A história desconhecida de Paulo Marques

Em inauguração de escola, o vereador Horalino Bilibio e o prefeito Pedro Muffato, ex-adversários aos quais Paulo Marques se ligou, assumindo a Secretaria Municipal da Educação de Cascavel. Abaixo, discursando na Câmara Federal. Ao lado, a ex-primeira-dama

As eleições gerais de 1950 não projetaram lideranças oestinas aos cenários nacional e estadual, mas de modo geral a colonizadora Maripá se ligou ao governador eleito, Bento Munhoz, enquanto as lideranças madeireiras de Cascavel mantinham suas ligações com Moysés Lupion.

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Com isso, o projeto da Maripá de fazer de Toledo um Município que teria Cascavel como distrito avançou até esbarrar na ação firme de líderes cascavelenses com ligações estaduais: o enfermeiro e farmacêutico Antonio Alves Massaneiro e o agente dos Correios, Horácio Ribeiro dos Reis, cuja família, ligada à numerosa prole de Manoel Ludgero, formava as bases da futura metrópole cascavelense.

Fundadores do Tuiuti Esporte Clube, eles passaram a se reunir em sua sede social para articular a ação da comunidade cascavelense no sentido de criar o Município de Cascavel, apesar das sérias limitações da vila-sede do distrito, com população inferior à de Toledo.

Nessas reuniões, com a participação destacada de líderes das etnias italiana e eslava, destacou-se o pecuarista José Neves Formighieri, com propriedade na região do Centenário. 

Professor de Inglês e líder político 

Mesmo que o Oeste não projetasse qualquer liderança nas eleições paranaenses de 1950, uma personalidade marcante em Santa Catarina começava uma brilhante carreira política e logo viria ao Oeste para se tornar um dos principais líderes da região.   

Paulo David da Costa Marques nasceu em Florianópolis em 26 de março de 1933. Os pais, Isidoro Marques e Guiomar da Costa Marques, tinham propriedade rural na qual o filho Paulo começou suas atividades e se destacou a ponto de ser eleito deputado estadual catarinense em outubro de 1950 pelo PTB de Vargas.  

Permaneceu na Assembleia catarinense de fevereiro de 1951 a janeiro de 1955, voltando a concorrer e obtendo uma suplência. Professor, formado em Letras e Português pela Faculdade Estadual de Ponta Grossa e Universidade Estadual de Michigan (EUA) com especialização na área de Inglês, passou a trabalhar na Embaixada dos EUA, no Rio de Janeiro.

Em 1960 optou por impulsionar os negócios da família, decisão que o levou a se transferir para Cascavel para se associar ao cunhado Jove Domelski e Pedro Mikosz nos trabalhos de uma serraria e laminadora no bairro Neva. 

Múltiplas atividades 

A serraria de Marques era conhecida como “Serraria do Pedro Mico” e também como “Vila Sapo”. Mais tarde, vendeu a serraria e montou outra, sozinho, no Boi Preto, lugar denominado hoje como Lagoa, entre Santa Tereza e Cielito. 

Depois, vendeu a serraria e ficou apenas lecionando, inicialmente na Escola Normal Carola Moreira. Foi professor fundador do Colégio Estadual Wilson Joffre e da Fecivel, hoje Unioeste. 

Dirigiu o jornal Diário d’Oeste, de Wilson Joffre, e concorreu à vereança no pleito de 1964 pelo PTB, obtendo 175 votos. Um de seus projetos nesse período determinou a construção e denominação da Praça Wilson Joffre. 

Com o golpe civil-militar de 1964, aderiu à extinta Arena, pela qual se dispôs a concorrer à Prefeitura em 1968, desistindo, em plena campanha, porque o prefeito Odilon Reinhardt, que inicialmente se comprometera em apoiá-lo, decidiu apoiar seu mentor, Octacílio Mion. 

Foi um golpe, mas Paulo Marques acabaria se recuperando com facilidade: ingressou no MDB e nas eleições de 1972 voltou à Câmara com a consagradora preferência de 2.003 eleitores. 

Na Câmara Municipal, Paulo Marques sempre foi um dos mais ativos pela profusão de propostas e pelos debates travados, sobretudo com o combativo vereador Horalino Bilibio, de quem mais tarde se tornou correligionário. 

Visibilidade na educação 

Reeleito, não voltou a verear: foi chamado pelo prefeito Pedro Muffato para a Secretaria Municipal da Educação e Cultura. Nessas novas funções, criou 44 escolas e equipou as então existentes. 

A ascensão política de Paulo Marques, que o levaria à Câmara dos Deputados, resultou de um desempenho brilhante à frente da Secretaria Municipal da Educação, que na época também abrangia a cultura e o esporte.

Na época, Muffato e Marques trouxeram os primeiros professores de Educação Física encarregados de iniciar a formação “olímpica” da juventude cascavelense. Um deles foi Joel De Lócco, que se destacou nos meios esportivos de Cascavel e Foz do Iguaçu. 

Joel e outros professores que vieram na época introduziram o handebol, promoveram torneios de basquetebol e outras modalidades.

