Por Dionatan Rafael Toledo dos Santos
Ao longo do tempo, o debate social brasileiro foi minado por aquilo que podemos chamar de doutrinas ideológicas. Estas, disseminadas pela intelectualidade nas entranhas sociais, dita como a população deve pensar e dirigir o percurso de sua existência em sociedade. Ademais, os tipos influentes que se apresentam diariamente, trazem não apenas a deformação ideológica de consciência, mas a projeção da mesma sobre o público como uma verdade irremediável. Desse modo, somos levados à seguinte pergunta: são eles portadores de uma verdade divina cuja revelação dar-se-á no transcorrer da história?
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O quadro do qual partirá a reflexão será a experiência cultural/política brasileira. Para tanto, alguns exemplos precisam ser expostos como meio de explicação para o atual estado declinante. As manifestações de deformação de consciência são bastante evidentes em nossa sociedade: os tipos políticos e a classe artística dão a medida desse lodaçal. Entre os candidatos a presidência, todos carregam a solução definitiva para os problemas que assolam o território nacional. Vejamos, por exemplo, o que disse o Sr. Ciro Gomes: “No Brasil tudo está fora do lugar.” Na esteira dele, temos Lula e todo seu repertório de bobagens – e assim por diante. Paolla Oliveira, esbanjando conhecimento político e cultural: “Hoje, venho aqui me colocar a favor de uma ruptura que é urgente desse período de terror, retrocesso e medo […] Pela cultura, pelas famílias, pelos indígenas, pelo meio ambiente, pelos negros, pelos LGBTQIA+, pelos mortos de COVID -19, pelas mulheres.”* Para o leitor atento, basta correr os olhos por duas ou três páginas da grande mídia e se deparar com essas coisas.
O abismo entre a realidade da classe falante e da vida popular jamais foi tão profundo. A realidade da elite é a doutrina, isto é, um conjunto de símbolos que representam, como chamou Robert Musil, uma segunda realidade.** A decomposição da estrutura da ordem social decorre das chamadas filosofias da história, construções de sistemas ilusórios. O ideólogo projeta sua consciência como fonte ordenadora da humanidade – nem que para isso tenha que levar à cova milhares de pessoas, como no caso do marxismo. O campo onde ele se move é fechado por expressões do tipo: “sentido”, “homem moderno”, “transformação”, “eras”, “direitos”, etc. Esses símbolos, no entanto, não tratam de uma iluminação acerca da realidade social, mas esculpem o padrão das segundas realidades.
Os exemplos citados acima caracterizam a obscuridade que assombra toda discussão séria. Quando sujeitos doutrinários apossam-se dos meios de propagar a deformação de seus sistemas, a experiência genuína é para sempre soterrada nos escombros da linguagem ideológica. Assim, toda a produção cultural, artística, jornalística está nas mãos de uma classe despreocupada com a realidade – privam, em seus sistemas utópicos, a abertura tanto para a ordem pessoal quanto pública.
*Eleições 2022: Paolla Oliveira chama atenção de presidenciável ao expor voto. ‘Urgência’ (msn.com)
**A expressão é empregada no romance O homem sem qualidades de Musil. Mais tarde, Eric Voegelin definiu como uma condição de auto-cegueira, uma patologia da consciência deformada.
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