Pato Bragado e Palotina, nomes que vieram de longe

Pato Bragado: o impossível se tornando real. Palotina: o milagre antes do santo

Em meio a santos, referência indígenas, fatos e personagens históricos, o interior do Brasil é repleto de cidades com nomes curiosos. De forma especial, o Paraná – Borrazópolis, Contenda, Piên – tem cidades com nomes que não se explicam por si mesmos. No Oeste do Estado se destacam Pato Bragado e Palotina, cidades iniciadas há 70 anos.

Borrazópolis homenageia Francisco Borraz, um banqueiro gaúcho que investiu na colonização da área. Contenda é nome derivado do rio ali existente, cuja origem parece estar na reação dos comerciantes de gado à existência de um posto de cobrança de impostos no local desde o século XVIII. Piên tem origem controversa: para alguns, vem do piado de um gavião; para outros, é “coração” em uma língua indígena.

Por sua vez, a oestina Pato Bragado começa a se formar com a aquisição da Fazenda Britânia pela colonizadora Maripá, em 1946. O plano da Maripá consistia em criar vilas com intervalos entre 10 e 20 quilômetros distantes uma das outras para servir de centro de fornecimento de mercadorias. Pato Bragado foi uma delas.

O plano da Maripá 

Localizadas junto a estradas tronco ou secundárias, as vilas deveriam ter comunicação fácil com a sede, Toledo.

“A vila consistiria de diversas quadras de cem por cem metros, contendo 8 a 10 lotes urbanos. As ruas seriam retas, preferencialmente com traçado norte-sul e leste-oeste, e, a exemplo de Toledo, seriam largas. No centro da vila seria reservada uma quadra para futura praça” (Ondy Niederauer, Toledo no Paraná). 

Vindo de Ijuí (RS) depois de aprender bem o idioma português servindo ao Exército no período da II Guerra, estabeleceu-se em uma delas Hugo Antônio Frank, em 24 de junho de 1952, com a esposa Nair. Iracema Luiza, filha do casal, foi a primeira criança a nascer no local, ainda sem nome.

“Tinha um boteco ali, onde parávamos para beber e comer alguma coisa. Willy disse que o local precisava uma maior consideração pelo movimento que tinha e pela importância para a Maripá. E assim foi feito” (Honório Fornazzari (https://x.gd/SYeQjp).

Hugo Frank havido sido contratado como intérprete de um dos proprietários da Olaria Maripá, Arthur João Thober, que não falava português, e já em 1953 estava lecionando para os filhos dos primeiros moradores da região.

“Além de intérprete, em função da necessidade de educar os filhos dos pioneiros que residiam no local, também foi contratado para ser professor, na vila de Pato Bragado. A empresa construiu a escola e fazia o pagamento do professor” (Inge Romer, Emancipação de Pato Bragado).

O barco surpreendente

Pato Bragado foi o nome que Willy Barth escolheu para o lugar por ser o nome de uma embarcação argentina que parecia impossível ancorar no Porto Britânia, pois o atracadouro só recebia barcos de pequeno calado. 

“Certa ocasião, surgiu um navio com capacidade de carga de até 600 mil pés², que foi carregado com apenas 400 mil pés² e, mesmo assim, foi o navio que maior carga levou deste porto. O navio, ‘Pato Bragado’, tinha por comandante um argentino cuja jovialidade e simpatia contagiante tornou-o amigo de Willy Barth” (Antônio M. Myskiw, Lúcia T. M. Gregory e Valdir Gregory, Porto Britânia a Pato Bragado: memórias e histórias). 

A vila que surgiu começou com um professor também parecia algo inusitado. Uma espécie de “Pato Bragado”, o barco de tamanho e carga tidos como impossíveis de chegar ao Porto Britânia.

A ave que deu nome ao barco, um pato da família dos anatídeos, é bragado (do latim bracatu) por ter as pernas de cor diferente do restante do corpo. O barco também tinha cor diferente no convés em relação ao casco. 

Além de Thober e Hugo Frank, entre os pioneiros de Pato Bragado figuram Reinold Bais, Luiz Underberg e Conrad Klinger. Em 29 de dezembro de 1962 a localidade e seu entorno se tornaram distrito de Marechal Cândido Rondon. 

O Município de Pato Bragado foi instituído em 18 de junho de 1990, com a lei estadual 9.299, e instalado em 1º de janeiro de 1993, com a posse do prefeito Luiz Grando, vice-prefeito Walter Kleemann e os vereadores Antônio Franceschetto, Cláudio Pedro Schaeffer, Arnaldo Pauli, Elio Laurindo Seibert, Celso Stülp, Gilberto Maehler, Holdi Romer, João Valério Specht, Leomar Rohden, Nivaldo Gomes de Souza e Sérgio Kinzkowski.

Renovando a Igreja Católica

No final do inverno de 1953, quando as colonizadoras Pinho e Terra e Maripá trouxeram para a região da futura Palotina os primeiros moradores, vindos de Santa Catarina e Rio Grande do Sul, Vicente Palotti ainda não era santo, mas os padres palotinos desde 1950 se dedicavam a estender o apostolado católico, sua aspiração maior.  

Vincenzo (Vicente) Pallotti nasceu em Roma, capital italiana, em 21 de abril de 1795. Os tempos em que viveu foram marcados pelas consequências ideológicas da Revolução Francesa, das quais brotaram tanto as ideias liberais quanto as reações operárias que deram origem ao Manifesto Comunista, de Marx e Engels.

