O sonho dos meninos nas colônias na região Oeste nos anos 1940 e 1950 era conseguir uma vaga no Colégio Agrícola de Foz do Iguaçu. As meninas se mantinham na expectativa da criação de escolas de instituições religiosas ligadas ao catolicismo.
Não eram regras gerais. Alguns pais preferiam ver os filhos na carreira militar a labutar arduamente no campo. Já as filhas dos camponeses menos abastados não conseguiam as poucas vagas das escolas de freiras, rapidamente ocupadas pelas famílias urbanas, exigindo a criação de escolas públicas.
As famílias tradicionais educavam as crianças em casa. Os meninos aprendiam ofícios auxiliando os profissionais. As meninas teriam que esperar pela Prefeitura abrir sala em alguma vila ou pela obsessão dos católicos em semear colégios de freiras nas cidades-polo.
O empenho pela criação do primeiro grupo escolar de Foz do Iguaçu veio de um religioso católico, monsenhor Guilherme Maria Thiletzek (1877–1937).
O nome da escola – Bartolomeu Mitre – despertou curiosidade: por que dar a um militar argentino o nome de uma escola pública brasileira? Presidente da Argentina entre 1861 e 1868, Mitre era um ídolo para os estrangeiros que vinham para a América Latina.
Polonês, Thiletzek admirava as posições de Mitre, jornalista que traduziu Machado de Assis para o espanhol e defendia direitos para os estrangeiros que vinham para a América do Sul.
Militares homenageados
Em 1927, quando o grupo escolar passou à gestão estadual, teve o nome alterado para “Grupo Escolar Caetano Munhoz da Rocha”, chefe da oligarquia Munhoz-Camargo. Com a revolução de 1930, que derrubou essa oligarquia do poder, foi retomado o nome histórico do estabelecimento.
Por sua vez, o Colégio Agrícola de Foz do Iguaçu começou atividades em 1950, com o nome “Escola dos Trabalhadores Rurais”, na região do Porto Meira, homenagem ao general paraibano José Meira de Vasconcelos (1878–1958), que combateu os revolucionários em 1924,Nacionalista, Meira defendia a proibição do ensino dos idiomas italiano e alemão e educar os filhos de imigrantes exclusivamente no idioma português.
O Agrícola foi oficializado em 1953 com o nome de “Escola dos Trabalhadores Rurais Dr. Ernesto Luiz de Oliveira”. Nascido na Lapa, Oliveira se notabilizou por condenar as queimadas e derrubadas florestais, exigindo sua proibição. Tenente na Revolução Federalista, dedicou-se à educação até ser nomeado secretário da Agricultura pelo governador Carlos Cavalcanti (https://x.gd/M22oI).
Em 1962 o colégio mudou de nome, passando a “Manoel Moreira Penna”, um militar, irmão do presidente Afonso Moreira Penna, que governou o Brasil entre 1906 e sua morte, em 1909.
Promessa de sobrevivente
Em Cascavel, a primeira escola surge em 1931, logo após José Silvério de Oliveira, o Tio Jeca, passar de arrendatário a proprietário das terras em que hoje se expande o perímetro urbano da cidade.
Jeca fez construir um pequeno rancho de pinho lascado na Avenida Brasil, esquina com a atual Pio XII, para servir simultaneamente de capela religiosa, escola, delegacia de polícia e posto de saúde.
O professor e diretor Aníbal Lopes da Silva era também delegado de polícia. A escolinha ganhou professores do Estado em 1932.
Quando o Município de Cascavel se instalou, em dezembro de 1952, as autoridades municipais, a começar pelo prefeito José Neves Formighieri e seu sucessor, Helberto Schwarz, passaram a distribuir escolas pelo interior e a sonhar com educandários de nível médio, para que os jovens não ficassem sem perspectivas de aprendizado.
Começa a circular entre as famílias católicas de Cascavel o nome do Colégio Nossa Senhora Auxiliadora, então apenas uma ideia. Pouco antes, o padre Guilherme Maria Heyer (1906–1997) sobreviveu a um acidente aéreo. Havia invocado a proteção de Nossa Senhora Auxiliadora e prometeu que se escapasse vivo da queda do avião criaria uma escola com o nome dela.
Obra grande e demorada
Iniciando a vida religiosa em 1935, Heyer assumiu em julho de 1953 a Paróquia de Nossa Senhora Aparecida, substituindo o padre Francisco Schlüter. Para construir a escola, Heyer pediu à Prefeitura um terreno próximo à igreja católica, cedido pelo prefeito José Neves Formighieri.A escola dependia de doações dos católicos para ser construída e mesmo com ampla participação a obra era muito grande para uma cidade que ainda não deixava antever a metrópole que passaria a ser depois do boom agrícola dos anos 1970.
As obras demoravam e cada problema que surgia era atendido após chamado à comunidade para fazer doações. No ano seguinte, 1954, ao contrário das expectativas, era Toledo que instituía o Colégio La Salle, com a chegada dos irmãos lassalistas. A pequena vila de General Rondon, nesse mesmo ano, também já constituía a sua Sociedade Escolar e o Colégio Auxiliadora seguia como promessa a cumprir.
