O primeiro “aeroporto” do Oeste paranaense, na verdade uma grande clareira, veio como resposta à revolução de 1924, quando os rebeldes paulistas ocuparam posições na região de Catanduvas.
Por ordem do general Cândido Mariano da Silva Rondon, foi aberto em Colônia Mallet, futura Laranjeiras do Sul. O motivo não foi elogiável: para abater o ânimo dos rebeldes, os aviões do governo espalhavam panfletos mentindo que os revolucionários estavam se rendendo ou desertando.
Nos anos 1930, porém, o Correio Aéreo Militar faria voos humanitários para o extremo-Oeste. A aventura começa pelo chão, em 30 de junho de 1932, quando o capitão Edgard Buxbaun, à frente de um impressionante pelotão de 200 homens, dentre os quais oito oficiais e diversos sargentos e cabos, parte de Curitiba rumo à fronteira.
Iriam formar a Companhia Isolada de Foz do Iguaçu, com as missões iniciais de combater o contrabando, instalar uma estação radiotelegráfica e construir o aeroporto na fronteira.
Chegaram em 7 de julho de 1932, dois dias antes de forças militares sediadas em São Paulo se rebelarem contra o “governo provisório” de Getúlio Vargas, iniciando a Revolução Constitucionalista (https://x.gd/RrxyR).
Mello Maluco, o astro dos ares
Já avisado de que Cascavel estava no roteiro, o líder da comunidade, Jeca Silvério, destinou para a aviação militar uma área entre a futura Praça do Migrante e o Terminal Rodoviário.
Em Foz do Iguaçu, “pelas condições topográficas, a escolha recaiu sobre as terras que abrangiam a chácara de Fulgêncio Pereira, recanto onde ele viveu por longos anos e constituíra sua numerosa família” (Otília Schimmelpfeng, revista Cabeza, edição nº 11).
Professora, Otília narrou sua impressão do primeiro voo que alcançou Foz do Iguaçu, em 23 de março de 1935: “Ouviu-se um estranho ruído no ar despertando a atenção de todos que, saindo à rua, viam extasiados um aviãozinho militar evolucionando o céu, qual uma ave desconhecida num voo de reconhecimento migratório”.
Era um aeroplano vermelho que vinha da 5ª Base Aérea. Na lembrança dela, o piloto era o tenente Haroldo Domingues, que também voava para Foz do Iguaçu, mas segundo a FAB o voo inaugural foi feito pelo capitão Orsini de Araújo Coriolano, conhecido por presidir o Clube de Regatas do Flamengo, do Rio de Janeiro, e pelo tenente Manoel de Oliveira.
O aeroporto foi concluído em 1º de abril de 1935 e a partir daí os voos passaram a ter calendário. Não se sabia a hora que o avião chegaria, mas no dia marcado desde cedo a população se aglomerava às margens da pista gramada esperando o tenente Domingues fazer voos rasantes sobre os telhados.
Com normas relaxadas, os pilotos “se apresentavam com sua folha seca ou um looping sobre o campo” (Otilia Schimmelpfeng). O mais ousado e criativo era Francisco Correia Mello, não sem motivo apelidado de “Mello Maluco”, que chegou a brigadeiro e foi ministro da Aeronáutica.
A festa da semana
Os voos do Correio Aéreo Nacional à vila de Cascavel, que os viajantes conheciam como “Encruzilhada dos Gomes”, eram ansiosamente esperados pela população nas tardes de quarta-feira.
Presenciar o pouso do monomotor e saber as novidades em primeira mão era programa geral na vila, ainda sem grande movimento comercial. “O CAN realiza no Paraná um percurso que se inicia em Curitiba e seguindo por Prudentópolis, Cascavel, Foz do Iguaçu e Guaíra, penetrando no Mato Grosso. (…) Esse campo de aviação – na verdade, uma clareira aberta nas proximidades da atual praça Getúlio Vargas – é apenas o primeiro de quatro aeroportos que ocuparão a mesma área mediante sucessivas reformas sendo o solo então coberto de grama” (Carlos e Alceu A. Sperança, Pequena História de Cascavel e do Oeste).
A primeira linha aérea internacional chegou para Foz do Iguaçu já em 1938, pela companhia Pan American (Rio-Assunção-Bueno Aires), ida e volta, com pouso em Foz do Iguaçu, uma vez por semana.
Apesar de ter um posto da Aeronáutica, a primeira linha comercial só viria para Cascavel em 1952, depois de um episódio de perseguição policial a criminosos foragidos da fronteira (https://x.gd/E7t9N).
Em 2 de janeiro de 1953 foi inaugurado o aeroporto de Cascavel, resultante da mobilização da comunidade puxada pelo padre Luiz Luíse e pelo médico Wilson Joffre, com o apoio do madeireiro Florêncio Galafassi e comerciantes da cidade.
Por iniciativa do vereador Jacob Munhak o campo recebeu o nome oficial de Aeroporto Coronel Adalberto Mendes da Silva. Grande benfeitor de Cascavel, Mendes da Silva foi promovido a general.
O voo inaugural da empresa Real Aerovias se deu em 11 de janeiro de 1953. A linha era feita por um avião Douglas DC-3, “com seus dois motores radiais que expeliam fogo e fumaça quando eram acionados” (Elcio Zanato, Cascavel, A Grande Conquista).
Terras e pinhais
“A Real não vencia satisfazer a todos e obrigou-se a aumentar os voos. Em meio ano o tráfego de Cascavel aumentou tanto que entre as 250 localidades brasileiras servidas pela aviação civil Cascavel colocou-se em 50º lugar. Em breve Cascavel tornou-se famosa pelas suas terras e conhecida, atraindo gente de todas as partes do Brasil” (padre Luiz Luise).
Em maio do mesmo ano a empresa Cruzeiro do Sul fez seu primeiro voo comercial a Cascavel. O movimento aéreo cascavelense já se equiparava ao de Curitiba, pela procura de investidores em busca de terras, pinhais e perspectivas de negócios.
Já em tratativas para conseguir voos comerciais, a população de Toledo era saudada por aviadores que sobrevoavam a vila e atiravam exemplares de jornais do dia. Civis ou militares, aliás, os aviadores sempre traziam impressos para atualizar os líderes e comerciantes das localidades por onde passavam.
Esse hábito motivou o interesse das comunidades locais em ter seus próprios jornais para que chegassem às autoridades em Curitiba com as reivindicações do interior.
Ainda em maio de 1953 começa a circular o primeiro jornal de Cascavel: o Correio d’Oeste, de Celso Formighieri Sperança. Seu principal colaborador era Lyrio Bertoli, agente da Real Aerovias em Cascavel.
Ele coletava os jornais trazidos pelos aviadores no Aeroporto e lhes passava publicações locais para levarem a autoridades em Curitiba e locais em que faziam escala.
Letra por letra
Com o Correio d’Oeste circulando em Cascavel desde maio, em Toledo a ideia de abrir um jornal ocorreu a Clécio Zenni, funcionário da Maripá que com apoio da empresa iniciou uma gráfica em 1950.
O número 1 do jornal O Oeste circula em 6 de setembro de 1953 tendo Willy Carlos Trentini como redator-chefe e os meninos Olívio Sarturi e Waldir Formighieri nos serviços gráficos. “Não existiam máquinas de compor os textos. Assim, o jornal todo era composto manualmente, tipo por tipo, letra por letra” (Ondy Niederauer, Toledo no Paraná).
Em 1954, já com seu aeroporto municipal, Toledo também passa a registrar intenso movimento aéreo. Nesse ano começa a circular em Foz do Iguaçu o jornal A Notícia, de João Lobato Machado, major Acelino de Castro e Inácio Sotto Maior, impresso no equipamento do jornal Correio d’Oeste, de Cascavel.
“Era uma maquinazinha que chegou a Guarapuava em lombo de burro em 1898, cedida pelo jornalista Antônio Lustosa de Oliveira, que foi deputado e prefeito de Guarapuava” (Celso Sperança).
Experiência interessante foi a do advogado José Bernardo Bertoli, irmão do agente da Real, Lyrio. Zé Bertoli era um dos astros do time de futebol do Tuiuti Esporte Clube e teve a ideia de imprimir na gráfica do Correio d’Oeste indicações de serviços e classificados de empresas locais em uma grande folha aberta de jornal, para distribuir como toalha para os hotéis, bares e restaurantes que recebiam viajantes.Vereador e líder cooperativista, Zé Bertoli também foi proprietário da Rádio Colmeia de Cascavel.
A imprensa do interior tinha como objetivo dar eco às necessidades das comunidades, projetos e obras esquecidas ou prejudicadas pelos remanejamentos de verbas.
100 anos da revolução: Os líderes divididos
O regime elitista dos anos 1920 evitava reformas. No papel, os três poderes eram independentes e as eleições limpas, mas não na prática.Com a proximidade das eleições de 17 de fevereiro de 1924, o governo Bernardes precisava entregar mudanças concretas e a principal poderia ser a justiça tributária.
Ao encaminhar sugestões para o Imposto de Renda ao ministro da Fazenda, Sampaio Vidal, o especialista Francisco Tito Reis advertiu que a tributação mais justa iria contrariar “os censuráveis costumes políticos” existentes.Contra tais costumes crescia a revolta no país, mas uma revolução operária estava fora de questão por conta de acirrada batalha entre bolcheviques e anarquistas.
Os primeiros defendiam um Estado proletário e os anarquistas retrucavam que não deveria haver Estado: “Onde existe governo há escravidão e miséria”.
Por isso os militares que preparavam um golpe para depor o presidente Bernardes ficaram relutantes em incorporar ao movimento os líderes divididos do movimento operário.

Fonte: Alceu Sperança
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