Sabe-se que a iniciativa de imprimir cartilhas para os índios e replicar publicações de doutrinação religiosa, como catecismos, foi decidida pelos padres jesuítas, que criaram cidades de índios no Oeste do Paraná – as reduções.
Os primeiros impressos provavelmente foram feitos na redução de Nossa Senhora de Loreto, fundada em 1610 pelos padres italianos José Cataldini e Simón Mascetta à margem esquerda do Rio Paranapanema. Depois da expulsão dos jesuítas ela se transferiu para o Sul, onde foram localizados esses primeiros impressos.
Nos arredores de onde hoje se encontra a localidade de Itaguajé, o Sítio Arqueológico da Redução Jesuítica de Nossa Senhora de Loreto, com uma área de 22,7 hectares, foi tombado pelo patrimônio histórico em março de 2013.
Até meados do século XX, o Oeste já havia conhecido publicações esparsas. A primeira relatada veio do naturalista e escritor anarquista suíço Moisés Bertoni, que fez chegar a Foz do Iguaçu em 1918 uma publicação bilíngue em Português e Espanhol.
O primeiro jornalista
Filho de um advogado e uma professora que lhe passou o apreço pela botânica, Moisés Santiago Bertoni nasceu na aldeia de Lottigna, no cantão Ticino, em 15 de junho de 1857. Sua vida foi uma entrega completa à busca e divulgação do conhecimento.
Enfermo de malária, Bertoni morreu em 19 de setembro de 1929, aos 72 anos, na residência do imigrante alemão Harry Erwin Schinke, em Foz do Iguaçu, mas foi sepultado no Paraguai, onde sua memória é reverenciada.
Há museus com seu nome e a localidade em que foi enterrado recebeu o nome de Porto Bertoni. O site Documentos Revelados menciona Bertoni como o criador do primeiro jornal a circular na região (Alto Paraná, 1918).
Depois dele vieram O Veneno (1934), do sargento Gustavo Barbosa; A Voz do Iguaçu (1951), do capitão Eurico Nogueira; e O Marco (1951), conhecidos apenas na fronteira.
O início forte da imprensa oestina veio com a publicação de três jornais na primeira metade da década de 1950: Correio d’Oeste (Cascavel), O Oeste (Toledo) e A Notícia (Foz do Iguaçu).
Tipografia moderna e impressora antiga
O catarinense Celso Formighieri Sperança (1927–1977) veio de Curitiba para Cascavel a convite do prefeito José Neves Formighieri, seu primo, para ocupar a Secretaria da Educação do Município de Cascavel. Devido a desentendimentos com a Câmara, Sperança deixou a Prefeitura e decidiu criar uma gráfica para a publicação de um jornal.
Abriu um modesto escritório próximo à Praça Getúlio Vargas e se dirigiu a Curitiba, obtendo uma tipografia completa junto ao governador Moysés Lupion, que tinha participação acionária nos jornais O Dia e Gazeta do Povo.
“A tipografia foi instalada na Rua das Palmeiras [atual Rua Souza Naves], em frente ao atual Centro Comercial Lince. Na época, ali ainda não era o centro da cidade. O que se considerava centro ainda era a área ao redor da Praça Getúlio Vargas, ou seja, a antiga Encruzilhada” (Projeto Livrai-Nos!, A Pedra Atirada e o Correio d’Oeste https://x.gd/1XLrb).
Em Guarapuava, conseguiu do jornalista Antônio Lustosa de Oliveira uma impressora histórica, chegada aos Campos Gerais em lombo de burro no crepúsculo do século XIX.
Surgiu, assim, o jornal Correio d’Oeste, instalado no início de 1953 e cujo primeiro número veio a público em maio. Celso F. Sperança figurava como diretor-responsável, Lyrio Bertolli (mais tarde eleito deputado federal) era o redator. Participavam ainda de sua direção Paulo Dodô Rodrigues Pompeu e Valdir Ernesto Farina, contando com Luís Guiné na direção gráfica.
Zenni, o polivalente
O jornal, além de notícias de interesse regional, promovia campanhas, uma das quais propondo o estímulo à cafeicultura, que se esvaziou após fortes e seguidas geadas.
Celso aproveitava o espaço do jornal para apresentar queixas, chistes e críticas por meio de um personagem que sequer os mais ingênuos supunham ser outra pessoa além dele: “J. Urutu de Souza”.
Em Toledo, o semanário O Oeste frutificou no interior da gráfica iniciada por Clécio Zenni (1930–1995), funcionário da colonizadora Maripá. Ele ainda foi vereador, presidente da Câmara e prefeito interino de Toledo.
Com o apoio de Willy Barth e Egon Bercht, Zenni fundou a Impressora Toledo Ltda em 1950. Depois de alguns anos fazendo blocos de notas e outros impressos corriqueiros, decidiu ousar um pouco mais, passando a imprimir informação.
A primeira edição de O Oeste veio a público em 6 de setembro de 1953. Apresentava Zenni como diretor-gerente, Willy Carlos Trentini como redator-chefe e colaboradores o engenheiro agrônomo Rubens Stresser e o contador Ondy H. Niederauer.
