As primeiras leis municipais de Cascavel, em 1953, foram de iniciativa do prefeito, para adequar o Município recentemente criado às normas gerais de funcionamento do poder municipal. Uma das primeiras leis propostas pelos vereadores, iniciativa do enfermeiro Antônio Alves Massaneiro, a Lei 9, aprovada em 9 de abril de 1953, criava a Taxa Hospitalar, beneficiando diretamente o Hospital Nossa Senhora Aparecida, do médico Wilson Joffre (https://x.gd/AkEgi).
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É quando começa a formação do polo médico de Cascavel, um dos mais importantes do país. A lei, sancionada pelo prefeito José Neves Formighieri em 15 de abril, determinava a cobrança de um adicional de 5% sobre os impostos municipais para repasse trimestral ao Hospital Nossa Senhora da Aparecida “até que outros estabelecimentos congêneres venham a ser instalados, quando então será estabelecido novo critério para o emprego e distribuição”.
Hoje seria impossível uma lei para beneficiar uma empresa, mas o hospital criado pelo médico Wilson Joffre surgiu como uma espécie de cooperativa formada pelas famílias mais numerosas da cidade e das vilas do interior. No futuro, quando Joffre comprar todas as cotas pertencentes a essas famílias, a casa de saúde já estará sólida e não precisará mais da Taxa Hospitalar.
A conquista do posto de saúde
Massaneiro foi um dos líderes do movimento para criar o Município, depois de já ter participado em 1949 da fundação do Tuiuti Esporte Clube. Este, até 1952, funcionava alternativamente como uma espécie de conselho da comunidade, procurando resolver os problemas do distrito de Cascavel diante da omissão ou falta de recursos da Prefeitura de Foz do Iguaçu.
A história de Massaneiro começa em 22 de dezembro de 1913, quando nasceu em Taquara Verde (Caçador, SC). Órfão, foi adotado por Artur e Carolina Santos, pais do farmacêutico Tarquínio Joslin dos Santos (https://x.gd/aVokt).
Artur trabalhava no ramo madeireiro em Curitiba, onde Tarquínio nasceu, em 13 de abril de 1900. Depois a família se transferiu para União da Vitória e fazia negócios com o interior catarinense.
Adotado pela família Santos, ainda criança Massaneiro foi treinado por Artur em serviços farmacêuticos e enfermaria, seguindo os passos do irmão Tarquínio, até a família se transferir para Foz do Iguaçu.
Na fronteira, onde já participava do quadro médico do Estado na área de enfermagem, Massaneiro soube que estava prevista a abertura de um Posto de Saúde no Distrito de Cascavel, reivindicado pelas lideranças locais, dentre elas seu irmão de criação, Tarquínio.
Santos considerava que os tratamentos paliativos dados por curandeiros se baseavam em deixar a doença cumprir seu ciclo e ir embora, mas havia males persistentes que requeriam atenção continuada, a ser oferecida por orientação técnica adequada.
Fora do futebol, só sucesso
Vindo para Cascavel na expectativa da breve criação do posto de saúde, Massaneiro participou em 1949 da criação do Tuiuti Esporte Clube, atuando nele como bom presidente, mas um diretor esportivo sofrível, segundo outro fundador do clube, Clary Boaretto:
“O primeiro fogo do Tuiuti foi contra uma equipe da Serraria Central, de Moysés Lupion, onde hoje é Santa Tereza, ao lado da casa de Paulo Víchoski. Perdemos o jogo por 6 a 2”.
O time foi organizado pelo primeiro presidente do Tuiuti, João Arquelau Soares, e por Massaneiro. Afastados os dois da seção esportiva, o Tuiuti veio a se tornar depois uma poderosa equipe na região.
Nos demais setores, porém, Massaneiro participou com sucesso das iniciativas para o fortalecimento da comunidade local até que em 1951 foi designado para a função de enfermeiro responsável pelo primeiro posto de saúde.
População pequena, jovem e saudável, as ocorrências no posto eram escassas. Massaneiro abriu sua própria farmácia próxima ao hospital, na Rua Moysés Lupion, atual Sete de Setembro, esquina com Rio Grande do Sul, diante da futura Praça Wilson Joffre.
Os remédios que abasteciam as farmácias eram encomendados em São Paulo, despachados para Porto Epitácio (SP), no Rio Paraná, dali seguindo até Foz do Iguaçu, onde eram retirados.
Na farmácia de Santos, só pagava pelos remédios quem tinha recursos. Os pobres, sem condições de pagar, levavam os medicamentos gratuitamente. Massaneiro também mais socorria doentes do que lhes vendia remédios.
Meio comércio, meio caridade
Por sua atitude, os dois farmacêuticos eram amados pela população. Para ajudar os despossuídos, a primeira luta comunitária de Tarquínio em Cascavel, após a instalação de sua farmácia, foi reivindicar para a vila o posto de saúde, criado em seguida pelo governo do Estado.
O posto era dirigido por seu irmão de criação, o enfermeiro Antônio Massaneiro. Com a criação do posto público e a ampliação dos serviços do Hospital Nossa Senhora Aparecida, Tarquínio se sentiu à vontade para vender o estabelecimento e se mudar para Foz do Iguaçu, a conselho médico, para tratamento de saúde.
Ainda em 1951, quando assumiu o posto, Massaneiro, sempre atento às notícias que vinham de Curitiba, surpreendeu-se com a informação de que na Assembleia Legislativa do Paraná tramitava projeto de lei criando vários municípios, dentre os quais o de Toledo.
A vitória da mobilização
Obtendo mais informações, Massaneiro percebeu que o novo Município de Toledo abrangeria ampla área do distrito de Cascavel, inclusive a cidade. De imediato, Massaneiro correu a cidade em busca de apoio à proposta de ir a Curitiba e impedir a manobra de Toledo de incluir Cascavel em seu território.
Tentou apelar à Assembleia, mas as comissões parlamentares não queriam aceitar a criação de dois municípios na região, até porque nenhum teria meios próprios para se manter. Um amigo que conheceu em Santa Catarina – o agropecuarista José Neves Formighieri – ficou sensibilizado com a campanha de Massaneiro e decidiu ir à luta.
Neves bancou a equipe pró-Cascavel com dinheiro do bolso durante o tempo necessário para virar o jogo e evitar que Cascavel fosse transformado em distrito de Toledo. Depois de intensas negociações, conseguiu o apoio necessário para garantir a criação do Município, sem imaginar que iria nascer sem recursos do Estado e ele, Neves Formighieri, seria o primeiro prefeito.
Para se manter, o novo Município teria que vender terrenos urbanos que pouco interessavam aos colonos. Eles viviam em suas propriedades no campo e só investiriam em mais terras.
Mesmo assim, sem recursos, Cascavel conseguiu entrar nos anexos da lei 790, de 14 de novembro de 1951, como um dos novos municípios do Paraná, ao lado de Toledo e não como parte deste.
Um homem de ação
Depois de participar na linha de frente da luta pela emancipação de Cascavel, Massaneiro concorreu à Câmara Municipal pelo PTB nas eleições municipais, elegendo-se com 51 votos. Concorreu, portanto, na chapa contrária à do irmão Tarquínio (Partido Republicano). A lei 9 foi sua iniciativa mais importante.
Massaneiro, nas eleições de 1956, concorreu à Prefeitura, mas desistiu por conta da polarização entre Helberto Schwarz e Wilson Joffre. Em 1959 foi eleito para a presidência da Associação Rural de Cascavel, criada por Tarquínio, ali permanecendo até 1963.
Massaneiro também foi juiz de paz. Casado com Maria Herondina Costa Doca Massaneiro, teve três filhos: Itacir, Marlene e Edson. Morreu em 5 de janeiro de 1972, dando nome a uma das principais ruas transversais à Avenida Brasil.
Por sua vez, Tarquínio morreu em 3 de março de 1979, de edema pulmonar e insuficiência renal, depois de três infartos. Para homenagear sua memória, o Município de Cascavel deu seu nome a um importante parque ecológico e a uma rua do Jardim Maria Luíza, paralela à Avenida Carlos Gomes.
Santos era sogro do major Francisco José Ludolf Gomes, da Engenharia Militar do Exército, que se casou com a filha Yolanda e integrou a Comissão e Estradas de Rodagem (CER-1), responsável pela construção da atual BR-277 desde Ponta Grossa até Foz do Iguaçu.
100 anos da revolução: Ódio mortal à crítica
O cartunista Belmonte (Benedito Bastos Barreto) tinha 18 anos quando criou um personagem – Juca Pato – que sempre confiava no governo, seguia com fidelidade e obediência o presidente de plantão e se dava muito mal por não ter espírito crítico para perceber os defeitos e falhas dos políticos.
Em 15 de março de 1924, quando militares rebeldes brasileiros preparavam uma revolução, a revista Cigarra publicou entrevista com Belmonte, na qual ele mostrava surpresa com a reação furiosa dos adeptos do presidente Artur Bernardes aos desenhos críticos ao governo: “Eu tive a honra de receber a primeira carta anônima, carta pavorosa e ameaçadora em que o ignoto remetente prometia espatifar-me os ossos e beber-me o sangue”. “Eu sorrio, porque vejo nelas [nas ameaças] o reflexo dessa potência que é o lápis a serviço de uma causa”.
Sempre satirizando a extrema-direita e o nazismo, Belmonte foi caluniado até pelo todo-poderoso Joseph Goebbels, ministro da Propaganda de Hitler: “Certamente o artista foi pago pelos aliados ingleses e norte-americanos”, disse o líder nazista, que horas depois matou a própria família e se suicidou com cianeto.

Fonte: Alceu Sperança
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