Autor: Alceu Sperança

  • Fracassos e vitórias na colonização

    Fracassos e vitórias na colonização

    O fracasso da colonizadora Espéria na velha Santa Helena se deu porque as escassas famílias de colonos de origem italiana atraídas para a região abandonaram as terras rapidamente por falta de estrutura regional no Oeste em que só trilhas para a passagem de ervateiros e estradas carroçáveis para o transporte da leve erva-mate interessava.

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    Mais promissor foi o empreendimento do paulista Francisco da Cunha Junqueira, que começou com pés no chão e apoio de cima: família e governo. Em 1920 ele assumiu a propriedade de cinco mil alqueires de terras deixados como herança no Nordeste paranaense por seu sogro (e tio), o coronel Cornélio Procópio de Araújo Carvalho (1857−1909).

    Procópio, mineiro que pontificou em Ribeirão Preto (SP) e tinha propriedades entre o Sul paulista e o Norte paranaense, deu nome ao loteamento urbano e rural concluído por Junqueira em 1926.

    A terra roxa chama

    Por sua vez, os caboclos penetravam na região Oeste se estabelecendo às margens da Estrada Estratégica, obra essencial que muitos deles ajudavam a construir, recebendo terras em troca do trabalho.

    Desde o fim do século XIX já corria de boca em boca no Rio Grande do Sul e em Santa Catarina a notícia de que no Paraná havia terra roxa: as áreas mais férteis do mundo, configuradas pela mesopotâmia dos rios Paraná, Piquiri e Iguaçu.

    Com tais perspectivas, e dando pistas de que o governo da Polônia não estava alheio à situação de seus compatriotas emigrados para o Brasil, o general polonês Stephan Czeniski* explorou a região do Piquiri.

    *Grafia constante no manuscrito das Memórias de Sandálio dos Santos. Como não encontramos esse nome nas pesquisas, talvez ele quisesse se referir a Stefan Strzemienski

    Ele pretendia aproveitar a área para colonização, mas acabou desistindo de qualquer projeto oficial devido à ocorrência de maleita, uma doença endêmica na região. Mesmo assim os eslavos continuariam vindo ao Paraná.

    Caminhos fluviais

    Em carroções, a cavalo ou pelo Rio Paraná, eles chegavam. Quem optava pela via fluvial conhecia algum conforto no serviço de navegação monopolizado por empresários argentinos. O vapor Salta, da Companhia Nuñes, Gibaja, Martínez & Co, tinha rodas laterais e podia navegar em águas rasas.

    Esse “ônibus” fluvial dispunha de cômodos para três classes de passageiros. Os da primeira classe tinham apartamentos individuais, banheiro, boa comida e serviços de bordo. Outro barco da empresa, o España, tinha música ao vivo por gramofone ou vitrola.

    O Paraná estava fora da restrição imposta pelo governo federal nos acordos regionais para cotas máximas de venda de café e atraía os fazendeiros paulistas que fugiam desses limites.

    Cotas, um longo debate

    Houve uma corrida em busca de terras no Paraná, mas com o início do governo Washington Luís as pressões para forçar Munhoz da Rocha a aceitar as cotas cresceriam até se tornar incontornáveis.

    Munhoz da Rocha cedeu. Agora já não faria muita diferença produzir café no Sul de São Paulo ou no Norte do Paraná, mas os paulistas já possuíam um amplo estoque de terras no Norte paranaense.

    Se Munhoz perdeu pontos com os cafeicultores, porém, ganhou com a população: conseguiu que em 5 de janeiro de 1927 o decreto federal 5.141 autorizasse recursos para a construção da atual BR-277.

    Com o decreto 5.141, de 5 de janeiro de 1927, foi instituído o Fundo Especial para Construção e Conservação de Estradas de Rodagens Federais, que vem consagrar o chamado “rodoviarismo” no País.

    O Fundo teria o propósito de financiar o desenvolvimento rodoviário do Brasil, mas em seus passos iniciais se limitou à elaboração de um programa de construção de “estradas de primeira classe”, uma das quais deveria ser a atual BR-277.

    O programa, como tantos na história deste País, empacou: só em 1º de julho de 1941, em Ponta Grossa, muitos anos depois, seria finalmente instalada a Comissão de Estradas de Rodagem Paraná−Santa Catarina, encarregada de iniciar a obra prometida em 1927.

    Mais que imperialismo inglês

    Mas os pioneiros se moviam. Muitos se atolavam e sofriam horrores sem ter a quem recorrer no meio do mato. O capitão Arthur Joaquim Pamphiro aconselhava a quem pretendia viajar entre Curitiba e Foz do Iguaçu a só tentar a proeza no verão, quando chove menos.

    Com a chuva, a estrada ficava imprestável. A vegetação se unia por sobre a estrada e impedia o sol de apressar a secagem do leito.

    O capitão Pamphiro estudou em detalhes a região dominada pelos ingleses e defendia a tese de que esse controle não era fruto de “intuitos imperialistas”, mas consequência do abandono completo ao qual o governo do País relegou a região.

    Na verdade, havia as duas coisas, mas o governo do Paraná avançou mais um passo em seu projeto de integração entre as regiões ao delegar ao engenheiro Francisco Natel de Camargo a tarefa de transformar em rodovia a velha “Picada do Benjamim”.

    Benjamim entrou na história por ter sido o local de encontro da força revolucionária gaúcha e dos soldados paulistas nos momentos finais da Revolução de 1924. Era uma herança das expedições militares pioneiras, trecho que seria hoje o trajeto entre Céu Azul e Foz do Iguaçu.

    Além do favorecimento à atuação das empresas colonizadoras, as atividades do Estado prosseguiam em Foz do Iguaçu e no estímulo ao desenvolvimento do Sudoeste, com a atração ainda esparsa de colonos sulistas, no curso de 1927.

    As famílias dominantes

    Caetano Munhoz da Rocha, cujo vice era Marins Alves de Camargo, devolve o governo em fevereiro de 1928 a seu antecessor e irmão de seu vice, o senador Affonso Camargo.

    Era mudar para manter o mesmo: o senador Camargo assumia o governo e o governador Munhoz assumia a vaga deixada por Affonso no Senado. Tudo em família e entre compadres, mantendo no poder a mesma oligarquia que remonta aos tempos imperiais, fio de domínio que pode ser puxado desde o tropeirismo.

    Agora, a orientação é ocupar a terra com produção agropecuária diversificada, não mais dependente da monocultura. O sonho ferroviário sofria baixas a cada projeto, mas jamais saiu e cena. A Companhia Ferroviária São Paulo−Paraná obteve pelo decreto nº 450, de 20 de abril de 1928, o “privilégio de uso e gozo” por noventa anos de uma concessão que em sua primeira etapa abrangia de Ourinhos até Cambará.

    Dali, depois de transpor o Rio Tibagi, o projeto é seguir em direção ao espigão divisor entre os rios Paranapanema e Tibagi. Com a extensão prevista de 280 quilômetros, a meta é prolongar a estrada até o Rio Paraná, em um ponto conveniente próximo aos portos São José e Guaíra.

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    Fonte: Fonte não encontrada

  • Forma-se a Coluna Prestes

    Forma-se a Coluna Prestes

    No dia 27 de dezembro de 1924, a coluna gaúcha rebelde rompe ainda no Sul o cerco legalista, vai cortar as matas das bacias dos rios Uruguai e Iguaçu e alcançar o Paraná. Será um avanço penoso, repleto de riscos, peripécias e lições de estratégia militar.

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    Os soldados gaúchos finalmente chegam ao Paraná em 7 de fevereiro de 1925. A intenção de juntar as forças gaúchas com as paulistas para sair do Paraná rumo à tomada do poder no Rio de Janeiro já não teria êxito, mas sua marcha daria origem ao mito do capitão Prestes, cuja coluna, formada em Foz do Iguaçu, iria inspirar a Grande Marcha da Revolução Chinesa.

    “Ao passar pelo Paraná muitos contatos fizemos com pequenos camponeses e assentados, muitos deles inclusive se incorporando a nossa coluna. Se tempo tivéssemos, era uma região que caberia um maior trabalho de arregimentação de parceiros para estas difíceis tarefas” (Luiz Carlos Prestes, declaração sobre o Oeste do Paraná, “Quem Manda no Paraná Livro 2: A Era Camargo-Munhoz, oligarquias que transitam do Império à I República (1900 – 1930)”.

     

    A ofensiva do governo

    A que atribuir a calorosa recepção do sertanejo paranaense aos soldados gaúchos, numa época em que Prestes era um completo desconhecido no interior do Brasil? O abandono, a repressão, o custo de vida e as fraudes das oligarquias nos processos eleitorais explicam. A educação era reservada apenas aos filhos dos ricos e aos estrangeiros.

    Mas estavam isolados no Sul, o que favoreceu ao governo preparar em março de 1925 uma formidável ofensiva para liquidar o movimento.

    O ataque final às posições rebeldes no interior do Paraná começa em 23 de março. Mantendo o fogo, Rondon deflagra no dia 27 uma operação arrasadora: o Corpo da Brigada Militar e o 7º Regimento de Infantaria, integrados por mil soldados, cercam e vencem os 30 soldados revolucionários que mantinham posição em Cajati.

    No dia seguinte, as forças legais apertam o cerco à última posição rebelde: Catanduvas. Os revolucionários capitulam no dia 29. No início da madrugada do dia 30, sob a promessa de que receberiam do governo um tratamento respeitoso, considerando sua condição de militares, formalizam oficialmente a rendição.

    No entanto, os soldados vencidos seriam tratados com extrema dureza e enviados para o campo de concentração de Clevelândia do Norte, no isolado Oiapoque amapaense, destino dos líderes sindicais comunistas e militantes anarquistas apanhados pela repressão violenta desencadeada pelo governo.

