A grande “História do Oeste”. Muita confusão sobre datas históricas

O prefeito Helberto Schwarz e o fogo que destruiu a Prefeitura e suas leis como vereador

Segundo as anotações do então secretário municipal da Prefeitura de Cascavel, Celso Formighieri Sperança, encarregado pelo prefeito José Neves Formighieri de fazer sua articulação com a Câmara, em 11 de agosto de 1953 foi sancionada a lei 36/53, considerando feriado o dia da criação do Município, 14 de novembro de 1951. A lei, entretanto, não faz parte do acervo documental da Prefeitura por uma triste razão: o incêndio sofrido pela Prefeitura em 12 de dezembro de 1960.

AS PRINCIPAIS NOTÍCIAS PELO WHATS: ENTRE NO GRUPO. TAMBÉM ESTAMOS NO TELEGRAM: ENTRE AQUI. SIGA-NOS NO GOOGLE NEWS

Ainda de acordo com o registro particular de Sperança, o projeto de lei havia sido apresentado na Câmara pelo vereador Helberto Schwarz. Embora o prefeito preferisse que o feriado de aniversário do Municípiofosse 14 de dezembro, data da posse do primeiro prefeito e dos primeiros vereadores, quando o Município começou a existir de fato, a Câmara aprovou e o prefeito sancionou a lei. Celso Sperança, entre o fogo e o prefeito.

A lei queimada em 1960 por um incêndio que a Justiça considerou de origem criminosa, dois dias antes da posse do terceiro prefeito eleito, Octacílio Mion, originou-se de uma proposta do vereador Helberto Schwarz na primeira legislatura.

Uma turba tentou linchar o prefeito Schwarz atribuindo-lhe a responsabilidade pelo incêndio da Prefeitura. O Estado mandou seu principal delegado para apurar o caso, Lycio Bley Vieira, chefe da Delegacia de Ordem Política e Social do Paraná.

Ele apurou que naquele dia Helberto Schwarz deixou na Prefeitura o contador da Prefeitura, Celso Formighieri Sperança, secretário da Educação na gestão de José Neves Formighieri, encarregado de fechar as contas do Município para entregá-las ao prefeito eleito, Octacílio Mion, no dia 14 de dezembro.

O novo prefeito era casado com a cartorária Carolina Formighieri Mion, irmã de Neves Formighieri e prima de Celso. Assim que os criminosos viram Celso deixando a Prefeitura para se dirigir à residência de Florêncio Galafassi, sogro de Schwarz, onde o prefeito o esperava, os suspeitos de praticar ou mandar incendiar a Prefeitura trataram de executar o crime.

Corrida ao aeroporto

Quando Celso alcançou Schwarz para lhe entregar os papéis para assinar, as labaredas já iluminavam a noite do dia 12 de dezembro.

Pouco depois algumas pessoas chegaram aos gritos avisando que a Prefeitura estava em chamas e um grupo de irados oposicionistas estava em marcha com a intenção de linchar o prefeito.

Celso Sperança recebeu o grupo e avisou que Neves havia partido para Curitiba, depois de deixar o relatório e os documentos finais de sua gestão devidamente assinados para entregar ao novo prefeito. Quem correu ao aeroporto para tentar impedir a decolagem chegou tarde. O prefeito Helberto Schwarz já estava a caminho de Curitiba.

Até chegar a esse momento infeliz de sua vida, Helberto Schwarz só havia acumulado sucessos. Descendente de imigrantes, nascido em Campo Vicente (Taquara, RS), em 2 de julho de 1918, Helberto veio para Cascavel em 20 de maio de 1949 para se unir ao sogro Florêncio Galafassi na administração da Industrial Madeireira do Paraná (Imapar).

Apesar da tragédia, gestão de sucesso Casado com Inês Matilde Galafassi, Schwarz teve com ela quatro filhos que também se destacaram na comunidade cascavelense: Sérgio Clóvis, Sauro Cláudio, Carlos Alberto e Maria Emília.

Fundador e presidente do Tuiuti Esporte Clube, Schwarz participou ativamente do processo de criação do Município e concorreu no pleito de 1952 à vereança, sendo o segundo mais votado, com 69 votos. Tornou-se o mais produtivo vereador da primeira Legislatura. Seus projetos eram idealizados por ele e recebiam forma pelas mãos de Celso Formighieri Sperança, a exemplo de outros vereadores, sempre em articulação com o prefeito José Neves Formighieri.

Como prefeito, Helberto sancionou projeto de Valdir Farina para denominar o prédio da Prefeitura de “Paço Municipal José Silvério de Oliveira”, homenagem ao pioneiro Tio Jeca. Sua atuação intensa na Câmara Municipal lhe valeu a indicação para candidatar-se à Prefeitura a chamado do governador Moysés Lupion.

Eleito em 1956, com 1.533 votos, Schwarz organizou o primeiro mapa do Município, construiu a Praça Getúlio Vargas e abriu a pedreira municipal, fator de impulso às obras municipais.

Delegado especial no escuro

Helberto iniciou a primeira usina hidrelétrica de Cascavel, no Rio Melissa, e desenvolveu projetos de abastecimento de água e telefonia. Ao final do mandato, a tragédia: a Prefeitura destruída por um incêndio. O fato criou um clima de rancores e acusações a culpados e inocentes.

