As multidões que viviam no Oeste do Paraná

Índios Kadiwéu resistiram aos ataques europeus e lutaram na Guerra do Paraguai em defesa de suas terras

Em 1777 morreu o rei José I e subiu ao trono a rainha Maria I. Os reinos de Portugal e Espanha celebraram acordo para manter seus territórios conquistados nas Américas, mas mesmo com o fim da guerra entre os europeus novos conflitos não estavam descartados.

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Era preciso estruturar uma força militar brasileira para vigiar e manter as fronteiras asseguradas pelos acordos. Ela não ficaria ociosa: sua manutenção era garantia de segurança às fazendas de gado.

Segurança, no entender dos coronéis, significava meios para aumentar a extensão das fazendas, ocupando as terras ainda sob controle dos índios que não se deixavam escravizar.

Na busca de gente branca disposta a se estabelecer no vasto interior “despovoado”, o governo paulista ordenou reunir “todos os vadios e dispersos ou que vivem em sítios volantes” para povoar a vanguarda estabelecida pelas fortificações militares a ser criadas na região.

Maria, rainha da paz

Para conseguir de Portugal uma fortificação avançada no interior do futuro Paraná, a tática empregada pelos fazendeiros era reportar ataques indígenas às fazendas já existentes. 

Não funcionou. A rainha Maria privilegiava a paz e a cultura. Mas tinha um ponto fraco: o fanatismo religioso, que seus inimigos viam como sinal de loucura.

Por trás da acusação havia uma rede de interesses que iam das intrigas na colônia à frágil situação de Portugal nas condições da Europa em sua época. 

No Brasil, o antagonismo à rainha começa em 1785, quando impôs restrições à atividade industrial, proibindo a fabricação de tecidos e outros produtos.

A elite local não gostou e em Lisboa começavam a circular murmúrios já em 1789 sobre um plano para transferir a corte portuguesa ao Brasil. 

A família brasileira 

A colônia poderia gerar muito mais riqueza aumentando a população. Soldados engravidando índias produziriam uma família brasileira que teria interesse patriótico em defender o território luso. Isso permitiria a Portugal criar um novo mundo e assim “ficar até mais independente das convulsões da Europa” (Francisco Adolfo de Varnhagen, História Geral do Brasil).

A intenção de trazer a família real ao Brasil seria receber em seu vasto território “colonos de todas as nações e todas as religiões”. Com eles, aproveitar melhor as terras extraindo riquezas vegetais e minerais para reforçar a economia portuguesa. 

Seria o mais belo, justo e próspero império da Terra. Um projeto nesses moldes, porém, não deixaria de despertar cobiça na classe em ascensão: a burguesia. 

O interesse da família real em partir começa quando, nas sombras, organizam-se movimentos para tirar o Brasil das mãos da rainha Maria e passá-lo aos capitalistas ingleses. Sem Maria, a orientação será tirar dos índios os territórios que ocupavam.

Os guerreiros Kadiwéu

O almirante José Luís de Castro, Conde de Resende, assume em maio de 1790 as funções de vice-rei, substituindo Luís de Vasconcelos. Em seu governo serão julgados os inconfidentes mineiros pró-Inglaterra e Tiradentes subirá à forca.

O vice-rei focou na estrutura: organizou os Correios, iniciou a iluminação pública no Rio de Janeiro – à base de óleo de baleia – e em seu governo houve a conquista definitiva dos Sete Povos das Missões e do Mato Grosso. 

Em seu tempo, os índios ainda enfrentavam bravamente as forças portuguesas e eventualmente apoiavam iniciativas militares espanholas, com as quais já havia miscigenação.

Com a liquidação das tribos promovida pelos bandeirantes e a fuga para o Sul dos índios sobreviventes com os jesuítas, a resistência indígena se manteve no Mato Grosso, onde os Kadiwéu treinavam cavalos e os utilizavam para caça, transporte e guerra.

As forças lusas sofreram graves perdas nos confrontos com esses índios, até lhes propor o único Tratado de Perpétua Paz e Amizade firmado entre uma nação indígena e a coroa portuguesa.

Kaingangues x Guaranis

“Hábeis cavaleiros, exímios guerreiros, não permitiram jamais a expansão europeia na região, através das expedições portuguesas e espanholas. (…) O povo Kadiwéu é excelente ceramista com desenhos e motivos geométricos que inspiram grandes arquiteturas na Europa” (Adenilson Américo Gomes, A Colonização de Mato Grosso do Sul).

As revelações sobre os Kadiwéu demoliam o suposto “vazio” do interior. Muitas tribos, principalmente as originadas do tronco Guarani, viveram por aqui em diferentes épocas ou simultaneamente. 

Os remanescentes mais conhecidos são os Cayuás, ramo que sofreu a violência das forças ibéricas na conquista do Oeste. “Eles foram arrebanhados pela Comissão Estratégica, para alargar e aperfeiçoar a picada original de acesso à foz do Rio Iguaçu” (Aluizio Palmar, O Drama dos Mensus – Verdadeiros Mártires da Colonização do Oeste).

Os Cayuás (ou Cayguás) eram índios Guaranis. Eram também chamados de “cabeludos”, mas sua denominação se origina de Kai’gwá, do idioma Guarani, que se traduz como “selvagem” ou “bravio”. 

Entre o Oeste e o Leste havia também outras tribos: Biturunas, Botocudos, Carijós, Camecãs, Coroados, Pataxós, Gualachos, Guaianases, Tapuias (ou Jês), Caiapós, Aimorés, Camés, Xocrens, Dorins. 

Muitas destas tribos eram derivadas do tronco Kaingangue, mas os primeiros a serem identificados no Oeste foram os Guaranis, pesar do nomadismo.

Guaranis, elite indígena 

Depois do extermínio e da fuga dos Guaranis para a região missioneira do Sul, os Kaingangues que vieram para o interior do Paraná eram originários do Mato Grosso, que também fazia parte da Capitania de São Paulo.

Os Kaingangues, originariamente, eram tidos como antropófagos. Guerreiros temíveis, ocuparam o Oeste e combateram os Guaranis nas Sete Quedas, além de ser acusados de massacrar as tribos de Botocudos que viviam na região. Eram chamados de Kamgs ou Coroados. 

Para Pedro Calmon, os Guaranis eram os Tupis do Sul, vindos principalmente do território que hoje pertence ao Paraguai. 

Mais refinados em seus costumes, os Guaranis chamavam os parentes que viviam no Brasil de “Tupis”, palavra que significa rudes, grosseiros, inferiores.

Quando, no fim do século XIX, os militares começaram a abertura da picada em direção à foz do Rio Iguaçu, a mão-de-obra da expedição era composta principalmente por índios Kaingangues.

CLIQUE AQUI e veja episódios anteriores sobre A Grande História do Oeste, narrados pelo jornalista e escritor Alceu Sperança.

Rainha Maria I e o vice-rei José Luís de Castro

 

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