No campo da cultura, Marques trouxe peças do Teatro Guaíra e deu destaque aos grupos folclóricos ucraniano, japonês, alemão e português, cujas apresentações eram destinadas a arrecadar fundos para a Associação de Pais e Amigos de Excepcionais (Apae), criada em sua gestão.

Marques se empenhou particularmente em criar Apaes e associações se proteção à maternidade e infância (APMIs) em toda a região. “Nós iniciamos esse projeto”, disse ele ao Projeto Livrai-Nos! “As primeiras instalações da Apae foram alugadas pela Prefeitura e as carteiras eram fornecidas pela Secretaria da Educação. Os professores eram municipais, cedidos para a Apae”.  

Luta contra a ditadura

Em 1974, indicado pelo MDB para concorrer à Câmara Federal, Marques deixou a Secretaria da Educação e assumiu a cadeira no Legislativo municipal. Concorreu a contragosto, pois pretendia se candidatar a deputado estadual. 

Foi melhor: ganhou a Câmara dos Deputados com uma votação superior a 50 mil votos. Ainda melhor foi seu mandato e a repercussão das atividades que desenvolveu contra a manutenção da ditadura.

O regime já se desmoralizava por um acúmulo de fracassos em todas as áreas, depois do “milagre” de altos PIBs que deram lugar a uma assustadora hiperinflação e à Década Perdida de 1980. 

Era a manhã do dia 8 de junho de 1977. A primeira-dama Rosalynn Carter visitava a Câmara Federal na condição de delegada oficial do governo dos EUA para averiguar denúncias de violações de direitos humanos no Brasil quando foi surpreendida ainda na rampa da entrada por uma confusa gritaria. 

Fora do protocolo, uma mulher se aproximava estendendo um envelope e dizendo: “Yo soy una mujer brasileña. Te saludo”.

Era a advogada do Movimento Feminino pela Anistia, Therezinha Godoy Zerbini, que teve a carta arrancada das mãos pelos agentes de segurança da Casa, sob os protestos dos deputados paranaenses Gamaliel Galvão e Paulo Marques e do gaúcho Getúlio Dias, que aos gritos retomaram a carta.

“This is a letter”

Marques avisou que iria fazer fotocópias da carta para entregá-la à visitante e distribuir à imprensa. Marques entregou a carta original à primeira-dama estadunidense dizendo: “Mrs. Rosalynn, this is a letter. The women of Brazil wish to deliver this for you”.

Se Therezinha apenas entregasse a carta, seu teor ficaria desconhecido, já que não continha nada além de uma comedida e genérica mensagem: 

“Apartidárias, como o somos, trabalhamos com princípios absolutos: Liberdade e Justiça, sentido da realização do Ser Humano através do seu destino histórico. No campo dos valores humanos, não há lugar para tergiversações: ou se é justo ou injusto; ou se é livre ou escravo”. 

A repercussão do episódio no exterior foi enorme. Noticiou-se nos EUA e Europa que agentes da ditadura impediram a delegada americana de receber denúncias de repressão às mulheres brasileiras e que ela só conseguiu receber a carta por intercessão de deputados brasileiros, dentre os quais Paulo Marques, professor de Inglês e ex-funcionário da Embaixada norte-americana, que falava o idioma fluentemente.

Paulo Marques se reelegeu em 1978 com 43 mil votos, e, já pelo PMDB, em 1982, com 49 mil votos. Como parlamentar federal, empenhou-se pela extinção da “área de segurança nacional”, que impedia os municípios da fronteira de eleger seus prefeitos. 

Carreira marcada por divergências 

Uma das causas mais ruidosas defendidas por Marques foi a de colonos em atividade no Parque Nacional expulsos da área.

Em 1986, divergindo de algumas alas do PMDB, Marques foi prejudicado por esquemas internos do partido e não obteve sucesso eleitoral. Nem por isso saiu de cena: foi chamado a chefiar o escritório do Paraná em Brasília.

Além disso, foi diretor-administrativo do Instituto de Previdência do Estado (IPE), presidiu a Comissão de Licitação da Secretaria de Estado da Saúde, dirigiu a Imprensa Oficial e trabalhou na Casa Civil do governo paranaense. 

Na Câmara Federal em sua época não havia a fartura de dinheiro que futuramente o Centrão iria garantir aos parlamentares, “mas com o pouco recurso que nós deputados tínhamos, que era uma verba para assistência social e educacional, eu sempre direcionei minha parte para bolsas de estudo, e hoje orgulho-me de ver centenas de funcionários liberais que exercem suas atividades nas mais variadas áreas, graças a bolsas de estudos que eu forneci”.

“De vez em quando tenho a satisfação de receber os cumprimentos de alguém que me diz: ‘Eu recebi uma bolsa de estudo sua’ e hoje são advogados, médicos entre outros”.

Marques se disse feliz por lutar pela conquista da democracia no país, “a satisfação de ter brigado por eleições diretas para presidente da República, a nova Constituição, direito de greve e uma série de outras conquistas que temos e que foi graças à luta que o antigo MDB, hoje PMDB, exerceu a nível nacional, do qual eu tive o privilégio de participar”.

Mantendo distância das intrigas políticas e dedicado prioritariamente às suas atividades particulares agropecuárias, Marques morreu em 8 de dezembro de 2018. 

Fonte: Assessoria

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