     

    Falha permite fuga

    A estratégia de Rondon não contava com as brechas em seu cerco. Houve um grupo de rebeldes que furou o enorme cerco das tropas governistas e em 5 de abril de 1925 alcançou o antigo pouso tropeiro de Cascavel, ao Sul da atual cidade, então inexistente, de onde partiu para se reunir à coluna gaúcha e ao pelotão que controlava a fronteira.

    Contrariando as intenções de Rondon, os soldados paulistas se encontram em 7 de abril com a coluna gaúcha em Benjamin (atual Céu Azul), ali celebrando um pacto de não-rendição.

    Em 12 de abril de 1925, já reunidos em Foz do Iguaçu, a decisão de prosseguir a luta encontra um obstáculo na pressão governista, que marcha firme rumo à fronteira, onde Rondon pretende encurralar de vez os rebeldes remanescentes.

    A retomada de Foz do Iguaçu pelas forças legalistas se dá uma semana depois, a 19 de abril, pondo fim a sete meses de administração revolucionária. É assim que tem início a legendária Coluna Prestes.

    Uma das consequências do movimento tenentista, entre 1922 e 1925, com a Coluna Prestes percorrendo o interior e conhecendo uma realidade diferente daquela que os militares acompanhavam nas capitais, foi a descoberta dos interesses ingleses aliados com as oligarquias remanescentes do Império.

     

    Revolução teve consequências

    A união das colunas gaúcha e paulista no Oeste do Paraná pode ser considerada o marco inicial da decadência do controle britânico no Brasil. Os ingleses ainda comandariam a colonização no Norte do Paraná, mas em contrapartida crescia o poder dos EUA em São Paulo.

    No pós-revolução, Arthur Hugh Miller Thomas organiza a Companhia de Terras Norte do Paraná, cujos estatutos são registrados em 24 de setembro de 1925. É o início da colonização do Norte/Noroeste do Paraná, prenunciando a avalanche cafeeira, que venceu o projeto inicial dos ingleses de transformar o Norte do Paraná num imenso algodoal.

    A fama do Paraná como grande produtor de café começaria a partir de 1925, ano em que a rubiácea passa a ser plantada no território em grande escala. Com a expansão do café, que ocupa farta mão-de-obra, brotam vilas por toda a frente de colonização.

    Essas vilas, mais a estruturação urbana dos centros de polarização, criam a necessidade de madeira beneficiada para a construção de casas. Com a manutenção das vendas já crescentes aos mercados nacional e estrangeiro, a nova procura por tábuas e móveis gera um ciclo sustentável para a indústria madeireira.

     

    O salto do café

    O avanço do café e a madeira mantendo e ampliando os mercados conquistados no pós-I Guerra vieram a calhar. Compensavam os investimentos feitos pelos ávidos desbravadores brancos ludibriados pelo habilidoso Índio Bandeira com o Conto do Ouro dos Jesuítas.

    O vazio deixado pelo inexistente ouro dos religiosos, com o qual Bandeira explorou por algum tempo a cobiça dos brancos, foi rapidamente preenchido pelo que havia de mais óbvio a fazer com os campos livres: a criação de gado.

    Nas eleições de 1º de março de 1926, Washington Luís (1869−1957), encarnação da oligarquia cafeeira paulista, obtém a maior votação até então alcançada por um presidente da República: 99,86% dos votos.

    No interior do Paraná, enquanto os carroções dos poloneses já marcavam com a profundidade de suas rodas as trilhas carroçáveis existentes na região, a Industrial Agrícola e Pastoril do Oeste de São Paulo, que havia adquirido terras da antiga Meier, Annes & Cia, vendeu sua propriedade à Companhia Paranaense de Colonização Espéria Ltda.

    Financiada por capitais italianos, a Espéria investiu muito em seu projeto, mas o empreendimento fracassou, uma vez que os poucos colonos de origem italiana atraídos para a região abandonaram as terras rapidamente.

     

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  • Governo incapaz, militares em ação

    Governo incapaz, militares em ação

    O primeiro semestre de 1924 foi de pressões militares, respondidas pelo governo com indiferença. Frente ao descaso do governo e o agravamento da situação social, os rebeldes decidem tomar o poder. O tenentismo se insere em definitivo na história do Brasil.

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    Os primeiros tiros são disparados na madrugada de 5 de julho de 1924. Os 3.500 revolucionários rebeldes em armas que tomam São Paulo serão logo implacavelmente cercados por 14 mil homens das forças legalistas.

    As tropas do governo bombardeiam fortemente a capital paulista. O arcebispo d. Duarte Leopoldo e Silva (1867−1930) pede em vão ao presidente Arthur Bernardes que pare de jogar bombas contra São Paulo.

    Em 11 de julho são contados cerca de 1.800 prédios destruídos, 503 mortos e 4.876 feridos. Enquanto o Exército retoma o controle de São Paulo e faz dez mil prisões, os rebeldes fogem rumo ao Oeste.

    Em Bela Vista, fracassa o levante para tomar o Estado de Mato Grosso, que ainda incorporava o atual MS. Seguem-se levantes em todo o País. Em Curitiba não havia condições políticas, mas no interior do Paraná havia simpatia pelos rebeldes, o que explica a fácil ocupação do Oeste e a permanência dos revolucionários na região por sete meses.

    Exploração estrangeira

    Nos meses anteriores à fuga dos soldados rebeldes paulistas rumo ao Mato Grosso, nos domínios estrangeiros do Oeste também havia notícias de revoltas.

    Eram crescentes os atritos entre os empregados do “imperador da fronteira”, Júlio T. Allica, submetidos a um regime de semiescravidão, e o exército particular desse latifúndio – as comissiones. Os acontecimentos nacionais, progressivamente dramáticos, logo irão também ameaçar seus interesses na região.

    O governo federal tomara algum tempo antes dos eventos revolucionários a iniciativa de determinar a construção de um ramal telegráfico de Lopeí a Porto São Francisco.

    A obra, de 51 quilômetros, chegou a ser iniciada, mas logo foi interrompida. Com a eclosão do levante armado em São Paulo e a iminência do avanço das tropas revolucionárias sobre a região, veio a ordem de retomar os trabalhos em ritmo acelerado.

    O posto telefônico do entreposto ervateiro de Lopeí, que depois será a origem dos Correios em Cascavel, inicia operações, incluindo telégrafo, em 9 de setembro.

    À espera de Prestes

    O comando revolucionário procura se instalar no Mato Grosso com a intenção de prolongar a luta e assim permitir às tropas que viriam do Rio Grande do Sul em apoio – a base da futura Coluna Prestes – somar-se aos contingentes paulistas na tentativa de virar o jogo contra as forças legalistas.

    A coluna paulista, contida pelas tropas governistas, é empurrada para o Sul. Vai tomar os portos do Rio Paraná, inclusive Foz do Iguaçu, enquanto parte das forças se deslocará de Guaíra, pela região de Cascavel, cuja cidade ainda não existia – só começará a se formar em março de 1930 –, para resistir às forças governistas enquanto aguarda a coluna gaúcha.

    A estratégia dos sublevados se tornaria vitoriosa – ou teria possibilidades para tal – não fosse a fidelidade do presidente (governador) paranaense, Caetano Munhoz da Rocha, ao governo da União.

    No final de fevereiro de 1924, Caetano Munhoz da Rocha inicia um novo mandato no governo do Paraná, que ficará ainda mais seis anos nas mãos da oligarquia Camargo−Munhoz.

    Caetano trazia como vice-governador o ex-deputado Marins Alves de Camargo (1882−1962), irmão de seu antecessor (e posteriormente sucessor), Affonso Alves de Camargo. João Moreira Garcez, igualmente, tem o mandato renovado por mais quatro anos como prefeito de Curitiba.

    Moeda brasileira sem valor

    No interior, além da expansão da cafeicultura ao Norte, Miguel Matte, com capital argentino, constitui a Companhia Florestal do Paraná, tendo facilidades para adquirir glebas junto à antiga Colônia Militar do Iguaçu. Tinha o compromisso de colonizar assumido em contrato firmado com o governo paranaense.

    Em Foz do Iguaçu, a Prefeitura tentava superar a forte presença estrangeira na região emitindo sua própria moeda. Era uma espécie de vale de pagamento que, a exemplo do carcomido dinheiro brasileiro, não tinha crédito junto à população.

    “Ninguém o recebia. As próprias instituições brasileiras, como o correio, a prefeitura ou a receita, quando precisavam remeter a verba respectiva para Curitiba, enviavam, inicialmente, o peso argentino recolhido dos contribuintes ou usuários para o consulado brasileiro em Posadas. Ali, o consulado brasileiro convertia o peso para moeda brasileira, para em seguida ser o mesmo remetido para Curitiba” (Ruy Christovam Wachowicz, Obrageros, Mensus e Colonos).

    Primeira unidade motorizada das forças terrestres brasileiras, a coluna organizada por Dilermando recebeu o nome de Regimento Provisório de Cavalaria. Foi composta por efetivos da Força Militar do Paraná e civis cedidos pela Brazil Railway Co, empresa do estadunidense Percival Farquhar.

    Provisório e improvisado

    O RPC era formado por 60 homens, 38 veículos e uma centena de cavalos. Concentrando voluntários em Ponta Grossa, o contingente chegou a cerca de 150 homens somando os militares com os civis em armas.

    Deslocando-se no leito da Estrada Estratégica, o RPC deixou a cidade às 6h da manhã do dia 27 de julho, precedido por um destacamento de segurança. O Regimento vai inicialmente a Catanduvas e daí a Santa Tereza, na época um depósito da Companhia Domingos Barthe. Desloca-se até a Picada do Benjamin (Céu Azul), de onde seguiria aos portos do Noroeste.

    Naquela mesma data, os 3.500 revolucionários comandados por Isidoro Dias Lopes (1865−1949) e Miguel Costa (1885−1959) abandonam São Paulo, que controlavam desde o 5 de julho, e rumam para Oeste, com apoio dos ferroviários.

    Por sua vez, chegando a Santa Helena em 2 de agosto, o RCP se desloca pela estrada de ferro da Companhia Matte Laranjeira rumo a Guaíra, onde se instalou dois dias depois, recebendo reforço de 23 homens do destacamento policial de Foz do Iguaçu, sob o comando do tenente Artur Borges Maciel.

    Os legalistas foram ao rio Paraná com a missão de castigar os rebeldes e saíram tosquiados: logo perderiam posições, portos e até a ferrovia. Como os revolucionários não conseguiram se instalar no Mato Grosso, decidiram optar pelos caminhos fluviais do Sul.

    Agiram rápido e bem. Os 500 homens da linha de vanguarda sob o comando do coronel João Francisco apresaram cinco navios da Companhia de Navegação São Paulo–Mato Grosso e ocuparam os portos paulistas nos quais as forças de Dilermando haviam estabelecido posições defensivas.

     Vitórias rebeldes

    A primeira unidade motorizada do Exército brasileiro, portanto, apresentou um final infeliz. Os revolucionários ainda se mostravam superiores nos combates. Os dois lados aprenderam muito com as manobras no Oeste paranaense, porém.

    Depois elas seriam minuciosamente estudadas nas escolas militares. Em 14 de setembro, frustrado o movimento preventivo das suas forças em Guaíra, Dilermando Cândido de Assis determina a retirada do Regimento Provisório de Cavalaria.

    No dia seguinte os soldados revolucionários ocupam os portos São Francisco e Mendes. Porto Britânia cai no dia 19. Uma patrulha chefiada por Juarez Távora (1898–1975) toma Foz do Iguaçu em 24 de setembro. A esperança dos rebeldes agora está no avanço da coluna que virá do Sul.

    Em 28 de outubro, jovens oficiais do 1º Batalhão Ferroviário de Santo Ângelo (RS) se rebelam. No dia seguinte os soldados gaúchos, ao comando do capitão Luiz Carlos Prestes (1898−1990), já estão em marcha rumo ao Paraná. Aqui, entretanto, a força revolucionária paulista, dividida em duas, com parte em Foz do Iguaçu e a outra entre os sertões do Médio-Oeste e do Sudoeste, era severamente fustigada pelos governistas. Os primeiros choques frontais se dão no feriado republicano de 15 de novembro, na Serra do Medeiros.

     

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  • Estrada Boiadeira e militares rebeldes

    Estrada Boiadeira e militares rebeldes

    Fazendo levantamentos topográficos de toda a área, a Companhia Brasileira de Viação e Comércio (Braviaco) estabelece em 1920 a posse sobre as terras. Ficam de fora as glebas ainda incorporadas ao patrimônio da Companhia Estrada de Ferro São Paulo–Rio Grande e que se destinam teoricamente à construção da Estrada de Ferro Oeste do Paraná.

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    Também se excluem os latifúndios dominados pelas obrages Domingo Barthe, Nuñes y Gibaja, Maderas del Alto Paraná, Julio T. Allica e Matte Laranjeira.

    Os colonos que chegam a essas terras liberadas nos anos seguintes começam a se fixar ao longo da Estrada Estratégica e já não são mais apenas os estrangeiros transplantados de seus países.

    São principalmente filhos daqueles que chegaram ao Sul nos anos finais do século XIX, então no processo de povoar vazios demográficos e criar uma agricultura de abastecimento.

    Ao contrário das fantasiosas teses que consideram esse um fenômeno espontâneo, as autoridades estaduais desde o início da República procuram estimular a colonização com “imigrantes que tenham certo capital, fundando cooperativas e empresas agrícolas”, segundo a historiadora Oksana Boruszenko.

     

    Alcançando Campo Mourão

    A falha do governo foi confiar que as colonizadoras plantariam a infraestrutura necessária. Por sua vez, as empresas traziam os colonos confiando que a pressão social faria a autoridade estadual entrar em ação para dotar a região da infraestrutura necessária.

    Nessa época, Manoel Mendes de Camargo leva adiante as obras da Estrada Boiadeira, que avança de Pitanga a Campo Mourão por um traçado próprio. A partir daí o empreiteiro seguiu os termos do contrato firmado com o governador Affonso Alves de Camargo: seguir até o Porto Xavier da Silva, no Rio Paraná, aproveitando o traçado seguido pelos antigos construtores – Colle, Weiss & Cia.

    A inauguração da Estrada Boiadeira se dá em 1921, com a passagem das primeiras tropas de mulas vindas do Rio Grande do Sul e, em sentido contrário, de uma tropa de bois trazida do Mato Grosso pelo próprio construtor Mendes de Camargo.

     

    Encruzilhada dos Gomes entra na história

    No Médio-Oeste, Antônio José Elias (1869–1944) adquire uma área do projeto Braviaco e começa suas atividades rurais nos arredores da Encruzilhada dos Gomes, onde no futuro começará a se formar a cidade de Cascavel.

    O ano de 1922, além dos avanços ferroviários, marcou uma reviravolta na política de atração de imigrantes, que até então havia sido a menina dos olhos dos governantes paranaenses. Caetano Munhoz da Rocha decidiu que não valia a pena investir na atração de imigrantes. Manifestou-se “contrário em principio à imigração estipendiada pelos cofres públicos”:

    − Não acho justo nem razoável que se gaste com o estrangeiro o que poderia ser aplicado em escolas e estradas, em benefício dos nacionais, os verdadeiros povoadores e desbravadores dos nossos sertões (…).

    Rocha optou por apoiar “toda a iniciativa particular para povoamento do nosso extenso e rico território já fazendo concessões de acordo com a lei nº 1.642 de 1916, já facilitando a demarcação de lotes para os nacionais ou estrangeiros que os requerem diretamente”.

     

    Censura à imprensa e banqueiros exigentes

    Hitler se sentiria à vontade no Brasil. Ele foi preso na Europa, mas o senador paulista Adolfo Gordo (1858−1929) dava nome à lei aprovada para impor censura à imprensa brasileira. É neste cenário que lorde Edwin Montagu (1879−1924), ex-secretário do Tesouro da Inglaterra, chega ao Brasil no fim de 1923 para monitorar as contas nacionais.

    Acompanhado por Charles Addis (1861−1945), diretor do Banco da Inglaterra e presidente do Hong-Kong and Shangai Banking (HSBC), Montagu traz um personagem que em breve será decisivo no desenvolvimento capitalista no Paraná − Simon Joseph Fraser (1871–1933), o Lorde Lovat. Agrônomo e diretor da Sudan Cotton Plantations Syndicate, Lorde Lovat queria produzir aqui o algodão que a indústria têxtil inglesa pagava caro para importar em larga escala.

     A intenção era transformar parte da volumosa dívida brasileira em terras. Nelas, sua empresa produziria o algodão pretendido. É a dívida nacional, portanto, que traz a principal colonizadora do Norte do Paraná.

     

    Maus conselhos ao presidente

    Os agentes ingleses da Missão Montagu aconselharam o presidente Bernardes no início de 1924 a demitir em massa, privatizar o Banco do Brasil e eliminar as aposentadorias. Com o governo pautado pelos interesses britânicos, aumenta o desagrado dos operários e dos militares.

    Lorde Lovat, um dos membros da Missão Montagu, começa 1924 visitando no Paraná o major Barbosa Ferraz, latifundiário paulista que reinava no Norte Pioneiro.

    Em companhia do engenheiro Gastão de Mesquita Filho e do prefeito de Jacarezinho, o campineiro Willie Davids (1893−1944), Lovat veio conhecer a região de Cambará, onde o café já florescia e ele ambicionava obter amplas áreas para plantar algodão.

    Mesmo sabendo dessa firme intenção do visitante inglês, o habilidoso Mesquita deu corda a Lovat durante um jogo de bilhar. Alimentava o propósito de convencê-lo a desenvolver outro negócio: criar infraestrutura para agregar valor a terras que seriam de grande proveito com vias de escoamento para a produção agrícola.

     

    Tacada certa de Mesquita

    Sobre a mesa de bilhar de Barbosa Ferraz, Mesquita abriu um mapa e mostrou ao lorde inglês o traçado dos primeiros quilômetros de ferrovia em construção. Ela seria, como no sonho de André Rebouças desprezado pelo imperador d. Pedro II, a espinha dorsal de um ambicioso plano de colonização:

    “Nada mais era do que o Traçado Cincinato Braga (1864−1953, parlamentar paulista), de ligação com o Paraguai, que anos antes havia sido proposto no Congresso e que não chegara a ser aprovado, embora fosse muito mais conveniente procurar atingir esse país via Cambará e Guaíra. Ao expor o plano eu ia desvendando a Lovat a possibilidade de obter lucros e ao mesmo tempo servir ao País através da abertura da estrada de ferro e da concomitante colonização nacional das terras por elas cortadas” (Mesquita Filho, citado em Colonização e Desenvolvimento do Norte do Paraná, Rubens Rodrigues dos Santos et alia).

    Na cena política nacional, os militares rebeldes exigiam que o governo Bernardes instituísse o voto secreto. Pediam a descentralização do poder, moralização e independência do Legislativo, obrigatoriedade do ensino primário e qualificação profissional para os trabalhadores.

    Uma pauta nada revolucionária, afinal. Mas para as forças retrógradas que apoiavam o governo era inaceitável e merecia ser tratada com muita violência. E bombas.

    Fonte: Fonte não encontrada

  • Começa de fato a colonização

    Começa de fato a colonização

    Nas primeiras décadas do século XX se aprofundou irreversivelmente o processo de minifundiarização das propriedades no Nordeste gaúcho, fator que determinou a expulsão de muitas famílias de descendentes de imigrantes italianos.

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    Estava aberto o caminho para a ação das companhias colonizadoras, que descortinavam espaços para a ocupação do Paraná. Os filhos e netos dos imigrantes já vinham ao Paraná, mas não contavam com estímulos para ficar. Inexistiam condições de trabalho ou um mínimo de infraestrutura favorável.

    “Eram constantes as reclamações por parte dos encarregados das companhias colonizadoras que tinham interesse em colonizar as terras marginais ao Rio Paraná, no sentido de um aparente descaso por parte das autoridades governamentais paranaenses quanto à abertura de vias de comunicação mais adequadas, que permitissem uma maior integração da área a ser povoada com centros que já possuíam uma importância comercial mais acentuada” (José Augusto Colodel, Obrages & Companhias Colonizadoras).

    Enquanto Santa Helena era o destino de várias famílias italianas paulistas e gaúchas, a região da atual Cascavel, que só começaria a existir dez anos depois, atraía cada vez mais grupos de colonos eslavos.

    Os poloneses e ucranianos traziam algum dinheiro, muitos por estímulo governamental, outros atraídos pela propaganda das colonizadoras, e consolidaram na região o sistema safrista − o cultivo do milho combinado com a criação de suínos.

    Pedro Ferri, o agente

    A falência do projeto colonizador da empresa Meier, Annes & Cia foi um obstáculo na corrida dos colonos gaúchos ao Oeste. Mas a companhia Alegretti, que adquiriu as terras da empresa falida, tinha Pedro Ferri como agente de propaganda e vendas.

    Ferri se beneficiava de um duplo conhecimento: sabia que dificuldades os agricultores viviam em sua região de origem e tinha perfeita noção do potencial do novo destino. Afinal, já vivia no Oeste paranaense.

    Para Ferri, portanto, a tarefa de vender as terras paranaenses foi facilitada pelo fato de que no Sul os colonos ocupavam áreas inferiores a dez hectares, não raro em regiões acidentadas.

    Além dos morros que atrapalhavam, mais desafiadoras eram as áreas pedregosas, reduzindo severamente o espaço aproveitável. De resto, não havia gaúcho que ficasse indiferente aos relatos de Ferri sobre a fartura de terras existente no Paraná.

    Terras boas distribuídas em colônias superiores a dez hectares, assim, funcionavam como um ímã para os colonos que migraram a partir de 1920 do Rio Grande do Sul ao Paraná, provenientes principalmente de Bento Gonçalves, Alfredo Chaves, Cachoeira e Marau.

    Fim da guerra exigiu madeira

    Quem sofria produzindo em minifúndios com terras não raro escarpadas e pedregosas considerava um paraíso a fartura de áreas devolutas no Paraná. Vivendo em colônias retalhadas por heranças distribuídas a proles numerosas, eles viam que logo também precisariam repartir esses “pedacinhos” com seus filhos.

    No Paraná, chegavam a um paraíso que tinha um lado particularmente infernal: um interior desprovido de todo e qualquer conforto, sem uma carteira de clientes aos quais vender os produtos coloniais.

    Mas a aventura estava apenas começando: eles imediatamente se lançavam ao trabalho duro de tarefas combinadas entre uma agricultura de subsistência e a extração da madeira, cuja procura disparou após o fim da I Guerra Mundial.

    Para juntar a subsistência com ganhar para as despesas, servindo às madeireiras, era uma lida de sol a sol repartida entre a tração animal e o braço do colono, que manuseia alternadamente a enxada, o machado e o serrote.

    “O transporte da madeira para as serrarias ou pontos de embarque era realizado por carroças ou através do arrasto, tracionado por três, quatro ou cinco juntas de bois” (Noeli Woloszyn, Em Busca da Terra).

    Diversifica-se a população

    Pelo vasto interior paranaense, até então com vilas diminutas e muitos acampamentos transitórios, forma-se uma população rarefeita, dispersa em ranchinhos ocupados por uma ou duas famílias, bastante isoladas uma das outras, que constituem plantações diversas, principalmente de milho, feijão e trigo, além de criar suínos.

    É o sertanejo paranaense retornando aos hábitos anteriores à Guerra do Contestado, com o caboclo agora se somando aos imigrantes e seus filhos.

    Essa nova realidade beneficiou enormemente a pequena e isolada vila de Foz do Iguaçu, cuja população se entusiasmava com a abundância de gêneros alimentícios trazidos pelos novos habitantes, que deram vida ao comércio local:

    “As terras são fertilíssimas e produzem abundantemente cana-de-açúcar, arroz, mandioca, frutas tropicais como a laranja, banana, mamão etc. Devem também produzir café e algodão, mas supomos que a cana-de-açúcar, o arroz e a mandioca são suas principais culturas” (Jayme Bailão, A Foz do Iguaçu e as Cataratas, 1921).

    Erva-mate, ainda um ciclo forte

    Nas obrages ervateiras do Rio Paraná, exploradas por proprietários estrangeiros, a mão-de-obra era requisitada exclusivamente para a atividade mais rentável da época: a extração da erva-mate e, crescentemente, da madeira.

    Preservava-se a floresta argentina, cortava-se a do Paraná. Produzir comida não interessava aos donos das empresas, que abasteciam os seus empregados – os mensus – com seus próprios armazéns.

    “Cada mensu (…) era obrigado a suprir-se de gêneros alimentícios, roupas e tudo o mais no armazém ou no barracón da obrage. (…) Nas barrancas do Rio Paraná, a agricultura era terminantemente proibida no interior das obrages” (Ruy Christóvam Wachowicz, Obrageros, Mensus & Colonos).

    O Oeste do Paraná era um latifúndio colado em outro, em mata contínua. O Censo Demográfico de 1920 desmentiu as estimativas de que nessa região viviam mais de dez mil pessoas.

    Na verdade, pouco passavam da metade dessa previsão: 1.500 brasileiros, 1.500 argentinos e 3.000 paraguaios – “que  perfaziam densidade demográfica de 0,5 habitantes por quilômetro quadrado” (Roberto Lobato Corrêa, O Sudoeste Paranaense antes da Colonização).

    Para entender o quanto era realmente pequena a população brasileira no Oeste paranaense, concentrada nos portos do Rio Paraná, basta dizer que Palmas, no Sudoeste, estava com 10.270 habitantes em 1920.

    A Encruzilhada dos Gomes

    O Médio-Oeste não passava de um vasto campo de coleta de erva-mate. Pela dificuldade no transporte, não valia a pena arrastar madeira da Cascavel de hoje, então inexistente, até o Rio Paraná. Além de faltar o trem, os caminhões não suportariam trafegar nas trilhas carroçáveis.

    Excetuando as áreas pertencentes às obrages ou reservadas à projetada estrada de ferro, havia no Médio-Oeste uma larga faixa de terras devolutas encravada entre as companhias Domingo Barthe e Nuñes y Gibaja.

    Nela ficava, desde 1895, o entroncamento de trilhas que os sertanejos chamavam de Encruzilhada dos Gomes.

    Em 1921, com a transferência de terras pertencentes à Companhia Estrada de Ferro São Paulo–Rio Grande do Sul à sua sucessora Braviaco (Companhia Brasileira de Viação e Comércio), o movimento colonizador passa a ter em conta não mais apenas o centro, o Sul e os portos do Extremo-Oeste, mas, com o Norte e Noroeste, também o Médio-Oeste e o Sudoeste paranaense.

    A Braviaco manifestara a intenção cumprir o acordo firmado com o governo estadual, de atrair colonos para as terras disponíveis nos vazios despovoados, cujo aproveitamento se limitava à coleta de erva-mate e contrabando de madeira.

    Ela venderá terras à primeira família que em setembro de 1922 vai se apossar da Encruzilhada dos Gomes, local onde em 1930 terá início a futura cidade de Cascavel.

    Fonte: Fonte não encontrada

  • Entra em cena o automóvel

    Entra em cena o automóvel

    Em pleno clima pré-revolucionário e apesar das três fronteiras, era fragilíssima a presença federal em Foz do Iguaçu ainda em 1919. Havia deserções nas forças militares e as vagas eram preenchidas com soldados estrangeiros (Júlio Nogueira, Do Rio ao Iguaçu e ao Guaíra).

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    A estrada que viria a ser a BR-277 estará plenamente concluída de Leste a Oeste do Paraná em novembro de 1919, em ritmo acelerado e com muitos sacrifícios. Precária, com prazos forçados e trechos arruinados pelo clima, para as autoridades o mais importante não era a qualidade da obra em si, mas ficar pronta para inaugurar no 66º aniversário do Estado, em 19 de dezembro.

    Foz do Iguaçu nesse fim de década é uma vila irregular, com ruas em desalinho. Pela falta de abastecimento com artigos nacionais a população se satisfaz com produtos argentinos. “As construções eram quase todas de madeira e cobertas de zinco. Apesar da limpidez e frescura dos riachos, a água potável era retirada de poços desabrigados” (Ruy Christóvam Wachowicz, Obrageros, Mensus & Colonos).

    No esquecido extremo-Oeste do Paraná os fatos do Brasil ainda parecem muito distantes, mas uma revolução logo virá para fazer da terra vermelha um palco de batalhas. Com uma estrutura fronteiriça tão débil, não seria de espantar que meia dúzia de guerrilheiros chegasse e dominasse Foz do Iguaçu. É o que em breve iria acontecer.

    As primeiras viagens de automóvel

    O Paraná encerrava a segunda década do século XX ligando via rodoviária o litoral à fronteira. Estava oficialmente concluída a Estrada Estratégica – também chamada de Transbrasiliana, por cortar o Brasil de Leste a Oeste.

    O colonizador Miguel Matte fez todo o percurso com seu automóvel em 72 horas. O prefeito de Foz do Iguaçu, coronel Jorge Schimmelpfeng, um dos construtores da estrada, também iria percorrer a Estratégica em toda a sua extensão, viajando com seu automóvel Ford desde Santa Helena até Curitiba.

    Logo em seguida o governador Affonso Alves de Camargo cumpriu o percurso em uma histórica visita motorizada de inspeção aos portos do Rio Paraná, em companhia do prefeito iguaçuense.

    Os viajantes embarcados em automóvel por todo o trecho da Estratégica no Oeste paranaense podiam nessa época ser contados nos dedos de apenas uma das mãos.

    Com o término do governo de Affonso Camargo, em 25 de fevereiro de 1920, assume seu vice, o médico antoninense Caetano Munhoz da Rocha. Candidato único, sem riscos eleitorais, Munhoz da Rocha assumiu o governo para o quatriênio 1920/24 pela segunda vez. Na condição de vice-presidente do Estado havia governado interinamente durante as negociações do Contestado.

    Os antecedentes de Cascavel

    Com uma ávida busca pelo pinheiro paranaense no pós-I Guerra, logo os caminhões estarão testando a trafegabilidade da Estratégica em 1920, ano em que o Censo Demográfico iria apurar no Estado uma população de 686 mil habitantes e no Brasil cerca de 31 milhões, então com 75% de analfabetos.

    No Médio-Oeste, colonos catarinenses, caboclos e poloneses começam a se fixar na região da atual Cascavel, de onde partiriam muitas carroças transportando erva-mate aos portos do Rio Paraná.

    Os agricultores eslavos produziam artigos coloniais para o consumo dos administradores e empregados das obrages e seus portos.

    Só o Porto Artaza, de Júlio Allica, assegurava aos colonos um mercado de consumo bastante amplo, com um número de empregados superior ao de grandes empresas sediadas em capitais. “A empresa tem a seu serviço 940 homens, dos quais muitos ali se acham definitivamente domiciliados, com família” (Júlio Nogueira).

    Seguindo a trilha aberta pela Comissão Estratégica, que teria o seu leito melhorado em 1920, justificando o nome de “rodovia”, os colonos poloneses provenientes de Santa Catarina trazem importantes contribuições à agropecuária e à prestação de serviços.

    São eles que introduzem no Médio-Oeste, a partir da década de 1920, a carpintaria, a marcenaria, a selaria, a sapataria e os primeiros instrumentos agrícolas.

    Começam a chegar os colonos gaúchos

    A publicidade das terras do Alto Paraná feita pela colonizadora Meier, Annes & Cia, sucessora da antiga Petry, Meier & Azambuja, oferecia maravilhosas colônias com cerca de 10 hectares.

    Convencidas pelo rol de atrativos das terras, a começar pelo preço baixo e alta produtividade, as famílias Bortolini e Ferri partiram de Bento Gonçalves e Garibaldi, cidades do Nordeste gaúcho, numa aventura digna das epopeias pioneiras.

    Embarcados em um carroção em Carlos Barbosa, cruzaram diagonalmente o Estado rumo à fronteira, em Uruguaiana. Afastavam-se ainda mais de uma linha reta rumo ao destino pretendido. Em Uruguaiana, desmontaram o carroção para seguir de trem até Posadas, na Argentina. A bordo de um navio cargueiro argentino da Companhia Rodríguez “e viajando três dias rio acima, sem parar à noite, atingiram o Porto de Santa Helena (…) Esta aventura durou mais de um mês” (Valdir Marafon, Mosaicos). Chegando a Santa Helena, remontaram o carroção para seguir até as colônias pretendidas.

    O desafio rodoviário

    O problema do escoamento da madeira e da erva-mate continuava. Mais coletores de matérias-primas se incorporando ao mercado de trabalho e industriais abrindo serrarias pressionavam a reduzida e sofrível malha rodoviária.

    A solução para esse volume crescente de produção ficara óbvia desde o fim do tropeirismo. A melhor resposta não estava em caminhões fazendo crateras na Estrada Estratégica, de manutenção tão árdua quanto improdutiva: quando uma equipe de reparos chegava ao fim do trecho em Foz do Iguaçu, já teria que haver outra recomeçando todo o serviço em Guarapuava.

    A saída para ampliar a comunicação, o escoamento de madeira e erva-mate e incentivar a colonização nas regiões Norte, Noroeste, Oeste e Sudoeste do Paraná teria, forçosamente, que ser a ferrovia.

    Para estimular a construção de vias férreas, o governo paranaense contratou a Companhia Estrada de Ferro São Paulo-Rio Grande, oferecendo em troca dos trilhos o direito de uso sobre uma vastíssima área de 2,1 milhão de hectares.

    Esse direito, que também deveria levar embutidas as obrigações referentes à construção do ramal Guarapuava-Foz do Iguaçu, foi cedido pela companhia ferroviária à colonizadora Braviaco (Companhia Brasileira de Viação e Comércio).

    Ferrovia: planos frustrados

    Em 18 de fevereiro de 1920, a lei estadual 1.909 atribui à Braviaco a execução da Estrada de Ferro Oeste do Paraná. Um mês depois, em 20 de março, a lei 1.939 aprova o primeiro plano de viação ferroviária do Estado e sinaliza para a valorização das terras do Oeste, que viria com a infraestrutura de transportes: a já concluída Estrada Estratégica e a prometida extensão da ferrovia.

    Como sucessora da Companhia Estrada de Ferro São Paulo-Rio Grande, a empresa Braviaco priorizava a comercialização das terras que obtivera em troca das ferrovias projetadas. Seria muito competente e veloz na venda das terras e nada produtiva na extensão dos trilhos.

    Os dados do Censo Demográfico de 1920 reafirmam que o Oeste ainda se mantinha sob domínio estrangeiro: em Foz do Iguaçu havia 4.148 habitantes estrangeiros e apenas 2.282 brasileiros. A nova onda de negócios com a terra que se desencadeia em 1920, entretanto, vai trazer mais brasileiros natos que descendentes de imigrantes.

    A primeira consequência dessa onda de negócios foi o aumento de tamanho dos latifúndios. Em abril de 1920, por exemplo, Roberto Stuber adquire cerca de 50 mil hectares junto ao governo do Paraná para acrescentá-los às terras da sociedade Petry, Meier e Azambuja, integrada ao projeto de colonização de Santa Helena.

    Fonte: Fonte não encontrada

  • Pandemia, luto e presidente louco

    Pandemia, luto e presidente louco

    Em 1917 ainda não se dava importância alguma à Encruzilhada dos Gomes, futura Cascavel, então apenas um ponto de passagem de ervateiros. Antes que a cidade de Cascavel brotasse ainda viriam duas revoluções.

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    A Encruzilhada resultou da estrada ervateira aberta em 1895 pela família do coronel Augusto Gomes de Oliveira, ligando Catanduvas a Lopeí. Por isso, “dos Gomes”.

    Mais próximo dos antigos traçados estava o pouso tropeiro do Rio Cascavel, também cortado pela estrada dos Gomes, que para construí-la receberam cinco mil alqueires de terras em pagamento, a serviço da obrage Nuñez y Gibaja.

    A Rodovia Estratégica, que em breve iria passar pela Encruzilhada dos Gomes em um novo traçado, encontrava-se no mais completo abandono, não oferecendo condições nem mesmo ao tráfego de carroças. Eram tempos, definitivamente, muito ruins.

    O engenheiro Francisco Natel de Camargo começou as obras da Estratégica em Guarapuava e seguiu em direção à Colônia Mallet (futura Laranjeiras do Sul), onde já havia um pequeno povoado, com estação telegráfica e alguns estabelecimentos comerciais. “Se desmatava e após era feito o corte, serviço de terra que sofria alargamento do antigo leito a força de chibanca, a pé, a razão de 560 réis o quilômetro” (Sandálio dos Santos, Memórias).

     

    Novos traçados

    Alcançaram Catanduvas rapidamente, já que a estrada inicial havia estacionado ali. Agora o trabalho seria bem mais difícil: não se tratava mais de reabrir uma estrada abandonada, mas de abrir a nova rodovia, justamente quando começava o terreno mais acidentado e difícil, com diversos rios e ribeirões.

    A partir de Rio do Salto, os construtores aproveitam restos de uma antiga picada tropeira. Daí, sob a supervisão do engenheiro Moisés de Marcondes, os trabalhos seguem até a abertura da Picada do Benjamim (Boa Vista, mais tarde Céu Azul).

    Em Boa Vista, a estrada se une à linha telegráfica, levantada em 1906. Nesse ponto, os serviços de construção passam à direção do prefeito de Foz do Iguaçu, coronel Jorge Schimmelpfeng, cuja turma de trabalho partira da fronteira abrindo seu caminho carroçável.

    Ao se encontrar, as duas turmas completam a ligação rodoviária do litoral à fronteira. Em breve os caminhões e os automóveis estariam fazendo todo esse percurso. Tantos detalhes se tornaram possíveis por ter sido registrados por Alípio de Souza Leal (1889–1974), que trabalhou como feitor na equipe de Natel de Camargo. 

    Segundo ele, na construção da rodovia a partir de Foz do Iguaçu até Boa Vista o traçado foi bastante modificado. O primeiro, herança dos militares, cortava todos os afluentes do Rio Iguaçu, tornando as viagens bastante penosas. Não raro os viajantes eram obrigados a acampar junto a atoleiros.

    O novo trajeto foi projetado em função do divisor de águas e é praticamente o mesmo da atual BR-277.

     

    Navegação toda estrangeira

    A Argentina investia firme na navegação do Rio Paraná, chegando a promover até a drenagem no leito para a passagem de navios de maior calado.

    Ao Norte de Foz do Iguaçu, o Rio Paraná tinha vários portos: Bela Vista, de Hygino Alegre; Sol de Maio, de Juan Cafferata; Santa Helena, de Domingo Barthe; Jejuy, de Eugenio Cafferata; Felicidade, Britânia e Rio Branco, da Fazenda Britânia; São Francisco, de Nuñez y Gibaja; Artaza, de Julio Allica; e Mendes, da Empresa Mate Laranjeira.

    “Todos esses portos são abastecidos pela Argentina com os seus navios. Uma navegação nacional seria recebida ali com grande satisfação dos nossos patrícios que dia a dia se sentem mais afastados da comunhão nacional” (Júlio Nogueira, Do Rio ao Iguassu e ao Guayra).

    Nessa época, Pato Branco passa a se destacar no mapa do Paraná com a formação de sua Colônia Nacional, oficializada em maio de 1918. É o Sudoeste que se desenha como região após o trauma do Contestado.

    O governo do Paraná também desdobra sua política para o interior e celebra com estardalhaço, em 8 de setembro de 1918, um acordo com a Companhia de Estrada de Ferro São Paulo–Rio Grande para a construção da ansiada via férrea entre Ponta Grossa e Guarapuava, com prolongamento previsto até Foz do Iguaçu.

     

    Famílias inteiras doentes

    A extensão jamais passou do papel aos trilhos porque a obra sequer seria iniciada: todos os trabalhos de construção de estradas foram prejudicados pela Gripe Espanhola, que atacou o Paraná com força.

    “Foi enorme a mortalidade, pois não havia assistência médica. Em diversas casas ficaram todos acamados, sem ter quem pudesse alcançar ao menos água para mitigar a sede” (José Bischoff, Sombras do Passado).

    Famílias inteiras sucumbiam ao mal. A peste mostrou com especial agressividade a tremenda escassez de recursos médicos com que os pioneiros trabalhavam no eixo Guarapuava−Foz do Iguaçu.

    Apesar da epidemia, a companhia Alegretti se dispôs a levar adiante seu projeto de colonização às margens do Rio Paraná. A rigor, era mais necessidade que ousadia. Na época, a colonização da Serra Gaúcha alcançava um ponto de saturação, como Jorge Schimmelpfeng já havia previsto.

    Colonos de Antônio Prado, Guaporé, Bento Gonçalves e Caxias do Sul começavam sua marcha rumo às terras do Norte, muitos deles se dirigindo, inicialmente, ao Norte do próprio Rio Grande do Sul, depois a Santa Catarina e em seguida ao Paraná.

     

    Problemas sociais, greves e revoluções

    O ex-presidente Rodrigues Alves é reeleito para seu segundo mandato em 1º de março de 1918 quase por unanimidade: 386.467 votos contra reduzidos 1.258 votos obtidos pelo também ex-presidente Nilo Peçanha.

    A consagradora reeleição deveria se completar com a posse, em 15 de novembro, mas Alves também é acometido pela Gripe Espanhola. Quem toma posse interinamente é o mineiro Delfim Moreira (1868−1920), seu vice-presidente.

    Moreira, contudo, também está doente. Apático, não dá conta das tarefas de governo, exercido na prática pelo ministro Afrânio de Melo Franco (1870−1943), também mineiro. Tido por louco, terá um governo curto e desastroso.

    Agravam-se os problemas sociais e em resposta eclodem greves por todo o País. O mundo em geral vive rápidas mudanças e a rendição da Alemanha, em novembro de 1918, começa a pôr um fim na I Guerra Mundial.

    Com a guerra e depois dela, a expansão do capitalismo para o interior do Brasil terá um grande salto com a procura pela madeira necessária à reconstrução do Velho Mundo em ruínas.

    “Subiu vertiginosamente o volume das nossas exportações, além de que produtos até então praticamente desprezados foram utilizados para satisfazer a fome de matérias-primas dos beligerantes. (…) fornecemos a ambos os bandos em luta e em quantidades muito maiores o teríamos feito, não fosse tão precária nossa rede de transportes internos” (Limeira Tejo, Retrato Sincero do Brasil).

     

    Presidente ganhou sem campanha eleitoral

    Para cobrir de luto esse período tão difícil, Rodrigues Alves, o presidente reeleito com uma das votações mais extraordinárias de todos os tempos, não poderá exercer um só dia de seu segundo mandato, morrendo em 16 de janeiro de 1919.

    A lei determinava a convocação de novas eleições presidenciais, realizadas em 13 de abril. Um novo fenômeno ocorre e será o único do gênero em toda a história.

    O candidato paraibano Epitácio Pessoa (1865−1942) estava ausente do país. A serviço do governo, participava na França da Conferência de Versalhes; Sem sequer voltar ao país para fazer campanha, Pessoa derrotou o célebre baiano Rui Barbosa por 286.373 votos a 116.414.

    Vencer a eleição presidencial sem sair da Europa nem fazer campanha eleitoral foi fácil. Difícil seria governar um País em processo de crescente rebeldia militar e popular contra os maus costumes políticos.

    O tenentismo surge então como poderosa força dinâmica na sociedade brasileira no momento em que o desenvolvimento industrial produzia um movimento sindical aguerrido.

    O País começava a viver um clima pré-revolucionário, sentindo a influência das mudanças que ocorriam na Europa no pós-I Guerra.

     

    Fonte: Fonte não encontrada

  • Seca, ratos e poder estrangeiro

    Seca, ratos e poder estrangeiro

    O Paraná sofria um desastroso final da primeira década de 1900. Como se não bastasse a tensão no Sul conflitado, a seca de 1909 foi a pior de todos os tempos.

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    “Ela atingiu os taquarais, existentes em profusão na região dos Campos Gerais e cujos frutos de trinta anos serviam para alimentar os suínos. (…) Com a seca dos taquarais vieram os ratos, que destroem as plantações e as reservas de víveres. Ressecadas, as taquaras logo foram presa de longos sinistros, que duravam semanas, dominando florestas imensas, sendo somente combatidas pelas chuvas” (José Bischoff, Sombras do Passado, 1973).

    Foi uma destruição impressionante: pinhais inteiros e incontáveis imbuias, de preciosa madeira, viraram carvão. O solo fertilíssimo torrou, passando a deserto.

    “Só brotou mato denso e sobreveio a catanduva. A criação invade as matas devassadas pelo pisoteio contínuo, formam-se os faxinais, nascendo samambaias e pragas” (Bischoff).

    Em 1910, a expansão ferroviária se definia como uma das questões mais importantes do País, um símbolo de povoamento e facilidade para o transporte da produção. Nesse vácuo, a Companhia Mate Laranjeira construiu a ferrovia Guaíra−Porto Mendes, de 60 quilômetros, destinada ao seu exclusivo transporte de erva-mate e madeiras de lei.

    A iniciativa revela com clareza o crescimento do domínio estrangeiro na região. Em março de 1911, com uma segunda compra junto ao Estado (a primeira data de 1907), a Compañia Maderas del Alto Paraná completava o grande latifúndio da Fazenda Britânia, origem de Toledo e futuros municípios desmembrados da empresa Maripá.

    O vale atormentado

    O governo do Estado e os latifundiários se lançam a iniciativas próprias ou combinadas para conhecer melhor o Oeste do Paraná, cuja exploração econômica vai compensar o Estado pela contestação do território a Sudoeste.

    Uma das principais iniciativas é a de Manoel Mendes de Camargo (1864−1943), com o propósito de abrir uma estrada por onde pretendia trazer gado desde o Mato Grosso para invernar na região de Campo Mourão.

    O topógrafo Edmundo Mercer (1878−1938) partiu em 1911 para a região do Rio Piquiri, onde fará o primeiro levantamento da área que o cronista da expedição, o também topógrafo Carlos Alberto Coelho Júnior, qualificará de “extenso e atormentado vale” em seu livro Pelas Selvas e Rios do Paraná.

    Para essa expedição foi reunido um grupo de 40 desbravadores, somando aos peões de Camargo os pioneiros mourãoenses interessados nos negócios que a integração traria.

    O outro Rio Cascavel

    A equipe técnica, além de Mercer e Coelho Júnior, trazia também o agrimensor polonês Otto Trompczynski, que no futuro viria a ser prefeito de Foz do Iguaçu. É a origem da histórica Estrada Boiadeira.

    A Companhia São Paulo–Rio Grande voltou a requerer o direito de construir uma estrada de ferro até Foz do Iguaçu em 1911, em troca das terras localizadas às suas margens. Com os entendimentos entre a Brazil Railway e o governo brasileiro, Manoel Francisco Correa retoma um projeto esboçado ainda no Império ao obter, em abril de 1912, permissão para construir essa ferrovia.

    Esse projeto, como os anteriores, também não vingará. A via férrea partiria de Guarapuava e depois de atravessar os rios Cascavel*, Coutinho, Lageado Grande, Campo Real, seguiria “às cabeceiras do Cavernoso, fraldeando daí em diante a serra do mesmo nome, atravessando os rios Xagu e União até chegar ao lugar Catanduvas e daí até a foz do Rio Iguaçu” (lei estadual nº 1.209, de 19 de abril de 1912).

    * O Rio Cascavel mencionado na lei não é o mesmo que deu nome à cidade do Oeste. É um afluente do Rio Jordão, em Guarapuava. Essa homonímia causou muita confusão.

    Sertanejos oprimidos

    No extremo-Oeste, a Colônia Militar do Iguaçu havia se revelado um fracasso. Corrupção, contrabando e má administração fizeram com que o governo federal considerasse a experiência um incômodo e não um exemplo.

    Enquanto as pressões se intensificavam contra a administração da Colônia Militar do Iguaçu, uma população flutuante se fixava em torno da trilha dos militares, ao redor das ferrovias e dos grandes acampamentos de ervais.

    Essa população seria varrida do mapa pelos novos interesses que se impunham sobre a terra paranaense.

     “As terras constituíam um estupendo negócio adicional: o fabuloso presente outorgado em 1911 à Brazil Railway determinou o incêndio de inumeráveis cabanas e a expulsão ou a morte das famílias camponesas assentadas na área da concessão. Este foi o gatilho que disparou a rebelião do Contestado, uma das mais intensas páginas de fúria popular de toda a história do Brasil” (Eduardo Galeano, Veias Abertas da América Latina).

    Quis governar sem políticos

    Com o Brasil já sob a Presidência do marechal Hermes da Fonseca, que levaria o Brasil a se submeter aos interesses estadunidenses e a contrair mais dívidas com bancos ingleses, o Paraná teria um novo governador a partir de 1911.

    Como em outras ocasiões, as elites paranaenses, sempre semelhantes em projetos e métodos, embora simulassem disputas entre suas famílias e correntes internas, chegava a mais um consenso absoluto: Carlos Cavalcanti foi eleito sem adversários após vencer algumas resistências iniciais, representadas pelas lideranças de Alencar Guimarães e Generoso Marques dos Santos, que se opunham ao seu vice, Affonso Camargo.

    Como a indicação resultou de um consenso das elites, Cavalcanti assume no início de 1912 e vai governar acima dos partidos, “à semelhança de um magistrado”, segundo o historiador Túlio Vargas. Uma ilusão, como se viu logo depois.

    Carlos Cavalcanti assumiu o governo do Paraná no final de fevereiro de 1912, mas quem realmente vai exercer o poder será seu vice-governador, representante de uma das mais poderosas famílias paranaenses: o guarapuavano Affonso Alves de Camargo.

    Começa a Era Camargo

    A partir de então, Camargo praticamente edificará um “reinado” no Paraná, que só será interrompido pela Revolução de 1930, para se recompor mais adiante, em acordos de interesse regional.

    No governo Cavalcanti-Camargo, o interesse pelo extremo-Oeste do Paraná crescia porque as vitórias sucessivas de Santa Catarina na demanda do Contestado eram atribuídas à ausência da autoridade paranaense nas regiões de fronteira.

    A missão paranista, assim, foi definida em verbos cruciais: ocupar, povoar, manter e fazer produzir. No projeto de estímulo à colonização do Oeste, em março de 1912 o governo do Paraná cedeu 20 mil hectares à empresa Petry, Meier e Azambuja, dos empresários José Petry, Hans e Alberto Meier e Antônio Bittencourt de Azambuja.

    Por sua vez, a Companhia Matte Laranjeiras formalizava, em maio, a aquisição do imóvel “Margem Esquerda do Alto Paraná”, com uma área de 9.953,05 hectares.

    Nem escola ficou

    O fracasso da colonização militar foi tamanho que sequer uma escola pública havia na Foz do Iguaçu de então.

    “Os próprios oficiais para lá destacados consideravam-se desterrados. Aproveitavam pois o tempo para melhorar sua situação financeira através do contrabando…” (Ruy C. Wachowicz, Obrageros, Mensus e Colonos).

    Foi justamente o governo do militar Hermes da Fonseca que teve a honradez de apagar essa mancha. Assim, com o processo de colonização assumido pelo governo do Paraná, em 16 de junho de 1912 o Ministério da Guerra extingue a Colônia Militar, passando seu controle ao Estado.

    As autoridades estaduais supunham que agora nada mais impediria o desenvolvimento do Oeste paranaense. Mal sabiam que complexos e longos processos judiciais viriam para fazer o Paraná perder seu Sudoeste para Santa Catarina e prejudicar os colonos que decidiram investir suas economias na região.

    Fonte: Fonte não encontrada

  • Os dois monges e o Cometa de Halley

    Os dois monges e o Cometa de Halley

    Para compensar as traições e trapaças sofridas pelos imigrantes no passado recente, a criação de núcleos coloniais com estrangeiros no interior do Paraná foi condicionada pelo governo de João Cândido Ferreira a uma localização privilegiada, até com a intenção de facilitar o escoamento dos produtos agrícolas para o crescente mercado consumidor.

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    Quanto às condições produtivas, deveriam ser terras de “fertilidade natural”, com abastecimento de água permanente e topografia suave para permitir a lavoura mecanizada. Os lotes, de 20 a 25 hectares, podiam ser pagos à vista ou em cinco anos, neste caso somente para imigrantes com família.

    A competência no desenvolvimento do lote colonial e “boa conduta e dedicação ao trabalho e à família” quitariam automaticamente as duas últimas prestações, determinava o regulamento.

    Essa regra deixava os imigrantes na condição de reféns do julgamento das autoridades, mas o Paraná voltava a ser atrativo aos colonos estrangeiros.

    Sob o império do capital estrangeiro

    Nesse contexto de novos estímulos à imigração, a Compañia Maderas del Alto Paraná teve funcionamento autorizado pelo governo federal em 18 de julho de 1907. Seu representante era o coronel Jorge Schimmelpfeng, ligado a Hilary Howard Lang, administrador da corporação inglesa The Alto Parana Development Co Ltd, da qual a propriedade no Brasil era uma ramificação.

    Um mês depois, a empresa titulava a área de 251.438 hectares do imóvel “São Francisco”. A propriedade tem formalmente a motivação colonizadora, mas o interesse real estava na exploração da abundante erva-mate e da imensa reserva florestal.

    O capital estrangeiro dá as cartas. Em 1908, a Companhia Estrada de Ferro São Paulo−Rio Grande passava ao controle da empresa Brazil Railway, com sede no Maine, EUA. Está aí a origem de graves problemas agrários no Paraná.

    Os resíduos negativos dessa empresa causaram décadas de permanente sofrimento para os sertanejos que, sem acesso à terra, não tinham como trabalhar, já que toda sua vida e conhecimento estavam ligados às atividades rurais primárias.

    Insegurança e medo

    A insegurança no remoto interior do Paraná passa a viver uma escalada. “O crime, zombando de toda a ação defensiva e repressiva, campeia e alastra, sob influência de causas múltiplas, antropológicas, físicas ou sociais que, de modo soberano e irrepreensível, imperam sobre os indivíduos e as sociedades” (Pamphilo de Assumpção, advogado, um dos fundadores da OAB/PR, em declaração de 21 de agosto de 1908).

    Visto frequentemente nos arredores de Lages, um novo monge “São João Maria” conquistava rapidamente adeptos aguerridos para uma rebelião contra as autoridades republicanas.

    Esse monge, que passa a desafiar o Monge, apelido do novo governador do Paraná, Francisco Xavier da Silva, aproveita-se da tradição de bondade e supostos milagres de dois andarilhos precedentes para estimular os protestos dos sertanejos contra a exploração e expulsão que sofriam com o avanço das obras da Estrada de Ferro São Paulo–Rio Grande.

    O rei invencível e salvador

    A mistura dos sertanejos espoliados e dos trabalhadores abandonados à própria sorte cria um caldo de cultura explosivo. Um novo arraial como Canudos começa a se desenhar.

    O desinteresse das autoridades pelo futuro dessa gente, que determinou a expulsão impiedosa dos sertanejos das terras que ocupavam para a construção da estrada de ferro e a exploração madeireira, cria rancor contra os republicanos e, consequentemente, ódio à República.

    O sebastianismo, crença em um poderoso e invencível rei que virá para salvar o povo de seus algozes republicanos, preenche de rancor as omissões dos poderes públicos. É na tradição sebastianista que uma encarnação do rei Sebastião e dos monges antigos se torna comandante da redentora guerra santa sertaneja contra a República e suas crueldades.

    A ideia de retornar à monarquia está centrada na lembrança bucólica de que os sertanejos no Império podiam viver e praticar suas culturas de subsistência livremente nas matas.

    Na República, eles se autointitulam “pelados”. Sentem-se molestados pelos interesses norte-americanos que tomam as terras e os expulsam, respaldados por peludos – os militares da União e a polícia do Estado do Paraná, que garantem aos concessionários estrangeiros a posse das terras em troca da ferrovia.

    Assim, o movimento sertanejo liderado pelo “monge” José Maria/Lucena iria agravar a disputa entre os dois Estados e se prestava à estratégia de domínio territorial das autoridades barrigas-verdes.

    Cometa de Halley

    No início de 1910 houve muito alarde em torno da próxima passagem do Cometa de Halley, que seria em maio. O visitante celeste traria, para os supersticiosos, o “fim do mundo” que não viera na virada do século.

    No interior do Paraná houve muito medo, principalmente porque em 1909 ocorreu a terrível “seca dos taquarais”, liquidando totalmente as lavouras. Nesse tempo de estiagem e penúria, vieram vastos incêndios.

    Vendendo máscaras de proteção que hipoteticamente protegeriam os consumidores da ação destrutiva do cometa, espertalhões espalharam o boato de que a cauda do cometa era venenosa e ao passar pela Terra iria matar pessoas e animais. Não era difícil, assim acreditar que o mundo estava acabando por causa do cometa.

    Além dos vendedores de proteção e cura para os supostos malefícios do Halley, outro oportunista, dizendo-se “profeta”, saía pelas vilas fazendo previsões catastróficas.

    Monge capitaliza desgraças

    A Colônia Mallet, futura Laranjeiras do Sul, recebeu a visita de um homem baixo, gordo, vermelho, com cabelos e bigodes ruivos.

    “Seu nome era Miguel Lucena que aproveitando a fama deixada por João Maria, havia assumido o nome de José Maria. Reuniu os sertanejos e anunciou que haveria uma guerra da qual muito poucos escapariam e para se salvar, era necessário se esconder no mato, alcançar o Rio Iguaçu e atravessá-lo cento e cinquenta vezes como penitência” (João Olivir Camargo, Nerje).

    Os sertanejos crédulos reuniram as famílias e partiram em direção ao rio. Construíam ranchos de taquara nas matas vicinais e esculpiam canoas para a travessia, mas o alimento escasseou logo nas primeiras travessias.

    “A ideia de ir de um lado para outro cento e cinquenta vezes foi irritando o povo. Uma estiagem prolongada secou as nascentes de água potável (…) as criações morreram, as crianças, acometidas por desidratação e verminose, começaram a sumir” (João Olivir Camargo).

    Entre uma e outra nova travessia do rio, alguns já desconfiavam que a “profecia” do monge era um engodo.

    Latifúndio cresce

    As desgraças de 1909 não impediram as autoridades de confirmar que o futuro do Paraná estava em suas áreas ainda inexploradas: as matas do extremo-Oeste haviam escapado da destruição, colonizá-la era essencial, como continuar a luta para que Santa Catarina não tomasse o Sudoeste.

    Com a habitual justificativa de pretender explorar a erva-mate, a Compañia Maderas del Alto Paraná requereu a compra de mais 22 mil hectares, em operação autorizada pelo governo estadual, medida que ampliava o latifúndio inglês na região.

    É nessa época, também, que surge Guaíra, por iniciativa da Companhia Mate Laranjeira (originalmente Larangeira), criada por Thomaz Larangeira e as famílias Murtinho (MT) e Mendes Gonçalves (Argentina).

    A Mate Laranjeira tinha sedes no Rio de Janeiro, Paraguai e Argentina, seu principal mercado consumidor. Em suas terras nas proximidades das Sete Quedas a empresa fundou o Porto Monjoli e em seguida, abaixo dos saltos, o Porto Capitão Mendes Gonçalves (Porto Mendes).

    Fonte: Fonte não encontrada

  • Presidente de sucesso, governador sem oposição

    Presidente de sucesso, governador sem oposição

    A safra paranaense de café em 1906 foi espetacular, acima de todos os prognósticos, mas o fantasma da superprodução ameaçava o desenvolvimento do Paraná nessa primeira década do século XX.

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    O Brasil exportava, em média, de 9 a 10 milhões de sacas de café por ano. Em 1906, estimada inicialmente em 16 milhões de sacas, a safra da rubiácea rompeu a marca de 20 milhões, que se somavam a um estoque pré-existente de 9 milhões de sacas.

    Os preços caem e a situação econômica, já difícil, vai se agravar. Os presidentes (governadores) de São Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais se reúnem em fevereiro de 1906 em Taubaté e decidem intervir no mercado cafeeiro para contornar o desastre.

    Enquanto isso, no interior paranaense, o trabalho de integração estadual prosseguia, alcançando avanços importantes. Após as exaustivas tarefas conduzidas pelo capitão Félix Fleury de Souza Amorim na mata fechada, mais adversa que um exército inimigo, inaugura-se o terminal da linha telegráfica na Colônia Militar do Iguaçu, nesse mesmo ano de 1906.

     

    Sertanejos pelados

    Mas a crise cobra seu preço. Tão logo as obras da Estrada Estratégica alcançaram Catanduvas, a Comissão de Estradas Estratégicas foi dissolvida, ficando a construção paralisada por tempo indeterminado.

    A estrada até Catanduvas e os fios telegráficos com os trabalhos encerrados na foz do Rio Iguaçu já constituíam uma estrutura bastante razoável para estimular a colonização. O problema era como fazê-la sem imigrantes para assentar.

    Ao mesmo tempo, nasciam e cresciam os filhos dos sertanejos, que seriam chamados pejorativamente de “pelados” ou “jagunços”.

    Jagunço era o nome que se dava a uma arma tosca, similar ao chuço – uma vara com ponta de flecha ou haste de metal. Por metonímia, a arma veio a designar o lanceiro.

    Pelados, os sem-nada, quando tomados pelo desespero iriam confrontar os “peludos”: os republicanos com suas barbas bem cuidadas e fardas reluzentes.

     

    Longe de ser uma comunidade

    Antes de ser pelados ou jagunços, eles eram brasileiros pobres, sem dinheiro para comprar terras nem poder político para negociar concessões de posse com as oligarquias.

    Ocupavam o remoto interior paranaense, especialmente a rota do antigo tropeirismo, esvaziada pela emergência das ferrovias. Ali, sem documentação, mantinham suas roças de subsistência, à margem do controle oficial.

    Os sertanejos, no sentido Norte−Sul, preferem se instalar junto às estações ferroviárias. Na rota Leste−Oeste, preferem as aguadas lindeiras à Estrada Estratégica. Espalham-se pelo território contestado e se concentram às margens do Rio Paraná, servindo como peões ou se chocando com os interesses estrangeiros que exploram o mate e a madeira.

    Não era ainda uma comunidade. População esparsa e fragmentada, composta por maioria de cidadãos não brasileiros, desorganizada, mesmo sendo uma população em torno de duas mil pessoas em 1906, a vila da Colônia Militar do Iguaçu ainda não tinha a menor ideia de como utilizar as Cataratas em benefício de sua economia.

     

    O embrião de Foz do Iguaçu

    A colônia militar se orgulhava de suas indústrias de açúcar e aguardente, mas o cerne da economia regional, excluindo o descontrolado contrabando da madeira, continuava a erva-mate, como atestou Silveira Neto, responsável pela instalação da Mesa de Rendas na futura Foz do Iguaçu.

    A vila já possuía quatro estabelecimentos comerciais, as repartições militares e a agência de rendas, que encarnava a presença oficial do Estado do Paraná na fronteira.

    Em novembro de 1906, a implantação do Distrito Policial de Iguaçu acrescentaria à Mesa de Rendas o poder local de polícia, ampliando a estrutura de serviços públicos.

    A população de brasileiros aumentava em Vila Iguaçu, mas o controle estrangeiro ainda era total, parecendo aumentar mesmo com o monitoramento das autoridades brasileiras.

    Tal situação gerava desconfianças no Rio de Janeiro e em Curitiba quanto à eficácia da fiscalização do Estado e à utilidade da Colônia Militar do Iguaçu para afirmar a soberania nacional na fronteira.

     

    Estrangeiros tramam e organizam

    O poder estrangeiro sobre o interior paranaense, aliás, iria aumentar em breve. Em 6 de agosto de 1906 formara-se em Buenos Aires a Companhia de Maderas Del Alto Paraná, constituída por capital inglês.

    Uma subsidiária da matriz Alto Parana Development Company Ltda, sediada em Londres, essa empresa vinha para formar um vasto latifúndio denominado Fazenda Britânia, origem de Toledo e Marechal Cândido Rondon.

    Com a criação do Distrito Policial, em 12 de novembro de 1906, a Vila Iguaçu também se tornava distrito administrativo de Guarapuava. Nesse mesmo dia era registrada em Portland (Maine, EUA) uma empresa estadunidense que a partir de agora vai intensificar o domínio estrangeiro sobre amplas áreas do Brasil, inclusive o Paraná.

    A Brazil Railway Company surge com a garantia de que terá imensas facilidades e vantagens para operar nas terras paranaenses

     

    Pena assume, Machado morre 

    Enquanto esses acontecimentos se sucedem, o Brasil novamente em crise vai a uma nova eleição presidencial. Com cerca de 98% dos votos nas eleições d 10 de março o mineiro Afonso Pena se elege para substituir Rodrigues Alves, mas só vai assumir em novembro.

    No início de 1907, com o governador Vicente Machado já gravemente enfermo, João Cândido Ferreira assume como interino e decide assinar um ousado decreto.

    A medida cria a Comissão de Colonização do Paraná, para assentamentos com “imigrantes estrangeiros, para o povoamento do território e progressivo e eficaz incremento de todos os ramos de atividade e de trabalho”.

    Ferreira supera com essa iniciativa o desânimo de Vicente Machado, deprimido com os cortes dos subsídios federais à atração de colonos.

    Ao decidir bancar a atração de imigrantes, Ferreira ganha a simpatia do novo presidente da República, Afonso Pena. Em 3 de março de 1907 ele assume em definitivo o governo do Paraná com a morte de seu maior líder, Vicente Machado, prematuramente, aos 46 anos

     

    Colonizar sem mais retrocessos

    Já em desenvolvimento, o novo programa estadual de colonização avançava em abril de 1907 com a entrega de concessão à empresa Iznardi, Alves & Cia para construir uma ferrovia ligando Guarapuava ao Rio Paraná.

    É um projeto ambicioso e vem a calhar para as necessidades do Paraná de então. Essa empresa ofereceu efetivamente uma razoável contribuição ao desenvolvimento do Oeste paranaense, com o projeto colonizador da chamada Santa Helena Velha, mas a ferrovia jamais saiu do papel.

     Nessa época, a União também decidiu estabelecer seu regulamento para a entrada de imigrantes no País. Em meio a uma série de exigências, o imigrante era obrigado a fornecer, além de dados como idade e profissão, uma relação de parentes e até prova de “moralidade”, assegurada por documentos apresentados ao chegar.

    Combinando a legislação federal com a regional, em junho de 1907 o Paraná recebia com o decreto estadual 218 o regulamento para o Serviço de Colonização no Estado.

    Segundo essas normas, a colonização com imigrantes no Paraná poderia ser empreendida pelo Estado, pela União ou por particulares que possuíssem imóveis capazes de comportar, no mínimo, cinquenta lotes de 20 hectares cada um. Ou seja, propriedades de pelo menos mil hectares.

    Fonte: Fonte não encontrada