Funcionários da Secretaria de Esportes de Cascavel são denunciados por estagiários

Estagiárias confirmam o assédio

Cerca de uma semana após vir à tona denúncias que o ex-ministro dos Direitos Humanos do governo de Luiz Inácio Lula da Silva teria praticado atos de assédio moral e sexual contra uma série de mulheres, vítimas começam a ter coragem para denunciar situações similares vivenciadas em seus ambientes de trabalho na esfera do poder público.Em Cascavel, um grupo de estagiários formalizou, ainda no fim do ano de 2022, uma série de situações que corresponderiam a casos de assédio sexual, assédio moral e outras tentativas de coação por parte de dois profissionais da Secretaria Municipal de Esportes e Lazer (Semel).

Essa série de casos foi documentada em uma comunicação interna que recebeu o número de 167/2022 em uma reunião realizada no dia 6 de dezembro daquele ano. Uma audiência interna no Município para tratar do assunto ocorreu no fim do mês passado. Como os casos seguem em apuração, os nomes de suspeitos e supostas vítimas serão mantidos em sigilo.

No documento que o Preto no Branco teve acesso, há diversos relatos em que estagiários descrevem, desde acusação vindas de gestor, de envolvimento de uma das jovens com um apenado que prestava serviço à Semel, até tentativas de coação para que as estagiárias tivessem relacionamentos com os suspeitos.

Há casos relatados na denúncia formalizada à prefeitura, mas que não foi judicializada, aonde estagiárias afirmam que eram coagidas inclusive a não vestir roupas vermelhas para não serem “julgadas” como apoiadoras do Partido dos Trabalhadores (PT) e que isso poderia lhes render punição e desligamento.

Relato formalizado em reunião traz uma série de denúncias na Semel

O que diz o documento, passo a passo

O documento de dezembro de 2022 que trata de “assédio moral, sexual, abuso de poder, coação e excesso de grosseria e intimidade não permitida” cita o nome principalmente de dois profissionais. Fontes da pasta ouvidas pela reportagem afirmam que, apesar de os casos em questão serem de dois anos, a prática nunca teria sido interrompida e que um gerente, que ocupa cargo comissionado denunciado pelas vítimas, teve seu local de permanência e trabalho recentemente realocado, após a audiência realizada no fim do mês passado. Interlocutores avaliam que, diante dos casos, o principal objetivo dentro do poder público pode ser o de acobertar os assédios na tentativa que não viessem à tona, nem que rendessem embates judiciais.

Na reunião do fim de 2022 uma estagiária chegou a relatar que um dos superiores disse a ela que este o haviam contado que ela “estava tendo um caso com um dos apenados”. A estagiária negou. O gestor seguiu dizendo que “o apenado estava sendo amigo dela porque ele estava doido para passar [os órgãos genitais] nela, porque há 10 anos ele não via uma mulher [aqui ele teria usado uma palavra pejorativa para descrever o órgão sexual feminino]”. O gestor teria seguido com a coação dizendo que cinco “homens da Secretaria foram falar para ele que ela tinha um caso com o detento e que eles já a tinham visto “se agarrando com o detento”.

O documento formalizado ao Município cita os nomes de quem teria feito o relato sobre o suposto caso da estagiária com um detento. Transtornada com as acusações no local de trabalho, a jovem teria procurado a mãe para pedir ajuda para acionar um advogado, pois pretendia entrar com processo. Na época, a denúncia considerava sob relato dos estagiários que, “tirando o secretário e o diretor, os demais homens que trabalhavam na Secretaria tratavam as mulheres mal, fazendo piadinhas e “brincadeiras” inadequadas, mas a maior parte das acusações recaí sobre dois profissionais.

Uma estagiária relata ainda, na mesma reunião, que foi chamada de “burra” e de receber outras imputações como essa ao ponto de sair chorando do local de trabalho por inúmeras vezes.

Outra estagiária relatou que foi a uma festa e que encontrou, por acaso, os dois supostos assediadores lá e que depois disso eles “chegaram na Secretaria achando que tinham a maior intimidade, em pegar na mão dela, em parar no meio do corredor e esperar ela passar, parecendo ser os melhores amigos”. A estagiária se dizia com medo deles e de suas atitudes e que os assédios só foram interrompidos depois que a jovem começou um relacionamento.

Casos de assédio presenciados

Outra estagiária confirmou que presenciou atos de assédio e que, em dado momento, um dos suspeitos teria dito que quando assumisse um cargo de chefia superior dispensaria todos os estagiários da Semel, para contratar outros.Um estagiário chegou a relatar nesta mesma reunião que um dos profissionais, que na época do registro das denúncias já havia se desligado da Semel, o “chamava para ir junto ao banheiro” e fazia gestões insinuando uma tentativa de aproximação sexual.

Outra estagiária relatou que um gerente, que segue na Semel, fazia brincadeiras, abraçando-a e “se esfregando nela”. Teve ainda um episódio com o nomeado envolvendo o uso da máscara durante a pandemia. Quando um estagiário pediu para que ele colocasse a máscara, o comissionado indagou a cobrança questionando quem o estagiário achava que era. Ele teria respondido que estava ali para cobrar o uso das máscaras, pois estava em uma pandemia e que havia sido orientado a fazer tal cobrança. Isso teria lhe rendido atritos.

No mesmo relatório há menção de outra estagiária dizendo que um dos suspeitos teria determinado a ela a remoção de tatuagens temporárias e que, diante da recusa, o profissional da Semel disse que levaria o caso à supervisora da estudante, na tentativa de intimidá-la.

Documento fala de objetivo e “encaminhamentos” da reunião

Segundo o documento que o Preto no Branco teve acesso, “a reunião teve como finalidade ouvir cada um e resolver da melhor maneira possível, aonde todos os estagiários foram orientados”. O documento não revela que tipo de orientação foi feita nem que tipo de solução foi adotada. “Vale ressaltar que a Secretaria Municipal de Esporte e Lazer abomina qualquer tipo de comportamentos desta natureza dentro do local de trabalho. A Secretaria se coloca à disposição para qualquer esclarecimento”, encerra o documento.

Procurada ainda na semana passada, a Prefeitura de Cascavel não se manifestou sobre as denúncias. A reportagem não conseguiu contato com os suspeitos, mas o espaço segue aberto às manifestações, caso desejem se pronunciar.“Os casos não pararam, todas as vezes que entram estagiários novos há reclamações muito parecidas e que se repetem. O objetivo parece ser abafar os casos para que ninguém responda por nada”, contou um profissional com ligação à pasta que, por questões de segurança e por temer perseguição interna, optou por não ser identificado.

Fonte: Fonte não encontrada

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