Por Dionatan Rafael Toledo dos Santos
À medida que se aproximam as eleições de 2022, a população brasileira é bombardeada por uma guerra de narrativas cujo discernimento do que seja verdadeiro nesse caos já não é possível. Desse modo, ao analisar a política, tomarei como ponto de partida para uma explicação plausível do atual estado de coisas, a linguagem e como a corrupção da mesma distorce a realidade. Restaurar a ligação entre as palavras e os objetos ou, no mínimo, restabelecer essa noção é ao que este texto se propõe.
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A linguagem pode ser compreendida em três fases: a metafórica, a metonímica e a descritiva – esta última de suma importância. Nos diz Northrop Frye que a primeira fase, ou o pensamento mítico, encontra-se nas epopeias e nos mitos: as palavras não estão separadas dos elementos da realidade – tudo é identificável; a metonímica, desenvolve-se a partir de uma dialética platônica e aristotélica e corresponde a uma estrutura interna da linguagem, isto é, as palavras obedecem a uma argumentação lógica sem perder o referente do mundo externo; a fase descritiva, que se estabelece por volta do século XVII, funda-se numa ordenação verbal onde só se podem tomar por verdade os objetos representados a partir de uma causalidade: determinados fenômenos acontecem em decorrência de outros e tudo o que não seguir esse quadro trata-se de ficção. Diante disso, há uma separação entre sujeito e objeto.*
Como consequência do próprio desenvolvimento dessa última fase, as narrativas políticas ao buscar descrever os objetos referentes a sua estrutura, são influenciadas por preceitos ideológicos. Estes, como já escrevi aqui no Preto no Branco**, são conjecturas que se movem rumo à construção de um mundo novo. Assim, toda discussão atende a um corpo de ideias abstratas: a linguagem ideológica está para um futuro hipotético, não se preocupa com os referentes. Se consultarmos os veículos de imprensa onde a “classe falante” esbanja todo um repertório, temos alguns exemplos: “extremismo”, “democracia”, “desigualdade social”, “fanatismo religioso”, “direitos”, “ciência”, “diversidade”, “discurso de ódio”, “racismo”, “linguagem neutra”. Em torno dessas expressões gira a mentalidade não apenas da Intelligentsia (responsável por esse estado paralisante), mas também das figuras políticas que, com ar imperial, são incapazes de perceber além desse vocabulário relativista. Dessa morbidez linguística, derivam outras expressões as quais dão ao cenário político um aspecto de seriedade.
Claro que é apenas aparência, no fundo é grosseiramente vazio. Tais palavras servem apenas para despertar certas emoções no interlocutor: ao usar a linguagem conforme a ideologia que lhes é conveniente, Intelligentsia e políticos confundem propositalmente as preferências do povo e o induz a crer numa visão de identidade nacional, porém raramente explicam coisas reais. É bastante perceptível para qualquer pessoa olhar para um carro e saber o que é um carro, mas “democracia”, “extremismo”, “fanatismo religioso”, etc. só são possíveis verificar a partir de uma análise dialética onde desenrolar-se-á toda problemática que essas entidades encerram.
Essas narrativas, não buscam abrir a consciência do indivíduo para o uso adequado da linguagem – agem no imaginário como uma reação favorável ao interesse emocional daqueles que as emitem. Esse automatismo flutua entre o público como uma certeza definitiva. Restaurar o uso adequado da linguagem é o caminho para sairmos desse entorpecimento. Mas como? Em primeiro lugar, buscar na literatura clássica e na poesia os elementos que formam o imaginário. São as grandes obras que nos fornecem as nuances das palavras e de seus contextos. Por conseguinte, examinar a conexão entre o texto e o objeto; rastrear as ideias que formam nossos pensamentos distinguindo aquelas que ultrapassam os séculos e são verdades permanentes daquelas que surgiram de desvios intelectuais.
*Ver O Grande Código, a Bíblia e a literatura principalmente o primeiro capítulo onde o autor discorre sobre o tema da linguagem.
* A estupidez ideológica, edição 118
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