Autor: Alceu Sperança

  • O Paraná se constrói ao Norte e Oeste

    O Paraná se constrói ao Norte e Oeste

    Com a chegada do trem a Nova Dantzig (Cambé) e em seguida a Rolândia, em 1936, mais dois passos importantes são dados para a colonização do Norte. Os colonos já começam a povoar o centro do Paraná. Partindo do Leste para o Oeste, eles avançam de Guarapuava para o Noroeste e para o Sudoeste.

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    Por iniciativa da Prefeitura de Foz do Iguaçu, organiza-se ao comando de Jeca Silvério a vila de Cascavel. É o Paraná que se estrutura com o trem avançando a partir de Ourinhos na formação do Norte Novo e a expansão das colônias do Sul e Sudoeste.

    Com mais gente em busca das terras propícias à produção agrícola e havendo enormes latifúndios não explorados em posse das velhas oligarquias estaduais que enriqueceram no Império e na Primeira República, uma expressão começa a se incorporar aos discursos e às preocupações dos planejadores: reforma agrária.

    Tema sempre explosivo, ela encontra no governador Manuel Ribas um importante defensor: “Talvez seja esse programa – tornar cada brasileiro do sertão um proprietário rural – um dos melhores elementos de combate às ideias e campanhas subversivas à ordem social e política da nossa pátria”.

    Ribas, com habilidade, defende a tese de que a pregação comunista por uma rebelião rural seria silenciada se o poder público concedesse a generosa oportunidade de que toda família de sertanejo fosse dona de um pedaço de terra.

    As boas intenções de Ribas esbarram, porém, em obstáculos fortíssimos, a começar pela resistência dos latifundiários a se desfazer das terras que usam como estoque de riqueza.

    Sabotando o desenvolvimento

    Os grandes proprietários de terras se contentam em deixar a erva-mate brotar, derrubar árvores e criar algum gado, porque já é fácil trazê-lo do Mato Grosso. Na agricultura, evitam lavouras além do café.

    O milho é produzido sobretudo para combiná-lo com a suinocultura – o safrismo. A estrutura de escoamento é sofrível e eles não possuem capitais suficientes para aplicar na exploração agrícola nem mão-de-obra, além da familiar, que aceite ser assalariada em regime de semiescravidão.

    Os posseiros rejeitam trabalhar nos latifúndios apenas por teto e comida, como escravos. Têm notícia de que o governador quer que todos tenham terra e trabalhem. A boa nova se espalha e eles marcham para ocupar as melhores terras.

    Com os migrantes apoiados pelo Estado, os grandes proprietários não têm para quem vender as terras a preços de mercado de modo a fazer capital e colocá-lo a serviço de seus empreendimentos. Os sertanejos preferem tomar terras do Estado e trabalhar para si mesmos, utilizando a mão-de-obra familiar.

    Estímulo concreto à colonização

    Favorecendo a migração ao interior, em 1936 “o governo isentou de impostos a bagagem, móveis, utensílios, veículos e animais dos colonos que procuravam se fixar nas regiões rurais do Estado” (Ana Yara Dania Paulino Lopes, Pioneiros do Capital: A Colonização do Norte Novo do Paraná).

    Ribas simpatizava com a ideia de distribuir terras aos sertanejos, portanto, mas tinha ordens de reprimir os comunistas, que pregavam o mesmo. Para combatê-los, o governador cria, em 5 de março de 1937, a Delegacia de Ordem Política Social, polícia política instituída com a lei 177.

    O mundo fervilha. Em 26 de abril de 1937, em plena Guerra Civil Espanhola, a aviação aérea nazista bombardeia Guernica, provocando um horrendo massacre que só teria depois paralelo na explosão das bombas atômicas pelos EUA no Japão.

    Este, por sua vez, em 7 de julho invade a China, recebendo em troca a resistência de uma guerrilha que se transforma em Guerra de Libertação Nacional. Desenha-se o contorno de uma II Guerra Mundial.

    Transporte: da terra ao céu

    O Paraná atrai nessa época uma importante leva de colonos eslavos que ou chegam de uma Europa conturbada ou aproveitam as facilidades concedidas pelo governo Ribas para se transferir das regiões escarpadas de Santa Catarina para as terras planas do Paraná.

    Os migrantes se entusiasmam com as terras mas se queixam da precariedade das estradas, impedindo o transporte de cargas mais pesadas. Os agentes dos Correios também reclamam. Mesmo com a estrada periclitante, já havia em serviço, além dos estafetas a cavalo, uma jardineira – micro-ônibus que se deslocava da fronteira até a capital.

    Para compensar as demoradas viagens do serviço postal por terra, o Correio Aéreo Nacional em agosto de 1937 começa uma escala de voos que integra até a diminuta vila de “Encruzilhada de Aparecida dos Portos de Cascavel”:

    “O CAN realiza no Paraná um percurso que se inicia em Curitiba, seguindo por Prudentópolis, Cascavel, Foz do Iguaçu e Guaíra, penetrando no Mato Grosso. Nas tardes de quarta-feira, a preocupação de toda a pequena população do povoado é presenciar o pouso do monomotor da Aeronáutica” (Carlos e Alceu A. Sperança, Pequena História de Cascavel e do Oeste).

    Começa o Estado Novo

    Somando-se à ofensiva nazista na Europa e à expansão do militarismo japonês na Ásia, em novembro de 1937 o Brasil também ingressa na era do predomínio fascista.

    Getúlio Vargas rasga a Constituição que ele próprio elaborou em 1934 e desfecha um golpe de Estado com o apoio das elites econômicas que viam com simpatia seu controle rígido sobre os trabalhadores.

    Por força da Carta Magna, Vargas teria que deixar o poder em 1938. Com o apoio dos integralistas, forja-se o Plano Cohen, com base em documento grosseiramente falsificado pelo capitão Mourão Filho, responsável depois também por começar a ditadura do 1º de abril de 1964.

    Divulgado à nação para semear o medo em torno de um perigo inexistente, o “Plano Cohen” serviu de pretexto para Vargas convencer o Congresso a liquidar a Constituição e os poucos direitos que ela concedia.

    Depois de impor o Estado de Sítio em todo o País, Vargas fechou o próprio Congresso Nacional e elaborou uma nova Constituição, de inspiração fascista e imposta por sua autoridade pessoal.

    Com o golpe, Manoel Ribas, acusado de simpatia com os comunistas por apoiar a entrega de terras aos sertanejos paranaenses, deixa de ser governador em 10 de dezembro de 1937, mas como é fiel a Vargas volta a ser designado como interventor.

    Bandeira já queimada

    O novamente interventor Manoel Ribas foi poupado, em 1937, de engolir um dos absurdos impostos pela ditadura fascista de Getúlio Vargas: a queima das bandeiras estaduais em praça pública.

    O regime instaurado em 1937, batizado de “Estado Novo”, embora nada tivesse de novidade, recuperava os maus costumes autoritários do Império e da Velha República e exigia apenas uma bandeira nacional, banindo as estaduais.

    O Paraná é o único Estado a escapar dessa humilhação porque o ex-governador Caetano Munhoz da Rocha havia decretado já em 1923 a extinção da bandeira paranaense, que só voltará a tremular nos prédios públicos e escolas com a redemocratização do País, em 1947.

    Todos os direitos e garantias individuais são suspensos. No livro Falta Alguém em Nuremberg, David Nasser elenca as formas de torturas praticadas: esmagamento de testículos com alicates, extração de unhas e dentes, queima de seios com cigarros, introdução de arame nos ouvidos, aquecimento de órgãos genitais com maçarico e outros maus-tratos cruéis.

    Além de já não ter mais bandeira, o Paraná estava ameaçado de perder território, como já havia acontecido na derrota para Santa Catarina no episódio do Contestado. Perderia justamente seu Oeste e o grande rio com seu nome.

    Fonte: Fonte não encontrada

  • Obsessão: levar o trem ao Rio Paraná

    Obsessão: levar o trem ao Rio Paraná

    Na metade da década de 1930, o Paraná apressa a recuperação das terras que havia cedido para frustrados projetos de colonização. Além de fornecer a concessão aos irmãos Matte, anula a doação de 300 hectares feita a Antônio Alves Almeida, no Norte do Estado, e reverte ao patrimônio público 240 mil hectares concedidos à colonizadora Meyer, Annes e Cia Ltda (antiga Petry, Meier & Azambuja), depois Companhia de Colonização Espéria junto ao Porto de Santa Helena.

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    O governo do Estado pretende nessa época uma ferrovia que, partindo de Guarapuava, teria como objetivo fazer o aproveitamento e posterior escoamento das riquezas do Terceiro Planalto.

    Entretanto, o ambicioso projeto paranaense de ligar por via férrea o Porto de Paranaguá, que acabara de ser concluído, e com a fronteira, passando pelo centro distribuidor de Guarapuava, foi atropelado por estudos feitos pela Inspetoria Federal das Estradas de Ferro.

    Com base neles, a União assumiu a Estrada de Ferro de Guarapuava, incorporada à Rede de Viação Paraná-Santa Catarina. O Estado do Paraná, dócil, baixou o decreto 967, de 23 de abril de 1934, “transferindo para a União, sem nenhum ônus, todo o acervo da estrada em construção” (Lando Rogério Kroetz, As Estradas de Ferro do Paraná 1880-1940).

     

    Norte avança, Oeste empaca

    O governo Federal homologou a transferência se comprometendo a concluir as obras e contratou a empresa Braco S.A. para a construção dessa estrada de ferro, que só alcançou Guarapuava em 1951 e jamais chegaria a Foz do Iguaçu.

    Ao Norte, a Companhia Ferroviária São Paulo-Paraná transpunha o Rio Tibagi para estender seus trilhos até Londrina, Cambé, Rolândia, Arapongas e Apucarana.

    É pelos trilhos que chegam milhares de compradores de terras ao Norte do Paraná: em 1935, lotes da região de Londrina já terão sido adquiridos por 2.133 proprietários estrangeiros e 1.266 colonos brasileiros, segundo relatório da Companhia de Terras do Estado.

    A nova Constituição ampliou para 100 km o limite da Faixa de Fronteira, afastando o governo do Paraná das principais atividades que desenvolvia para induzir a ocupação do extremo-Oeste.

    Com isso, avançava ainda mais o projeto de retirar dos estados do Paraná e Santa Catarina suas porções oestinas. Mesmo assim, é o governo do Estado que envia à fronteira o primeiro médico de Foz do Iguaçu.

    Dirceu Lopes pagava com a montagem de um posto de saúde em Foz do Iguaçu o crédito que recebeu por um ano de estudos na Universidade do Paraná.

     

    Paraná, um pigmeu agrícola

    Manuel Ribas deixa de ser interventor em janeiro de 1935 para ser oficializado como governador do Paraná. A partir de agora o Paraná nunca mais terá um presidente, como nos tempos imperiais e na República Velha.

    O já governador Ribas, no entanto, voltará a ser interventor quando Vargas golpear novamente os próprios compromissos e implantar uma ditadura sem máscaras, em 1937.

    Ribas assumiu, com a lei 46, de 10 de dezembro de 1935, a tarefa de promover a colonização com “proprietários rurais, cidadãos brasileiros reconhecidamente pobres que revelem aptidão para os trabalhos agrícolas”.

    A lei pretendia privilegiar os interessados que já viviam no Paraná, mas o governo federal queria espaços para a penetração de colonos vindos do Sul.

    “As empresas particulares, principalmente aquelas organizadas no Rio Grande do Sul, ficaram incumbidas de colonizar tendo como elemento humano os descendentes de imigrantes que estavam se deslocando da região colonial do Rio Grande do Sul e Oeste de Santa Catarina para as regiões Sudoeste e Oeste paranaense” (Antonio Marcos Myskiw, Titulação de terras no Oeste Paranaense: Uma análise documental).

    A pauta básica de exportações paranaenses se limita à erva-mate, café e madeira. É, porém, uma produção irrisória: em 1935, toda a safra paranaense de café não chega a meio por cento da produção nacional. O Paraná estava ainda longe de ser um “celeiro” para o Brasil.

     

    Ribas apoia formação de Cascavel

    O projeto de povoamento do Médio-Oeste avança em 16 de abril 1936, quando o governador Manuel Ribas expede o título de domínio pleno das terras do primeiro perímetro urbano de Cascavel.

    Em favor de Foz do Iguaçu, o título abrangia uma área de 1.001 hectares. Surgia o Patrimônio Municipal de Aparecida dos Portos de Cascavel, nome quilométrico pelo qual o governador tentava harmonizar os religiosos e os políticos do lugar, empenhados numa queda de braço para definir o nome da cidade.

    Foz do Iguaçu, na época, tem cinco edifícios federais, dois estaduais e 244 particulares, com uma população de 1.500 habitantes na sede e 6 mil no município, abrangendo de Guaíra a Cascavel. Toledo só começaria a se formar dez anos depois.

    A frota de veículos de Foz do Iguaçu é constituída por nove automóveis, 19 caminhões e 206 carroças com quatro rodas feitas de tocos secos de madeira. Há seis ferrarias, uma das quais em Guaíra, que presta serviços ao transporte com carroças, cavalos e bois.

     

    Assim era o Oeste nos anos 1930

    A indústria fronteiriça é composta por seis serrarias, uma fundição localizada no distrito de Guaíra, quatro fábricas de rapadura, nove engenhos de aguardente, uma fábrica de móveis, duas de gelo, duas de beneficiar arroz e duas olarias, uma delas em Guaíra.

    Há três usinas de eletricidade – na sede, em Guaíra e Porto Mendes. São sete carpintarias, duas delas em Guaíra.

    Um estaleiro completo constrói pequenas lanchas e embarcações miúdas. A navegação fluvial continua a ser controlada por estrangeiros: as companhias argentinas Milvanovich e Nuñes fazem despachos semanais.

    O vasto Município de Foz do Iguaçu tem ainda dois grupos escolares, um deles em Guaíra, e seis escolas estaduais isoladas, uma das quais em Cascavel .

    Esse retrato da fronteira em meados da década de 1930 se completa com anotações sobre o rebanho regional: lanígero, cem cabeças; caprino, trinta; equino, 250; cavalar, 400; suíno, 2 mil; bovino, 1.500.

    O Paraná se molda na força dos imigrantes e sertanejos, pelo braço do paraguaio das obrages, dos paulistas e mineiros que chegam pelo trem, dos catarinenses e gaúchos que se deslocam em carroças, cavalos e por embarcações argentinas no Rio Paraná.

    Fonte: Fonte não encontrada

  • Estado do Iguaçu compensaria os paranaenses

    Estado do Iguaçu compensaria os paranaenses

    O governo autointitulado “provisório” de Getúlio Vargas tinha interesse em abrir novas fronteiras agrícolas para os colonos do Rio Grande do Sul, derivando dessa intenção a proposta de criar um território federal englobando as regiões ocidentais de Paraná e Santa Catarina.

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    “(…) o objetivo do grupo que controlava o governo federal, chefiado pelo gaúcho Getúlio Vargas, era subtrair do controle desses estados a sua parte Oeste, para que melhor se atendesse aos interesses dos capitalistas e em consequência das companhias colonizadoras gaúchas” (Ruy Christóvam Wachowicz, Obrageros, Mensus & Colonos).

    Em 28 de outubro de 1932, Mário Augusto Teixeira de Freitas (1890-1956), diretor geral de Informações, Estatística e Divulgação do Ministério da Educação e Saúde Pública, faz no Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro uma conferência intitulada O Reajustamento Territorial do Quadro Político do Brasil, em que propunha fundir estados com superfícies reduzidas.

    Tido como um dos maiores sábios brasileiros, Teixeira de Freitas pretendia juntar Paraná e Santa Catarina num Estado só.

    Paraná: o rio ou o Marquês?

    A nova unidade da Federação seria o Estado do Iguaçu, proposta que já havia sido feita por Sud Menucci em 1930. Segundo o modelo de Teixeira de Freitas, o Estado do Iguaçu surgiria amplo e forte, superando completamente as revoltas e o rancor que ficaram ao perder para SC a região do Contestado.

    Seria a extinção do sentimento de perda que o Paraná alimentava desde que na demanda vencida por Santa Catarina ficou sem seu então Sudoeste – a atual região Oeste de Santa Catarina.

    Ao contrário, porém, o avanço da proposta de gauchizar o Oeste paranaense levou ao projeto de criação de um Território Federal, medida inaceitável para Curitiba, pois tiraria ainda mais área do Paraná.

    Significava aumentar o trauma da derrota. O Paraná perderia até a referência do grande rio que muitos supõem ser a origem do nome do Estado. Na verdade, o nome do Estado foi uma homenagem ao Marquês do Paraná, Honório Hermeto Carneiro Leão (1801–1856), que uniu o país em um raro governo de sucesso e forçou a criação do Estado, que SP boicotava.

    O embrião do nazismo

    O ano de 1933 começou em clima sombrio no plano mundial. Adolf Hitler se torna primeiro-ministro da Alemanha e em todo o mundo há uma reação negativa à ascensão no nazismo.

    Era preciso impedir que a pregação populista contaminasse as demais nações europeias e vingasse nas Américas.

    O incêndio do Reichstag (parlamento alemão), em 27 de fevereiro, sinaliza o que virá pela frente. O crime, ordenado pelo nazista Goering, é imputado aos comunistas, que são presos aos milhares.

    No Brasil abalado pela crise mundial, o ano será marcado pela criação do Instituto Brasileiro do Café (IBC), que estabelece rígido controle sobre o mercado da rubiácea.

    Acreditava-se que a solução viria da eleição, em 3 de maio, da Assembleia Nacional Constituinte. Apesar de ter deputados escolhidos por apenas 5,7% da população adulta, a Constituinte deu ocasião para que a primeira mulher (Carlota de Queirós) e o primeiro trabalhador (Álvaro Ventura) chegassem ao Congresso Nacional.

    O drama do café

    O preço do café encalhado em 1933 estava reduzido a cerca de um terço do que era em 1928. Por conta da crise, Vargas proibiu o plantio de novas mudas de café durante três anos e ordenou a queima de milhões de sacas estocadas em depósitos do governo.

    As medidas de controle rigoroso não se limitaram apenas ao café. A Comissão de Defesa da Produção do Açúcar, criada em 1931, é transformada em 1933 no Instituto do Açúcar e do Álcool. O pinho, o mate, o sal e a borracha são submetidos a controle oficial com a imposição de novos mecanismos burocráticos.

    Em desespero, os aventureiros partiam para conquistar terras nas áreas já sem índios. Em 1932, com a melhoria dos caminhos, já era possível viajar entre Guarapuava e Foz do Iguaçu em “apenas” um mês.

    Foi justamente nesse ano que se deu a segunda grande corrente da migração de colonos poloneses de Santa Catarina para o Oeste paranaense. Ocupando e produzindo em terras devolutas, em breve os carroções poloneses de oito animais levariam suínos e milho a Foz do Iguaçu e demais portos do Rio Paraná.

    Sob influência fascista

    Os colonos sugeriam que a viagem de um mês entre Guarapuava e o Rio Paraná poderia ser encurtada com trabalhos mais frequentes de conservação nos caminhos da colonização.

    Como a intenção do governo do Estado era povoar rapidamente o interior para evitar a vitória do projeto de entrega de partes do Paraná a empresários gaúchos, a melhoria dos caminhos ficou prioritária.

    Sob a nova Constituição, promulgada em 16 de julho de 1934, o Brasil sepultava de vez os propósitos da revolução de 1930, atrelando os sindicatos ao Estado, não permitindo o direito do voto aos analfabetos, cabos e soldados e criando brecha para a “eleição indireta” do presidente da República, mecanismo imposto para beneficiar Getúlio Vargas.

    É uma carta repleta de falhas, logo desmoralizada pela última rebelião tenentista, em 1935 – a chamada “Intentona Comunista”, liderada por Luiz Carlos Prestes. 

    Além disso, a nova Carta não resistirá ao ataque fascista de 1937, claro reflexo da ascensão de Adolf Hitler, que havia se declarado “führer” (líder) na Alemanha. A ditadura do Estado Novo teria matizes do fascismo europeu.

    Cascavel nos planos

    A Prefeitura de Foz do Iguaçu, no propósito de povoar seu vasto Município, conquistara junto ao governo do Estado a criação do Patrimônio Municipal de Aparecida dos Portos de Cascavel em 1936.

    Estava em seus planos concretizar o projeto do líder local, Jeca Silvério, de criar ali uma cidade.

    Um apelo empresarial enviado ao Ministério do Exército pede ajuda no sentido de que fosse construída uma boa rodovia no lugar do descuidado leito da Rodovia Estratégica.

    “A estrada que desta vai a Guarapuava está transformada em picada, deformada extraordinariamente pela ação do tempo. (…) Uma boa estrada de rodagem facilitará a exportação de mil e mil pinheiros, que os colonos, formando campos como os de Cascavel, derrubam para serem eliminados pelo fogo, causando assim enormes prejuízos para o Estado e para o município” (jornal Gazeta do Povo, 18 de junho de 1937).

    Ganhos com Carambeí e Londrina

    Em Foz do Iguaçu, nessa época, é também instalada a Delegacia da Capitania dos Portos do Estado do Paraná, que havia sido criada ainda em 1924 por lei federal mas ficou engavetada.

    Desenha-se uma estrutura de reforço a Foz do Iguaçu e cresce o seu papel como responsável pelo desenvolvimento do Médio Oeste paranaense. Mesmo assim, o destino desse esforço será a derrota.

    O governo sob o comando de Manoel Ribas seguiu em 1934 o esforço do general Tourinho para apressar o povoamento do interior paranaense, mas só se arrastavam os estudos para criar uma estrutura turística autossustentável em Foz do Iguaçu.

    Menos mal que nos arredores de Carambeí começava a formação da Colônia Terra Nova, por imigrantes alemães, em Castro surgia a colônia Castrolândia e Londrina se tornava município.

    Democracia em perigo e fracasso no Oeste

    Os estudos sobre a viabilidade do turismo em Foz do Iguaçu não andavam, mas do outro lado da fronteira houve agilidade: os argentinos se anteciparam e abriram o Parque del Iguazu, ironizando a demora com que no Brasil as decisões eram tomadas e em seguida postas de lado.

    Havia acontecido o mesmo processo amarrado com as obras do Porto de Paranaguá. Paralisadas depois da tentativa do governador antoninense Caetano Munhoz da Rocha de compensar o desinteresse do governo federal pelo nosso litoral, na década de 1920, elas foram concluídas em 1934, assim como a ligação ferroviária entre Jaguariaíva e Curitiba, completada somente dez anos depois de iniciada.

    Com o autoritarismo chegando, as pressões populares não serão mais tão ouvidas e novos tempos sombrios vão liquidar a democracia no Brasil. Mas Cascavel, criada por getulistas e apenas começada, foi favorecida pelo alinhamento ao poder.

     

    Fonte: Fonte não encontrada

  • Militares a dois dias da revolução

    Militares a dois dias da revolução

    Levando a missão de criar a Companhia Isolada do Exército, o capitão Edgard Buxbaun seguiu à frente de um destacamento com 200 integrantes, oito oficiais e diversos sargentos e cabos, chegando a Foz do Iguaçu em 7 de julho de 1932. Dois dias depois, a 9 de julho, forças militares sediadas em São Paulo se rebelavam contra o “governo provisório” de Getúlio Vargas, que havia deposto o presidente Washington Luís.

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    Agora as forças de Vargas é que são as “legalistas” e seus adversários, os constitucionalistas, assumem o papel de “revolucionários”.

    Buxbaun foi instruído para combater o contrabando, instalar uma estação radiotelegráfica e construir o aeroporto de Foz do Iguaçu. Seus comandados sentiram que foram isolados nos confins do Paraná para não reforçar os contingentes que se rebelavam pelo país.

    Para as autoridades paranaenses, a retomada dos objetivos da antiga Colônia Militar pela Companhia Isolada será uma ação adicional para afirmar a integração paranaense, iniciar a estruturação do futuro centro internacional de turismo e evitar assim a indesejável desagregação do território.

    No entanto, essas intenções em breve seriam frustradas. Os paranistas a partir daí puderam resistir ao máximo, retardando a derrota por onze anos, porque os getulistas tinham outros planos para a região.  

    A trajetória de um capitão

    A rigor, nem o governo Vargas era tão revolucionário quanto se dizia em 1930, nem a nova revolução constitucionalista merecia esse nome: sua proposta elementar não era mudar a estrutura de poder, que se transferia das oligarquias rurais para as elites industriais urbanas e sua florescente classe média.

    Sob a justificativa de lutar por uma nova Constituição para o Brasil, a principal intenção era, objetivamente, assegurar maior poder no contexto nacional ao Estado de São Paulo, que orgulhosamente se proclamava “A Locomotiva do Brasil”.

    Essa nova agitação em São Paulo, como já havia sido em 1924, também deixou em estado de alerta as forças militares legalistas e o governo paranaense.

    Considerando esse quadro, que história levava consigo para o “exílio” em Foz do Iguaçu o capitão Buxbaum? Nascido em 1896, o capitão chegava a Foz do Iguaçu com 36 anos e uma sólida fama de rebelde. Entrou no Exército em 1912, saindo aspirante a oficial da arma de infantaria pela Escola Militar do Realengo, no Rio de Janeiro, em abril de 1918.

    Preso, mas cheio de méritos

    Em dezembro do mesmo ano foi promovido a segundo-tenente. Em 5 de julho de 1922 participou do fracassado levante tenentista da Vila Militar, que, articulado aos levantes do forte de Copacabana e da Escola Militar do Realengo, no Rio, e ainda à sublevação da guarnição de Mato Grosso, constituiu um protesto contra a eleição de Arthur Bernardes para a presidência da República e algumas punições impostas aos militares pelo presidente Epitácio Pessoa (1919–1922).

    A ação de seu grupo, comandada pelo segundo-tenente Frederico Buys, e na qual tomaram parte também os tenentes César Gonçalves e Artur da Costa e Silva – futuro presidente da República –, resultou na morte do capitão José Barbosa Monteiro.

    Apesar de preso em consequência da insurreição, Buxbaum em setembro de 1922 foi promovido a primeiro-tenente. Retornando às fileiras, alcançou em fevereiro de 1929 a patente de capitão e no mesmo ano concluiu o curso de aperfeiçoamento de oficiais.

    Cumprindo ordens

    Dez anos depois, em 15 de agosto de 1932, Buxbaum ordenava que os militares em serviço na Companhia Isolada em Foz do Iguaçu fossem para Guaíra, buscando evitar a repetição da derrota legalista de 1924, quando os rebeldes paulistas ocuparam o Oeste do Paraná com facilidade.

    Os verdadeiros revolucionários, ou seja, os tenentes que empolgaram parte da população com sua pregação liberalizante dez anos antes, chegavam à exaustão em 1932 com a derrota do “constitucionalismo”.

    Vários antigos revolucionários já haviam se acomodado na máquina de governo de Vargas e outros estavam foragidos no exterior, como Luiz Carlos Prestes. Ao ser indagado sobre como resolvera o problema dos tenentes rebeldes, o irônico Vargas respondeu: “Promovi-os a capitães”.

    A essa altura, não era por acaso que Buxbaum era capitão. A pá de cal no movimento constitucionalista se deu com a posterior conciliação, já que Vargas consentiu em votar uma nova Carta. A partir daí, o tenentismo que minguava em 1932 teria seus remanescentes liquidados em 1935.

    Os militares paranaenses retornaram ao quartel em 21 de outubro de 1932. Nunca mais o Paraná voltará a ser palco de combates decisivos para a vitória de qualquer grupo, governista ou rebelde.

    Líder nacionalista

    Quanto a Buxbaum, sem jamais perder o ardor revolucionário ele não ficou só no posto de capitão. Em dezembro de 1937 foi promovido a major e em setembro de 1943 a tenente-coronel. Foi de 1945 a 1949 comandante do 38º Batalhão de Infantaria, no Espírito Santo, e promovido a coronel. Em 1952 passou para a reserva, promovido a general de divisão.

    Aí foi para a política. Com outros militares da ala nacionalista do Exército, foi diretor da Liga de Emancipação Nacional (LEN), criada em abril de 1954 para defender as liberdades democráticas, a nacionalização das fontes de energia elétrica e da distribuição do petróleo, a reformulação da política cambial e fiscal, a promoção de uma reforma agrária e um desenvolvimento econômico independente do país.

    A LEN era uma organização formada por militantes comunistas e militares nacionalistas. Em abril de 1955, Buxbaum se tornava presidente-executivo da LEN, que dirigiu até sofrer forte perseguição e ser fechada por decreto do presidente Juscelino Kubitschek em 1956.

    O legado de Buxbaum

    Fundando então o Movimento Brasileiro dos Partidários da Paz, o general Buxbaum foi distinguido com o Prêmio Internacional da Paz e morreu em 13 de novembro de 1958.

    Sem cumprir suas missões, Edgard Buxbaum jamais teria fechado sua carreira militar no posto de general.

    No Oeste do Paraná ele fez história, pois ao sair de Foz do Iguaçu havia cumprido todas as missões das quais foi encarregado, dentre as quais a construção do vital aeroporto, em 1933, que em breve serviria ao Correio Aéreo Nacional. Também em 1933 foi instalada a Delegacia da Capitania dos Portos do Estado.

    Nesse ano, em que o Estado passou o projeto de viabilizar a cidade de Cascavel à Prefeitura, Foz do Iguaçu teve três prefeitos.

    O primeiro foi Otto Trompczynski, um agrimensor com a preocupação de avançar a colonização. Depois, Antônio de Souza Mello Júnior, o comissário de terras encarregado de medir o que seria o Patrimônio Municipal de Aparecida dos Portos (Patrimônio Velho) de Cascavel.

    Por fim, Jorge Samways, que tinha parentes e propriedades em Cascavel. Visivelmente uma cidade começava a avançar no Médio-Oeste.

    CLIQUE AQUI e veja episódios anteriores sobre A Grande História do Oeste, narrados pelo jornalista e escritor Alceu Sperança.

    Fonte: Fonte não encontrada

  • O plano perfeito para o Oeste

    O plano perfeito para o Oeste

    A situação no Brasil em 1931 era de frustração com o governo que prometeu pôr fim à corrupção e empregar de forma eficiente os recursos nacionais. Havia protestos populares. No dia 17 de janeiro, a Marcha da Fome seria fortemente reprimida.

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    As organizações operárias não teriam vida fácil a partir de então. O governo faria de tudo para esmagá-las ou seduzi-las. A Lei da Sindicalização, editada em 19 de março de 1931, submete os sindicatos aos “delegados” do Ministério do Trabalho, que os controlam e proíbem “ideologias sectárias”. Comemorar o dia 1º de maio passa a ser crime e dá cadeia.

    O declínio nas exportações de café leva o governo a queimar o excedente estocado devido aos altos custos de armazenamento. A crise econômica ainda segue destruindo o esforço de milhares de brasileiros que trabalham no campo.

    Sob pressão, Getúlio Vargas procura controlar a insatisfação popular aceitando a exigência dos operários, que havia décadas reclamavam a jornada de 8 horas de trabalho na indústria.

    General sob pressão

    No Paraná, o general Mário Tourinho já é considerado um incômodo pelos novos controladores do poder, que pressionam fortemente para “gauchizar” as regiões Oeste e Sudoeste do Paraná e Santa Catarina.

    Sob o comando do general Tourinho, o Paraná desapropriava as terras cedidas no regime anterior para projetos que não vingaram, mas com o decreto n˚ 800, de 8 de agosto de 1931, que depois viria a se estender com a lei 46, de 10 de dezembro de 1935, a determinação de vender essa terras (devolutas, ou devolvidas) para empresas particulares foi um passo à frente.

    “Desde então, funcionaram duas ações colonizatórias: a pública, sendo o Estado do Paraná o agente colonizador; e a privada, a cargo de empresas de colonização” (Antonio Marcos Myskiw, Colonos, Posseiros e Grileiros – Conflitos de terras no Oeste Paranaense [1961/66]). 

    Para avançar no processo de ocupação da área de sua abrangência, considerando que já existia a vila de Encruzilhada/Aparecida dos Portos desde março do ano anterior, em 1˚ de setembro de 1931 a administração municipal de Foz do Iguaçu pede ao governo do Estado a posse das terras da futura cidade de Cascavel.

    Planos não faltaram

    A União também fazia a sua parte: organiza o Departamento Nacional de Povoamento (DNP) e os ministérios da Viação e da Guerra criam a Comissão de Estradas de Rodagem Paraná-Santa Catarina.

    Na sequência do projeto de federalizar as áreas de fronteira, em 20 de outubro de 1931 o decreto 2.153 cria o Parque Nacional do Iguaçu, até então estadual, segundo proposta feita por Alberto Santos-Dumont (1873–1932).

    O transcorrer do ano de 1931 é desastroso para o general Mário Tourinho, acusado de perseguir os jornais oposicionistas e manter com seu irmão Plínio uma oligarquia familiar que controlava a administração pública. Tourinho não cede às pressões e sua situação à frente do governo se torna insustentável:

    “A partir de meados de 1931, aumentaram as denúncias contra o interventor, na maioria advindas de elementos vinculados à Legião Revolucionária Paranaense e ao Centro de Resistência Revolucionária do Paraná. Essas organizações notificaram o ministro da Justiça, Osvaldo Aranha, de que as residências de seus integrantes vinham sendo objeto de vigilância policial” (Dicionário Histórico-Biográfico Brasileiro: 1930-1983, FGV/CPDOC).

    Tourinho sai de cena

    Antagonizado no Rio de Janeiro e dentro do próprio governo local, Tourinho deixa o poder em 29 de dezembro de 1931. Como jamais desejou ter governado, jamais retornará às atividades políticas.

    Quando o interventor Mário Tourinho caiu em desgraça por defender os interesses paranistas e não permitir perseguições, comuns nas trocas abruptas de governo, assumiu a administração do Paraná por um curto período outro representante de tradicional família araucariana – o professor curitibano João David Pernetta (1874-1933).

    Pernetta preparou, entre 29 de dezembro de 1931 e 30 de janeiro seguinte, a posse do novo interventor – Manoel Ribas (1873−1946). Parlamentar, ele exerceu por duas vezes essa tarefa de governador-tampão. A rigor, não governou, mas se notabilizou na cena federal por seu empenho na formulação das leis sociais e previdenciárias.

    Vargas foi habilidoso. Colocou no governo do Paraná um paranaense que lhe era fiel, já vivia há um bom tempo fora das Araucárias, em serviço no Rio Grande do Sul, e estava desligado das tramas curitibanas.

    Manoel Ribas, ainda jovem, foi para Santa Maria organizar uma cooperativa de ferroviários. Adaptou-se à região, ganhou prestígio e em 1927 se elegia prefeito, cargo que não perdeu com a revolução.

    Reconstruindo a Polícia

    Dar ao Paraná um excelente administrador nascido no próprio Estado foi a solução que Vargas encontrou para substituir o general Tourinho, um antoninense.

    A fórmula foi aceita: um político e empresário de sucesso, de origem paranaense e fiel ao novo regime, devolveria o equilíbrio perdido com o afastamento da oligarquia Camargo-Munhoz.

    Uma das primeiras iniciativas de Manoel Ribas foi reorganizar a estrutura de segurança pública do Paraná, onde a família Tourinho reinava absoluta. Com o decreto 1.505, de 25 de junho de 1932, criou a Força Pública do Estado, unindo o Corpo de Bombeiros e a Força Militar, que passa a se denominar Polícia Militar.

    Ribas sabia que o projeto de “invasão” gaúcha não era bem visto pelos paranaenses. Assim, uma solução apresentada pelo juiz Osório do Rosário Corrêa para fazer Foz do Iguaçu se tornar um fantástico centro continental de lazer – uma “Las Vegas” tropical – surgiu como a opção ideal.

    Capaz de fazer o mais remoto interior paranaense se integrar produtivamente ao conjunto do Estado, o plano de Osório Correa era magnífico: aposentava o projeto de tomar novos territórios dos paranaenses e determinava as fontes financeiras para a formação de um centro internacional de turismo, com cassinos, rede de hotéis de luxo e parques de diversões.

