Mesmo com a certeza da vitória nas eleições de 1947, Moysés Lupion fez promessas em pencas, desenhando um imenso projeto que abrangia todo o Paraná, agora completo com a recuperação do extinto Território do Iguaçu.
PRINCIPAIS NOTÍCIAS PELO WHATS: ENTRE NO GRUPO. TAMBÉM ESTAMOS NO TELEGRAM: ENTRE AQUI
Distribuído em dezenas de páginas, o projeto poderia ser resumido em um telegrama: interiorizar o desenvolvimento.
Para o Norte, transformar cada cidade em uma nova Curitiba. Para o Oeste, igualar-se ao surto de progresso do Norte. Para o Sudoeste, deixar para trás as antigas quedas de braço entre curitibanos e guarapuavanos pelo controle dos Campos de Palmas.
As eleições municipais no mesmo primeiro ano de governo desarrumaram o arranjo de frente ampla de governo que os partidos apoiadores esperavam.
No PTB, os interesses trabalhistas foram descartados. No PSD, a intensa disputa entre alas prosseguia e logo de saída a moralista UDN entrou em guerra com os demais partidos. Ao passar para a oposição se entregou a uma agressiva campanha para desmoralizar o governador.
Famílias chegam a cavalo e em carroças
Lupion começou o governo cumprindo uma providência essencial ao desenvolvimento do interior, conseguindo do governo federal efeitos imediatos ao decreto nº 22.619: liberação de Cr$ 11 milhões ao Ministério da Viação e Obras Públicas para as obras da rodovia Ponta Grossa-Foz do Iguaçu.
Cascavel recebeu a medida com festa. Para Toledo, era um elemento a mais para viabilizar a atração de colonos interessados em trocar minifúndios nos estados sulinos por amplos lotes na frente de colonização da antiga Fazenda Britânia.
Antes vinham esparsamente, mas agora começavam a chegar em levas. Segundo o velho script do pioneiro Jeca Silvério, as famílias que passavam pela antiga Encruzilhada dos Gomes, agora vila de Cascavel e sede distrital, eram convidados a não seguir viagem e se instalar ali mesmo.
A numerosa família Hotz – o casal e dez filhos – partiu de Itajaí (SC) e ao cabo de 32 dias de viagem optou por se instalar no Centralito, onde Jacob Munhak já havia iniciado a formação de uma comunidade em 1932.
Constituinte refundou o Paraná
O governador sabia que obras de transporte, luz, saúde, educação e água demandavam tempo e altos investimentos.
O Paraná tinha uma das situações econômicas mais equilibradas do país, mas boa parte do orçamento estava comprometido com o pagamento do funcionalismo.
Lupion havia prometido interiorizar a ação do Estado e unificar as regiões para não sucumbir aos movimentos separatistas que surgiram no interior isolado como reação aos problemas estruturais, inclusive agrários.
No entanto, antes de conseguir entregar tantas providências necessárias e prometidas havia eleições imediatas para vencer, o que complicava seus planos à medida que os desentendimentos políticos voltavam.
A primeira urgência era eleger deputados estaduais constituintes, responsáveis pela elaboração das novas leis do Estado. A Assembleia Estadual Constituinte se instalou em 13 de março de 1947 e dela viria a quinta Carta Magna do Paraná.
O chumbo dos Quatro Granadeiros
A grande bancada do Partido Social Democrático (PSD), o partido do governador, tinha uma peculiaridade: os chamados Quatro Granadeiros, grupo formado pelos deputados Pinheiro Júnior, Pedro Firman Neto, Accioly Filho e Lopes Munhoz.
Eles seguiam a orientação política do major Fernando Flores, que já exercera forte predomínio no Estado durante o governo de Manoel Ribas e coordenou a campanha de Lupion ao governo.
O desgaste de Lupion no governo começou quando os Quatro Granadeiros decidiram propor na Constituinte a criação do cargo de vice-governador, a calhar para o influente Flores. Antes, o governador era substituído pelo presidente da Assembleia.
Contrariando seus poderosos parlamentares, Lupion boicotou o projeto. Para se vingar, os Quatro Granadeiros apresentaram também um projeto definindo os crimes de responsabilidade do governador.
O mensalão lupionista
Para contornar a rebelião, Lupion criou um mensalão paranaense, atraindo para seu lado os deputados do adversário PTB de modo a compensar a perda dos votos dos quatro rebeldes.
Enquanto Lupion se engalfinhava com seu próprio porão partidário, o planejamento de obras, de estradas a postos de saúde, exigia ação. E na área de saúde, em especial, a urgência era gritante.
No interior, os “médicos” eram os curandeiros, a “enfermagem” era o benzimento e a “estrutura” se completa com uma imensa farmácia: as matas, com suas ervas, cascas e raízes.
