Interior venceu Curitiba com golpes de mestres

Carvalho Chaves (PSD) e Othon Mader (UDN) fecharam uma ampla aliança de partidos, que também incluía o PTB e os comunistas, para conquistar o Palácio São Francisco, sede do governo estadual, nas eleições de 1946

Limitando-se a manobrar na política da capital, o “General da Vitória”, como anunciava a propaganda de José Agostinho dos Santos, foi bombardeado pela mídia do riquíssimo Moysés Lupion, comandada pelo influente major Fernando Flores, o articulador do grupo, apoiado por um reforço decisivo: o presidente do PSD, Antônio Augusto de Carvalho Chaves.

PRINCIPAIS NOTÍCIAS PELO WHATS: ENTRE NO GRUPO. TAMBÉM ESTAMOS NO TELEGRAM: ENTRE AQUI

Uma espécie de general civil, Chaves reinou por várias legislaturas no Congresso Legislativo, correspondente à Assembleia de hoje. Nascido em Macaíba (RN), em 26 de março de 1875, formou-se em Ciências Sociais e Jurídicas pela Faculdade de Direito de São Paulo, turma de 1895, vindo, a seguir, para Curitiba.

No ano seguinte já foi nomeado secretário de Estado do Interior, Justiça e Instrução Pública. Em 1900, secretário de Estado dos Negócios das Finanças, Comércio e Indústria. Elegeu-se deputado federal, mas em 1906 preferiu concentrar seu poder no plano regional.

Foi novamente secretário da Fazenda, Comércio e Indústria no primeiro governo revolucionário estadual, em 1931. Elegeu-se, outra vez, deputado estadual em 1935 até o Estado Novo, sempre na presidência da Assembleia Legislativa.

De junho de 1935 a julho do mesmo ano, ocupou, interinamente, o governo do Estado. Foi também membro do Conselho Administrativo (secretariado estadual) durante o governo do interventor Manoel Ribas e presidente do diretório regional do PSD, partido que liderou até a morte, em 1949.

A candidatura única de consenso

O general Santos foi oferecido pelos curitibanos para a candidato único no Estado, inclusive com o apoio do PSD e do PTB, agremiações criadas e comandadas pelo ex-presidente Getúlio Vargas.

O general Santos não era um candidato frágil. Foi brilhante como organizador no Ministério da Guerra e cumpriu missões militares no Sul, inclusive em Bagé, cidade natal de Vargas.

No entanto, sua permanência no Distrito Federal e no Pará não lhe permitiram uma vivência próxima do Paraná multifacetado, composto por regiões novas, como o Norte, Noroeste, Oeste e o Sudoeste.

A candidatura desse militar brilhante foi proposta para ser o consenso dos líderes curitibanos na intenção de impedir Lupion de se afirmar como o líder representativo de todo o Paraná.

À sombra do ex-líder Manuel Ribas, entretanto, Lupion só precisaria acertar o apoio unido do PSD, já que o PTB nasceu na manga do colete de Ribas dentro do escritório que Lupion lhe ofereceu depois de ser deposto do governo.

A equipe de Lupion comprou a ideia da candidatura única, mas vendeu Lupion para ser o candidato. O PSD curitibano e outras forças políticas da capital consideravam vital a tese da candidatura única para unir o Estado, mas inicialmente consideravam que eleger um amigo do presidente Dutra, caso do general Santos, seria interessante para o futuro do Paraná.

Fake news abalaram o general

Só havia um jeito para Lupion assumir a posição de candidato único: o jogo do tudo ou nada. Tudo seria desqualificar a candidatura única do chefe militar e entrar no vácuo, o nada que lhe permitiria ser o candidato de todo o Paraná.

Com todo o interior já garantido pela profusão de empresas que espalhou por todo o território, motores para o desenvolvimento de cada localidade em que se instalara, como Cascavel, Lupion só precisava arrematar a capital, o que passava por conquistar o apoio majoritário do ainda estilhaçado PSD.

A solução para os lupionistas foi insinuar a suposta tendência do general Santos a pender, por subordinação hierárquica, ao autoritarismo do governo Dutra, que oprimia os trabalhadores.

Não era o caso, até porque o general Santos desde o princípio se dispôs a apoiar as classes trabalhadoras e o PTB também já concentrava as bases getulistas, preparando o retorno de seu cacique nacional à Presidência da República. A rápida ascensão de Santos na carreira militar, aliás, havia começado em Bagé, terra natal de Vargas.

Como Santos se salientou durante a ditadura, os partidos novos de Vargas preferiam uma opção também nova, com a cara da social-democracia ainda pura, que teria mais justiça social que o capitalismo norte-americano e mais liberdade que o regime soviético.

Nem o general era autoritário, nem o PSD era tão puro quanto se dizia, mas venceu a informação distorcida disseminada pelas redes sociais da época: rádio e jornal.