    O plano ideal

    Com todas as pontas amarradas, a partir de uma nova estrutura urbana montada por uma “prefeitura especial” para atuar em Foz do Iguaçu por um período de dez anos, o plano impunha a brasilidade na região que o relatório de Zeno Silva considerava abandonada e sob domínio estrangeiro.

    A prefeitura especial, controlada por paranaenses, concentraria toda a arrecadação municipal, estadual e federal exclusivamente para o desenvolvimento da estrutura prevista, além de empréstimos tomados ao Banco do Brasil a ser pagos com essa ampla tributação.

    O projeto de Osório Correa era tão amplo que previa a construção de uma cidade planejada, o saneamento da região com a eliminação das toscas taperas, a povoação por cidadãos brasileiros de iniciativa e o aprimoramento da educação pública para que as crianças não crescessem falando “portunhol”.

    A imprensa curitibana aplaudiu a proposta porque “tudo isso seria feito sem aqueles pruridos antipáticos de separação daquele território do todo paranaense” (jornal Gazeta do Povo, 30 de junho de 1932).

    Enquanto o projeto de nova “Las Vegas” encantava os curitibanos, pois evitaria a perda de território, parte para Foz do Iguaçu um destacamento de militares, sob o comando do capitão Edgard Buxbaun, que depois chegaria ao generalato. A “Las Vegas” do Iguaçu era paranista demais para vingar, mas os militares de Buxbaun cumpririam suas missões.

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  • Mäder criou Cascavel, mas foi cancelado

    Mäder criou Cascavel, mas foi cancelado

    Novamente pacificado após a vitória da revolução de 1930, ao menos quanto às ações militares, o país retomava seu ritmo normal, às voltas com a crise econômica e sofrendo com as deficiências estruturais do interior.

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    Fatos positivos foram a abertura, pela Marinha, de uma agência em Guaíra, acima das Sete Quedas, e o registro da Cooperativa Agrária de Consumo de Responsabilidade Ltda – A Liberdade, em Vera Guarani, município de Paulo Frontin –, como a primeira do gênero aceita pelo poder público.

    Um fator importante que permitiu ao general Mário Tourinho concretizar boa parte das medidas que determinou para o extremo-Oeste do Paraná foi ter nomeado para comandar a Prefeitura de Foz do Iguaçu, em março de 1931, o parnanguara Othon Mäder (1895–1974), ex-secretário de Terras do Estado, que tinha ótimo conhecimento sobre a região.

    Foi assim que o prefeito, por ação política, aceitou que uma cidade nascesse do nada: Cascavel. Mäder, também por ação política, seria no futuro ignorado na cidade que ele criou por ser adversário político de Moysés Lupion, que mandava em Cascavel nas décadas de 1940 e 1950.

    Para varrer Mäder da história, criou-se a lenda de que a cidade de Cascavel não começou em 1930, nas terras de Jeca Silvério, mas no Cascavel Velho, propriedade rural iniciada em setembro de 1922 em antigo pouso ervateiro da obrage Domingo Barthe, abandonado desde 1901.

    Para cancelar Othon Mäder de vez, a rua de Cascavel que tinha seu nome foi alterada em 1963 para “Rua Visconde de Guarapuava” por ação do PTB, partido adversário de Mäder, que o acusava de perseguir Getúlio Vargas e levá-lo ao suicídio. Medida justificável, porque pessoas vivas não podem ser nomes de logradouros públicos. Mäder morreu em 1974.

    Ferrovia, a prioridade inviável  

    Em 1930, a viagem de Guarapuava a Foz do Iguaçu, de carroça, demorava cerca de três meses, com a velocidade variando de acordo com o clima. O governo revolucionário assumiu o compromisso de construir rodovias e ferrovias que nem o Império nem a Primeira República deram conta.

    Em abril de 1931, as propriedades da Companhia Estrada de Ferro São Paulo-Rio Grande foram incorporadas à Estrada de Ferro do Paraná, sepultando de vez sob uma grossa lápide de corrupção, tramoia e frustração o sonho de integrar o Oeste pelos trilhos.

    Desde pelo menos 1883 era prioridade no plano ferroviário do Império a ligação entre Ponta Grossa e o Paraguai, passando pela ainda inexistente Foz do Iguaçu. O plano era plantar trilhos entre Ponta Grossa e o Rio Iguaçu, margeando o Rio Jordão até sua foz no Iguaçu e a partir daí acompanhar o Iguaçu até sua foz no Rio Paraná.

    O plano foi feito sem nenhum estudo do território, que só começou a ser feito em 1889, com a criação da Colônia Militar do Iguaçu. Ignorando a imensidão de cursos de água às margens do Iguaçu, o projeto se arrastou sem sequência até sucumbir por inviabilidade.

    Jeca Silvério vira latifundiário

    Um mês após a chegada dos revolucionários ao governo do Paraná, em 3 de novembro de 1930, Getúlio Vargas assume as funções de chefe do governo provisório. Nessa mesma data, Mário Tourinho cassa, com o decreto revolucionário nº 300, a concessão outorgada à Companhia Brasileira de Viação e Comércio (Braviaco) para a colonização de terras.

    Com a medida, Jeca Silvério deixou de ser arrendatário das terras da Encruzilhada dos Gomes, passando a proprietário. Surge assim o esboço de um projeto: criar uma futura cidade.

    Silvério passa a distribuir terrenos a familiares, empregados e viajantes a caminho dos portos do Rio Paraná ou de volta de entregas já feitas a clientes da fronteira.

    A nova legislação pretendia evitar o controle estrangeiro da região de fronteira. A lei 19.842, de 12 de dezembro de 1930, restringia o acesso e permanência de empresas estrangeiras e trabalhadores estrangeiros em território brasileiro.

    Exigia, dentre outras coisas, que as empresas tivessem, em seu quadro de funcionários, no mínimo 2/3 de funcionários brasileiros. Mas desestimulando os estrangeiros seria preciso estimular os brasileiros a ocupar os territórios liberados do controle externo.

    Apoio à colonização

    Também em dezembro de 1930 o governo do Paraná outorgava ao empresário Miguel Matte concessão para explorar madeira e erva-mate em vasta área de terras nas cercanias de Foz do Iguaçu. Dessa concessão brotariam várias das atuais cidades da chamada “Rota Oeste”, no trajeto Cascavel-Foz do Iguaçu.

    Em Aparecida dos Portos, como a futura Cascavel passou a ser chamada pelos religiosos, por iniciativa do prelado de Foz do Iguaçu, monsenhor Guilherme Thiletzek, o projeto de formar a cidade avançou com a conquista do telégrafo, em 20 de julho de 1931.

    O telegrafista Bento dos Santos Barreto (1871–1938), a pedido do líder Jeca Silvério, não expediu o primeiro telegrama como emanado da vila de Aparecida dos Portos. Substituiu o nome religioso por outro: Cascavel.

    “Alegou obedecer a uma antiga lei que determinava dar às novas vilas os nomes dos acidentes geográficos mais próximos. Tem início uma polêmica que irá durar décadas em torno do nome da cidade” (Alceu e Regina Sperança, Cascavel: Uma Santa na Encruzilhada).

    Em Curitiba, uma polêmica ainda maior está começando. É a guerra política entre os paranistas e os gaúchos que hegemonizam o novo governo, adeptos da entrega de parte do Paraná a colonizadores sul-rio-grandenses respaldados pela União.

    Antiparanistas em ação

    O projeto antiparanista avançou em julho de 1931, quando Zeno da Silva e Ciro Silva reportaram ao governo haver desinteresse de Santa Catarina e Paraná em desenvolver a região do antigo Contestado e Oeste do Paraná.

    Ciro Silva afirmava que as regiões Oeste e Sudoeste do Paraná e Santa Catarina estavam “em pleno abandono”, ameaçando os interesses do Brasil e a “unidade nacional” (jornal Gazeta do Povo, 23 de julho de 1931).

    Os paranistas reagem às provocações de Zeno e Ciro Silva repudiando as afirmações de que o Paraná havia abandonado suas regiões Oeste e Sudoeste. Alegavam que embora o controle da fronteira fosse de responsabilidade da União, o povoamento induzido pelo Estado estava em plena marcha.

    Os dirigentes paranistas afirmaram que a região da faixa de fronteira era de responsabilidade do governo federal, mas admitiam que o Paraná “não dispunha das grandes somas necessárias para efetivar a colonização e estabelecer limites com a Argentina”.

    Fazendo retornar ao patrimônio público as concessões confiadas a empresas estrangeiras e de colonização cujos projetos não tiveram êxito, o Paraná assegurou que estava cumprindo a sua parte.

    O ano de 1931 foi especialmente traumático para o Brasil. O ano começou com uma rebelião de soldados, resultando em troca de tiros com a Força Pública em Niterói (RJ).

    Nas capitais, onde não ocorreram as mudanças prometidas, os trabalhadores continuavam descontentes. Sentiram que foram usados para fazer uma revolução que não era sua.

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  • Revolução veio para acabar com a corrupção

    Revolução veio para acabar com a corrupção

    O general Mário Alves Tourinho era muito respeitado. Cursando a Escola de Tiro do Realengo (RJ), logo ao ingressar na vida militar esteve presente na proclamação da República, em 15 de novembro de 1889.

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    Servente de metralhadora, participou da resistência na Lapa sob o comando do general Carneiro. Atuou na campanha militar do Contestado. Em 1924 fez o cerco aos rebeldes em São Paulo.

    Depois dessa longa e exitosa carreira militar, pediu reforma em 1928 e foi surpreendido em seu “pijama” pela revolução de 1930, da qual um dos mais dedicados articuladores foi o irmão Plínio.

    O governo lhe veio como um presente em família. Nunca havia pensado em exercer qualquer função política e também não tinha ideia de como governar, mas para honrar a indicação mergulhou no estudo das finanças do Estado.

    O general Tourinho era um paranista. Logo no início de seu governo como interventor do Estado em outubro de 1930, porém, iria se confrontar com a proposta, que ele rejeitava, de transformar as regiões Oeste e Sudoeste em extensão territorial do Rio Grande do Sul.

    O Paraná já havia perdido a metade da região contestada para Santa Catarina. Não aceitaria perder as regiões Oeste e Sudoeste para um território federal que retiraria sua autoridade sobre duas regiões ricas e promissoras.

     

    Tropas em movimento

    A revolução precisava sufocar qualquer força favorável ao governo destituído. Já com terreno livre, as tropas gaúchas avançam pelo Paraná e chegam a Ponta Grossa.

    O 5º Regimento de Cavalaria Divisionária, sediado em Castro, permanecia fiel ao governo e ao recuar em direção a São Paulo destruiu trechos da ferrovia e danificou pontes.

    Os governistas não tornariam fácil a ascensão dos revolucionários.  Concentram forças em Itararé (SP), junto à divisa com o Paraná, para impedir seu avanço. Militares e policiais paranaenses rebeldes se deslocam rapidamente para lá e logo serão seguidos pelos gaúchos.

    A vanguarda sulista de Miguel Costa (1874–1959) chega no dia 7 de outubro a Ponta Grossa, seguindo de imediato para Castro. Em Jaguariaíva alcança o Norte Pioneiro aproveitando o ramal ferroviário do Paranapanema.

    “A gauchada estava sequiosa para combater e não admitia que tivesse seguido na frente um batalhão do 13º R.I. (força militar paranaense). Eram trezentos homens bem fardados e bem armados” (Alcebíades Miranda, Justitia Vanum Verbum: Episódios da Revolução de 1930).

     

    Vencer não foi fácil

    A crença de que a revolução de 1930 se deu sem resistência é falsa. Além de escaramuças no Norte Pioneiro (Sengés) e do bloqueio no Vale do Ribeira, para onde seguiram outras forças de Curitiba, havia a forte concentração governista em Itararé.

    “A batalha aí travada teve características aparentemente modernas, com trincheiras em toda a frente de combate, arame farpado, ninhos de metralhadoras e artilharia” (Jordan Young, Aspectos Militares da Revolução de 1930).

    A operação consistia, no caso de não vencer em Itararé, tomar Bauru para juntar com as forças vindas via Minas Gerais e então fechar sobre o Rio de Janeiro, liquidando a partida.

    Em Quatiguá, próximo aos limites com o Estado de São Paulo, aconteceriam os combates mais violentos da revolução de 1930. A batalha prevista para acontecer em Itararé (SP) será travada em território paranaense.

     

    O golpe final

    Entre os dias 11 e 13 de outubro, as tropas governistas, vindas de São Paulo, enfrentaram os revolucionários paranaenses, reforçados por uma coluna gaúcha ansiosa para dar o troco pela derrota sofrida em 1924.

    “O tiroteio cerrou nas suas linhas. Era formidável a sua potência de fogo! As suas metralhadoras pesadas em rajadas sucessivas metralhavam o pequeno lugarejo, completamente aberto, constituído de poucas casas, distanciadas umas das outras” (Wanderley Verás, O Combate de Quatiguá).

    A tropa legalista é derrotada e se retira do Paraná destruindo as facilidades para travessia do Rio Paranapanema, como a ponte ferroviária da Viação São Paulo-Paraná. A ponte pênsil rodoviária Manoel Alves de Lima, em Ribeirão Claro, foi danificada com dinamite para bloquear a progressão das forças do Sul.

    Seriam os últimos esforços dos militares ainda fiéis ao governo para tentar impedir o inevitável: em 24 de outubro, no Rio de Janeiro, Exército e Marinha desfecham um golpe de Estado e prendem o presidente Washington Luís (1869–1957), seguindo-se negociações pacíficas até a vitória final da revolução.

     

    General sob pressão

    No governo do Paraná, o general Tourinho não tardou a ser acossado pelo apetite de subalternos ansiosos para lotear o governo entre si. Mas não permitiu. Mesmo contra a vontade de alguns oficiais, promoveu sindicâncias na condição de magistrado, sem favorecimentos.

    Ao anular concessões de serviços públicos lesivas aos cofres públicos, porém, ganhou o rancor dos políticos e dos militares ansiosos para levar vantagens com o poder conquistado.

    “Mário viu-se, de repente, sob o turbilhão de intrigas que lhe desestabilizavam o governo. Sem o chamado jogo de cintura para aparar arestas e nem satisfazer ambições desmedidas, por ser brioso e justo, obrigou-se a renunciar ao cargo em 29 de dezembro de 1931” (David Carneiro e Túlio Vargas, História Biográfica da República no Paraná).

    Assim, o Paraná perdia um de seus mais honestos governadores. Digno, porém desprovido de habilidade para contornar a ganância de líderes sequiosos de poder e fortuna.

     

    Classe média + oligarquias

    A revolução poderia ser o começo de uma nova era para o País. Pela primeira vez as velhas oligarquias latifundiárias não controlam mais o Brasil ao serviço exclusivo de seus negócios, como havia sido no curso do Império e da Primeira República. Não controlavam mais o País sozinhas, pelo menos.

    Do ponto de vista social, a crise comercial do café, a emergência da nova classe média e o avanço da industrialização criaram um novo Brasil, mas as ambições financeiras e os maus costumes políticos permaneciam.

    Como constatou o general Mário Tourinho, os apetites econômicos logo se atiçaram e os antigos controladores dos tentáculos do poder em breve se associaram aos novos poderosos.

     

    Corrupção não foi provada

    As principais propostas revolucionárias, como “extinção progressiva do latifúndio” e “auditoria da corrupção do governo deposto”, jamais saíram do papel. As promessas revolucionárias caem por terra, uma a uma.

    O tribunal especial instituído em 28 de novembro de 1930 para julgar os crimes do governo deposto não apurou um só caso de corrupção.

    Em agosto de 1931 foi suspensa a interdição dos bens dos membros do governo anterior. Os governantes derrubados pela prática de uma corrupção jamais provada ganhavam assim um óbvio atestado de probidade.

    Mesmo isolado e sob pressão, o general Mário Tourinho, tentava impor o ritmo revolucionário no Paraná. A atuação de Tourinho começou a incomodar quando as posses da poderosa família Camargo e de seus beneficiários foram desapropriadas.

    Por baixo desse cenário repleto de tensões, por outro lado, nascia a cidade de Cascavel. Foi a desapropriação determinada por Tourinho que fez de Jeca Silvério o dono das terras da futura “capital do Oeste”

    Fonte: Fonte não encontrada

  • País agitado e o Paraná em paz

    País agitado e o Paraná em paz

    O assassinato do governador paraibano João Pessoa pelo advogado João Duarte Dantas em 26 de julho de 1930 joga de vez o País em estado de tensão. Pessoa concorreu a vice-presidente nas eleições de março, acompanhando Getúlio Vargas, e não se conformou com a derrota eleitoral.

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    Estudantes e operários saem às ruas da capital paraibana. Atacam casas e lojas dos políticos governistas. Começa um crescendo de ações de rebeldia que levará a uma nova revolução.

    O Paraná continua em paz, mas o Rio Grande do Sul é tomado pelos revolucionários, que decidem marchar rumo ao Rio de Janeiro para depor o presidente Washington Luís.

    As elites das Araucárias permaneciam apoiando o governo. Mesmo com o Brasil em clima de guerra, as autoridades paranaenses procuravam manter suas atividades sem sobressaltos. A oligarquia Camargo-Munhoz está sólida no poder, aliando industriais urbanos e agropecuaristas rurais.

    Aqui, a classe média já estava no poder. Como a ascensão da classe média implica maior consumo de energia, o Paraná inaugura uma usina considerada grande para os padrões da época: Chaminé, implantada na Serra do Mar, nas cercanias de Curitiba, terá uma produção de 9 megawatts.  

     

    Ganhar o PR era essencial

    A tarefa dos revolucionários, que já controlam o Rio Grande do Sul nos primeiros dias de outubro de 1930, não será simples. O plano é marchar rapidamente ao Rio de Janeiro e tomar o poder.

    Mas, como em 1894 e 1924, o obstáculo será o Paraná. Como na frustrada Revolução Federalista, o Paraná era uma barreira governista desafiando os revolucionários.

    Nela, o heroísmo do general Antonio Ernesto Gomes Carneiro (1846–1894) e seus comandados na Lapa retardou as forças rebeldes e permitiu ao governo uma vitória arrasadora.

    Ao atacar com firmeza os revolucionários paulistas em Catanduvas e acossar a coluna gaúcha de Luiz Carlos Prestes (1898−1990), em seu avanço rumo ao Paraná, em 1924/25, o governo asfixiou o movimento e expulsou seus remanescentes do território. 

