Galafassi: uma saga vitoriosa e um crime insolúvel

Florêncio e Emília Galafassi com os filhos, em 1958: Alcides, Danilo, Dercio, Inês, Olga, Adyles e Amália. Abaixo, a Praça do Migrante Florêncio Galafassi ainda em obras

 

Não foi por acaso que Florêncio Galafassi recebeu o chamado de Renato Festugato em 1948 para se juntar ao ambicioso projeto de absorver as serrarias e os amplos pinhais da família Lupion em Cascavel.

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Galafassi começou a se tornar uma lenda na indústria madeireira gaúcha no final dos anos 1920, quando, com a esposa Emília e já as três primeiras filhas nascidas em Bento Gonçalves – Inês, Olga e Adyles –, transferiu-se para Salto, no interior de São Francisco de Paula, região formada pelo tropeiro português Pedro da Silva Chaves.

 

 

Em Barragem do Salto, abriu uma pequena serraria para explorar os recursos florestais da propriedade e a expandiu adquirindo propriedades vizinhas, seguindo-se a abertura de outras cinco serrarias e o início de um projeto de reflorestamento com pinheiros.

 

Adquirindo notoriedade como formador de madeireiras, Galafassi recebeu a proposta de se associar a Renato Festugato na Industrial Madeireira do Paraná, que fechava a compra das serrarias e propriedades da família Lupion em Cascavel.

 

“Sacrato”

“Quando contaram que esse novo braço da empresa seria sediado em Cascavel, Florêncio disse que nunca tinha sequer ouvido falar do povoado. Mostraram no mapa e ele viu que se localizava no meio de uma imensa floresta”, narra o filho Dercio Galafassi, reproduzindo o diálogo:

– É aqui, Florêncio.

– E como faço pra chegar aí?

– Não te preocupes. Nós vamos te colocar num avião em Porto Alegre. Alguém lá em Cascavel está avisado e vai te esperar, pra tu veres o nosso negócio lá.

– Mas, sacrato! Nunca entrei num avião!

“Sacrato” era uma expressão usual de Florêncio para demonstrar surpresa ou incômodo. Tanto falou que acabou tornando-se sua alcunha.

A empolgante história de Galafassi é narrada em pormenores no livro de Dercio, Saga de Imigrante (https://bityli.com/v5wmgE).

Ao chegar à pequena vila, a família Galafassi começou a transformar a cidade, estrutural e socialmente, na medida em que os três filhos e as quatro filhas de Florêncio e Emília Galafassi se entrelaçaram em relações de amizade, negócios e também casamentos com a comunidade cascavelense.

Os sete não puderam acompanhar os pais logo de início pela falta de recursos do lugar, como na educação e os serviços e confortos que já havia no Sul.

Sete filhos, sete histórias

Inês casou-se no Rio Grande do Sul com Helberto Edwino Schwarz, nascido em 2 de julho de 1918 em Campo Vicente, no Município de Taquara (RS). Vieram de Canela (RS) para Cascavel a chamado de Florêncio e Emília.

Helberto passou a ajudar Galafassi na administração da Imapar e foi eleito vereador na primeira legislatura do Município de Cascavel, em 1952, e seu segundo prefeito, em 1956.

No final da gestão, a Prefeitura sofreu um incêndio criminoso e a família foi assombrada por acusações sem provas de que Helberto teria culpa no sinistro.

Para preservar a família, transferiu residência para Curitiba e em seguida Brasília, até, reabilitado, retornar a Cascavel, onde morreu em 2009. Ele e Inês tiveram quatro filhos: Sérgio Clóvis, Sauro Cláudio, Carlos Alberto e Maria Emília.

Olga Carmela, por sua vez, também antes de vir para Cascavel, casou-se com Higino Varisco, nascido em São Sebastião do Caí (RS) em 17 de fevereiro de 1920. Tiveram os filhos Juarez e Joni, que foi deputado federal e secretário de Estado do Emprego e Trabalho do Paraná.  

Adyles Elzina Galafassi se casou também no Sul, com Adelar Bertolucci, nascido em Canela (RS), em 16 de dezembro de 1928, convidado pelo sogro a assumir a gerência da Imapar. O casal teve três filhos: Victor Hugo, João Carlos e Tânia Mara.

Adelar Bertolucci se destacou como vereador em dois mandatos, nos primeiros anos do Município. Adyles e Adelar morreram em 2012.

Sucessos no esporte e na política

Alcides, um dos filhos de Florêncio e Emília já nascidos em São Francisco de Paula, em 9 de abril de 1932, casou-se com Leonilda Campagnollo, tendo com ela os filhos Florêncio, Maristela, Fernando e Flávio.

