Depois dos golpes de mestres dos lideres políticos do interior para impor também na capital a candidatura de Moysés Lupion ao governo do Estado veio o apoio conclusivo do próprio presidente Eurico Gaspar Dutra para dissolver as últimas resistências.
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A montagem de uma poderosa coligação reunindo PSD, PTB, UDN, PRP e também os partidos de esquerda PSB e PCB, torna a candidatura de Lupion irreversível.
Ironicamente, o próprio partido de Lupion, o sempre rachado PSD, foi o último a se unir em torno de sua candidatura, oficializada em 7 de novembro de 1946.
A convenção estadual do PTB, que tomou a iniciativa de lançar Lupion ao governo do Estado, também homologou o apoio à candidatura de Moysés Lupion ao governo nesse mesmo novembro, seguido pelos demais partidos e agora só restava aguardar a resposta das urnas.
Com a conquista final do apoio do conjunto do PSD por meio do influente líder Antônio Augusto de Carvalho Chaves e uma constelação de partidos importantes, estava lançada a base para o início da Era Lupion.
Nela, o Oeste paranaense teria o apoio necessário para começar a compensar o atraso sofrido em relação ao Norte com o isolamento sofrido nos anos do Território Federal do Iguaçu.
Ninguém contestou as urnas
Na capital, o interventor Mário Gomes concluiu os preparativos para transmitir o poder estadual ao futuro governador. Um de seus últimos atos de governo foi dar à Força Policial o nome de Polícia Militar do Estado do Paraná, em 17 de dezembro de 1946.
No Sudoeste, Francisco Beltrão já começava a se formar. Cascavel, com as duas serrarias de Lupion, progredia sensivelmente. E Toledo já abria o leque de incursões para formar novas e promissoras cidades no interior da antiga Fazenda Britânia. Era efetivamente um novo Paraná que surgia.
As eleições estão marcadas para o dia 19 de janeiro de 1947. O desembargador Antônio Leopoldo dos Santos (1895–1958) presidia o primeiro pleito direto no Paraná após a longa ditadura de Vargas.
Aberta as urnas, sem contestações por parte do derrotado, Lupion dobra a votação obtida pelo concorrente, Bento Munhoz: 91.059 votos contra 45.941.
Movimento pró-Município cessou
Proclamada a eleição de Moysés Lupion pela coligação formada sob a divisa “Tudo por um Paraná maior”, seu PSD conquista 16 deputados e as agremiações aliadas também elegem vários parlamentares.
A UDN garante 7 cadeiras. O PTB, meia dúzia. Pela oposição, por sua vez, o Partido Republicano, de Bento Munhoz da Rocha, fez apenas quatro deputados estaduais.
Para Cascavel, foi um alívio. Com a extinção do Território Federal do Iguaçu e o temor de que a região ficasse abandonada pelo Estado, começou ainda em 1946 um movimento para criar o Município, mas a iniciativa refluiu com a confirmação da vitória de Lupion, já que suas empresas eram os motores do lugar.
Como Cascavel era 100% sua, Lupion em seguida criou dezenas de municípios em busca de apoio para a continuidade de sua carreira política, mas Cascavel não entrou no rol.
Poderia parecer desconsideração com uma população majoritariamente ligada a seus interesses, mas havia um motivo racional para isso: a vila era sede de um imenso território distrital e não teria condições de se manter independente de Foz do Iguaçu caso se tornasse Município.
Madeira e estrada desenham o futuro
Ainda lentamente, até por conta da madeira, Cascavel crescia também como empório de prestação de serviços e centro comercial da região, com um interior que ia se povoando de forma consistente, embora a vila-sede continuasse minúscula.
No apagar das luzes de 1946 veio mais um motivo de entusiasmo para a comunidade cascavelense: uma lei dos sonhos entrou em vigor de imediato e veio representar um ótimo impulso para a cidade, combinada com os negócios da madeira e o centro de prestação de serviços.
A lei nº 10, de 20 de dezembro, autorizava o governo federal a abrir, pelo Ministério da Viação e Obras Públicas, crédito especial de Cr$ 11 milhões para o prosseguimento da construção da Rodovia Ponta Grossa-Foz do Iguaçu.
As obras foram paralisadas pela ditadura, que desviou recursos daqui para a construção de uma frustrada rodovia dentro do Paraguai. A retomada dos investimentos no Oeste projetava o ano de 1947, definitivamente, como auspicioso.
A volta da bandeira
Moysés Lupion toma posse em 12 de março de 1947. Caetano Munhoz da Rocha, governador e pai de Bento, havia abolido autoritariamente os símbolos estaduais em 1923, mas a democracia devolvia ao Paraná sua bandeira:
“Um quadrilátero verde, atravessado no ângulo superior direito para o inferior esquerdo por uma larga faixa branca contendo a representação da esfera celeste em azul e as cinco estrelas da Constelação do Cruzeiro do Sul em branco. A esfera é atravessada, abaixo da estrela superior do Cruzeiro, por uma faixa branca com a inscrição Paraná, em verde. Circundam a esfera um ramo de pinheiro à direita e outro de mate à esquerda” (decreto-lei nº 2.457, de 31 de março de 1947).
