Eleita aos 22 anos com 1.699 votos, Bia Alcantara será a única mulher na próxima legislatura da Câmara Municipal de Cascavel, entre os 21 vereadores. A jovem militante do PT traz consigo a marca da renovação e a promessa de representar a juventude e os grupos sociais que se identificam com sua trajetória de militância e defesa de direitos. Com uma história de vida pautada pela participação em movimentos estudantis e sociais, Bia assume o desafio de ser a única voz feminina na casa legislativa de 2025 a 2028.
Em entrevista ao podcast Batendo o Guizo, do Preto no Branco, Bia Alcantara falou sobre suas motivações para entrar na política, sua relação com o movimento estudantil e o impacto de ser a única mulher eleita para o próximo mandato. Determinada, a jovem pretende usar sua representatividade para dialogar com aqueles que se sentem distantes da política e para defender pautas como a educação pública, a igualdade de gênero e o fortalecimento de políticas de apoio às mulheres.
Acompanhe a seguir uma síntese da entrevista. A conversa na íntegra está disponível nas plataformas digitais do Preto no Branco.
Preto no Branco: Quem é a Bia que chegou, resolveu ir às urnas, fez a maior votação no PT, superando algumas pessoas com mais bagagem?Bia Alcantara: Estou vivendo uma experiência muito nova para mim, de estar dando entrevistas, mas com muita felicidade também de ter mais espaço para falar sobre aquilo que acredito e que estive falando durante a campanha e durante a minha militância. Meu nome é Beatriz de Alcântara Silva, e tenho muito orgulho do meu Silva, que é o sobrenome mais usado pelos brasileiros. Mas usei o Alcântara por ser mais original mesmo, porque achamos que ficaria mais sonoro também, só por isso. Eu sou uma mulher de 22 anos, nascida em Curitiba. Infelizmente, minha mãe sofreu violência doméstica, e por conta disso, quando eu tinha seis anos de idade, viemos para o Oeste do Paraná. Desde então, reconstruímos nossa vida em Cascavel.
Preto no Branco: E como sua mãe influenciou sua trajetória política?Bia Alcantara: Minha mãe, que é professora, sempre me inseriu muito no movimento estudantil e na luta pela educação. Ela sempre participou das greves, me ensinou a importância de as pessoas se movimentarem e escolherem representantes. Antes mesmo de poder votar, eu já estava ligado à política. Estive na campanha da professora Liliam para vereadora e sempre estive envolvida em movimentos de mulheres, culturais e estudantis. Hoje sou estudante de ciências sociais, no quarto ano de licenciatura. Fiquei muito feliz por ter atingido muitas pessoas, especialmente jovens, que nas ruas me diziam: “Eu não acredito muito em política, mas me identifico com você, então vou votar em você”. Acredito que meu diferencial foi conseguir conversar e dialogar com essas pessoas, especialmente em um cenário onde a juventude tem descrença na política.
Preto no Branco: Segundo os registros, você é o mais novo parlamentar de Cascavel na história do município. O que significa isso para você? Bia Alcantara: Vejo com muita alegria essa renovação. Quando comecei a pensar em ser candidata, sempre pensei que meu objetivo seria conversar com a juventude, mostrar que é possível participar da política. Acredito que significa muito para Cascavel, é um sinal de renovação. A representação das meninas mais jovens me emociona, quando me encontro nas ruas e me abraçam. Isso mostra que há um acompanhamento e reconhecimento por parte delas.
Preto no Branco: Apesar da sua eleição, a Câmara de Cascavel perdeu 50% de representação feminina. O que está acontecendo com a representação das mulheres?Bia Alcantara: Fiquei muito decepcionada. Sempre militei no movimento de mulheres e esperava que nesta legislatura tivéssemos pelo menos umas cinco mulheres. Fiquei triste ao ver que seria a única, pois imaginava que as pessoas tinham percebido a falta que as mulheres fazem na política. Claro que fiquei feliz por ter sido eleita, mas decepcionada por ser uma única mulher.
Preto no Branco: Você pretende trabalhar esse viés durante sua permanência no Legislativo, chamando a atenção do eleitor feminino?Bia Alcantara: Com certeza. Acho que temos que fazer um trabalho de base para mostrar a falta que faz uma representação feminina, tanto para as meninas jovens se verem naquele espaço e perceberem que podem participar, quanto para a elaboração de políticas para as mulheres. Essa será uma pauta constante no meu mandato.
Preto no Branco: Você foi estagiária na Câmara Municipal. O que fez lá e o que é Procuradoria da Mulher?Bia Alcantara: Fui estagiária por dois anos na Procuradoria da Mulher. Estive junto com a professora Liliam e a vereadora Beth Leal, trabalhando diretamente com elas. Meu contrato terminou no início da campanha, mas foi uma experiência muito rica. A Procuradoria da Mulher é um espaço de defesa dos direitos da mulher dentro da Câmara. Trabalhamos na construção de documentos, atendimento de mulheres e manutenção desse espaço. Pretendo manter a Procuradoria e garantir sua atuação.
Preto no Branco: Você disse que sua mãe sofreu violência doméstica. Como será sua atuação em plenário sobre essas questões e em relação aos mecanismos de apoio à mulher?Bia Alcantara: É uma luta constante. Durante a campanha, optei por não falar muito sobre isso, mas acredito que é importante que outras mulheres vejam que é possível superar essa condição. Pretendo abrir caminhos para outras mulheres e garantir que os mecanismos existentes funcionem melhor, pois sabemos que há problemas no atendimento às mulheres, inclusive na delegacia. Essas questões serão parte fundamental do meu mandato.
Preto no Branco: Você participou de ocupações. Pode explicar um pouco mais sobre isso?Bia Alcantara: Em 2016, participei do movimento da Primavera Estudantil aqui no Paraná, quando o governo Temer anunciou cortes na educação e iniciou a reforma do ensino médio. Tínhamos uma articulação com a UBS (União Brasileira dos Estudantes Secundaristas), e eu tinha apenas 14 anos na época. Ocupei escolas como forma de protesto e para realizar atividades educacionais, aulas e workshops dentro das escolas. Ocupamos o espaço que é nosso para defender a educação, enquanto o termo “invasão” remete a uma conotação negativa. Foi um movimento importante e de muita construção.
Preto no Branco: Como você vê a questão de terras ocupadas pelo MST?Bia Alcantara: Já estive em acampamentos e assentamentos do MST, mas não participei de invasões. O MST busca ocupar terras que não estão sendo utilizadas. Na minha concepção, se a terra está em produção e sendo bem utilizada, não cabe invadir. É uma questão de lei e de respeito, e acredito que o governo federal evoluiu nesse sentido.
Preto no Branco: Sobre a educação em Cascavel, quais são suas observações e planos para a rede municipal de ensino?Bia Alcantara: Existem muitos problemas na educação municipal, principalmente na falta de vagas nas creches. Mesmo com novas unidades abertas, falta estrutura e profissionais capacitados. A distribuição de uniformes e problemas com a merenda escolar também são questões graves. Tenho muito contato com o Siprovel e pretendo lutar pela valorização dos profissionais da educação.
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