A marcha indireta para o Oeste

O Caminho de Viamão definiu o Paraná como “território de passagem”

Depois de encerrado o ciclo do ouro paranaense, arrematado em fins do século XVII pela frustração com a lendária serra de prata, Portugal sofreu uma forte crise, socorrendo-se no apoio financeiro inglês. “O ouro não faz senão transitar. O beneficiário é a Inglaterra, cujas indústrias, excedentes ao consumo interno, vêm para Portugal e Brasil” (Afrânio Peixoto, História do Brasil).

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“No Brasil, a febre do ouro enfraquecia as guarnições militares desfalcadas pelas deserções. Homens sem recursos embrenhavam-se nos sertões praticamente sem armas, equipamentos e alimentos, confiando na sorte e na caça para chegarem vivos às minas” (Mário Maestri, Uma História do Brasil: Colônia).

Enquanto a febre do ouro toma conta do Brasil, a economia do Paraná já se estrutura sob as patas do gado. O fim da ilusão com os minérios de certa forma foi positivo para o futuro Paraná. Formou-se nessa época, até início do século XVIII, a estrada do gado, mais conhecido como Caminho de Viamão, iniciado nas Vacarias do Sul. 

Os Campos Gerais foram escolhidos como território de descanso e engorda para os animais, que chegavam magros da longa jornada desde o Sul e dali seguiam à Feira de Sorocaba como primeiro destino, distribuindo-se em novas tropas que se dirigiam a São Paulo, às “minas de Cataguases” (Minas Gerais) e Nordeste.

O mundo e o futuro Paraná 

O trânsito das tropas logo também vai originar Guarapuava, vastíssima região ainda controlada pelos índios. À medida que muitas sesmarias de ampla extensão eram cedidas pela Coroa lusa aos interessados em colonizar e desenvolver a pecuária, mais empreendimentos se abriam, expandindo o desbravamento rumo ao Oeste.

Nesse início do século XVIII, na Europa, com a submissão da Escócia à Inglaterra, forma-se a Grã-Bretanha, integrada também por Irlanda e País de Gales. O inventor Thomas Newcomen (1663–1729) cria a primeira máquina a vapor prática para bombear água, dando a largada para a Revolução Industrial. 

O rei Pedro II morre em 9 de dezembro de 1706 e sobe ao trono o jovem João V (1689–1750). Com 17 anos, será o soberano que mais vai explorar o ouro brasileiro, servindo-o aos ingleses para financiar o florescimento do capitalismo. 

As concessões de sesmarias nos primeiros anos do século XVIII formam o desenho do Paraná Colônia em seu período pós-mineração. Então limitada aos arredores do litoral e de Curitiba, a expansão do primitivo Paraná para os Campos Gerais, Guarapuava e Palmas, entre os rios Itararé e Iguaçu, sinaliza, balizada pela criação, transporte e comércio de gado, para a delimitação do território que seria o futuro Estado.

“Os antigos sesmeiros e seus descendentes viriam a formar a influente aristocracia campeira, da qual saíam os homens destinados aos postos elevados das classes armadas, do clero e do governo” (Monika Gryczynska, O Casarão da Serra).

O esboço da Estrada Boiadeira

A região se emancipa oficialmente do Rio de Janeiro em 25 de fevereiro de 1714, passando a integrar a Capitania de São Paulo. Começará aí uma batalha quase sesquicentenária para se emancipar também de São Paulo.

O Arraial Forquilha, futura Cuiabá, elege Pascoal Moreira em 1719 para comandar aquela região, acontecimento que será muito importante para o futuro Paraná. A febre do ouro atrairá àquela região aventureiros e prestadores de serviços que vão precisar de alimentos para viver e trabalhar.

É a largada para a conquista do Oeste brasileiro, que acrescenta assim, de forma destacada, um novo e importante endereço às remessas do gado que chega do Sul. Abre-se o esboço de uma nova rota: a Estrada Boiadeira.

Faz parte desse contexto a concessão ao curitibano Zacarias Dias Cortes de uma sesmaria no Tibagi, em 1716. Com ele também teria início mais um dos vários episódios polêmicos da história do Paraná rumo à ocupação do Oeste. 

Dias Cortes, bandeirante paranaense 

Atribui-se a Dias Cortes, em 1720, segundo o historiador Francisco Adolpho de Varnhagen, informação aceita pelo paranaense Romário Martins, a “descoberta” dos Campos de Palmas.

Eles relatam que parte do Vale do Iguaçu foi explorada inicialmente nessa época por Dias Cortes em sua marcha para explorar as minas de Inhanguera (atual Oeste catarinense). 

Cortes relatou ter encontrado na região uma “uma nação indígena que habitava as fraldas serranas e grande extensão do Rio Chopim – eram os índios Biturunas” (João Carlos Vicente Ferreira, Municípios Paranaenses Origens e Significados de seus Nomes). 

Veio daí a descrição dos campos de Palmas, um território “[..] mui grande, mui raso e com muitos butiás que dão muita e boa farinha e por baixo dos butiás tem muita erva mimosa” (Francisco Adolpho de Varnhagen, História Geral do Brasil, Volume 2).

Italiano diz que “descobriu” Palmas

A lenda da serra de prata paranaense e do suposto ouro que havia em áreas do atual Sudoeste sob controle dos índios mais agressivos do Sul brasileiro motivou sucessivas expedições de busca e trouxe boas consequências para a estruturação do futuro Paraná e também à formação do Rio Grande do Sul. 

“O intento da bandeira que dirigiu ao Sul do Iguaçu e que atingiu o Norte do Uruguai, foi a exploração do ouro que se dizia existente no morro do Ibituruna, onde as lendas da época situavam maravilhosas riquezas” (Romário Martins, Bandeiras e bandeirantes em terras do Paraná).

Esse primeiro descobrimento notificado de Palmas foi contestado pelo explorador italiano Fidel Franco Bolloto, referindo-se a uma estrada aberta no sertão por ele com o capitão Gabriel Alves de Araújo e outros curitibanos. Bolloto, de acordo cm Romário Martins, “não conseguiu provar que sua exploração tivesse atingido os campos de Palmas, mas sim que havia explorado parte do sertão do Sul”.

Sempre uma polêmica

A historiografia paranaense sustenta que em sua bandeira Zacarias Dias Cortes percorreu vasta região do interior, descobriu e explorou as lavras de Inhanguera, nome que os nativos davam ao Rio Chapecó. 

Ao tomar conhecimento do sucesso da expedição de Zacarias o governador da Capitania de São Paulo, Rodrigo César de Meneses, oficiou à Câmara de Curitiba para exigir de Cortes uma planta da região e um diário do seu percurso. 

É a esse diário que o historiador Francisco Adolfo de Varnhagen faz menção, afirmando que as terras entre as cabeceiras do Uruguai e do Iguaçu eram já conhecidas pelos curitibanos por um “antigo roteiro”.

A marcha para o Oeste, portanto, foi iniciada pelos extremos: ao Norte pelas atividades no Mato Grosso. Ao Sul, pela ocupação do atual Sudoeste paranaense. O futuro eixo que viria a ser a BR-277 ainda não estava em perspectiva.

CLIQUE AQUI e veja episódios anteriores sobre A Grande História do Oeste, narrados pelo jornalista e historiador Alceu Sperança.

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