A base da atualidade oestina se constrói com a progressiva chegada de corajosas famílias pioneiras nas décadas de 1930 a 1950, das quais são exemplares as famílias de Frederico Blum e Carlos Sbaraini, que pressionados pelas dificuldades conjunturais da época apostaram no Oeste e tiveram sucesso.
O ferreiro Blum, nascido em Lages (SC), trouxe a família para Cascavel em abril de 1949 seguindo a trilha de oportunidades aberta pela forte propaganda da colonização no Médio-Oeste.
Já na altura dos 67 anos, com larga experiência como eletricista e carpinteiro, vinha de Guarapuava com a esposa Berta Rickli e os filhos Rosa, Alberto, Otto Paulo, Ernesto Paulo e Elza Blum.
Dedicou-se com os filhos, Alberto, de forma destacada, à construção e montagem de serrarias e moinhos. Alberto, nascido em Imbituva, já no Paraná, veio ao Oeste já com 38 anos e também trabalhou com moinhos, além de ser caminhoneiro e agricultor.
Os dois apoiaram Tarquínio Joslin dos Santos na montagem da Associação Rural de Cascavel. O pai foi o mais idoso entre os fundadores da entidade que daria origem aos atuais sindicatos Patronal Rural e dos Trabalhadores Rurais, também o berço do cooperativismo cascavelense.
Por sua vez, a família Sbaraini veio de Sarandi (RS) por conta de uma relação antiga de Carlos com Willy Barth. Filho dos italianos Giovanni Baptista Sbaraini e Elisa Vicentini, provenientes de Brescia (Lombardia), que chegaram ao Brasil ainda crianças, Carlos transportava madeira embalsada para a Argentina pelo Rio Uruguai e nessa atividade conheceu Barth.
Depois da II Guerra Mundial o governo platino criou obstáculos que levaram Carlos a abrir estrategicamente uma empresa importadora de madeira naquele país.
Sob a pressão de Juan Perón
Ao lado de outros madeireiros da região de Passo Fundo e Sarandi, Carlos Sbaraini e vários sócios importavam por essa empresa criada na Argentina a própria madeira para distribuí-la no mercado interno, atendendo às exigências platinas.
Já com a participação do filho Benjamin, de seu casamento com Mathilde Fuga, as atividades de Carlos Sbaraini na Argentina se ampliaram até que o governo de Juan Domingo Perón nacionalizou a madeira e impediu as importações por firmas particulares.
Com os negócios na Argentina sob pressão e os pinhais no Sul se esgotando, observou Benjamin, contador formado em Porto Alegre e administrador das várias empresas que o pai abriu para fazer os negócios madeireiros na Argentina e no Brasil, Carlos se viu em dificuldades. A exportadora fechou e em fevereiro de 1949 o pinhal disponível acabou de ser serrado em Sarandi.
Brasília e JK, a salvação
Carlos e Benjamin aceitaram a proposta de Willy Barth de organizar o negócio da madeira em troca de um pinhal da Maripá. Mas não havia um pinhal com a amplitude prometida e a madeira produzida era barata.
Para sorte dos Sbaraini, a construção de Brasília por iniciativa do presidente Juscelino Kubitschek abriu o caminho para o sucesso da atividade por meio de uma bonificação por dólar exportado.
“Na época o Brasil estava tendo déficit na balança comercial e com a construção de Brasília, quando foi gasto muito dinheiro, Juscelino resolveu estabelecer uma bonificação às exportações em geral e a madeira pegou a primeira bonificação: 10 cruzeiros por dólar exportado” (Benjamin Sbaraini).
“Essa bonificação foi aumentando, a cada dois, três meses aumentava. Então nós tivemos a sorte de pegar um preço final muito bom na exportação. Isso nos possibilitou comprar muitos pinhais aqui no Oeste do Paraná”.
Em 1955 a firma Carlos Sbaraini & Filho Ltda já se tornara um nome respeitado no setor madeireiro, contando até com porto no Rio Paraná.
Terra plana, um sonho
O típico aventureiro que veio para o Oeste com a cara e a coragem foi Segundo Silvino Bell’Aver. Frustrado com as limitações da criação de porcos do pai em Guaporé (RS), encantou-se com as histórias contadas pelo comprador de suínos Danilo Badotti sobre as maravilhosas terras planas do Paraná.
Falar em terra plana para quem vive em região montanhosa é acenar com o paraíso, mas o pai o desaconselhou a partir para o Oeste paranaense. Um menino ainda, com 15 anos, aceitou o convite de Badotti e embarcou em um caminhão Chevrolet para cumprir 23 dias de viagem por estradas precárias.
