O empenho, a dedicação e também o sofrimento dos pioneiros ucranianos entre os anos 1930 e 1940 para formar a grande Cascavel pode ser representados pela história do imigrante Alexandre Kachuba.
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Ele até 1940 labutava no transporte com carroça. Em suas idas e vindas, foi abordado por uma viúva cujo marido acabara de ser assassinado em um dos trágicos episódios que tinham por pano de fundo a ausência da Justiça e a luta incessante pela posse das melhores terras.
Sem mais condições de permanecer na atividade, a viúva deu permissão a Kachuba para tocar a lavoura de café da família na região de Nova Aurora, interior do então Distrito de Cascavel, no setor Leste do Município de Foz do Iguaçu.
Aquela pareceu ao imigrante ucraniano uma oportunidade de ouro, pois quem lidava com café enriquecia rapidamente. A dificuldade estava no início da produção. Depois, deslanchava e era só contar os lucros, ano após ano.
Para chegar a essa altura, já com 26 anos, Alexandre e a família haviam sofrido situações de horror e tristeza.
Nascido em Kiev, a capital da Ucrânia, em 14 de dezembro de 1914, Alexandre estava com 11 anos em 1925, quando junto com quatro irmãos embarcou com os pais, Horácio e Maria Kachuba, para uma viagem cheia de confiança ao Brasil.
A I Guerra Mundial deixara um passivo de desolação na Ucrânia. Stálin havia assumido o poder na então União Soviética e o futuro da Ucrânia parecia incerto para os camponeses.
Embarcando no navio perfeito
Ao decidir tentar vida nova na América, a família Kachuba começou tendo sorte: o navio em que embarcaram era seguro, confortável e bem provido de alimentos. Havia até assistência médica para que a viagem, com duração de um mês e meio, transcorresse livre de problemas.
Tudo corria bem até que uma tempestade incomum sobreveio e o capitão do grande navio deu uma ordem desesperada às mais de mil pessoas embarcadas: o naufrágio era iminente e todos deviam se munir de salva-vidas.
Mas o navio resistiu. Alexandre e família chegaram inteiros ao Rio de Janeiro, mas logo no desembarque o menino sofreu um acidente, que foi só o início de uma chegada cheia de contratempos.
Houve muita confusão para separar os pertencentes de mil pessoas e a família Kachuba perdeu tudo que havia trazido, ficando todos os sete só com a roupa do corpo, com a qual embarcaram no avião que os levou ao destino previsto: a Colônia Moema, em Mafra.
Rumo a Centralito
Já homem feito, a convite do também imigrante Miguel Pali, Alexandre se transferiu para Centralito, onde se dividia entre atividades coloniais e o trabalho com toras de madeira na Serraria São Domingos, da família Lupion, na Cruz Grande.
Ganhava pouco na serraria e decidiu usar a carroça, preciosa conquista de seu trabalho, para levar os produtos coloniais ao já na época centro habitado de maior trânsito: Cascavel.
Ter uma carroça era como possuir um carro de luxo. Enchê-la de produtos coloniais e sair atrás de clientes em Cascavel passou a ser o projeto de vida de Alexandre.
Mas só achou um enorme samambaial em meio ao qual se espalhavam algumas poucas casinhas. Não encontrou uma só pessoa que quisesse comprar seus produtos, para os quais esperava encontrar ávidos compradores: um saco de batatas e outro de feijão.
Seu lucro foi conhecer pessoas, que em Cascavel eram prestativas e solidárias. Assim, logo conseguiu fornecer gêneros alimentícios para a Comercial Oeste (Copal) e para a família Bartnik, que abriu um pequeno armazém.
O que não conseguia vender, trocava por outros alimentos. A partir daí o imigrante se tornava um cascavelense. Alexandre se casou com Ana, filha de Estefano e Rosa Kitto, matrimônio do qual resultaria uma prole de 14 filhos.
A grande oportunidade seria aquele cafezal compartilhado com a viúva da futura Nova Aurora, no qual trabalhou durante seis anos até acontecer a grande decepção de sua vida: 2,5 mil pés de café torrados pela geada.
A esposa descartou o alambique
Era ainda o tempo da guerra na Europa e o café assumia o topo das maiores esperanças dos colonos do interior. Mais que uma aposta, era já uma realidade de riqueza para muitos imigrantes que chegavam ao Paraná e seus filhos.
Com o fracasso no cafezal, Alexandre tentou mudar de ramo, plantando cana para abastecer a produção de um alambique, mas a esposa Ana não suportava o calor e os mosquitos.
A solução foi levar o que pôde na carroça e retornar a Centralito. Como a dona da fazenda não estava cumprindo sua parte no contrato, alguém disse a Kachuba que ele também não precisava cumprir a sua. Repartiu a criação “às meias” com a viúva e levou sua parte para Centralito.
As terras do Oeste eram vendidas pelas colonizadoras a partir do conceito de que a terra roxa, predominante na região, era altamente propícia ao café. De fato, é, mas na época não havia a pesquisa, a extensão rural, o monitoramento climático nem histórico das culturas.
Como o café rendia bem na terra excelente, era uma loteria: se a geada não viesse, a família poderia progredir. Se viesse, começaria tudo outra vez.
Geadas aqui, Hitler na Europa
Na região de Cascavel, foram décadas de tentativas com o café até a geada vencer e a soja se impor, mas no Norte do Paraná a cafeicultura deslanchou.
“Com a ocupação do Norte do Estado e o estímulo ligado às atividades de beneficiamento do café, o Paraná apresentou, entre 1930 e 1949, um espetacular crescimento de 10% ao ano, superior ao de São Paulo e ao do Brasil” (Demian Castro, Mudança, permanência e crise no setor público paranaense: um balanço da trajetória estadual na segunda metade do século XX).
Isso acontece no Paraná ao mesmo tempo em que, na Europa, Hitler ordena em abril de 1940 a criação do campo de concentração de Auschwitz, onde mais de três milhões de vidas serão ceifadas, dentre as quais um milhão de judeus.
Ocorre ampla migração motivada pela guerra e o Paraná é um importante foco de atração para os expatriados.
As pequenas e médias propriedades de menos de 100 hectares já constituem 84% do total das explorações agrícolas do Paraná como resultado do sistema de venda de lotes a colonos atraídos pelas colonizadoras e distribuição de terras a sertanejos e imigrantes pobres.
A ameaça de mais perdas
O Censo Demográfico de 1940 registra o Paraná com 1.236.276 habitantes. Em todo o Oeste, havia uma irrisória população de apenas 7.645 habitantes, equivalente um bairro de Ponta Grossa, então com 38.417 moradores.
Cascavel tinha 404 habitantes, 80% desta população residente na zona rural. O panorama desse interior ainda despovoado também começaria a mudar no curso da guerra e imediatamente após a vitória aliada.
“A partir de 1940, a população aumenta de forma muito rápida, atraída pelo ouro verde, o café. Os baixos preços das terras praticados no Paraná, comparados aos de São Paulo, assim como a alta das cotações do café sobre o mercado internacional contribuem para este movimento” (Tânia Navarro Swain, Fronteiras do Paraná: da colonização à migração).
Em meio às dificuldades no comércio externo causadas pela guerra, o Paraná vê crescer a ameaça de perder mais territórios sem poder reagir, porque a ditadura não permitia contestações.
Nem bem estavam cicatrizadas as feridas da perda do Sudoeste para Santa Catarina e já os decretos 1.968 e 2.610, de 1940, determinavam a realização de levantamentos topográficos na região Oeste do Paraná, sinalizando claramente para a breve criação de um território federal.
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