Foi exatamente em 1947, quando Lupion sofria para instalar postos de saúde no interior e sem pessoal para atendê-los, que a família do curandeiro Francisco Ferreira Villaca se transferiu para Cascavel, procedente de Candói, no interior do vasto Município de Guarapuava.
O curandeiro e a parteira
Nascido lá mesmo, Francisco, o Chico Villaca, chegava com a família formada, já aos 60 anos de idade, trazendo conhecimentos especiais.
Ainda jovem, ele acompanhara o monge São João Maria, protagonista do trágico episódio do Contestado, no qual um exército de fanáticos religiosos adeptos do Império foi esmagado pela República.
Villaca aprendeu com o monge rezas de cura e a preparar ervas medicinais, além de ouvir de João Maria uma predição sobre seu futuro, como contou a filha Enedi Rita Villaca da Rocha:
“Ele disse a meu pai que no futuro ele iria prestar obra de caridade, pois tinha muita capacidade para isso. E como aqui não havia médicos, meu pai indicava os remédios e fazia oração para as pessoas, prestando esse trabalho”.
Sobrevivente da tragédia do Contestado, Chico Villaca e a esposa Epiphânia Luíza viajaram penosamente ao longo de nove dias com doze filhos, a cavalo e trazendo a mudança em carroça.
Ao chegar, seriam os primeiros moradores de um amplo sítio com belo pomar na atual Rua Manoel Ribas, na Vila Cancelli.
Luíza era de família francesa
Desde o início, a esposa Epiphânia Luíza Villaca, descendente de franceses, integrou-se plenamente ao espírito de caridade que norteava a ação do marido. Parteira, por suas mãos nasceram em Cascavel crianças das famílias de Tio Jeca Silvério, Sandálio dos Santos, Pedro Neppel e, dentre muitas outras crianças, Regina Sperança.
Luíza não era uma “curiosa”, como as mulheres que faziam partos por exigências circunstanciais. Naqueles tempos de reintrodução do Oeste ao território paranaense, em meio à urgência de proporcionar atenção em saúde à população, Luíza tinha licença para prestar serviços obstétricos concedida pelo Estado.
Atendia tanto em casa quanto no Hospital Nossa Senhora Aparecida, do médico Wilson Joffre. Depois, também prestou serviços a outros médicos, dentre os quais Álvaro Rabello.
Chico Villaca, além de receitar compostos com ervas medicinais e preparos homeopáticos, também estava autorizado a receitar produtos farmacêuticos. Quando Luíza morreu, em 1985, uma rua no bairro Canadá recebeu seu nome. Chico dá nome à Fonte dos Mosaicos, na Vila Cancelli.
As professoras enfermeiras
Um ano antes da vinda dos Villaca, ao rezar missa em Cascavel, o padre Antonio Patuí se sentiu alvo de sequestro ao ser abordado por dois gaúchos empoeirados e de linguajar confuso.
Eram Juvenildo Lorandi e Orlando Cambruzzi. “Componentes da primeira caravana que acampou em Toledo, os dois, num papo renitente de enxacocos*, convidavam-no e insistiam para que ele viesse celebrar uma missa no acampamento às margens do arroio” (Oscar Silva et alia, Toledo e sua História).
O padre cedeu e foi, instalou-se em um barraco, viu que famílias chegavam com crianças e decidiu trazer de Curitiba um grupo de irmãs de São Vicente de Paula para lhes providenciar educação.
As freiras vieram de táxi aéreo até Cascavel e depois sofreram para chegar a Toledo, onde achavam que iriam lecionar mas foram de imediato transformadas em enfermeiras, atendendo no pequeno ambulatório que a colonizadora Maripá instalou mas não dispunha de pessoal.
*Enxacocos: linguagem rústica, misturando português com italiano.
Salário: 36 hectares por mês
O ambulatório foi a base do futuro Hospital São Paulo, segundo Ondy Hélio Niederauer “equipado com instrumental e medicamentos indispensáveis para tratamento e curativos de emergência”.
Como não havia médico, as freiras atenderam até o médico Ernesto Dall’Oglio, recém-formado, chegar de Sarandi (RS), contratado pela colonizadora Maripá por Cr$ 10 mil mensais para atender a todos os funcionários da empresa.
De outras pessoas ele poderia cobrar à parte. O salário combinado correspondia a 36 hectares de terras por mês.
As irmãs Vicentinas também foram para Foz do Iguaçu, mas lá não precisaram fazer tarefas extras, dedicando-se de imediato a lecionar no Instituto São José. Em Toledo, elas construíram o Colégio Imaculado Coração de Maria (Incomar).
Fonte: Fonte não encontrada
Deixe um comentário