Eleito em outubro do ano passado com 50,83% dos votos, o professor Alexandre Webber é o novo reitor da Unioeste – Universidade Estadual do Oeste do Paraná, desde o último dia 2 de janeiro. Tendo o apoio do vice-reitor o professor Gilmar Ribeiro de Mello, Alexandre vem trabalhando no sentido de se inteirar das questões da universidade, ao mesmo tempo em que já precisa tomar decisões difíceis, como o corte do TID dos agentes universitários, determinado pelo Ministério Público. Nesta entrevista ao Preto no Branco, Alexandre Webber fala do foco na desburocratização da universidade, visando dar mais agilidade e economicidade nos trâmites internos. Com menos burocracia e mais planejamento ele pretende alcançar melhores resultados no ensino, na pesquisa e na extensão, fazendo também que a sociedade valorize mais a universidade. Veja também em vídeo neste link, ou ao final do texto.
PRETO NO BRANCO – Como foi a sua trajetória dentro da universidade até chegar ao cargo máximo de reitor?
ALEXANDRE WEBBER – Eu entrei na primeira turma de Odontologia, como aluno. Participei de todas as esferas da representação estudantil. Um ano depois me formar já entrei como professor da universidade. Dois anos após isso já era o coordenador do curso de Odontologia, onde fiquei por quatro anos. Um ano depois fui candidato a diretor de campus, me elegi e nos últimos oito anos fui diretor do campus de Cascavel. E, agora, desde o dia 2 de janeiro assumi a reitoria da universidade.
PB – E neste período de quase 60 dias de reitor, já deu pra se inteirar de tudo?
ALEXANDRE – São muitas coisas que nós ainda estamos levantando. Mas por ter esse trabalho como diretor, entender como funciona a máquina pública, a burocracia do estado, nós já imprimimos um ritmo muito forte de trabalho na reitoria, junto com o professor Gilmar (vice-reitor). Nós temos dividido esta tarefa. O Gilmar tem feito um papel muito importante numa série de coisas na administração, enquanto eu faço a representação da universidade nas esferas federal e estadual, nas reuniões. Temos feito esta parceria. Com os diretores dos campi nós já tivemos uma reunião, ajustamos algumas coisas e solicitamos questões que podem ser resolvidas rapidamente. Nós queremos desburocratizar a universidade. Tem coisas que dificultam muito o dia a dia. A trajetória do papel aqui dentro é muito grande. Tem matérias que precisam passar em cinco conselhos até chegar à aprovação final. Isso é ilógico.
PB – Sobre os cargos comissionados. Como está a questão da regulamentação e adequação?
Alexandre – Nós assumimos e percebemos, pelo nosso entendimento, que estávamos com 20 cargos além do autorizado. Estamos fazendo uma redução. Falta em torno de 5 para chegar neste quantitativo. Mas, nós fizemos uma negociação junto ao Governo do Estado. Havia uma proposta tramitando que era muito prejudicial à universidade. Tivemos um prazo para revisar esta proposta, o que foi feito. A proposta que agora está na Assembleia e deve ser aprovada, administrativamente é uma boa estrutura. Mas, perdemos alguns cargos para contratar pessoas externas. Isso dificulta porque temos uma deficiência grande de funcionários. Nossos engenheiros são cargos comissionados externos. Temos contadores hoje que são externos, por falta de concurso. Quando nós ajustamos essa estrutura que vai ser encaminhada pela Assembleia, eu falei que precisamos conversar depois para ver uma maneira para suprir a falta de funcionários que temos. Então, teremos uma segunda conversa. O importante é que agora se regularize de vez a nossa situação.
PB – Nos últimos dias se falou muito sobre a questão do TID. A Unioeste foi notificada pelo Ministério Público para suspender o pagamento deste benefício aos agentes universitários. O que isso vai impactar? E por que houve a determinação do corte?
ALEXANDRE – O TID é Tempo Integral de Dedicação Exclusiva. O professor pode ser TID ou não. Isso está pacificado, existe uma lei. Para o agente universitário existe a previsão legal, está na lei. As outras universidades já aplicavam há mais de década. A Unioeste aplica há uns seis anos. Mas houve uma mudança no entendimento tanto no Tribunal de Contas, quanto do Estado, dizendo que existe a lei, mas não está regulamentada. A Unioeste estava condenada desde o ano passado a suspender o TID dos agentes. Não havia suspendido e várias multas foram aplicadas ao gestor anterior. Eu assumi em janeiro e em fevereiro fui notificado pelo Ministério Público. Fizemos um estudo jurídico e solicitamos a suspensão. A questão do TID está em discussão no Governo do Estado, com a possível regulamentação junto com a Lei Geral das Universidades. Então deve sair uma definição mais clara de onde poderá ser aplicado o TID e onde não.
PB – Que média percentual sobre o salário do servidor representava o TID? Quantos funcionários estão sendo impactados? Como eles receberam essa notícia?