O tratorista e a namorada
Como no caso do “J. Urutu”, a grande atração do jornal toledano era uma coluna de humor em que Stresser e Ondy apresentavam cartas trocadas entre personagens emblemáticos na formação de Toledo: Chorch, tratorista da Maripá, e sua namorada Katrine.
“Sua veiculação foi semanal, com uma tiragem de 100 exemplares, sendo comercializados no município através de assinaturas semestrais e venda avulsa, bem como a disponibilização de alguns exemplares para a cidade de Cascavel e Guaíra” (Reginaldo Aparecido dos Santos, Narrativas Urbanas https://x.gd/JBQSk).
“Não existiam máquinas de compor os textos. Assim, o jornal todo era composto manualmente, tipo por tipo, letra por letra. Eram funcionários desta primeira gráfica, os dois então meninos: Olívio Sarturi e Waldir Formighieri” (Ondy Nederauer, Toledo no Paraná).
Sarturi e Formighieri cresceram na gráfica, tornaram-se sócios e por fim proprietários da empresa, até que dissolveram a sociedade, com Formighieri mantendo a empresa com o nome de Sul Gráfica Editora e Sarturi abrindo a Livraria Barão. Outro sócio era Ivo Welter, que começou vendendo bicicletas no balcão do jornal e depois criou sua própria empresa comercial.
Na luta pelo turismo
O jornal A Notícia resultou de uma complexa trama de acontecimentos iniciados com o esgotamento da ditadura do Estado Novo, em meio à II Guerra Mundial.
As duras medidas de restrição à entrada de estrangeiros a Foz do Iguaçu pelo Rio Paraná desagradaram aos comerciantes. Liderados pelo gerente do Hotel Cassino Iguassu, major José Acylino de Castro, enviaram ao governo federal queixa declarando que medidas restritivas afetavam negativamente o turismo local.
“Como o objetivo da empresa é difundir o turismo, o Brasil estava perdendo turistas para a Argentina que, no momento, oferecia melhores condições de transporte. Do lado brasileiro, as autoridades ao invés de facilitar, dificultam a entrada de estrangeiros no país” (Micael Alvino da Silva, Repressão policial na parte brasileira da tríplice fronteira [1942-1945] https://x.gd/un8x1).
Sofreram dos fiscais de renda do Estado a suspeita de colaborar com a evasão de divisas via contrabando, um dos objetivos centrais das restrições à circulação de visitantes. O episódio resultou em um caso de polícia documentado pelo Dops.
Para reagir às limitações, sob o comando de Acylino de Castro um grupo de empresários – João Lobato Machado, Fernando Campiã, Vitório Basso, Inácio Sotto Maior entre outros –, fundaram em 1953 o jornal A Notícia.
A impressora de A Notícia era a mesma do Correio d’Oeste. Apanhada em Cascavel por Lobato Machado, foi instalada em Foz do Iguaçu por Celso Sperança, que ao retornar a Cascavel voltou a prestar serviços à Prefeitura, nas funções de contador.
Mais tarde também prestaria serviços contábeis aos Municípios da Rota do Oeste, Catanduvas e Santa Helena. Sua última colaboração na imprensa foi a Coluna Um no diário Fronteira do Iguaçu, de Cascavel, em 1976. Morreu no ano seguinte, em Caçador (SC).
100 anos da revolução: Bombas sobre São Paulo
Em 11 de julho de 1924 São Paulo já estava cercada pelas tropas legalistas, que pela manhã do dia 12 começaram a bombardear a capital, rapidamente levando a terríveis perdas de 1.800 prédios destruídos, 503 pessoas mortas, 4.876 feridos e ao final do período a prisão de dez mil pessoas.
“Os líderes rebeldes não acreditam que as baterias do Exército estejam atirando deliberadamente contra alvos civis, espalhando a destruição e a morte entre os moradores desarmados dessas regiões afastadas, sem nenhum interesse militar” (Domingos Meirelles, As Noites das Grandes Fogueiras).
“O bombardeio da capital, com apoio aéreo, além de provocar o pânico entre a população, alertou as classes conservadoras para a ameaça de destruição dos estabelecimentos comerciais e industriais da cidade” (Plínio de Abreu Ramos, https://x.gd/YXcMU).
Surpreendendo os revolucionários, que esperavam dos militares estrita obediência às leis da guerra, os canhões do governo mirando sem critério um aglomerado urbano era um evidente crime de guerra cometido por Bernardes.
“Além de imoral, esse bombardeio é também impiedoso e criminoso; uma demonstração de que o presidente Bernardes enlouqueceu. O Exército não pode desrespeitar a Convenção de Haia de 1917, da qual o Brasil é um dos signatários. (…) O presidente Bernardes, com esse bombardeio, provou mais uma vez que não tem condições morais de continuar exercendo a Presidência da República” (desabafo de Isidoro testemunhado pelo general Emigdio Miranda).
O arcebispo d. Duarte Leopoldo e Silva (1867-1930) pediu a Bernardes que parasse de jogar bombas contra São Paulo, mas não foi atendido.

Fonte: Alceu Sperança
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