Trazia 500 mil réis, “uma muda de roupa para dia santo, duas para os dias de serviço e um par de botas”.
O destino final de Badotti era a Rocinha (Mato Queimado), mas Bell’Aver queria a terra prometida onde tudo acontecia. Só viu mato pela frente, sem ninguém disposto a contratar um jovem inexperiente.
Pegou uma carona até Cascavel, onde o mato parecia ainda mais fechado e misterioso, mas já sabendo que havia atividade colonizadora mais adiante.
“De Cascavel para frente não tinha estrada, era uma picada, então o jeito foi vir a pé até o Rio Toledo. Andei até um local onde havia três casas, na época o povo chamava de Vila Cristo Rei e hoje é a sede dos Pioneiros. Cheguei e perguntei para as famílias que ali moravam se tinha serviço. Isso foi no dia 18 de julho de 1949” (Silvino Bell’Aver, depoimento ao Jornal do Oeste, Toledo).
A única opção era trabalhar quase como escravo: “Lembro que aqui tinha um inspetor de polícia que mandava mais do que um delegado ou até mesmo um juiz. Ele colocava todo mundo para trabalhar. Quem trabalhava, comia. E quem não trabalhava, apanhava”.
Palácio coberto de taquaras
Ao procurar o engenheiro Eugênio Gustavo Keller o jovem soube que a única condição para ser admitido era querer trabalhar.
“Naquela época, ninguém perguntava quanto ia receber pelo trabalho, se perguntasse era mandado embora na mesma hora. Era preciso trabalhar um dia para saber quanto merecia pelo serviço feito”.
Na tarefa de picadeiro, que era abrir picadas no mato para a turma da agrimensura registrar as condições das terras, “a jornada de trabalho começava na segunda-feira ao clarear do dia e só terminava no sábado à noite quando os picadeiros retornavam do meio da mata”.
Sua recompensa imediata foi aprender a analisar mapas e localizar as melhores terras, que achou na Linha Tapuí.
“A Companhia Maripá dava as terras para quem quisesse realmente trabalhar e até cedia as ferramentas e tudo mais o que era preciso para iniciar o plantio. As pessoas pagavam depois, como e quando podiam”.
Começou sua dupla jornada, de trabalhar para a companhia e nas horas vagas cuidar de construir moradia na área escolhida. Agora reinaria isolado no mato, rei do sertão em seu palácio, um rancho de 10 m² coberto de taquaras.
“O começo não foi fácil. Comprei algumas panelas no empório da Maripá só mesmo para poder cozinhar. O fogo eu fazia no chão. Comecei a trabalhar nas minhas roças, era de onde eu tirava a minha comida, plantava e colhia para comer. Comprar só mesmo sal, pimenta e querosene”, recordou Bell’Aver.
Fica ou a onça come
Depois de cinco anos trabalhando em Toledo, decidiu ir ao Sul encontrar uma companheira. A eleita foi Natalina Miotto, de família amiga dos Bell’Aver. A mudança para Toledo “coube perfeitamente em apenas uma mala” e a escolha pela viagem aérea pouparia Natalina dos dissabores do longo percurso.
Enquanto estiveram no avião tudo foi bem, mas depois de sucumbir à noite ao cansaço da viagem no “palácio” perdido no mato, a rainha Natalina despertou e não viu um só traço de civilização por todo lado que olhasse. Aos prantos, pediu a Silvino para ir embora e voltar à família.
“Perguntei por que caminho ela iria, ela apontou para a direção que hoje nos leva a Pato Branco. Então disse que se ela fosse mil metros para dentro do mato ela seria comida por uma onça. Eu tinha contado como era a vida aqui, mas ela disse que não tinha acreditado” (Jornal do Oeste).
A adaptação à nova terra veio com o trabalho intenso, pois havia tudo a fazer. A produção agrícola vinha robusta, mas não havia compradores.
“Em um ano, eu e a mulher plantamos e colhemos 114 sacas de arroz e não achamos comprador, seguramos a produção estocada por uns três anos até criar larvas, tivemos que jogar tudo fora. Feijão a gente também colhia e jogava fora porque não tinha para quem vender, não tinha comércio”.
A produção começou timidamente a sair com a chegada de um tropeiro chamado Joaquim Lino, que com seu burro de carga vendia banha e linguiça e levava diversos produtos aos clientes que encontrava no caminho.
A exemplo de Frederico Blum, fundador da Associação Rural de Cascavel, Silvino Bell’Aver fundou o Sindicato Rural de Toledo. Por sua vez, Benjamin Sbaraini antes de se associar ao Sindicato Rural de Cascavel já participava da Coopavel.
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