Também atuou no setor madeireiro e na política, mas se destacou no apoio à comunidade católica, como fundador do Seminário Diocesano.

Dercio nasceu em Salto, São Francisco de Paula, em 23 de julho de 1935. Destacou-se no esporte, na política e na presidência da Acic. Vindo para Cascavel em 1950, casou-se com Darlene Gomes, tendo com ela os filhos Daniel Roberto, Rita Silvana, Edmilson Antônio e Marta Cristiane.

Darlene veio de uma tradicional família de pioneiros provenientes de São Paulo: o cafeicultor Júlio Gomes Sobrinho e a professora Amélia Melo.

Amália Galafassi, por sua vez, casou-se com o agente aéreo Lyrio Bertoli. Jornalista ligado a Celso Formighieri Sperança no jornal Correio d’Oeste, Lyrio foi o primeiro deputado federal de Cascavel e região, eleito em 1962.  Tiveram os filhos Lyrio César, Cícero e Wilson Marcelo. 

Nascido em 1° de Julho de 1933 também em São Francisco, o filho de Florêncio e Emília que ainda permanecia em Caxias do Sul, Danilo, logo também veio para Cascavel, já casado com Marília Oliva Travi, com quem teve cinco filhos: Junior, Milton Luiz, João Augusto, Simone e Lisiane.

A exemplo de Dercio, Danilo também se destacou no esporte e na política, além do setor imobiliário. Os dois são figuras históricas do Tuiuti Esporte Clube.

No auge do sucesso 

Muito bem-sucedido em seus empreendimentos e um líder de influência crescente na região, Danilo tinha grandes planos para Cascavel quando alguém decidiu eliminá-lo.

Em misteriosa trama que ainda não teve todas as dúvidas esclarecidas, Danilo foi assassinado quando exercia as funções de secretário geral da Prefeitura de Cascavel.

Em 29 de junho de 1978, dois invasores entraram sem autorização na chácara Recanto Azul Ordaga, de Galafassi, no quilômetro 401 da BR-277, e ao se deparar com Danilo o executaram com seis tiros.

Enquanto a polícia procurava os pistoleiros, diferentes narrativas disputavam as atenções dos investigadores.

Ninguém tinha dúvidas sobre ser crime de encomenda, mas nomes diferentes eram sussurrados pelos mais curiosos e conhecedores dos meandros da política cascavelense como supostos mandantes. Para alguns, sobretudo personalidades ligadas à Prefeitura, havia sido um crime passional.

Para outros, atentos aos tensos ambientes políticos da época, em que murros na mesa e ameaças de morte eram comuns, o mandante foi alguém inconformado com o prefeito Jacy Scanagatta ter escolhido Danilo para candidato a deputado estadual do grupo nas eleições daquele ano.

Delegado especial

O governo do Estado se empenhou diretamente na elucidação do caso, devido às pressões sobre a polícia de Cascavel para escolher uma das versões, designando o delegado especial Dorval Simões para comandar as investigações.

Com a prisão dos pistoleiros Joaquim Batista de Mello, vulgo Gaúcho, e Lóris Luiz dos Santos, o Índio, eles negaram conhecer o mandante, mas confessaram que receberam dez mil cruzeiros cada um de um ex-sapateiro chamado Pedro Oquendo de Oliveira Montanha, alcunhado Pedro Mineiro.

Montanha, por sua vez, alegou que o mandante havia sido Juarez Junqueira, ex-marido da secretária municipal da Educação, Maria do Rocio Garzuze Santos, e o pagamento teria sido um automóvel Opala marrom.

Convertendo o carro em 32 mil cruzeiros, Pedro disse que foi a Foz do Iguaçu e lá contratou os dois pistoleiros, aos quais forneceu dois revólveres marca Taurus, calibre 38, e diversas balas, algumas delas explosivas.

Orientados quando ao endereço e informações sobre como identificar Danilo e matá-lo quando estivesse desprevenido, em sua chácara, a trama incluiu até a morte da cadela de guarda do sítio com carne envenenada.

Ao se aproximar, viram que Danilo estava na companhia da secretária municipal da Educação, Maria do Rocio, e uma criança, mas não recuaram.

Danilo, surpreso com a visita inesperada, supôs que fossem pessoas em busca de trabalho. Sem se dar conta de que eles caminhavam com as armas em punho com as mãos às costas, adiantou-se para atendê-los.

A três metros de distância, Índio desferiu cinco tiros, três no peito da vítima, que rodopiou com o impacto e ao cair foi silenciado de vez com um tiro mortal nas costas, desferido por Gaúcho.

Era o primeiro episódio de impacto de uma série que se estendeu pelos meses e anos seguintes, até porque nenhuma prova confirmou a participação de Junqueira na trama e a versão de crime político ganhou força.

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