Fim da década de 1940 abre um Paraná novo

Conquistas do Oeste em 1948: em Cascavel, abertura da Imapar; em Foz do Iguaçu, a Escola Rural. Cena comum a partir desse ano: Lupion em inaugurações diárias

Com o fim da ditadura, a década de 1940 fechou com muita confiança em um Brasil melhor, abalada na década seguinte pela Guerra Fria e, no Paraná, com a reversão de expectativas do governo Moysés Lupion.

PRINCIPAIS NOTÍCIAS PELO WHATS: ENTRE NA COMUNIDADE. TAMBÉM ESTAMOS NO TELEGRAM: ENTRE AQUI. SIGA-NOS NO GOOGLE NEWS.

Afamado por seu sucesso pessoal, Lupion chegou ao poder com a promessa de fazer de cada paranaense pobre como ele foi também um vencedor.

E começou bem. Em 1948, apesar da forte oposição de ex-aliados, seu governo foi positivamente democrático e estruturante, atendendo às pressões recebidas da sociedade.   

Não era propaganda falsa ou exagerada dizer que “a planificação e controle da execução das obras foram os elementos impulsionadores para a criação dos meios fundamentais para o desenvolvimento” (Relatório do governo Moysés Lupion).

“Órgãos como o Departamento Estadual de Rodagens (DER), DAEE (Departamento de Energia Elétrica), a Secretaria de Viação e Obras receberam investimentos para o aparelhamento humano e maquinário para as suas principais obras”, prosseguia o relatório.

“O Estado serviu-se como agente catalítico de investimentos, estatais e privados, para promover reformas e à criação da infraestrutura necessária ao desenvolvimento de modo generalizado e permanente”.

Generosa vaca

O Estado assumido por Lupion era uma imensa mas subnutrida vaca sugada pelas forças políticas dominantes no Estado, comprometendo 80% de seu orçamento com o custeio de pessoal. 

Herança da ditadura, os reajustes salariais concedidos aos servidores sem equivalente aumento de receita abalavam as finanças do Estado.

Na capital havia nichos ricos de conforto, mas as cidades do interior eram ainda apenas pequenas vilas de prestadores de serviços carentes de tudo. Sequer era possível ter um automóvel.  

Depois de organizar a Industrial Madeireira do Paraná em Cascavel, Florêncio Galafassi voltou ao Sul para rever os parentes e trouxe na volta o primeiro veículo com tração nas quatro rodas: um jeep Willys importado pela Imapar de Caxias do Sul, que antes de vir a Cascavel fez demonstrações espetaculares naquela cidade.

“Inclusive subiu e desceu as escadarias da Catedral de Caxias, para o espanto dos assistentes” (Dercio Galafassi, depoimento a Carlos Sperança). “Logo após trouxe ainda um automóvel de uso particular, um Ford 1940, muito bem conservado e de alto luxo”.

Ninguém mais além de Galafassi podia dispor desses luxos na época. Não havia serviços mecânicos aos automóveis e para rodar os veículos precisavam se abastecer na Serraria Central, onde havia uma bomba de gasolina manual que também socorreu os pioneiros de Toledo.

Vilas com escassos recursos 

Um retrato do Paraná em 1948 apresentava as vilas como simples pontos de passagem e prestação de serviços básicos entre as fontes de abastecimento e as serrarias. 

Quem negociava com Guarapuava e Ponta Grossa trazia de lá na volta combustíveis, tecidos e outros produtos industrializados. Para trazer quantidades maiores, porém, teria que ir a Curitiba.

 A extensão desse retrato ao interior mostra centenas de posseiros com suas carroças e cavalos ocupando terras devolutas ou oferecidas pelas colonizadoras no Noroeste e no Oeste do Paraná, em consequência do estímulo trazido pelo Departamento do Oeste.

O governo estadual cedia às pressões, com interesse na eleição de Moysés Lupion ao Senado, já que a lei não permitia dois mandatos seguidos. Dezenas de leis, decretos e portarias atendiam às demandas das vilas e das colonizadoras. A providência fundamental foi intensificar a construção rodoviária.

Os esforços para a conclusão da rodovia de primeira classe entre Ponta Grossa e Foz do Iguaçu prosseguiam, em 1948, com a instalação, em Cascavel, da 5ª Seção da Comissão de Estradas de Rodagem (CER-1), substituindo o modesto escritório aberto na vila em 1945.

A CER-1, na qual pontificou o coronel Adalberto Mendes da Silva, era como se fosse uma prefeitura, socorrendo a população em suas carências.

Vai começar uma nova história  

A 5ª. Seção relatou na época que as obras da futura BR-277, sob sua responsabilidade, já estavam adiantadas no rumo de Foz do Iguaçu, cidade à qual os viajantes tinham difícil acesso por trechos de caminhos alternativos, paralelos às obras da via federal: a estrada velha de Guarapuava.

Com uma população em torno de 1,2 milhão de pessoas – equivalente à de Curitiba em 1990 –, o Paraná é então um Estado repartido em pedaços desconexos: o eixo capital-litoral em permanente intercâmbio desde o início da formação do Paraná; o Norte como extensão de São Paulo; o Sudoeste ainda marcado pelos ressentimentos do Contestado; e por fim o Oeste, em medida similar à do Sudoeste, progressivamente submetido à influência sulina.

O Oeste/Sudoeste, por conta da imposição ditatorial do Território Federal do Iguaçu, que tirou quase um quarto do território paranaense, teve como compensação ao impedimento do Estado do Paraná de agir na área a organização e fortalecimento político dos colonos de origem gaúcha.

Para o Oeste do Paraná, a coleção das leis e decisões governamentais do biênio final dos anos 1940 viria a completar o losango histórico Foz do Iguaçu – Cascavel – Toledo – Guaíra. 

No novo Paraná, o Oeste será um cartão de visitas de maravilhas (Sete Quedas, Cataratas) e colonização dinâmica. 

A lei dos novos tempos 

A nova história do Oeste vai se caracterizar pelo fortalecimento dos polos urbanos de Foz do Iguaçu, Cascavel e Toledo, o sucesso dos projetos privados de colonização no interior dos três municípios, a força política dos netos de imigrantes e a conquista de avanços governamentais que darão origem a dezenas de municípios desmembrados dos três.

Essa nova história vai começar de fato com a lei estadual 105, de 30 de setembro de 1948, que determinou a planificação do Paraná em dois grupos: de um lado, obras e serviços fundamentais; de outro, obras e serviços correntes.

As obras e serviços fundamentais foram divididas em seis partes. A primeira seria a construção de uma rodovia ligando o ponto terminal da estrada de Ferro Central do Paraná ao Porto de Paranaguá, passando por Curitiba, “de elevado nível técnico e revestidas de concreto, asfalto ou paralelepípedo”.

Como a Jaguariaíva de Lupion não poderia ficar de fora, o segundo item era a construção de uma “rodovia de primeira classe, revestida, ligando Jaguariaiva a Antonina, passando por Cerro Azul”. Contemplava no item 3 a ampliação e reaparelhamento do Porto de Paranaguá e também a construção do Porto de Antonina. 

Todas as regiões contempladas

O ponto 4 era o aproveitamento hidrelétrico das bacias dos rios Capivari e Cachoeira, até a instalação da Usina Central de Cotia; do Salto do Capivara, no rio Paranapanema, completando pelo “Salto Grande, no Rio Iguaçu” e “os serviços de distribuição de energia elétrica do plano geral do Estado”.

No bloco 5, a instalação dos serviços de água e esgoto em Foz do Iguaçu e outras 22 cidades-polo, contemplando todas as regiões.

O item 6 tinha a finalidade de superar os fatores que minavam a qualidade da produção rural, determinando o fomento da produção baseado no combate às pragas da lavoura e às epizootias e enzootias (doenças animais contagiosas).

Já as obras e serviços correntes estiveram elencadas em quinze itens, começando pela ampliação da rede rodoviária do Estado, com a construção de diversas estradas, dentre as quais a ligação Ponta Grossa-Reserva-Campo Mourão, de Barracão “até um ponto da estrada federal de Foz do Iguaçu” e Araruva-Campo Mourão-Cascavel. 

Inegavelmente, um bom governo 

Previam ainda a instalação de 11 postos de Monta e 3 campos experimentais e de multiplicação de sementes, o aperfeiçoamento do sistema de colonização do Estado, por meio da Fundação Paranaense de Imigração e Colonização, e a instalação, “em todos os municípios do Estado, de unidades sanitárias e de postos de puericultura e associações de proteção à maternidade e infância”.

Também na área da saúde, a instalação de 2.000 leitos hospitalares, com a construção e ampliação de hospitais oficiais. Na educação, mais de 700 salas de aulas, com a construção de casas escolares, além de reforço ao ensino profissional rural, com a reforma, ampliação e reaparelhamento das escolas de trabalhadores rurais e a instalação de mais 13 em todo o Estado.

A previsão de recursos foi meticulosamente estabelecida, inclusive prevendo a hipótese de acelerar as obras com empréstimos no país e no exterior. 

Nos casos de intercorrência com municípios e a União, a lei previa acordos com esses entes e também entidades paraestatais. 

Era, portanto, um bom governo. O mau governo viria depois de Lupion chegar ao Senado e obter o segundo mandato estadual, em 1955, pondo o Paraná em situação de guerra entre jagunços e posseiros. 

 

 

 

Fonte: Fonte não encontrada

Comentários

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *