O fluxo de colonos à região crescia além das expectativas no fim de 1948, mas algo jamais revelado aconteceu do Departamento Administrativo do Oeste e suas causas ficaram restritas apenas ao campo das especulações.
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Justificativas protocolares sobre a necessidade de centralizar a massa fora do comum de requerimentos de posse de terras e agilizar o fluxo entre os setores encarregados da liberação não foram suficientes para explicar porque o governo do Estado decidiu em 30 de dezembro de 1948 modificar a estrutura do setor, transferindo sua sede, então fixada em Laranjeiras do Sul, para Curitiba.
O mínimo que se pode afirmar sem contrariar a história é que o DAO já não cumpria adequadamente as tarefas e as mudanças eram necessárias, mas as suspeitas indicavam que alas internas pró-posseiros e pró-colonizadoras haviam cindido a gestão do Departamento, introjetando a polarização.
As alas inconciliáveis prejudicavam os planos do governo e o projeto governamental Paraná Maior precisava de concentração de esforços. O caminho de Lupion para se tornar um político de projeção nacional dependia disso.
Os dados para a compilação dos técnicos chegavam a conta-gotas a Curitiba e nem sempre eram exatos. Embora oficialmente a colonizadora Maripá tenha vendido apenas duas propriedades para colonos em 1948, a população toledana, na maioria a serviço da própria empresa, já era de 130 moradores (Oscar Silva et alia, Toledo e Sua História).
Rebeliões ou progresso?
As mudanças no setor da colonização pretendiam dar uma resposta ágil ao incômodo fluxo de notícias que por todo o Brasil alternavam informações reais e também dramaticamente exageradas sobre rebeliões e matanças no Oeste do Paraná.
Na própria região, ao menos oficialmente, as colonizadoras prevaleciam e os posseiros não agiam de forma organizada. As escassas reações de velhos posseiros eram silenciadas pelas colonizadoras, que se estruturavam sem grandes obstáculos.
Em janeiro, ao estruturar a organização interna, a Câmara Municipal de Foz do Iguaçu revelava em sua composição o predomínio dos madeireiros e colonizadores.
O presidente Érico Francisco Pruner era ligado aos colonizadores. Em 1949 foi instituída a vice-presidência, que antes não havia, entregue ao vereador Balduíno Weirich, que representava o setor rural. Os demais eram ligados sobretudo ao setor madeireiro.
Jankoski, o ferreiro
Em Cascavel, jovens das famílias de madeireiros e comerciantes em confraternização com os também jovens militares do posto da Aeronáutica propuseram unir a comunidade em torno de objetivos sociais, esportivos e de lazer.
Filhos de imigrantes ocupados com a prestação de serviços logo aderiram à proposta, como o admirado ferreiro Leão Jankoski. Era o embrião de uma entidade que teria um papel muito importante na criação do Município de Cascavel: o Tuiuti Esporte Clube.
Nos tempos pioneiros, o ferreiro tanto dava fluxo aos transportes, feitos sobretudo com carroças, como atendia aos cavaleiros de passagem e socorria as máquinas que podiam ser reparadas no local.
Leão Jankoski nasceu em Palmeira (PR), em 19 de agosto de 1907, filho de José e Jadwiga Jankoski. A família se deslocou para Cascavel logo nos primórdios na colonização regional, procedente de Laranjeiras do Sul.
Ele já vinha para trabalhar com ferraria, montando estabelecimento próprio na atual Avenida Brasil (no trecho do atual Calçadão). Foi um dos prestadores dos serviços pioneiros do setor urbano, mas como no início os serviços eram pouco requisitados, Jankoski também trabalhou na agricultura.
Personalidade marcante da vida cascavelense, Leão Jankoski participou da criação do Município e entrou em sua história do Município depois de uma tragédia: a morte do vereador Adelino Cattani, de quem era suplente, assumindo sua cadeira na Câmara de Cascavel em 1953.
Odilon Galeano, o comerciante-símbolo
A propaganda do Paraná Maior atraía novos moradores para Foz do Iguaçu, como Odilon Galeano, paraguaio de Hernandarias, que chegou em fevereiro de 1949 para auxiliar Hermnio Mezomo no transporte e comércio de bebidas.
Enquanto esperava em casa os caminhões chegarem para ajudar a descarregar as bebidas, Odilon organizava seu pequeno comércio – “formiguinha”, segundo ele –, que consistia em comprar mercadorias na Argentina e revendê-las aos colonos que chegavam para começar a Rota Oeste.
As mercadorias mais requisitadas pelos colonos eram farinha e óleo. “Trazia mercadoria no ombro. O barco ficava no Porto Meira. Saía daqui do centro até lá, cruzava o rio, comprava a mercadoria e trazia no ombro até a minha mercearia. Não tinha carro naquela época, não tinha nada de transporte. Era um trabalho árduo, mas tinha que ser feito” (Entrevista a Zé Beto Maciel, Foz do Iguaçu Retratos, 1997).