Não era o resgate da primeira bandeira, que tinha o detalhe vermelho do barrete frígio, símbolo da Revolução Francesa, e o lema positivista “Ordem e Progresso”, copiando a bandeira nacional.
A bandeira original, proposta pelo líder socialista Manoel Correia de Freitas e aprovada em 1891, foi executada pelo artista Paulo de Assumpção, mas a versão mais difundida tinha só uma estrela e não o Cruzeiro do Sul, retomado pela nova bandeira, como também os ramos de araucária e erva-mate.
Ações de impacto e visibilidade
Com o propósito de atuar com firmeza na região do extinto Território do Iguaçu, para evitar que a pregação dos derrotados servidores federais pelo retorno do TFI se alastrasse, em 6 de maio o decreto-lei 635 organiza o Departamento Estadual de Estradas de Rodagem, da Secretaria de Viação e Obras Públicas do Paraná.
Imediatamente, em 10 de maio de 1947, dá-se a fundação oficial de Maringá, ainda como distrito de Mandaguari. É o primeiro passo para a criação de dezenas de municípios arranjados pelos partidários de Lupion.
O Paraná rompe a marca de um milhão de sacas de café em 1947, feito comemorado pelo novo governo. Moysés Lupion governava com ideias progressistas, liderando uma ampla coligação e à base de muitos compromissos estabelecidos com cada corrente política participante do arranjo pelo qual o interior se impôs à capital.
O governo do Paraná reassumiu o controle das regiões do Iguaçu tomando uma decisão importante: criou em 20 de junho de 1947 a Fundação Paranaense de Colonização e Imigração, organização oficial de apoio à ocupação do Oeste paranaense.
Também em 1947, obra emblemática do novo governo em Cascavel, a Casa Escolar foi reconstruída como Grupo Escolar e Escola Reunida, deixando de ser mantida pela comunidade cascavelense e a Prefeitura de Foz do Iguaçu. O Estado assumiu a manutenção do estabelecimento e o pagamento dos professores.
O nó da questão agrária
O ritmo inicial da gestão Lupion é forte e ousado. Colocado sob concessão outorgada pelo governo federal, o Porto de Paranaguá também não escapa ao choque de administração imposto pelo novo governador, logo em suas primeiras ações administrativas.
O decreto estadual 686, de 11 de julho de 1947, institui um órgão estadual para fazer a administração do Porto em nome do Estado. Além de equiparar o Estado à União na gestão portuária, para completar a retomada do extinto Território Federal do Iguaçu, com a Fundação Paranaense de Colonização e Imigração Lupion também se sobrepunha a normas federais.
A burocracia do Estado e suas providências se chocavam com velhas regras federais e multiplicaram os conflitos entre os posseiros incentivados por Manuel Ribas e os grileiros, ligados a interesses paulistas, que se intensificava nas disputadíssimas terras do Norte paranaense, altamente propícias à cultura cafeeira.
Um grupo armado tenta retomar em agosto a Fazenda Guaracy, cujos ocupantes reagem a bala, deixando um saldo de vários mortos e feridos.
“O tiroteio prolongara-se por alguns dias. Os caboclos enviaram suas famílias para recantos mais longínquos e permaneciam atocaiados pelos picadões, com o dedo no gatilho, a fim de defender suas posses contra novos assaltos” (Cecília Maria Westphalen, Altiva Pilatti Balhana e Brasil Pinheiro Machado, Nota prévia ao estudo da ocupação da terra no Paraná Moderno).
Conflito no Norte e a “Secretaria do Oeste”
Em Porecatu, na área do Grilo Barra do Tibagi, cerca de 1.500 famílias de posseiros rebelados resistem à repressão por alguns meses, na região entre os rios Paranapanema, Centenário, Ribeirão do Tenente e o leito da estrada entre Porecatu e Centenário do Sul.
Ainda sem resolver os problemas do Norte, o governo planeja a ocupação do Médio-Oeste, onde já está em curso um projeto bem conduzido na área da antiga Fazenda Britânia, adquirida pela colonizadora gaúcha Maripá.
A primeira medida concreta do governo para organizar essa colonização planejada é a criação do Departamento Administrativo do Oeste do Paraná, em outubro de 1947.
A lei 4 de Lupion determina que o Departamento do Oeste será formado pelos municípios de Foz do Iguaçu (que inclui Guaíra, o distrito de Cascavel e a vila de Toledo), Laranjeiras do Sul, Mangueirinha e Clevelândia. Substitui, assim, a estrutura de apoio à colonização na parte paranaense do extinto Território Federal.
Resolveria vários problemas e criaria novos, mas entregou a principal promessa feita com a criação do DO, que seria a integração efetiva do Oeste ao conjunto do Paraná.
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