    Agora mais experientes, os revolucionários que sobreviveram à derrota de 1925 voltam a lutar pelo poder. Têm apoio político e popular e estão mais solidamente ancorados na força dos quartéis.

    Combatem um governo enfraquecido pelas divisões internas e abalado pela crise mundial. Não encontram resistências no movimento operário, a não ser a crítica do PCB de que esta não será uma revolução de fato, mas a troca de uma elite econômica no poder por outra.

     

    Trem, a solução

    Mesmo com tanto apoio na classe média, continuava extremamente difícil fazer a travessia de quatro estados, considerando que um deles é o Paraná, sempre um forte obstáculo aos avanços revolucionários.

    Por mar não seria possível deslocar tropas, porque o governo controlava as forças navais. A decisão foi seguir por trem. Em 3 de outubro as forças rebeldes já cruzavam Santa Catarina.

    Querem chegar rapidamente a Porto União e esperam ansiosamente que os rebeldes virem o jogo no Paraná, onde há uma fortíssima oligarquia favorável ao governo federal.

    Porto União deixará logo de ser um obstáculo. Quando as forças revolucionárias alcançam a divisa catarinense com o Paraná, o Batalhão de Caçadores de Joinville, que se rebelou e aderiu à revolução, já aguardava as forças do RS. Não para prender ninguém, mas para apoiar.

    É 4 de outubro. O Paraná também já começa a cair sob controle revolucionário: o 13º Regimento de Infantaria se rebela e assume o controle de Ponta Grossa, mas a capital ainda representa um desafio.

    O major curitibano Plínio Tourinho (1882−1950) conduz a conspiração em Curitiba e conquista a adesão da guarnição federal, da Polícia Militar e do Corpo de Bombeiros.

    Com isso, o governo logo ficava sem defesa frente ao germe revolucionário, que grassava sem freio em sua estrutura militar.

     

    De irmão para irmão

     Sem respaldo, o governador Affonso Camargo retira-se a Paranaguá e foge para São Paulo, onde vai aguardar os acontecimentos em segurança.

    Curitiba cai na manhã de 5 de outubro de 1930 sob governo revolucionário. Às 13h parte um telegrama endereçado a Getúlio Vargas. É Plínio Tourinho comunicando a conquista da capital. A resposta, exultante, vem de imediato:

    “Porto Alegre, 5 – Major Tourinho. Curitiba. Paraná. Bravo! Bravo! Marcho com o Rio Grande ao vosso encontro. Vamos todos, Exército e povo. Abraços. Getúlio Vargas”.

    A adesão do Paraná representava praticamente a vitória da revolução, por sua situação geográfica e a identidade de objetivos entre o povo cansado de crise e a guarnição militar rebelada.

    Sob governo revolucionário, o Paraná será comandado por um general da reserva – o antoninense Mário Alves Monteiro Tourinho (1871−1964), não por acaso irmão do major Plínio. Mais uma vez o poder no Paraná ficava entre parentes. Desta vez, parentes revolucionários.

    Os revolucionários já haviam conquistado Curitiba anteriormente, no movimento federalista. A diferença é que em 1894 o povo paranaense repudiava os invasores gaúchos: os famigerados corta-cabeças que mataram na Lapa o herói Gomes Carneiro.

     

    Vem aí Cascavel

    Com a fuga de Affonso Camargo e a posse do general Tourinho havia a promessa de uma nova forma de governar o Paraná. Acreditava-se vencida a exclusão do povo pelas famílias dos antigos barões e viscondes.

    Ansiava-se por uma estrutura de poder alicerçada na sociedade emergente: a nova classe média, que promovia sua revolução aproveitando a crise e contando com o apoio dos trabalhadores.

    No entanto, o fio histórico interrompido no Paraná logo será retomado. Os novos governantes se amoldaram às antigas práticas elitistas, afastaram o general Tourinho e passaram um atestado de inocência ao governo deposto.

    As velhas oligarquias se reciclariam mais uma vez, a exemplo do que já haviam feito na passagem do Império para a República e continuarão fazendo no futuro.

    Para o Oeste do Paraná, a revolução terá como uma de suas conquistas a formação da cidade de Cascavel, na época uma esquecida encruzilhada com quatro casas.

    Fonte: Fonte não encontrada

  • Estado do Iguaçu foi interrompido pela revolução

    Estado do Iguaçu foi interrompido pela revolução

    A Aliança Liberal divulga seu programa em 20 de setembro de 1929, propondo anistia ampla e voto secreto. Lança Getúlio Vargas candidato à Presidência, com o respaldo das lideranças regionais do Rio Grande do Sul e de Minas Gerais.

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    É nesse clima de agitação política que o jurista Teixeira de Freitas (1890−1956) aprofunda seus estudos sobre a redivisão territorial do Brasil e recomenda a fusão dos estados do Paraná e Santa Catarina para formar uma só unidade da Federação: o Estado do Iguaçu.

    No Norte paranaense, a mata é cortada para o acesso dos compradores de lotes coloniais. A primeira caravana chega ao Patrimônio Três Bocas em dezembro de 1929.

    Era composta de oito japoneses que vieram acompanhados do agenciador de terras da Companhia de Terras Norte do Paraná, Hikoma Udihara (1882–1972). Começa nesse momento a se formar a cidade de Londrina.

    Enquanto o desbravamento do Norte paranaense prossegue, com iniciativa inglesa e colonos japoneses, cresce em todo o País a campanha da Aliança Liberal, que sacode a vida republicana sempre marcada pela corrupção e por incompetência administrativa.

    Não era um movimento revolucionário: visava apenas a competir no pleito presidencial de março do ano seguinte. Mas a reação governista, fraudulenta e repressiva, não deixará outra opção aos descontentes a não ser uma nova revolução.

    A crise do café

    A produção brasileira de café de 1929 acrescentou 21 milhões de sacas a um estoque já encalhado, das quais apenas 14 milhões foram exportadas.

    O temor quanto ao futuro imediato leva os cafeicultores a se aferrar ainda mais ao poder: em 12 de outubro, a convenção situacionista indica Júlio Prestes como candidato a presidente.

    A intenção dos fazendeiros paulistas de manter o País sob seu controle gera manifestações de desagrado por todo o Brasil, especialmente em Minas Gerais.

    A 24 de outubro, a crise explode nos EUA. Caem no desespero os cidadãos que perderam repentinamente suas economias depois de confiar na estabilidade do sistema – o american way of life.

    No dia 29, as finanças mundiais já estão destroçadas irreversivelmente, deixando imunes apenas os países ligados à União Soviética, isolados dos EUA.

    É a maior crise de todos os tempos, até então. Com o desastre da economia estadunidense caem os preços do café, do açúcar, da borracha e do cacau e com eles as exportações brasileiras.

    O mundo mergulha na incerteza. “O Brasil queimou 78 milhões de sacas de café: assim ardeu em chamas o esforço de 200 mil pessoas durante cinco safras” (Roberto Simonsen, História Econômica do Brasil).

    Agro cai, indústria avança

    Os amplos estoques de café sem compradores são queimados na mesma velocidade da erosão do poder político dos cafeicultores. Em contrapartida, cresce a influência dos industriais, que a partir daí serão a força dominante em um Brasil que já ultrapassa a marca de 40 milhões de habitantes.

    A decadência da cafeicultura e a transferência do capital para a indústria urbana resultarão em mão-de-obra melhor qualificada. Forma-se, assim, um mercado consumidor mais consistente e se afirma a classe média.

    A concentração industrial no Sudeste, especialmente em São Paulo, encaminhará o País a um irreversível processo de urbanização. Socialmente, já é uma revolução.

    O ano de 1930 começa efervescente. Em 24 de fevereiro, depois de conflitar com o governador paraibano, João Pessoa, o coronel José Pereira, com um vastíssimo arsenal de armas recebido para combater Lampião e a Coluna Prestes, mobiliza seus dois mil jagunços. É a Guerra de Princesa, um dos elementos detonantes da revolução de 30.

    Revolução, base da cidade de Cascavel

    Nas eleições presidenciais de 1º de março, a contagem oficial apresenta 1.091.709 votos para o “Candidato Nacional” (Júlio Prestes) e 742.794 votos para o “Candidato Liberal” (Getúlio Vargas, que tinha João Pessoa como vice).

    Esse resultado, decorrente das habituais fraudes eleitorais brasileiras, será indiretamente responsável pela criação de uma cidade na época improvável: Cascavel.

    Quando a notícia da derrota de Vargas chega ao armazém de José Silvério de Oliveira (1888–1966), o Nhô Jeca, ele imediatamente trata de abandonar a localidade de Pouso Alegre, interior de Guarapuava, temendo represálias de ferrenhos adversários políticos.

    Ao retornar de uma limpeza de ervais, recolhe seus pertences e foge para a Encruzilhada dos Gomes, no caminho entre Catanduvas e os portos do Rio Paraná, onde possui terras tomadas em arrendamento junto ao colono Antônio José Elias.

    A vinda Jeca Silvério

    Enquanto ao Norte se encerra a construção de uma estrada de rodagem que liga o município de Jataí ao Patrimônio de Londrina, José Jeca Silvério inicia sua marcha na rota de Catanduvas para a Encruzilhada.

