A história de irmãos que fizeram história

Irmãos João Aguiar, Dodô e Amadeu Pompeu. Abaixo, Jorge Pereira do Valle, que comprou a Farmácia Santa Terezinha, de Antônio Massaneiro, e gaiota como as da construção do aeroporto

 

Com as debilidades deixadas nos serviços públicos pelo extinto Território Federal do Iguaçu em 1946, ano em que começa o longo processo para a reparanização das regiões Oeste e Sudoeste, a Madeireira M. Lupion sentiu a necessidade de prestar atenção em saúde às famílias de dezenas de empregados distribuídos entre as serrarias da empresa, a administração geral e seu estratégico setor de transportes. 

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Parte importante dessa iniciativa foi reforçar o setor de serviços urbanos de Cascavel com aquisições e contratar o enfermeiro Jorge Pereira do Valle para prestar atendimento de saúde aos operários.

Na época, os enfermeiros conseguiam se habilitar ou se provisionar como farmacêuticos e montavam seu próprio negócio.

Ao vir para morar na vila, então uma sede distrital pertencente ao Município de Foz do Iguaçu, Jorge adquiriu a Farmácia Santa Terezinha, de Antônio Massaneiro, cujo nome mudou para Farmácia São Jorge, praticamente um posto de saúde.

Ficava na Rua Moysés Lupion, atual Sete de Setembro, diante da futura Praça Wilson Joffre, onde mais tarde ficaria a loja Bigolin.

Nascido em Tijucas do Sul, na Região Metropolitana de Curitiba, em 27 de março de 1920, filho dos agricultores Tobias Pereira do Valle e Ana Isabel do Valle, logo após completar o curso primário Jorge do Valle foi indicado por um parente para trabalhar com a Comissão de Estradas de Rodagem (CER-1), que construía a rodovia federal Estratégica, hoje BR-277.

Ele auxiliava os seis enfermeiros destacados para prestar atendimento aos operários ao longo das obras.

Travando conhecimento com Cascavel em 1946, encantou-se com a cidade e sua gente, decidindo ficar ao ser convidado pela Madeireira M. Lupion a prestar atendimento de saúde aos operários.

O clamor pela infraestrutura

A necessidade da madeireira de superar as deficiências do setor público já estava clara desde que a União afastou o Estado do Paraná das tarefas que desenvolvia, sobretudo em colonização, antes da criação do Território Federal do Iguaçu.

Depois, com os contratempos enfrentados pela gestão federal e a nova guinada com o retorno da região ao Estado do Paraná, não restava outra saída à iniciativa privada a não ser tapar os buracos deixados pela ausência da estrutura pública.

Assim, desde 1946 até o final da década de 1950, a expansão da cidade e do interior se deveu às encomendas de madeira primeiro para a reconstrução da Europa no pós-Guerra e depois para dar suporte às obras de Brasília, tendo a Madeireira Lupion suprido até seu limite as deficiências do poder público.

Em 1946, finalmente, Cascavel passaria a contar com um aeroporto mais condizente com as necessidades cada vez maiores da técnica aeronáutica da época.

Os trabalhos de reparos na pista, antes promovidos através de vagonetes, a partir de 1946, sob a orientação do engenheiro Jorge Muniz, passaram a ser feitos através de uma frota de gaiotas, dirigidas por Diamantino Saraiva.

O empreiteiro Sarauva teve dois auxiliares de destaque: os irmãos Paulo “Dodô” e Amadeu, filhos de Manoel Ludgero Pompeu e Idalina Rodrigues Pompeu, a Dinoca.

Os dois tiveram mais dez irmãos: Linz, Lélis, Alvina, Adélia, João, Theonília, Judite, Terezinha, Julita e Alberto, o Beto, todos, assim como os pais, presenças ativas na formação de Cascavel.

Irmãos Pompeu e irmãs Lopes

Manoel Ludgero Pompeu foi uma das mais importantes personalidades históricas do Oeste paranaense. As coincidências entre sua biografia e a de José Silvério de Oliveira são consideradas por muitos fora do comum e até místicas.

Os filhos de Manoel Ludgero também fizeram muita história e sua relação com a família Lopes os liga à primeira família que se radicou na futura Cascavel, muito antes da formação da cidade, os Elias/Schiels.

Paulo Rodrigues Pompeu, o Dodô, nasceu em 15 de dezembro de 1924, em Guarapuava. Sua vinda a Cascavel se deu em 1942, para trabalhar na casa comercial do cunhado Horácio Reis.