Depois de escapar da intolerância dos cidadãos mais esquentados, a família se transferiu inicialmente para Curitiba e em seguida a Brasília, retornando a Cascavel depois que não ficou demonstrada qualquerparticipação ou interesse pessoal dele no incêndio da Prefeitura.

Além do prefeito, foram acusados por mando ou autoria do crime o secretário Eduardo Dellatorre e os ex-vereadores Valdir Farina, Raul Ramos e Nélson Cunha pelo delegado titular da Dops, Lycio Bley Vieira,que estabeleceu seu QG no Hospital Nossa Senhora da Salete porque a Delegacia de Polícia não tinha luz.

No entanto, não foi possível coletar provas contra nenhum deles. Os indícios fortes de interesse no incêndio contra o secretário Dellatorre, apresentados pelo vereador Roberto Paiva e destacados pelo jornal Diário do Oeste, não foram considerados pela Justiça.

Queimou as próprias leis?

Se fosse provada a culpa de Helberto no incêndio da Prefeitura ele teria queimado as leis que ele mesmo propôs quando foi vereador, na primeira legislatura.

Além da lei 36, que instituía 14 de novembro como feriado municipal, Helberto havia proposto no calor da emoção pela morte então recente do vereador Donato Matheus Antônio, a aprovação da lei 35, que deu nome a uma rua com o nome do seu colega, tombado em duelo no interior com um desafeto cujos animais pisoteavam suas plantações.

A rua central de Cascavel em homenagem ao vereador desapareceu, renomeada porque a lei queimou. Algumas leis foram recuperadas com ementas ou textos incompletos e sem comprovação oficial. Até hoje ainda não há uma rua com o nome do vereador assassinado no exercício do cargo.

Sobreviveu ao incêndio a lei 41/54, proposta de Helberto que isentava de taxas e impostos de competência do Município, pelo espaço de 5 anos, as indústrias se instalassem no Município no decorrer de 1954.No entanto, outras leis de Schwarz não resistiram às chamas, como a 51/54, que doava Associação Rural de Cascavel o lote 3 da quadra 54, a lei 55, sugerindo recursos para a construção da ponte sobre o Rio Cascavel, efetivamente construída, a lei 56, para a construção de uma escola em Rio do Salto, e a 59/54, para auxílio financeiro à Capela de Rio do Salto. Das leis 57, de 60 a 64 e de 66 a 73 não sobrou sequer uma remota pista.

Novas leis realimentaram a polêmica

Durante vários anos, cada prefeito comemorava o aniversário da cidade de acordo com sua própria interpretação. Alguns se basearam nas anotações de Celso Sperança sobre a iniciativa de Schwarz propondo 14 de novembro.

Outros preferiam o dia 14 de dezembro, data da instalação do Município, evitando colar um feriado municipal com um nacional – 15 de novembro é uma das datas mais importantes da Nação, evocando a Proclamação da República.

Para suprir o vácuo da lei queimada, em 5 de junho 1986 o vereador Aldo Parzianello conseguiu transformar na lei 1.875 seu projeto instituindo 14 de dezembro como o feriado municipal de aniversário do Município de Cascavel.

O trâmite da proposta foi conturbado e o prefeito Fidelcino Tolentino se recusou a sancionar a lei. Aprovado pela maioria da Câmara, o presidente José Claudio Cavalcanti foi obrigado a promulgar a lei, revogada em 2010, quando houve a recomposição da lei original de Schwarz.

Parzianello foi um dos primeiros vereadores de Cascavel a ter projeção estadual: em 2003 foi nomeado pelo governador Roberto Requião para chefiar a Secretaria de Estado da Justiça e da Cidadania.Em 2023, o vereador Celso Dalmolin tentou resgatar a data de 14 de dezembro, sem sucesso. É a data de aniversário da Câmara, mas os vereadores não cogitaram sua oficialização.

100 anos da revolução: O panfletário Banco do Brasil

Mais que qualquer manifesto anarquista ou de rebeldia militar, o Relatório do Banco do Brasil de 26 de abril de 1924 expôs o país em frangalhos ao assinalar que 1923 foi “o ano cambial mais terrível de nossahistória”.

“As fortes oscilações cambiais são um mal muitíssimo mais nocivo do que em geral se pensa”, afirmava, referindo-se a elementos perturbadores do balanço de pagamentos, responsáveis por um déficit muito maior do que o superávit comercial: serviço da dívida externa, remessa de juros e lucros de capitais estrangeiros, especulação, remessas pessoais, contrabando – além da agitação política e da desconfiança da população.

Por essa época, estava no Brasil a Missão Montagu, à qual o governo entregou a tarefa de achar as soluções. Faziam parte do grupo, além do influente administrador Edwin Montagu, Charles S. Addis, diretor do Banco da Inglaterra, e o investidor Lorde Lovat, cujo nome está ligado à colonização do Norte do Paraná.

As recomendações da Missão foram polêmicas e causaram muita revolta: aumento dos impostos, corte rigoroso da despesa, demissões e redução dos investimentos públicos.

 Edwin Montagu: as soluções que o administrador britânico apresentou para salvar o Brasil causaram revolta

Fonte: Alceu Sperança

Comentários

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *