Duas Agências das Organizações das Nações Unidas, a Organização Internacional para as Migrações (OIM) e o Alto Comissário das Nações Unidas para Refugiados (ACNUR), visitaram no último mês o Oeste do Paraná para conhecer o trabalho da Embaixada Solidária, uma Organização da Sociedade Civil que acolhe e encaminha migrantes e refugiados de aproximadamente 32 países. Fundada em 2015, a organização já realizou mais de 4 mil atendimentos; entre eles, o incentivo à empregabilidade e à economia solidária.
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A comitiva conheceu o projeto “Mundo em Retalhos” que reúne migrantes e brasileiros na produção de peças artesanais étnicas, que envolve uma cadeia produtiva, criativa e disposta a reunir conhecimentos e culturas tão diferentes. O projeto recebeu inicialmente o apoio da Itaipu Binacional, do Rotary Club Aliança e das cooperativas locais.
De acordo com a Organização das Nações Unidas, o mundo nunca migrou tanto como na atualidade. No Brasil, um dos lugares mais procurados por migrantes e refugiados é o Oeste do Paraná. A explicação é facilmente compreendida. Esta região, que abrange 55 municípios, possui cerca de 12 mil vagas de trabalho em aberto e um solo fértil para o empreendedorismo. A estimativa da Polícia Federal (PF) é que, pelo menos, 12 mil migrantes e refugiados habitam o território. Nem todos conseguem se encaixar na indústria e em trabalhos formais, pois são muitos os que observam na migração a oportunidade de empreender.
A coordenadora de Projetos da OIM, Talita Aquino de Sousa, ficou impressionada com o que conheceu na OSC “O fomento às práticas de economia solidária, como os projetos desenvolvidos pela Embaixada Solidária, são importantes estratégias para a integração socioeconômica de migrantes e refugiados e o enfrentamento a situações de vulnerabilidade no território, oportunizando a inclusão e boas práticas nas organizações”, declarou durante a visita.
Em formato de associação, o grupo produz mais de 30 peças diferentes, desde mesa posta até peças em cerâmica. Além de um ponto de vendas na sede da Embaixada Solidária, empresas e cooperativas servem de vitrines para exposição pela cidade e Região Oeste. Todas as peças possuem características étnicas, uma forma de fortalecer a identidade do refugiado e criar vínculos e pertencimento.
Problema e solução
A iniciativa surgiu quando a Embaixada Solidária teve dificuldades de inserir mulheres migrantes no mundo do trabalho. Além da barreira do idioma, muitas desejavam empreender e cuidar dos filhos. Outra dificuldade foi inserir homens com idade um pouco mais avançada. O que era um problema virou rapidamente uma solução. Unidos, e com os equipamentos e espaços ofertados pela Embaixada Solidária, encontraram no empreendedorismo uma chance para recomeçar suas histórias em solo brasileiro.
A fundadora da Embaixada Solidária, jornalista Edna Nunes, conta que a iniciativa começou com um curso de costura, mas que logo evoluiu e precisou tornar-se um negócio social. “Identificamos que eles tinham vontade de seguir empreendendo. Buscamos conhecimento e assessoria voluntária e o que era um curso virou um projeto de vida. Eu me emociono quando ouço três idiomas diferentes na confecção de um produto. Tenho certeza de que a vontade de vencer e reconstruir suas vidas os une; e a nossa missão é apoiar esse começo”, descreve Edna Nunes.
A coordenadora de projetos da Embaixada Solidária, Jaqueline Machado, conta que o impacto da produção não é apenas econômico. “Nós vemos a vida recomeçando todos os dias. Compartilhamos mais do que a renda da venda dos produtos. A partilha mais importante é a certeza de que tornamos o processo migratório menos dolorido. Os impactos sociais são reduzidos e com isso resgatamos o brilho nos olhos de cada um deles”, conta.
Oscar Gutierrez é um artista cubano que precisou deixar seu país pela grande crise econômica. Na Embaixada Solidária, ele é o responsável pela escultura de peças de madeira que são complementadas pela costura criativa. “Eu me sinto realizado em ver nossos produtos na mesa e em tantos outros lugares especiais na casa das pessoas. O mundo é aqui no Brasil, um país que nos permitiu a chance de voltar a sonhar. Produzir é dignidade, e a Embaixada é o berço em que esses sonhos nascem”, afirma o cubano.
Iscardely Nicolas saiu muito jovem do Haiti, fugiu da fome e veio para trabalhar no Brasil. Ela costura peças que dão acabamento nos artesanatos que envolvem a costura criativa e a sublimação de peças decorativas. “Meu sonho era ter o que comer e um lugar para morar. Eu descobri aqui que posso mais que isso. Eu gosto do meu país, mas eu jamais poderia ter essa oportunidade lá. Eu me emociono a cada peça vendida, pois eu nunca acreditei que pudesse fazer algo tão bonito e que pudesse fazer alguém feliz. Essa é a minha forma de agradecer ao Brasil”, destaca a jovem haitiana.
O próximo passo da Embaixada Solidária será a exposição em feiras, em especial nos eventos que tenham como princípio a economia colaborativa e solidária. A venda digital dos produtos também está em andamento e terá a parceria de uma universidade. A entidade encontrou uma forma gentil e sustentável de mudar o mundo.
Fonte: Edna Nunes da Silva
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