No Rio Grande do Sul, a família Biazus é uma lenda ligada ao setor automotivo. Na história do Oeste, a presença dessa família de descendentes de imigrantes italianos teve início em 1949, quando a colonizadora Pinho e Terras comprou o imóvel Terreno Iguaçu, de Miguel Emílio Matte, com 193,6 milhões de m².
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Benjamim Luiz Biazus destacado pela empresa para comandar a Colonizadora Matelândia, nome que não se devia à história da erva-mate na região, mas ao antigo proprietário do imóvel, que, não podendo ele mesmo colonizar a região, facilitou a aquisição das terras aos desbravadores gaúchos.
Começava ali a contribuição de Biazus, que excederia a colonização de Matelândia para se integrar ao conjunto da formação da Rota Oeste, que ele completou ao vincular Matelândia aos interesses de Cascavel.
A colonizadora Pinho e Terras teve uma participação importante para a consolidação da cidade de Cascavel. Proprietária da Oeste, a primeira empresa de transportes rodoviários de passageiros da região de Cascavel, instalou a segunda estação rodoviária da cidade em seu prédio.
Seu maior legado foi a doação do imóvel onde se encontra o parque do Tuiuti Esporte Clube, no bairro São Cristóvão, mas teve o ativo da cooperação ao desenvolvimento da cidade manchado pela fama de patrocinar o jaguncismo, expulsando posseiros a ferro e fogo.
Por outro lado, “(a colonizadora Pinho e Terra) foi um exemplo de colonização. Abria uma gleba, loteava e dotava de infraestrutura mínima, com igreja, escola, praça, um núcleo populacional que passava a ser embrião de uma cidade. Assim surgiram Santa Terezinha de Itaipu, São Miguel do Iguaçu, Matelândia…” (João Samek, depoimento a Juvêncio Mazzarollo, Gazeta do Iguaçu, 19 de julho de 1993).
Forçando a construção da BR-277
Arlindo Mosé Cavalca, outro construtor de cidades e também ligado a Biazus, conta um episódio que dá uma ótima visão de como o desenvolvimento da região e a formação da Rota Oeste aconteciam nesse final da década de 1940:
“A Colonizadora Criciúma (hoje Santa Terezinha de Itaipu), tinha como diretor Silvino Dal Bó; a Colonizadora Gaúcha, dirigida por Benvenuto Verona, com a minha ajuda; a Colonizadora Industrial Agrícola Bento Gonçalves (hoje Medianeira), dirigida por Pedro Soccol e José Calegari e a Colonizadora Matelândia, cujo diretor era Luiz Biazus, unidas com a Industrial Madeireira de Cascavel, dirigida por Florêncio Galafassi, decidiram abrir a estrada de Matelândia a Foz do Iguaçu”.
A estrada sofreu descontinuidade com a aventura frustrada da ditadura Vargas de construir uma megaestrada no Paraguai. Com o fim da ditadura e do Território Federal do Iguaçu, as obras rodoviárias reclamadas insistentemente pelos colonizadores finalmente tiveram sequência.
De graça até conseguir pagar
Todos os pioneiros que fizeram a Rota Oeste ganharam o reconhecimento de suas comunidades pelo esforço realizado quando esse trecho da atual BR-277 eram várias estradas ervateiras e indígenas antigas e precárias cortando timidamente uma densa floresta na qual zuniam os mais famintos borrachudos do país.
O reconhecimento a Silvino Dal Bó é atestado por uma estátua em praça pública em Santa Terezinha de Itaipu. Vereador em Foz do Iguaçu, ele também foi prefeito interino desse Município, que na época abrangia toda a região.
Benjamin Biazus, o menos lembrado de todos, cunhou uma fórmula para fazer de Matelândia um local atraente até para aventureiros sem posses, similar ao de Jeca Silvério, em Cascavel: oferecer lotes urbanos de graça a quem estivesse disposto a trabalhar nas matas ao redor.
Os primeiros 40 colonos vieram para ganhar um terreno na vila, com a condição de comprar um lote rural que custava 12 contos de réis por apenas cinco contos, mais a facilidade de pagar prestando serviços, como contou Biazus ao historiador José Augusto Colodel (Matelândia, História e Contexto).
Karine Albano (Trabalhadores Rurais e Sindicato em Matelândia) também narra o caso de uma família que ao chegar se instalou em uma casa da colonizadora sem precisar pagar aluguel. O chefe da família trabalhou fazendo transporte com carroça e assim acumulou recursos para pagar pela propriedade.
Padre, personagem essencial
O interesse de Biazus era apresentar no Sul a propaganda de uma cidade já formada e uma colonização em pleno progresso, para interessar os colonos gaúchos, pressionados pelo minifúndio familiar, a migrar ao Paraná.
