A longa viagem de patrola

Júlio Pasa e a Igreja de Pedra, construída em 1918 e não pelos jesuítas, como rezava a lenda. O carroceiro Alexandre Kozievitch, imagem promocional de Moysés Lupion e o começo de Toledo, em 1947

Depois dos embates iniciais entre o governador Moysés Lupion com a oligarquia Camargo-Munhoz e os opositores que desembarcavam de sua frente eleitoral, em outubro de 1947, ao cabo de apenas quatro meses de trabalho, estava aprovada a nova Constituição do Estado.

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Sob a presidência de Alcides Pereira Júnior, a Comissão Constituinte era também formada pelo vice-presidente Aldo Silva, o relator geral Ostoja Roguski (substituído eventualmente por Ruy Cunha) e tinha entre seus relatores temáticos Accioly Filho, Pedro Firman Neto e Oscar Lopes Munhoz, tendo como suplentes Rivadávia Vargas, Atílio Barbosa e o comunista Vieira Neto.

Com as leis definidas, a primeira medida concreta do governo Lupion para organizar a ocupação planejada da região Oeste foi a criação, em 25 de outubro de 1947, do Departamento Administrativo do Oeste do Paraná.

Como se fosse uma espécie de “Território Paranaense do Iguaçu”, o Departamento do Oeste compreendia os municípios de Foz do Iguaçu (incluindo o Distrito de Cascavel e a colonização iniciada na antiga Fazenda Britânia), Laranjeiras do Sul, Mangueirinha e Clevelândia.

Plano para dois anos

Ao substituir a parte paranaense do antigo Território Federal, Lupion cumpria a promessa de equalizar os ainda atrasados Oeste e Sudoeste com as demais regiões.

“Art. 1° – Fica criado o Departamento Administrativo do Oeste do Paraná, com sede em Laranjeiras do Sul, e jurisdição nos municípios de Laranjeiras do Sul, Foz do Iguaçu, Clevelândia e Mangueirinha, com a função de elaborar e executar o plano de desenvolvimento geral da referida região”.

O artigo 7° detalhava as regras do jogo:

“Constituído o Conselho Técnico, os municípios compreendidos na jurisdição do Departamento serão convidados a expor seus problemas e planos de realizações municipais, acompanhados dos necessários elementos elucidativos, como plantas, levantamentos, dados estatísticos e outros”.

“De posse desses elementos, o Conselho Técnico elaborará um plano geral de desenvolvimento da região e um plano para a respectiva execução em dois anos, ouvindo os órgãos técnicos especializados do Estado e com assistência permanente dos municípios interessados”.

No entanto, o Departamento Administrativo do Oeste foi um fracasso. Além de não funcionar, os homens de confiança do governo aproveitavam a estrutura do Estado para transações suspeitas.

Os antigos costumes imperiais e as más práticas da ditadura reapareciam, inclusive ações policiais contra adversários e favoráveis a amigos.

Obras rápidas, gastos sem controle

Em novembro de 1947, durante a campanha eleitoral para prefeituras, pela primeira vez pelo voto direto, o Partido Republicano de Bento Munhoz partiu para um feroz ataque ao governo Lupion.

Habilidoso, usando a máquina pública, Lupion tratou inicialmente de pacificar as resistências oposicionistas em seu partido, o PSD, e manteve o apoio do partido coligado PTB, cuja esquerda foi neutralizada por favores palacianos aos chamados “pelegos”.

Enquanto esperava as eleições locais, o governador tratou de divulgar os primeiros e ambiciosos planos de desenvolvimento do Estado. Logo de saída, Lupion apresentou as bases dos planos rodoferroviário, hidrelétrico e educacional, que serviriam de guia para as obras prometidas.

Foi um dos megaplanos de Lupion que permitiu à oposição liderada pelo Partido Republicano atacar sistematicamente o governo: a Plataforma Paraná Maior.

Os republicanos apontavam irresponsabilidade no planejamento, falhas na execução e falta de critério na liberação de recursos para a execução de muitas obras tocadas simultaneamente por todo o Estado.

Só elegeu um vereador

Algumas obras foram entregues a tempo para as eleições, como o Grupo Escolar de Cascavel e Delegacia de Polícia, mas a vitória nas primeiras eleições diretas municipais de 16 de novembro de 1947, que sepultavam de vez as nomeações feitas pela vencida ditadura, coube ao representante da UDN, Júlio Pasa.