ALEXANDRE – É de 55%. Tinha aplicado na Unioeste em torno de 340 TID. É difícil. Pense numa situação em que o servidor está há sete anos sem reajuste. É extremamente complicado para o servidor saber que vai perder 55% do seu salário. Mas, eu tenho que trabalhar dentro das regras, pois isso pode comprometer toda a Universidade. Esse pagamento do TID em desconformidade com o entendimento do Tribunal de Contas fez com que no ano passado a universidade não recebesse da Fundação Araucária os recursos das bolsas. Isso deu um impacto de 800 mil reais nos recursos próprios da universidade. Ela não tem esse dinheiro sobrando. Esse recurso que foi utilizado para pagar as bolsas faltou em outros lugares. Eu falei isso na campanha claramente, que nós vamos ter que cumprir a regra e algumas coisas tem um caminho mais difícil pra fazer. Mas, nós temos que fazer esse caminho. Nós não podemos entender que é diferente. Não dá pra achar. As coisas precisam estar definidas. Precisamos corrigir as coisas para isso não ficar continuando gerando passivo para a universidade.
PB – Agora sobre o HU. Sabemos que é uma estrutura de custo alto para a universidade, mas que atende toda uma região. Como que o senhor encontrou o hospital?
ALEXANDRE – O Hospital Universitário é o único hospital público numa região de mais de 2 milhões de habitantes. Diferente do que todos falam que o Hospital Universitário do Oeste do Paraná custa muito. Não. É um dos hospitais mais baratos dentre os universitários do Estado. Nós temos a metade de servidor por leito do que a UEL. Temos dificuldades sim. O custeio do hospital foi caindo no decorrer dos anos. Nós chegamos a ter de custeio repassado pelo Governo do Estado R$ 35 milhões por ano e para este ano estão aprovados só R$ 18 milhões. Mas, com o diálogo, nós vamos mostrar, resgatar a confiança da população, do Governo, das secretarias. Envolver todos, porque o hospital afeta a saúde pública da região. Os prefeitos, as câmaras, precisam estar juntos nesta questão, pois qualquer problema neste hospital gera um colapso na saúde pública regional.
PB – Como está a questão de ampliação do pronto-socorro?
ALEXANDRE – Já houve uma determinação do governador para liberar o recurso que falta para concluir o pronto-socorro. Eu já informei a Secretaria de Saúde que não basta concluir. Nós precisamos sentar para ver a questão do custeio de funcionários. Devemos nas próximas semanas definir um cronograma, em acabando a obra, precisamos colocar para funcionar o pronto-socorro.
PB – Em Toledo parece que está chegando ao fim a novela do Hospital Universitário de lá. Isso vai aliviar a demanda do HU aqui em Cascavel?
ALEXANDRE – Tanto Toledo quanto o Hospital de Retaguarda que está planejado para Cascavel são fundamentais para que o Hospital Universitário consiga fazer aquilo que é a vocação dele, a alta complexidade. Fazer girar a fila de cirurgias eletivas. Nós temos uma grande capacidade técnica, que as vezes fica travada por causa da emergência e do pronto-socorro.
PB – O senhor falou sobre envolvimento de prefeitos. Como pretende construir essa relação da universidade com os municípios onde ela está inserida?
ALEXANDRE – Uma relação de diálogo. Em março eu e o professor Gilmar pretendemos visitar os campi e junto com os diretores, conversar com a comunidade interna, mas também visitar as prefeituras, as associações, os órgãos de comunicação. Deixar bem claro que a Unioeste está disposta ao diálogo, para a sociedade entender melhor o papel da universidade na região.
PB – E com relação ao papel da universidade em si, do ensino, da pesquisa e da extensão, o que se pretende avançar na sua gestão?
ALEXANDRE – Nós pretendemos fazer um trabalho muito forte para facilitar a vida do pesquisador, do agente universitário, de toda a administração da universidade. Quando a gente desburocratiza e agiliza o processo, a vida do pesquisador lá na ponta, do coordenador da pós-graduação, do coordenador de colegiado de graduação, fica mais tranquila e ele passa a ter mais tempo para fazer o papel dele, que é ensinar, pesquisar e fazer a extensão. A reitoria vai agir como parceira dos campi, das direções de centro, das coordenações de cursos e de todos os projetos envolvidos. E o recurso vai ser sempre aplicado com clareza. Nós temos que trabalhar junto com as direções de campi, coordenações de programas de pós-graduação, para quando chegar o dinheiro tudo já esteja planejado. É um trabalho conjunto, com pequenas atitudes que podem fazer com que o recurso seja melhor aplicado, beneficiando toda a sociedade. E, é fundamental que a sociedade entenda o papel da universidade. Ela não vem só formando profissionais. Ela vem transformando as regiões Oeste e Sudoeste do Paraná.
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