Oferecia “terras férteis, legalizadas e baratas e boa infraestrutura básica para recomeçar a vida no sertão oeste paranaense’, segundo Roberto Marin:
“Pode-se enumerar cinco fatores que contribuíram para o sucesso da empreitada da Pinho e Terra: excelente divulgação na imprensa (vias jornais Correio Riograndense e Correio do Povo); escrituras legais; e a presença da igreja, escola e atendimento médico já nos primórdios da colonização” (Roberto Marin, Medianeira e Matelândia, da colonização à emancipação).
Oferecer a presença da Igreja Católica era essencial ao projeto e nesse objetivo a família Biazus foi vítima do “segundo roubo” de padre acontecido na região.
O primeiro se deu quando o padre Antonio Patuí foi “sequestrado” em Cascavel por emissários da colonizadora Maripá e levado a Toledo, onde foi convencido a ficar com ofertas de apoio a obras religiosas (https://bit.ly/425jGpJ).
O segundo foi narrado no livro Cascavel: Uma Santa na Encruzilhada (https://bit.ly/3QaKbnt), de Regina e Alceu A. Sperança, contando que Biazus pediu ao padre Domingos Fiorina, superior geral dos padres missionários de Nossa Senhora Consoladora, no Seminário de Três Vendas, em Erechim, que enviasse um padre para assistir espiritualmente aos colonos.
No início de 1952, Fiorina efetivamente enviou o padre Luiz Luíse para que fosse conhecer Matelândia e em seguida se apresentar ao prelado de Laranjeiras do Sul, d. Manoel Könner.
O trator desaparecido
Chegando a Foz do Iguaçu via aérea, o padre Luíse seguiu a Matelândia, dirigindo-se após a Laranjeiras do Sul, onde se entrevistou com o prelado. Dom Manoel aceitou a presença do missionário de Nossa Senhora Consoladora na sua prelazia, mas determinou que padre Luiz fosse trabalhar em Cascavel, atendendo a insistentes pedidos da comunidade local.
No dia 4 de maio padre Luiz Luíse chegava pela segunda vez a Foz do Iguaçu, onde o aguardava Florêncio Galafassi. O diretor da Industrial Madeireira conduziu o religioso a Cascavel, hospedando-o em sua residência.
Não era cárcere privado, mas o padre jamais retornou a Matelândia: estava, definitivamente, “roubado”. Matelândia teve que contar por algum tempo com as visitas mensais do padre Martinho Seitz, que rezou a primeira missa de Matelândia e mensalmente partia de Foz do Iguaçu para apoiar a nova colonização.
Biazus também sofreu um sequestro de trator. A melhor tecnologia da época consistia em máquinas poderosas que estendiam a força do braço humano ao máximo permitido pelo metal e pelo motor: os tratores.
No caso do trator de esteira TD 18, importado dos EUA, o equipamento inovador foi recebido com festa, churrascada e foguetório ao chegar a Matelândia. Mas o festejado trator logo desapareceu.
Abrindo a Estrada do Colono
A história oficial conta que a abertura da Estrada do Colono foi feita por um trator cedido pela empresa colonizadora de Medianeira, a Industrial e Agrícola Bento Gonçalves Ltda, máquina operada por Elizeo Magno Verdum, enquanto um segundo trator teria sido oferecido por Benjamin Luiz Biazus.
Não foi bem assim, de acordo com o historiador Riberto Marin:
O trator estava em Medianeira, tendo como tratoristas Francisco Bonadel e Agenor Fontana, que sob o comando de Olívio Biazus abriram o chamado Caminho (ou Estrada) do Colono, ligando Serranópolis do Iguaçu a Capanema até ser fechado pela Justiça.
O trator sequestrado serviu para abrir a Estrada do Colono até ser recuperado pela comunidade de Matelândia, após dois meses de trabalho longe de casa.
Foi também na época do início da formação de Matelândia que Willy Barth assumiu em Toledo a direção da colonizadora Maripá e passou a desenvolver o maior projeto de todo o ciclo do qual também participou Alfredo Ruaro desde o Rio Grande do Sul.
Barth, líder empresarial e político
Willy Barth foi considerado um dos maiores exemplos da capacidade empresarial do pioneiro oestino pelos historiadores paranaenses.
Se Tio Jeca Silvério foi o grande artífice de Cascavel e Jorge Schimmelpfeng o ousado desbravador de Foz do Iguaçu, Barth foi a competência empresarial encarnada para fazer de Toledo uma referência importante no contexto da colonização estadual.
Willy nasceu em 20 de junho de 1906, no lar do comerciante Adolfo Barth, que vivia em Santa Cruz do Sul (RS). Estudou até o 2˚ grau e se tornou viajante comercial, integrando a administração da firma Bier & Ullmann, de Porto Alegre.
Seu trabalho era vender tecidos, armarinhos e confecções da B&U na região de colonização italiana.
A certa altura de sua vida, Willy Barth decidiu abandonar o comércio de tecidos, de escala reduzida, optando por uma nova e promissora vertente do comércio na época, para a qual não parecia haver limites de expansão: colonizar terras. Nela, viria a ser um dos mais bem-sucedidos agentes do ramo.
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