Em meio ao embate das novas ideias com as tradições conservadoras, Palotti decidiu iniciar um trabalho paciente de renovação do catolicismo, cuja expressão seria a expansão do apostolado.    

Quando morreu, em 22 de janeiro de 1850, Palotti estava longe de imaginar que sua iniciativa não só seria expandida por seus ajudantes como chegaria ao Novo Mundo, tão valorizada que um século depois de sua morte seria beatificado.

Um de seus seguidores fez história no Oeste paranaense: Hermoigênio Borin (https://x.gd/GVcGY).  

Palotina imortalizou o santo 

Quando os primeiros moradores de Palotina chegaram. Trazidos por Borin – Domingos Francisco Zardo, João Bortolozzo, Luís de Carli, Bernardino Barbieri, João Egidio Clivatti, Eugenio Leczinski, Eurico Nenevê, Amado Vilaverde e Francisco Studzinski – confiavam em um bom futuro porque a colonização era avalizada por um religioso respeitado.

“Nove homens e um destino: derrubar a mata, plantar café, abrir ruas, construir casas, fazer uma cidade. Como esperança e fé andam sempre juntas, no dia 6 de janeiro de 54 foi rezada a primeira missa em um altar montado no que hoje é a Granja Possan, por padres Palotinos. Daí o nome da cidade” (Folha da Terra, https://x.gd/I7cZS). 

Vicente Palotti, embora beatificado em 1950, ainda não era um santo referendado pela Igreja Católica nessa época nem quando Palotina se tornou distrito do Município de Guaíra com a lei 3.212, de 1957, mas com a beatificação se deu ampla divulgação às suas ideias de extensão do apostolado.

A comunidade de Palotina sofreu muito com a grilagem acobertada por autoridades estaduais e chegou a sofrer cerco policial (https://x.gd/lpGOM). A solução para os problemas de regularização fundiária veio por ação do STF em 21 de novembro 1958.

O Município foi criado em 25 de julho de 1960, com a lei estadual 4.245, desmembrando-se de Guaíra e Toledo. O primeiro prefeito de Palotina, Waldemar Gregório Empinotti, foi nomeado em agosto daquele ano, permanecendo provisoriamente no cargo até o dia 3 de dezembro de 196l, quando assumiu o primeiro prefeito eleito, Marcelino Afonso Neis.

Os primeiros vereadores foram Albino Schwengber, Antonio Bordin, Bonifácio Laurindo Canceli, Bruno Rohslig, João Bortolozzo e João Pelanda. 

De bancário a prefeito 

Filho de imigrantes italianos, Waldemar Empinotti nasceu em 28 de novembro de 1906 em Antônio Prado (RS). Em 1931 casou-se com Diva Amábile Giordani, com quem teve os filhos Wladimir Dirceu, Tania Marlova (falecida), Airton Luiz, Cláudio Mauro, Júlio Cesar e Tania Marlova. 

Em 1952, junto a outros pioneiros, veio para a região Oeste do Paraná, fixando-se na área da futura cidade de Palotina, que ajudou a formar e a legalizar as terras do entorno.

“No Rio Grande do Sul, Waldemar trabalhou como bancário durante alguns anos, assumindo os cargos de gerência e superintendente regional, assumiu a contabilidade de empresas, tabelionato e prestou apoio na criação de cooperativa. Em Palotina, trabalhou como açougueiro, hoteleiro, respondeu pelo abastecimento das famílias e trabalhadores que desbravavam o local, tendo desenvolvido diversas atividades junto a comunidade” (Marcelo Nava, Assessoria da Câmara Municipal).

A instalação oficial de Palotina se deu em 3 de dezembro de 1961. Nem nessa época, entretanto, Palotti já era santo. Sua canonização só ocorreu em 1963, no Concílio Vaticano II, passando a ser chamado “São Vicente Pallotti”.

O impacto da ação dos padres palotinos no Oeste paranaense foi tão marcante que o único santuário no mundo dedicado ao santo está localizado justamente no Paraná, em Ribeirão Claro.

100 anos da revolução Só uma questão de horas 

Apesar de não produzir baixas significativas entre as forças revolucionárias, o bombardeio iniciado em 12 de julho espalhava o pânico e a morte entre a população civil. 

Em dezesseis dias, das mais de 1.800 edificações arrasadas, uma centena eram fábricas e estabelecimentos comerciais.

Enquanto o governo passava ao país a farsa de que havia derrotado a revolução, naquele mesmo 12 de julho se dava o primeiro movimento em apoio à revolta, em Bela Vista (MT). 

Jovens oficiais tentam sublevar o 10º Regimento de Cavalaria, mas não conseguem. Se tivessem êxito dariam fôlego à intenção de formar o Estado Livre do Sul a partir do Mato Grosso. 

Apesar da derrota, a ideia não morreu e teria futuros lances nas movimentações militares e na política. 

A imprensa desinformava por pressão da polícia, dando a rebelião como vencida. O presidente fingia – ou foi assim informado pelos subordinados – que os revolucionários não teriam como resistir por mais de 48 horas depois dos bombardeios.

Assessores enganando governantes com informes manipulados é prática habitual na gestão pública.   

Artilharia do tenente Cabanas na Revolução de 1924

 

Fonte: Alceu Sperança

Comentários

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *