No debate mais esperado desde 2018, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e o presidente Jair Bolsonaro (PL) discutiram, frente a frente, na noite deste domingo (16). Foi o primeiro debate presidencial do segundo turno das eleições de 2022.
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Organizado pela TV Bandeirantes, TV Cultura, portal UOL e jornal Folha de S.Paulo, e transmitido pela CNN, o primeiro encontro do segundo turno presidencial durou uma hora e 40 minutos, foi marcado por troca de acusações entre os candidatos.
Apesar das falas duras, o clima foi no geral moderado, com ambos mantendo o tom de voz baixo, esboçando sorrisos irônicos, evitando agressividade e se movimentando em direção às câmeras para conversar com os eleitores.
O petista responsabilizou o atual governo por ter atrasado a compra de vacinas durante a pandemia de Covid-19. Já Bolsonaro acusou o petista de corrupção na Petrobras e cobrou quem seria o nome de seu possível ministro da economia.
Os candidatos também trataram de mudanças no Supremo Tribunal Federal, em que ambos negaram intenção de aumentar o número de ministros do STF.
Audiência
Na briga pela a audiência entre as TVs abertas, o debate fez a Band encostar na Globo no horário.
Segundo dados preliminares mensurados pelo instituto Kantar Ibope Media das 20h às 21h51, na Grande São Paulo, o encontro obteve média de 11,8 pontos na Band e 1,3 na TV Cultura. Juntas, as duas emissoras responderam por 19,9% dos televisores ligados na região.
No mesmo horário, a Globo obteve 14,5 pontos, exibindo o final do Domingão com Huck e o início do Fantástico. A Record fez 7,1 pontos com o Domingo Espetacular e o SBT, 6,6 com o Programa Silvio Santos. A RedeTV! teve 1 ponto.
A Band se aproximou ainda mais da Globo às 21h25, com 14,2 pontos, enquanto o Fantástico marcava menos de 1 ponto de vantagem: 14,5 pontos. E às 21h48, a Band chegou a ultrapassar a Globo por 0,1 ponto, com 13,9 a 13,8 pontos.
O encontro foi também assistido pelo UOL e pelo canal da Band no YouTube, que já somava mais de 370 mil espectadores simultâneos a cinco minutos de seu início, com um público que corresponde a 2 pontos de audiência na Grande São Paulo, maior colégio eleitoral do país.
Às 20h15, o canal da Band no YouTube tinha 1,262 milhão de espectadores simultâneos, saltando para mais de 1,5 milhão às 20h30, quando o canal do UOL online no YouTube tinha 233 mil acessos.
A Band anunciou que a transmissão foi a maior live jornalística já vista no Brasil.
Bastidores
O debate foi eloquente também pelo que aconteceu atrás das câmeras. Jair Bolsonaro reservou lugar de destaque a seu ex-ministro e ex-desafeto Sergio Moro, coadjuvante de peso no atual embate com Lula por ter sido o responsável, como juiz, pela prisão do petista em 2018.
Moro, com quem Bolsonaro reatou nesse segundo turno, foi escalado como um dos assessores com cadeira dentro do estúdio da Band. O convite foi feito em telefonema dado pelo próprio Bolsonaro durante a última semana.
Além de Moro, estavam no estúdio os ministros Ciro Nogueira e Fábio Faria, o secretário Fabio Wajngarten e o ajudante de ordens Mauro Cid, além do filho responsável pela estratégia digital do presidente, Carlos Bolsonaro.
Foi a partir de sinais feitos por Carlos e Wajngarten, aliás, que Bolsonaro se deu conta no primeiro bloco que a extensão demasiada do debate sobre a condução da pandemia lhe prejudicava, e mudou de assunto a pedido dos aliados.
De seu lado, Lula também levou novos aliados para o debate, mas manteve no seu entorno mais próximo o núcleo duro de sua campanha. Dentro do estúdio, trocando olhares e orientações com o petista nos intervalos e conversando com ele no púlpito, ficou o grupo de sempre: a mulher de Lula, Janja, a presidente do PT, Gleisi Hoffmann, o vice, Geraldo Alckmin e os ex-ministros Aloizio Mercadante e Edinho Silva.
O broche de Lula
Lula não fez referência ao assunto que dominou as redes sociais nas horas anteriores ao encontro, a declaração de Bolsonaro de que havia “pintado um clima”, com adolescentes venezuelanas que migraram para Brasília. Pouco antes, o ministro Alexandre de Moraes, presidente do TSE, havia determinado que o PT retirasse do ar vídeos da entrevista e não usasse mais a declaração.
Lula evitou o assunto, mas usou uma tática sutil já adotada por Bolsonaro em outros eventos televisivos. O petista usava um pequeno broche, cujo significado logo começou a circular pelas redes sociais: era o símbolo do Dia Nacional do Combate ao Abuso e à Exploração contra Crianças e Adolescentes.
Análise dos articulistas
O Preto no Branco fez um levantamento das análises dos principais articulistas da política nacional e, a seguir, apresenta uma pequena síntese do que eles comentaram.
Diogo Schelp (Jovem Pam): “Os apoiadores incondicionais do presidente Jair Bolsonaro, que acham que tudo o que ele diz lindo, vão achar que ele foi o melhor no debate, que tudo o que ele disse estava embasado. Da mesma forma que os apaixonados por Lula vão ver no debate um Lula superior ao Bolsonaro em tudo o que ele respondeu. Obviamente não é bem assim. A gente teve um debate bastante equilibrado, se a gente fizer uma análise fria, sem paixões.”
Bruno Boghossian (Folha): “Lula (PT) e Jair Bolsonaro (PL) foram ao debate mais interessados em reforçar os conhecidos pontos de desgaste do adversário do que enaltecer as próprias qualidades. O atual presidente conseguiu aproveitar melhor as oportunidades.”
Daniel Fernandes (Estadão): “Se Lula conduziu o primeiro bloco do debate com a má gestão de Bolsonaro na pandemia, o atual presidente saiu-se melhor na terceira parte do encontro de domingo. O tema escolhido por Bolsonaro, o escândalo envolvendo a Petrobrás, deixou o ex-presidente visivelmente irritado – a ponto do petista interromper Bolsonaro e ser reprimido pelos mediadores duas vezes.”
Robson Bonin (Veja): “O debate da Band entre Lula e Jair Bolsonaro neste domingo mostrou que ambos os candidatos seguem despreparados para abordarem seus erros quando atacados com dados de suas gestões. Lula perdeu de goleada o debate da corrupção. Confrontado por Bolsonaro a falar do petrolão, desviou do tema. (…) Se Lula não sabe lidar com o passado de corrupção, Bolsonaro também perdeu muitos pontos ao examinar sua conduta na pandemia.”
Miriam Leitão (O Globo): “Lula foi o vencedor claro da primeira rodada porque fez Bolsonaro falar durante quase todo o tempo do bloco de pandemia, e ficou na defensiva. (…) Quando Bolsonaro puxou o tema da corrupção, ele cresceu, mas o fato é que a presença de Moro entre os seus assessores provava a grande tese da defesa do petista, de que ele foi julgado por um juiz parcial, cujo único objetivo era persegui-lo e ajudar Bolsonaro. (…) A grande questão ao fim do debate é: quem precisava ganhar? Bolsonaro que está atrás nas pesquisas. E ele não ganhou.”
Marcelo Suano (Jovem Pam): “Aquelas forças que se juntaram em 2018 estão se juntando novamente. Um conjunto de pessoas que queria uma volta da ética na política. Uma ética que foi rompida por aqueles que se diziam os porta-vozes da moralidade no país, mas destruíram o país e os conceitos de ética e moral. A Lava Jato, o fato de Sergio Moro estar ali mostrou que essas forças estão se unindo novamente (…) o que verificamos é que o presidente Bolsonaro conseguiu se sair muito bem. O saldo é totalmente positivo para ele.”
Matheus Leitão (Veja): “Em um debate presidencial em que Lula e Bolsonaro discutem mais pandemia do que corrupção no primeiro bloco, quando o eleitor está mais atento ao que está sendo dito, um lado saiu ganhando. E eu não preciso nem dizer que lado é este. (…) Neste momento chave do debate, o petista levou o confronto para a Covid-19 e a falta de vacina, tema em que não tem como o atual mandatário sair ganhando.”
Mariana Carneiro (Estadão): “Luiz Inácio Lula da Silva (PT) conseguiu fazer com que o rival Jair Bolsonaro (PL) gastasse mais minutos tratando de temas adversos para ele. (…) Ao final, Lula se saiu melhor porque conseguiu falar mais do seu governo no passado do que Bolsonaro falou do seu. Sobre 2023, os eleitores dos dois candidatos seguem sem ter muita ideia do que vai acontecer.”
Bela Megale (O Globo): “Na avaliação de integrantes da equipe de Bolsonaro, o presidente teve um desempenho pior no primeiro bloco, quando Lula conseguiu pautar boa parte do tempo com temas desgastantes para o presidente, como a pandemia. Há, no entanto, a avaliação de que Bolsonaro terminou melhor o último bloco do programa, ao controlar o tempo e falar por mais de seis minutos sem que Lula tivesse direito de se pronunciar por já ter gasto os minutos que tinha direito. (…) A falta de controle do tempo pelo ex-presidente no final do programa foi considerada “ruim” por integrantes da campanha petista. O QG de Lula avalia, porém, que o debate não teve poder de mudar votos.”
Thomas Traumann (Veja): “O ex-presidente Lula da Silva teve um excelente primeiro bloco, colocando o presidente Jair Bolsonaro a ter de responder sobre a pandemia por dez minutos, mais tempo que o tema tomou na campanha inteira. Mas a partir do segundo bloco, e especialmente no terceiro, Lula voltou a se perder no tema corrupção. (…) O debate convenceu algum indeciso a votar em Lula ou Bolsonaro? Duvido. Apenas serviu para reforçar as mensagens chaves de cada campanha e postar recortes para os vídeos das correntes de zap a partir desta segunda-feira.”
Lauro Jardim (O Globo): “A articulação para que a campanha de Jair Bolsonaro levasse Sergio Moro ao debate da Band foi feita nos últimos dias no mais absoluto sigilo. (…) Durante esse tempo todo, houve um acerto para que este trunfo só viesse a público na hora do debate. A ideia, óbvia, era tentar surpreender e desestabilizar Lula.”
Igor Gielow (Folha): “O ex-presidente errava números com grande facilidade, e o atual não conseguia encaixar críticas precisas. Sobravam acusações de que o oponente estava mentindo, o que no geral era verdadeiro. Pois candidatos mentem e distorcem, e essa é a regra, naturalizada no ambiente de dissolução moral da realidade nas redes sociais e além. A presença do senador eleito e ex-juiz Sergio Moro na claque bolsonarista, após ter deixado o governo do ex-chefe atirando, apenas ajuda a ilustrar a salada vigente.”
Alvaro Griebel (O Globo): “Coube a Jair Bolsonaro o golpe mais baixo do debate com Lula, na noite deste domingo. Ainda no primeiro bloco, pressionado pelas perguntas do candidato petista sobre as mortes na pandemia, Bolsonaro evocou o enterro da ex-primeira-dama Marisa Letícia, que faleceu em fevereiro de 2017. Segundo Bolsonaro, Lula “fez discurso em cima do caixão da esposa”.”
Alexa Salomão (Folha): “Não dá para adotar falsas equivalências. Bolsonaro e Lula são muito diferentes, principalmente no quesito fake news, como ficou demonstrado no debate que deu início aos encontros dos presidenciáveis neste segundo turno. Mentir já foi chamado de a grande arte na política, mas Bolsonaro distribuiu fake news óbvias.”
Sérgio Roxo (O Globo): “O entendimento é que Lula foi bem melhor do que o adversário nos dois primeiros blocos e poderia ter fechado o programa em ampla vantagem se não tivesse cedido às provocações do atual presidente quando ele falou sobre Petrobras e corrupção. Foi no terceiro bloco que Lula gastou o seu tempo e deixou Bolsonaro com a possibilidade de falar sozinho por mais de cinco minutos. Um aliado do petista, porém, acredita que o atual presidente não aproveitou e falou apenas para sua bolha.”
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