    É o dia 27 de março. Nessa mesma data, a Companhia de Terras Norte do Paraná acaba de vender seu primeiro lote colonial, adquirido pelo agricultor Mitsugi Ohara.

    Jeca Silvério chega à Encruzilhada dos Gomes com a mudança em 28 de março de 1930. O deslocamento de sua comitiva de parentes e amigos é facilitado porque a Prefeitura de Foz do Iguaçu havia melhorado os trechos mais dramáticos da estrada.

    É a fundação da cidade de Cascavel. Silvério determina a seus empregados e parentes a construção de um pequeno armazém − a bodega, no dizer dos sertanejos – e as três primeiras casas de moradia para família.

    Ali, nos arredores de seu acampamento, ele já mantinha roçados de milho e praticava o safrismo: a combinação da safra do milho com a engorda de suínos. Para viajar a Foz do Iguaçu, partindo dessa vila de quatro casinhas, era preciso estar com as armas de prontidão, em coldre ou junto às rédeas.

    Lembranças dos pioneiros 

    Não havia salteadores, à exceção de alguma família de índios pedindo algumas utilidades, mas a qualquer momento, de dia ou de noite, os carroceiros eventualmente se viam na contingência de disparar contra os felinos predadores que viviam na mata.

    A menina Dilair, filha de Jeca Silvério, acompanhava o pai em suas viagens: “Nós íamos de carroça, demorando cinco dias para ir e cinco dias para voltar. Na estrada era possível ver os tigres passar, amedrontando a todos. Era preciso dormir na estrada, o que era também difícil devido aos urros das feras”.

    Apesar da agropecuária ainda incipiente em Cascavel, havia já em 1930 uma avançada agroindústria na região. O suíço Michael Willieux, arrendatário da Fazenda Britânia, instalou uma fábrica de extração do suco da laranja azeda, que era exportado para a Europa, via Argentina, em latas de cinco quilos, para ser utilizado como fixador de perfumes.

    “Por iniciativa desse administrador foi instalada, às margens do Rio Branco, uma fábrica para extração de petit grain − extrato da folha da laranja azeda apepú − e de cedrão, extrato de erva cidreira, com a produção sendo vendida para o consumo em São Paulo e Rio de Janeiro (via Porto Mendes-Guaíra-Porto Epitácio; daí pela Estrada de ferro Sorocabana e depois pela Central do Brasil)” (Rubens Bragagnollo, Um Pouco da História do Oeste do Paraná).

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  • Italianos fracassam, mas voltarão para dominar

    Italianos fracassam, mas voltarão para dominar

    Com o fracasso da experiência colonizadora italiana no extremo-Oeste, asfixiada pela precária infraestrutura de caminhos no máximo carroçáveis, com apoio dos governos federal e estadual os ingleses da Companhia de Terras Norte do Paraná conseguiram casar perfeitamente seu plano imobiliário com o interesse do Paraná de fazer o interior produzir.

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    Privilegiando o sistema de pequena propriedade rural, dividindo antigos latifúndios em lotes coloniais, será um dos mais rápidos e bem-sucedidos processos de colonização aplicados no Brasil.

    A morte do ex-governador Generoso Marques, em 8 de março de 1928, é também o último suspiro da era em que o Paraná se dividia entre republicanos maragatos e monarquistas pica-paus. Agora eram todos republicanos e o poder durava décadas nas mãos do mesmo grupo.

    Os preços da erva-mate começam a cair drasticamente no mercado internacional, mas o fenômeno tardou para alcançar o Rio Paraná. Em 1928, Foz do Iguaçu exportou pouco mais de 10 mil toneladas de mate e em 1929 os registros apontavam uma ligeira alta, chegando perto de 11 mil toneladas.

    Quanto mais a crise aperta, mais as carroças dos pioneiros rumam a Oeste seguindo as obras da Estrada Estratégica. Em 1928, um grupo de 29 famílias de imigrantes alemães que partiu de Cruz Machado chega a Foz do Iguaçu. Para a época, era um êxodo.

    A violência da crise

    Os preços da erva-mate começaram a cair drasticamente no mercado internacional em 1928. A queda no volume de encomendas do produto era um reflexo das turbulências pelas quais o mundo estava passando. Nos EUA, em julho de 1929, a redução brusca dos índices de produção industrial leva a uma recessão.

    Com a consequente diminuição da procura pela erva-mate paranaense, uma sensação de fim de ciclo já se espalha entre os industriais do setor. Seria uma situação sem volta: a Argentina não precisava mais do mate paranaense, já que sua produção própria era de ótima qualidade.

    O medo se espalhou pelo Paraná: como se recuperar desse abalo, se a erva-mate respondia por 85% da economia paranaense? O temor se justificava. A erva-mate jamais voltaria a ter a importância que tivera nas exportações paranaenses até esse final de década.

    A madeira surgia como o recurso natural em melhores condições de aproveitamento, como se viu na expansão do mercado no pós-I Guerra.

    O boom madeireiro

    O ímpeto com que os paranaenses se lançaram às derrubadas, porém, levou o governo a se preocupar com a exploração racional da madeira, posta abaixo avidamente onde havia condições de transporte, como na fronteira ferroviária e nos trechos de estradas mais bem conservados.

    Assim, em 25 de abril de 1929 a lei estadual n.º 2.670 cria o Instituto de Madeira do Paraná, na tentativa de evitar o desastre de um aniquilamento rápido e irracional de árvores que demoram décadas para se formar, embora possam ser abatidas em segundos. Uma lei que de pouco serviu: mais e melhores estradas representavam maior e mais rápido escoamento das cargas.

    Por uma negociação com a Companhia Mate Laranjeira, o Paraná quis tornar pública a ferrovia particular pioneira do Oeste paranaense, entre Guaíra e Porto Mendes.

    “O governo do Estado, ciente das necessidades viárias dos habitantes da região compreendida entre os rios Piquiri e Paranapanema, sem comunicações com quaisquer centros comerciais e objetivando o desenvolvimento daquela região, entrou em entendimento com a empresa Mate Laranjeira para a abertura da sua linha férrea ao tráfego público” (Lando Rogério Kroetz, As Estradas de Ferro do Paraná 1880-1940).

    Regalias excessivas

    Data de 5 de março de 1929 um contrato firmado entre os empreiteiros Raul & Heitor Mendes e o Estado do Paraná concedendo aos empresários o privilégio para o uso e gozo da estrada construída por 60 anos.

    Era um negócio nos moldes do celebrado com Percival Farquhar: cessão gratuita de uma área de 10.000 hectares de terras devolutas, privilégio sobre uma faixa de 15 quilômetros em cada eixo da linha e isenção de impostos estaduais sobre materiais adquiridos para serviços da estrada e outros impostos.

    “Nestas condições os favores concedidos foram considerados lesivos aos interesses do Estado, tratando-se, sobretudo, de uma simples via férrea do sistema Decauville” (Lando Rogério Kroetz).

    O impasse em torno da ferrovia pioneira do Oeste só teria desfecho depois da revolução de 1930, mesmo porque em 23 de abril de 1929 a lei estadual n.º 2.683, ao criar o Instituto de Estradas de Rodagem do Paraná, já sinalizava para o crescente predomínio das rodovias na preocupação central da administração do Estado.

    Crise avança. Nasce Londrina

    A política nacional entra em efervescência. Em 17 de junho de 1929, os políticos mineiros rompem com os paulistas: o governador mineiro Antônio Carlos Ribeiro de Andrada (1870−1946) cede sua candidatura presidencial ao ex-ministro gaúcho Getúlio Vargas. A Paraíba indica o vice João Pessoa (1878−1930).

    Os trabalhadores, agora transitando do anarquismo para o “bolchevismo”, eram severamente reprimidos. Em 20 de junho de 1929 a polícia invade a sede da Confederação Geral dos Trabalhadores do Brasil (CGTB) e leva 69 presos.

    Indiferente aos acontecimentos nacionais, no inverno de 1929 a Companhia de Terras Norte do Paraná tomava posse efetiva de suas terras. Em 20 de agosto, um grupo de desbravadores, entre eles o pioneiro apucaranense Kurt Jakowatz e mais alguns peões contratados, partiram de Ourinhos em um caminhão Ford para uma aventura em meio à mata gelada.

    “No dia 21 de agosto, bem cedo, chegamos a margem esquerda do Rio Tibagi, de onde iniciamos a dura caminhada até o local denominado Patrimônio Gleba Três Bocas (atual Londrina), onde se iniciava as terras da Companhia. Foi uma viagem feita com grande sacrifício, caminhando por um picadão escuro e barrento, onde o agrimensor Alexandre Razgulaef, orgulhosamente, fincou o primeiro marco de madeira e disse: ‘Chegamos!’ ” .

    Era o início da conquista audaciosa das terras virgens e roxas do Norte do Paraná.

    No teatro das operações políticas, formaliza-se em agosto de 1929 a Aliança Liberal, tendo como líderes o poeta fluminense Afonso Pena Júnior (1879−1968), filho do ex-presidente, e o gaúcho Ildefonso Simões Lopes (1866−1943), ex-ministro da Agricultura e fundador da Confederação Rural Brasileira. Será a semente de uma revolução.

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