe uma luz no fim do túnel?

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Preto no Branco – Quais os motivos que levaram a suinocultura independente a essa grande crise. A pandemia tem a ver com isso, ou os problemas já vêm acontecendo há muito tempo?

Jacir José Dariva – Quando apareceu a peste suína há três anos na China, criou-se uma expectativa que teríamos uma demanda por carne suína muito grande por vários anos.  Neste sentido, produtores, agroindústria, todos que lidavam com a suinocultura investiram no aumento dos plantéis e aumentaram a produtividade, visando exatamente o mercado chinês. Mas a recuperação da China foi bem mais rápida do que se esperava, ficamos com a oferta maior que a demanda, tanto no mercado interno como no mercado externo. Isso fez com que baixassem os preços nos patamares que estão hoje. A suinocultura brasileira está com problemas. Todos os estados brasileiros estão passando pela mesma situação. No Paraná a situação é um pouco mais complicada, pois o milho e o farelo são bem mais caros que em outros estados.

 

PB – O que é preciso para mudar este cenário?

Jacir – Para mudar toda essa situação que se encontra hoje só tem uma saída. É preciso ajustar a oferta e a procura. Nos últimos meses os plantéis do Paraná e do Brasil diminuiram bastante, até devido a crise mesmo, então a esperança é que, logo logo, vamos ter um preço um pouco diferente. A oferta vai diminuir e os preços automaticamente vão aumentar para o produtor. Para o consumidor deve demorar um pouco mais porque a margem entre o que a indústria paga ao produtor e o que o consumidor paga no mercado ainda é muito grande.

 

PB – O que os governos estadual e federal têm feito para mudar essa história?

Jacir – Ainda nesta semana estivemos em Brasília, justamente para falar com os deputados da Frente Parlamentar da Agropecuária. Nós levamos aos deputados algumas alternativas para, pelo menos remediar a crise, como por exemplo, o aumento da carne suína na merenda escolar, na alimentação servida nos presídios, penitenciárias e principalmente, a renegociação das dívidas dos suinocultores com bancos. Novos créditos sabemos que é difícil, pois os produtores não têm mais o que fazer, não tem mais nem o que dar como garantia então, renegociando o que está para trás já é uma grande coisa para nós. Até agora não aconteceu nada, os produtores estão se virando por conta própria. Esperamos ser ouvidos.

 

PB – Como é o consumo da carne suína no Brasil?

Jacir – No último ano o consumo médio da carne de porco pelo brasileiro pulou de 15,3 quilos para 17,8 quilos por pessoa. Então houve um incremento forte na questão do consumo deste tipo de carne pelo brasileiro, só que daí voltamos lá na lei da oferta e da procura. Aumentou o consumo mas ao mesmo tempo aumentou a oferta, e aí a gente sabe como é que é o mercado né. Quem pode mais, chora menos.

 

PB – Como está o acesso dos produtores independentes ao mercado nacional e internacional?

Jacir – Temos hoje muitas facilidades. Já passa de 100 o número de países que a gente exporta a carne de porco. Diversificou muito o mercado, mas a grande parte ainda vai para a China. Acho que está tranquilo.

 

PB – As pessoas não consomem a carne de porco, ou falta um trabalho mais profundo de divulgação?

Jacir – Existe uma campanha nacional para o aumento do consumo da carne suína. Essa campanha está sendo coordenada pela Associação Brasileira de Suinocultores Independentes. No mês de julho teremos mais uma rodada desta campanha de aumento no consumo com o engajamento de grandes redes de supermercados do país. Então estamos tentando ajustar essa questão. Na semana passada fizemos uma manifestação em Curitiba que ja trouxe resultados positivos e quase que imediatos. Redes de mercados de Curitiba e Região Metropolitana aumentaram as compras, fizeram campanhas e nesta semana  até o preço começou a reagir. Está longe ainda de ser o ideal, mas que teve uma reação teve.

 

PB – Nós vimos nos últimos meses um aumento no preço no mercado internacional  da carne bovina e do frango por exemplo, mas o suíno não acompanhou. Porquê?

Jacir – É justamente isso o que está ocorrendo. As carnes de frango e de boi estão bem ajustadas ao consumo. A guerra no Leste Europeu pressionou ainda mais o preço destes produtos. É assim, quando a demanda é ajustada a oferta os preços tendem a subir, como no caso das carnes de boi e frango.

 

PB – Qual o número de famílias que dependem hoje da suinocultura independente?

Jacir – Hoje no Paraná os produtores independentes possuem em torno de 25 mil das 330 mil fêmeas em produção comercial, temos em torno de 22% de produtores independentes no Estado e a maioria é de pequenos produtores, são raras as exceções. Se fizermos uma conta hoje precisamos de uma pessoa para cuidar de 80 fêmeas. A suinocultura é o ramo que mais emprega no campo dentro das atividades que a gente conhece hoje.

 

PB – Os suinocultores hoje estão pagando para produzir?

Jacir – Sim, o suinocultor hoje está pagando para produzir. E se me perguntar se existe lógica para isso digo que existe sim, porque o produtor tem um grande capital investido na propriedade. Hoje para se fazer uma granja nova você precisa de R$ 8 mil por fêmea alojada. Então é muito dinheiro investido aí e não temos o que fazer, a não ser ir levando do jeito que dá, tentando vender, financiando, se virando do jeito que dá para conseguir ficar no mercado.

 

PB – Para terminar, o que o senhor espera dessas próximas eleições?

Jacir – Eu sou daqueles que pensa que sempre temos que eleger alguém que não pense para o próprio bolso. Alguém que pense pelo Estado e pelo Brasil. Agora se as pessoas começarem a pensar só no bem delas, aí com certeza ficaremos em uma situação pior ainda. Não vou me posicionar nem de um lado nem de outro. O meu desejo é que a pessoa que venha a se eleger, principalmente à presidência do Brasil, seja uma pessoa que tenha capacidade de fazer as coisas sem pensar nos companheiros, amigos e tirar proveito disso.

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