As três alas internas do PSD

Grande partido do Paraná forjado depois da Revolução de 1930, o PSD viveu nos anos 1940 uma intensa disputa interna entre as alas que traziam traços da herança autoritária de Vargas e as correntes mais próximas da social-democracia europeia.

Os únicos obstáculos ao projeto social-democrata estavam dentro do próprio PSD, dividido em três alas. A primeira delas era chefiada pelo ex-interventor Pinheiro Machado, afilhado político de Manuel Ribas, com grande peso na máquina do Estado.

Outra, a ala lupionista. Depois de ter feito uma sólida amizade com Manuel Ribas nos últimos dias de vida do antigo interventor, Moysés Lupion crescia em riqueza e apoio no interior do Estado, inclusive no vencido Território do Iguaçu. Por fim, a ala que defendia a tese do candidato militar único, que seduzia a capital.

Faltava, entretanto, um elemento capaz de desequilibrar as forças em favor de um dos lados. Esse elemento seria também uma herança do falecido Manuel Ribas.

O fator trabalhista

O entra e sai de líderes nacionais nos últimos dias de vida do ex-governador na sede PSD, instalada por Ribas em sala cedida por Lupion, gerou um fruto que o futuro líder paranaense saboreava com prazer.

A criação do Partido Trabalhista Brasileiro (PTB), que pretendia representar os operários e “descamisados”, acontecera justamente no interior de uma das numerosas empresas do rico Moysés Lupion.

O apoio dessas lideranças partidárias nacionais vai efetivamente desequilibrar o quadro, construindo uma ampla coligação partidária concentrada em torno de Lupion.

Embora com o PSD ainda rachado internamente após a morte de Manuel Ribas, as relações que ele teceu foram a chave para o início da Era Lupion, mediante uma costura comandada pelo interventor Mário Gomes.

A mão do militar baiano, que inicialmente se anunciara neutro, é notada ao conduzir os arranjos para a montagem da grande coligação, da qual estará ausente apenas o Partido Republicano de Munhoz da Rocha.

Ao se unir internamente, o PSD sustentou em favor de Lupion a ideia-base da candidatura única e assim se formou um amplo arco de partidos, que iam desde as viúvas da ditadura e de Ribas até os comunistas, aliados ao PTB no movimento sindical.

No vácuo da oligarquia Camargo-Munhoz

Levar Lupion ao poder com um mínimo de resistência se desenhava como vitoriosa porque o outrora poderoso Partido Republicano, expressão política das oligarquias do Estado, continuava desarrumado pelo golpe sofrido com a deposição de Affonso Camargo na revolução de 1930.

Mesmo sendo o herói paranista que resgatou para o Estado a porção tomada pelo Território do Iguaçu, o professor Bento Munhoz da Rocha Neto, herdeiro da tradição Munhoz-Camargo, também sabia que o momento era do PSD.

Dispunha-se, assim, a concorrer ao governo apenas para deixar o nome bem marcado para o próximo pleito.

A partir daí a situação vai se consolidar com uma onda de novos apoios. Ninguém mais fala no “General da Vitória”, que em julho de 1946 foi designado para comandar a Zona Militar do Norte, futuro Comando Militar do Nordeste. O militar sequer veio ao Oeste em campanha.

A coligação quase unânime forjada com o aval do interventor Mário Gomes, porém, não teve uma engenharia simples. Começara com um forte jogo estratégico, primeiramente entre as alas do professor Brasil e do empresário Lupion.

A cartada decisiva

Foi no “vão” entre as duas que penetrou a proposta da candidatura militar de consenso. Criado o impasse entre as três alas social-democratas, ergueu-se a voz do presidente do PTB, Maximino Zanon: ele se antecipa e lança Lupion como candidato “trabalhista”. Era o peso que faltava na balança sucessória.

Ex-alfaiate e várias vezes campeão estadual de futebol, Zanon também atuava nas sociedades beneficentes operárias. Por sua vez, o advogado Oswaldo Queiroz Guimarães, futuro chefe da Casa Civil do governo, abriu o jogo de vez:

“Não é mais segredo para todo o interior; está sendo trabalhado no sentido de formar ao lado do prestigioso membro da Comissão Executiva Industrial, que é de larga projeção no Estado e destacado elemento social – Moysés Lupion – que, além do mais, conta com integral solidariedade do Partido Trabalhista e fortes simpatias de mais poderosa ala udenista. A opinião paranaense está definida”.

De fato, depois de ganhar facilmente o PTB, Lupion recebeu a adesão da UDN, que tinha como líder Othon Mäder. Ex-secretário de Terras do Estado e ex-prefeito de Foz do Iguaçu, Mäder em 1931 projetou a cidade de Cascavel mesmo a vila tendo apenas quatro casas. A Cascavel que em breve daria a Lupion 100% dos votos na eleição.

Fonte: Fonte não encontrada

Comentários

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *