Depois da incursão de Alonso Riquelme na região da futura Campo Mourão, os espanhóis comunicaram novamente a Madri que subjugaram os índios revoltados no Guayrá.
Por conta disso, em 1570 o delegado espanhol para o Prata, Juan de Garay (1528–1583), informado de que havia nas margens do Rio Ivaí “certa paragem que tinha aspecto de farto em minerais”, ordena a Ruy Diaz Melgarejo que siga para a região, onde deverá fundar a terceira cidade espanhola do futuro Oeste paranaense.
Acompanhado de 40 homens, ele alcança o campo situado entre os rios Ivaí e Piquiri, na atual Nova Cantu, onde funda a Vila Rica do Espírito Santo.
Nomeado “governador e capitão general de todas as províncias do Rio da Prata” em 1574, Garay, que depois também seria o fundador da segunda Buenos Aires, foi castigado por mentir que os índios estavam dominados.
A expedição empreendida pelo próprio Juan de Garay foi em 1576 combatida tenazmente pelo cacique Guairacá, “lobo dos campos e das águas” e chefe dos “Povos das Doze Aldeias dos Cem Mil Arcos Vencedores”.
Gripezinha para europeus, fatal para índios
Entre 1588 e 1589, uma epidemia de gripe na Vila Rica do Espírito Santo matou 4.160 pessoas. Quase todos eram índios. O padre Manuel Ortega, que já se encontrava no Guayrá nessa época, seguiu para lá com o padre Filds para prestar atendimento aos doentes.
As doenças trazidas pelos europeus contribuíram para reduzir o “estoque” de índios. Com isso, as bandeiras lusas, em virtude da extinção progressiva das tribos no território paulista, viam a grande população indígena do Guayrá como fonte de suprimentos para sua urgência de mão-de-obra escrava.
Vila Rica foi uma decepção para os espanhóis. Esperavam encontrar minas de ouro mas só acharam algum ferro. Assim, em 1592 a cidade foi transferida por ordem do capitão Ruy Guzmán para a foz do Corumbatai com o Ivaí.
Nesse mesmo ano, Hernando Arias de Saavedra (1561–1634), o Hernandarias, genro de Juan de Garay, assumiu o governo de Assunção. Hernandarias tentou confirmar o domínio espanhol na região, mas as investidas dos bandeirantes iriam crescer muito a partir de 1594, quando chegaram a prender até quatro mil índios de uma só vez.
Escravidão proibida em 1595
Acorrentados pelo pescoço, os índios seguiam para trabalhar como escravos nas fazendas paulistas e nordestinas. A história glamurizou os bandeirantes como heróis, mas eles matavam os velhos e as crianças indígenas, tidos como inservíveis.
Chefe da nação Dorin, Guairacá “durante mais de 50 anos, entre 1550 e 1601, liderando mais de 100 mil índios, enfrentou e derrotou os espanhóis, impedindo assim que eles conquistassem o atual território do Paraná” (Hermógenes Lazier, Guairacá: herói paranaense e brasileiro).
As encomiendas, sistema escravizante pelo qual os espanhóis catequizavam os índios para explorar sua mão-de-obra, motivou o aparecimento de focos de rebeldia indígena em toda a região do Guayrá, nome derivado da fama do líder indígena. Derrotar as forças europeias lhe valeu o respeito do reino espanhol.
Em 1595, o rei Filipe II proíbe enfaticamente a escravidão dos índios por meio de guerras e declarou ilegítimos os cativeiros resultantes das guerras promovidas pelos bandeirantes, mas isso não impediu que os portugueses de São Vicente organizassem bandeiras “de prea”, segundo Romário Martins.
Filipes, os reis globais
Com a morte do rei Filipe II, em setembro de 1598, desaparecia o primeiro monarca a estender seus domínios sobre uma extensa área direta “onde o sol jamais se punha”, superando Ghengis Khan e precedendo o império britânico.
Sobe ao trono o jovem rei Filipe III (1578–1621), então com 20 anos. Com o trono, ele herda o Brasil com 4,2 milhões de habitantes – apenas 50 mil brancos, 30 mil escravos, 120 mil índios capturados e outros quatro milhões ainda isolados. É uma nação de índios dominada pela minoria ibérica.
Na virada do século XVII, a resistência indígena à escravidão ainda se mantinha: em 1601, Hernandarias Saavedra combate os índios no Guayrá e é também derrotado pelos guerreiros de Guairacá.
Até então grande vitorioso no combate aos índios rebeldes, Saavedra “não se saiu com tanta felicidade de suas expedições dirigidas à vasta província de Guaíra, cujos habitantes se tinham rebelado para se livrarem das exações e maus tratamentos dos comendadores” (Alfredo Demersay, História Geral do Paraguai).
A vitória final de Guairacá
Perdendo muitos soldados nas lutas, Saavedra volta a Assunção, vencido pelas flechas “do imenso exército regionalista de Guairacá” (Romário Martins). Propõe ao rei espanhol “renunciar à força das armas para submeter os índios, e tentar a sua conversão por meio de missionários que lhes levassem a palavra do Evangelho” (Alfredo Demersay).
Sem dobrar a resistência indígena pela força das armas, as autoridades espanholas decidiram tentar pela cruz: a proposta de criar a República dos Guaranis tinha como base a catequese, a ser desenvolvida pelos padres jesuítas, muito influentes sobre os reis católicos.
No novo reinado, a Ciudad Real del Guayrá foi transformada em sede provincial, tendo como limites o Rio Iguaçu ao Sul, o Rio Paraná a Oeste, a linha do Tratado de Tordesilhas a Leste e o Rio Tietê (Anhembi), ao Norte.
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