Começava assim um comerciante emblemático da fronteira nos anos 1950. Galeano logo ampliou as atividades locais em Foz do Iguaçu, abrindo um parque de diversões, e também granjeou clientes por uma vasta região: “Vendia de tudo. Era para obrages, para o pessoal que trabalhava no interior”.
Cavaleiro solitário só encontrava clientes
Na primeira viagem que fez ao interior, aconselhado por um amigo, “peguei meu cavalo, carreguei 50 pares de sapato e vendi tudo (…) Tudo que eu carregava conseguia vender”.
As próximas viagens já foram com carroça, fazendo a rota dos portos do Rio Paraná. “Tinha muito dinheiro rio acima”. Nada de rebeliões, apenas clientes.
Enquanto Galeano viajava, a esposa Leonarda cuidava da mercearia da família. “Eu vendia a crédito, tinha muito crédito na praça, mas o pessoal pagava direitinho. Às vezes, alguns clientes queriam assinar um papel e eu me sentia ofendido. Não aceitava que assinassem papéis, a palavra valia muito mais”.
Para o negócio fixo e as viagens, além da Argentina e também produtos coloniais coletados no interior de Foz do Iguaçu, as mercadorias provinham de Curitiba, Ponta Grossa e São Paulo.
Comprava as frutas das famílias Bubiak e Samek. “Eles me vendiam a fiado melancia, banana, etc”. Odilon Galeano sintetizava em suas atividades o dinamismo do comércio na região no início dos anos 1950.
Vendia bem na fronteira porque os clientes tinham dinheiro, mas nos grandes centros a propaganda apresentava o Oeste do Paraná como terra de miséria e abandono. Na tentativa de impedir o retorno de Getúlio Vargas ao poder, a região era apresentada como sinal do fracasso de sua gestão presidencial.
Colonização avança
O sucesso das vendas de Galeano vinha não só da entrega de produtos nos portos do Rio Paraná como também do atendimento aos colonos que chegavam do Sul.
Em fevereiro de 1949 seria fundada a Colonizadora Gaúcha, empresa que deu início a São Miguel do Iguaçu, desde o início apoiada pelo desbravador Érico Pruner, que nessa época assumiu a presidência da Câmara Municipal de Foz do Iguaçu.
Em paralelo, Alfredo Ruaro e associados iniciavam as atividades da Colonizadora Pinho & Terras na região de Céu Azul, nome dado por Ivete, filha de Alberto Dalcanale, que depois se casou com o catarinense Paulo Bornhausen.
Alfredo Ruaro e José Callegari eram integrantes da caravana que partiu do Rio Grande do Sul para fazer o reconhecimento das terras em 1949.
“Entramos pela Picada Benjamim, rumo a Foz do Iguaçu. Fomos ver as Cataratas e depois viemos a São Miguel. Fizemos uma parada e entramos no mato a pé, na Serra do Mico, onde acampamos e pernoitamos. Ali já havia uma terra roçada. Acampamos e dormimos lá” (Alfredo Ruaro, depoimento ao Projeto Memória de São Miguel do Iguaçu).
– No dia seguinte viemos à área da Bento Gonçalves e fomos parar no Rio Ocoy. Almoçamos e fomos até Matelândia conhecer a nova colonização. Enquanto isso os carros deram a volta de Foz do Iguaçu até Matelândia, saindo pela Picada Benjamim e vieram nos apanhar. Esta picada era o traçado da atual BR-277. Nós conhecíamos o traçado e a Th. Marinho* havia feito a terraplanagem de Céu Azul até a avenida de Matelândia.
*Empreiteira das obras
Engenheiros desnorteados
“Quando chegou ao pico, a Th. Marinho parou, porque os engenheiros não sabiam o traçado”, prossegue o relato de Alfredo Ruaro.
– O Sr. Benjamim Luiz Biazus influenciou bastante e ele desceu por onde hoje é a estrada, fazendo um desvio, mudando assim o rumo da estrada. Sentimo-nos realizados e satisfeitos, apesar de não ser um período fácil, mas as terras eram férteis. Era uma coisa extraordinária!
Ruaro relatou que por motivos vários que impossibilitaram sua exploração, em 1949, Miguel Matte revendeu a concessão ao paulista Lourenço da Silva, que também não se interessando pela colonização dividiu-a em glebas menores, revendendo-as para terceiros.
– Conheci pessoalmente Miguel Matte, que teve primeiro a concessão das terras. Éramos amigos, mas infelizmente ele fracassou porque começou a colonizar e não teve mais recursos. A nossa participação como intermediários nessa colonizadora era de 33%. A concessão tinha validade, mas o título saiu direto do Estado do Paraná, apenas foi dada uma gratificação à concessionária.
Concluindo em 1949 os entendimentos para a compra do “Terreno Iguaçu” de Miguel Emílio Matte, com 193.600,000 metros quadrados, a colonizadora Pinho e Terras escolheu Benjamim Luiz Biazus para dirigir os trabalhos da Colonizadora Matelândia, afiliada ao grupo, origem do Município que teria o mesmo nome.
Estava desenhado o trajeto da Rota Oeste, entre Cascavel e Foz do Iguaçu.
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