A União Democrática Nacional, que nessa etapa inicial ainda tinha a inclinação democrática de esquerda, além de eleger o prefeito de Foz do Iguaçu elegeu o presidente da Câmara Municipal (Paulo Montanari) e os vereadores Washington Pereira Lacerda (secretário), Salomão José Zagury e Érico Francisco Pruner.

Eram quatro vereadores do total de seis. Ao PSD do governador coube uma só cadeira, obtida por João Camargo (PSD). O PTB elegeu José dos Santos Villordo. Em 1949 o número mínimo de vereadores passou a ser ímpar (nove) e foram empossados os vereadores Augusto Araújo (PTB), Balduíno Weirich e Jeca Silvério (PSD).

Jeca Silvério, de Cascavel, por dificuldades de transporte até Foz do Iguaçu para participar das sessões legislativas pôde comparecer a poucas reuniões e foi definido como subprefeito distrital de Cascavel

De pedreiro a vinicultor

Descendente de italianos, nascido em 8 de fevereiro de 1896 na cidade de Vila Rica (RS), que hoje o nome de Júlio de Castilhos, importante líder sulino, jornalista e político positivista que influenciou Getúlio Vargas, o nome de nome Júlio Pasa, dado pelos pais Carlos e Rosa, foi uma homenagem a Castilhos.

Aventurando-se por terras desconhecidas, em 1918 ele já trabalhava como pedreiro em Guaíra, onde foi um dos construtores da famosa Igreja de Pedra.

Na volta ao Sul, decidiu parar em Foz do Iguaçu, na época o fracassado resto de uma colônia militar extinta em 1912.

Pasa passou a trabalhar como agropecuarista e seduziu civis e militares com seu excelente vinho. “Fornecia alimentação para a cavalaria do Batalhão do Exército. Os cavalos eram mantidos com alfafa que meu pai plantava” (professora Letícia Pasa Leopoldino, filha, Gazeta do Iguaçu, 28/9/1994).

Júlio era casado com Isabel Bonini Pasa, com quem teve 11 filhos, mas adotou ainda outros 6. Com a revolução de 1930, foi nomeado prefeito de Foz do Iguaçu por Getúlio Vargas e tinha a ideia fixa de proporcionar luz à cidade que no futuro teria energia de sobra.

Domínio argentino e estrada em cacos

Pasa também se preocupava com o total controle argentino sobre a área que é hoje o Parque Nacional do Iguaçu e definiu como prioridade maior a concretização da Estrada Estratégica, futura BR-277, fazendo até o impossível para manter a trafegabilidade do trecho Foz-Cascavel.

“Meu pai dizia que Foz do Iguaçu só teria progresso se tivesse estrada ligando o Município a Curitiba” (Letícia).

Foi com esse objetivo que ele requereu ao governo do Estado uma patrola para corrigir os trechos mais difíceis, mas a máquina nunca chegava. Com um rush de obras por todo o Estado, quando não faltavam máquinas, faltavam operadores.

Depois de muito reclamar, Pasa recebeu a informação de que a máquina reservada a Foz do Iguaçu estava disponível, mas dependia da designação de um operador.

Pasa chamou o motorista do único caminhão da Prefeitura, João Vale. e foram de ônibus a Curitiba na firme intenção de trazer a patrola, em viagem que na época demorou vários dias.

Bate-boca à italiana

Chegando a Curitiba, Pasa foi informado que por estar ociosa a patrola foi destinada a outra finalidade. O prefeito de Foz do Iguaçu quis saber onde a máquina ficava depois do serviço e partiu para o local.

Protagonizando um bate-boca à italiana com o garagista, Pasa mandou Vale assumir a patrola. A bagagem que haviam levado foi embarcada de volta em ônibus e os dois vieram de patrola para a fronteira.

“Meu pai chegou sujo e cansado e levou bronca da mãe”, contou a filha Letícia. Depois ele pediu desculpas ao governador Lupion por ter “roubado” a patrola. O governador não as aceitou, respondendo: “Não, Júlio, eu só queria mais alguns prefeitos assim”.

Pasa conhecia e se relacionava fraternalmente com as famílias cascavelenses, viajando sempre a cavalo para vistoriar o interior do Município.

O primeiro prefeito eleito de Foz do Iguaçu morreu pouco antes de completar 61 anos, em 1956. Ao receber a extrema-unção pediu que sua morte fosse anunciada por alto-falantes a toda a população e exigiu ser levado de carroça até o cemitério pelo amigo Alexandre Kozievitch.

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