Em casa alugada
Em março de 1957 surgia o Colégio Rio Branco, do professor Antônio Cid, na Rua Paraná, esquina com a travessa Padre Champagnat, depois transferido ao controle dos Irmãos Maristas.
Nesse mesmo ano surgiu a Escola Normal Regional, sob a direção da professora Irene Grimbor Rickli. As meninas de melhor escolaridade já tinham a perspectiva de se tornar professoras.
Padre Guilherme sabia que logo seria chamado por seus superiores a outra missão paroquial e decidiu não esperar a conclusão das obras: alugou uma casa para receber quatro religiosas da Congregação de São Carlos Bartolomeu que partiram em 16 de março de 1957 de Caxias do Sul (RS) para vir instalar a escola em Cascavel.
Coube à irmã Hermenegilda Bonafé a tarefa de levar a diante todo processo de coordenação e direção do colégio, inicialmente na casa improvisada, até que as primeiras salas de aula ficassem prontas.
Considerado o mais moderno e completo da época, o prédio em madeira abrigava além de centenas de estudantes as juvenistas que ali moravam e se preparavam para a vida religiosa.
Como esperava, padre Guilherme em 1959 foi chamado a instalar a Paróquia Santa Terezinha, em Guarapuava, mas partiu com a promessa feita na hora da angústia plenamente cumprida. Ele morreu em 1997, na Alemanha.
O irmão da secretária
Se o Colégio Nossa Senhora Auxiliadora era um nome ainda sem escola, os primeiros colégios estaduais de Cascavel ficaram por longo tempo sem nome. O primeiro recebeu o nome de Eleodoro Ébano Pereira, figura sem qualquer relação com o Oeste do Paraná, a não ser porque “Heliodoro” era o nome do irmão da secretária da escola.
O segundo colégio estadual foi criado oficialmente em 21 de dezembro de 1959, sem terreno e só com o nome genérico “Ginásio Estadual de Cascavel”, sem sair do papel, como as promessas eleitorais esquecidas.
A Câmara de Cascavel exigiu a construção, mas o Estado alegou que não havia terreno disponível para a obra. Como o deputado Aníbal Khury era o proprietário de uma vasta extensão de lotes urbanos na cidade, o vereador Marcos Formighieri o procurou para que doasse um terreno para a obra.
O deputado mágico
Khury doou o imóvel, mas o governo alegou que a Assembleia Legislativa precisava autorizar a construção no orçamento do Estado. Sendo deputado estadual, Aníbal Khury apresentou emenda ao orçamento e destinou a verba para a obra.
Com o orçamento pronto, não havia como a Assembleia destinar recursos, a não ser em caráter especial, o que dependeria necessariamente de entendimento com o governo do Estado.
Khury negociou pacientemente com o então governador Paulo Pimentel e conseguiu aprovar a emenda. Veio de episódios como esse a fama de “mágico” do parlamentar na condução da política paranaense.
O prédio foi construído rapidamente, como prioridade da administração estadual, e o Ginásio Estadual de Cascavel foi autorizado a funcionar em 22 de dezembro de 1965, com aulas previstas para o ano letivo de 1966.
A autorização para o funcionamento da escola dada às vésperas do Natal foi também fruto de muita pressão, pois do contrário só em meados de 1966 haveria a liberação para o início das aulas, empurrando-as só para o ano letivo de 1967.
As aulas começaram, efetivamente, em março de 1966, sob a direção do professor Luiz Antônio Bruscatto. A escola ganhou nome em dezembro desse ano, após a morte do médico pioneiro Wilson Joffre.
100 anos da revolução: Rês sem sal e derrota
Começa 1925. A tropa da Polícia Militar marcha para o alto na Serra da Esperança, onde o cansaço e o coração agitado recebem o incômodo de um inimigo invencível: “Os malditos mosquitos e abelhas nos perseguem num contínuo zumbido, impertinente, capaz de nos ensurdecer”, escreveu em seu diário o capitão Joaquim Antonio de Morais Sarmento.
Situação mais difícil era a dos rebeldes sulistas que se deslocam em direção ao Paraná. Em 3 de janeiro, data em que Luiz Carlos Prestes completava 27 anos, o aniversário foi interrompido pelas forças perseguidoras de Claudino Nunes Pereira no Boqueirão de Ramada.
“O combate é feroz. As baixas nas fileiras revolucionárias são de 50 mortos e 100 feridos. Mas o adversário bate em retirada para Palmeiras” (Sérgio Rubens de Araújo Torres, Nas barrancas do Rio Paraná).
No Oeste do Paraná, quando a tropa da PM alcança a margem do Rio Medeiros constata que os víveres terminaram. “Uma rês abatida é devorada sem sal pelos soldados famintos”, anotou Sarmento.
Mesmo assim, saborearam milho assado como sobremesa enquanto em São Paulo fracassava com muitas prisões o plano revolucionário para atacar o edifício da Imigração, transformado em cárcere político para os líderes rebeldes.

Fonte: Alceu Sperança
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