Inquieto, Dodô sempre se dedicou a múltiplas atividades. Foi relojoeiro e radiotécnico, trabalhou no setor de transportes com os irmãos Amadeu e João Aguiar.

Também foi tesoureiro na primeira administração municipal, do prefeito José Neves Formighieri, e sócio-gerente do primeiro jornal da região, o “Correio d’Oeste”, de Celso Formighieri Sperança.

Amante de festas e diversões, no início de Cascavel era ele quem organizava tudo, sendo um dos principais companheiros do sargento José Rufino Teixeira, da Aeronáutica, na formação do Tuiuti, clube que presidiu em 1955, além de ser membro ativo da Associação Rural de Cascavel, origem do cooperativismo cascavelense.

Múltiplas atividades

Ele e o cunhado Horácio jogavam futebol e Dodô, considerado um craque, desde o início puxou a formação do time do Tuiuti. Também dirigiu o primeiro bar interno do Tuiuti e morava atrás da sede do clube com José Lopes, filho do também fundador do clube Aníbal Lopes da Silva.

Este, por sua vez, era irmão de Laurentina da Silva Lopes Schiels, integrante da primeira família que se instalou em Cascavel, ainda em 1922. Dodô se casou com Emília, filha de Aníbal, com quem teve cinco filhos.

Professor de Matemática. Formado na primeira turma da Fecivel, futura Unioeste, Dodô também fundou e presidiu o Clube de Caça e Pesca Guairacá e amava o Carnaval. Ao morrer, justamente no Carnaval de 2019, deixou boas memórias em todas as atividades sociais que desenvolveu.

Mais novo que Dodô, Amadeu Rodrigues Pompeu nasceu em 1º de março de 1927 na localidade de Cachoeira, no atual Município de Candói, então parte, como Cascavel, do Município de Guarapuava.

Cooperativa de saúde

Motorista e agricultor, Amadeu veio para Cascavel ainda antes de Dodô, em 1940, acompanhando o pai Manoel Ludgero nos trabalhos do Censo Demográfico daquele ano. Casou-se em 1959 com a professora Aracy Lopes, de tradicional família de professores cascavelenses, irmã de Emília, esposa de Dodô.

A certidão de casamento de Amadeu é uma coleção de nomes históricos: nela figuram como casamenteiro o juiz de paz, Francisco Wychocki; testemunhas, Júlio Pasa, ex-prefeito de Foz do Iguaçu; Ramiro de Siqueira, que hoje dá nome a uma creche; os pais de Manoel Ludgero Pompeu e Idalina Rodrigues Pompeu, e os pais de Aracy, o célebre professor Aníbal Lopes da Silva e esposa Anahir.

Com a professora Aracy Lopes, Amadeu Pompeu teve quatro filhos: Anilson, Adilson, Amilton e Amadeu Jr.

Além de fundador da Acic, participou da fundação do Cascavel Country Clube, Coopavel, Clube de Caca e Pesca e da construção da igreja de São Cristóvão. Ajudou também na reconstrução da capelinha de Nossa Senhora Aparecida, situada no local onde hoje se encontra a igreja de Santo Antônio.

Amadeu Pompeu foi um dos acionistas do primeiro hospital de Cascavel, iniciado pelo médico Wilson Joffre. “No princípio eu acreditava que comprando as ações estava perdendo dinheiro”, lembrou Amadeu. “Com o passar do tempo verifiquei que aquele foi o melhor negócio da minha vida”.

Vidas produtivas

No início da década de 1980, a convite do coronel Aroldo Cruz, Amadeu foi conhecer a Bahia, adquiriu terras e se estabeleceu naquele Estado, onde também atuou na agricultura. Morreu em 23 de abril de 2011, em acidente automobilístico em Barreiras, no Oeste da Bahia.

Ainda jovens, em 1946, Dodô e Amadeu trabalharam para Diamantino Saraiva, empreiteiro das obras de construção do aeroporto, na região do atual Terminal Rodoviário Helenize Tolentino, construindo sua segunda pista com o apoio de gaiotas, mais adequadas que caminhões para levar material ao local. 

A gaiota era uma carrocinha como as utilizadas pelos catadores de papel, mas com duas grandes rodas. Só desta maneira, com uma adaptação consistente da pista, o aeroporto poderia passar a receber aeronaves de maior porte.

Ao final dos trabalhos sob as ordens do engenheiro Muniz, que depois seria um dos responsáveis pelas obras do aeroporto de Londrina, Cascavel contava com o que seria seu segundo aeroporto, já à espera de futuros voos particulares e comerciais. O primeiro campo de pouso não passava de uma clareira aberta para favorecer os pousos do Correio Aéreo Nacional.

 

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