Autor: Alceu Sperança

  • Basso desafiou o governador

    Basso desafiou o governador

    Com a vitória na “Guerra de Porecatu”, na primavera de 1950, os posseiros que chegavam ao interior do Paraná passaram nas regiões Norte e Oeste do Paraná a receber lotes legalizados e sem mais jagunços mancomunados com a polícia estadual.

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    Na grande conciliação promovida para desmobilizar os jagunços das colonizadoras e inibir o levante armado dos posseiros, “as terras de primeira qualidade, apropriadas à cultura de café na região de Porecatu, ficaram mesmo em poder dos fazendeiros” (Elpídio Serra, Processos de ocupação e luta pela terra agrícola no Paraná). 

    Depois, ambicionando a Presidência da República, Munhoz da Rocha cometeria o erro de abandonar o Estado para assumir um Ministério no precário governo federal sob ataque e abriu o caminho para o retorno de Moysés Lupion. E do jaguncismo. 

    Mas no início dos anos 1950 o interior do Paraná, especialmente nas regiões Oeste e Sudoeste, ainda tinha amplas faixas de terras de alta qualidade para posse, aquisição junto ao Estado e projetos de empresas colonizadoras. 

    É nesse contexto que se dá o processo de colonização de Corbélia, em área pertencente ao Distrito de Cascavel, Município de Foz do Iguaçu, iniciado no segundo semestre de 1951.

    Essa nova frente de colonização é empreendida pela Fundação Paranaense de Colonização e Imigração, que contrata Armando Zanato (1907–1973) para procurar entendimentos com os posseiros da região relativos à demarcação e promover a venda de terras.

    O desafio postes x fios

    Em Toledo, ocorre a colheita dos frutos da estruturação do modelo de negócios da empresa Maripá, combinando a colonização com a exploração da madeira. É assim que cerca de 1.500 colonos chegam à antiga Fazenda Britânia, onde brotam as colônias Dez de Maio, General Rondon, Novo Sarandi e Quatro Pontes. O Oeste assiste ao germinar de dezenas de vilas e cidades.

    A população de Foz do Iguaçu, no entanto, demonstrava inconformismo com as dificuldades de comunicação, que não acompanharam as melhorias no transporte. 

    A fronteira ainda estava mais integrada a Buenos Aires, pela generosa estrada fluvial do Rio Paraná, que a Curitiba, acessível apenas por longas e incertas viagens nos períodos de chuvas.

    A linha telegráfica que deveria acompanhar a rodovia principal estacionou em Guarapuava. Sobrou para Foz do Iguaçu apenas um telégrafo rudimentar, herança da antiga Comissão Estratégica. 

    O telégrafo tinha na época o mesmo significado do acesso à internet. Era a única forma de estabelecer comunicação imediata em tempos nos quais o Correio demorava semanas para entregar uma carta.

    Mas as linhas eram feitas de postes e fios. Tomadas pelo mato, caíam muito e os reparos demoravam. Os líderes iguaçuenses exigiam que uma linha desmatada e protegida se estendesse até a fronteira com a máxima urgência.

    No entanto, perceberam que não dispunham de força política para garantir a conquista de imediato. O governador Bento Munhoz só garantiu a colocação dos postes e a extensão dos fios até Cascavel.

    Nas negociações entre o governo e as lideranças de Foz do Iguaçu, destaca-se a personalidade forte e ousada de um italiano que lidera o embrião de uma forte entidade representativa da força da comunidade: a Associação Comercial e Industrial de Foz do Iguaçu (Acifi). 

    Pedro Basso, que durante a II Guerra foi ameaçado de ser expulso da fronteira, não aceitou a limitação anunciada pelo governador e chamou para si a responsabilidade de unir a população e exigir a rede até Foz do Iguaçu. 

    Tragédias forjadas pelas guerras mundiais

    Nascido na região italiana do Vêneto em 1908, Pedro Basso viu sua família de agricultores sofrer com as terras devastadas durante a I Guerra Mundial. Migrando para o Brasil em 1921, foi trabalhar nos cafezais de São José do Rio Preto (SP).

    Da Itália também veio a namorada, Assumpta Gallo, que morava em Presidente Prudente (SP). Depois, em busca de oportunidade melhor, transferiu-se em 1929 para Santa Helena, onde havia um projeto de colonização com italianos pela Companhia Espéria.

    Trabalhando duro, Pedro se casou em 1933 e o primeiro filho, Victório, nasceu lá. Com o capital acumulado nas tarefas desenvolvidas até então, em 1938 ele se estabeleceu em Foz do Iguaçu, abrindo uma pensão que recebia principalmente turistas argentinos. 

    Tudo ia bem, com os bons serviços da pensão prestigiados pelas autoridades que chegavam de outras regiões, até que a II Guerra Mundial eclode em 1939 e em seus desdobramentos vai trazer a Basso o incômodo de entrar na lista de eventuais inimigos da pátria por conta da perseguição aos estrangeiros provenientes de um dos três países do Eixo (Alemanha, Itália e Japão – ver https://x.gd/dpBwM).

    Sendo italiano, ainda tropeçando no idioma português, Pedro Basso sentiu-se muito próximo de perder tudo que havia construído em sua ativa permanência no Brasil.   

    Expulso com filho recém-nascido

    “Os estrangeiros eram proibidos de permanecer na fronteira. Meu pai, sendo italiano, tinha que ir embora de Foz do Iguaçu” (Irineu Basso, jornal Gazeta do Iguaçu, 27/06/93).

    Aos 34 anos, com a esposa Assumpta acabando de dar à luz o filho Irineu e com Victório ainda pequeno, sair de Foz do Iguaçu para o isolamento em Guarapuava seria muito difícil para a família.

    O absurdo da inclusão de Basso na lista dos estrangeiros suspeitos é que em seu Hotel Três Fronteiras se hospedavam no período da guerra o delegado de polícia, o promotor público e família, além de outros funcionários governamentais.

    Mesmo assim, Pedro teve seu rádio receptor tomado pela polícia para ser impedido de ouvir emissoras estrangeiras com notícias censuradas sobre a guerra. 

    Depois de muitas reclamações, teve o rádio devolvido e recebeu por fim autorização do Exército para permanecer, “porque as autoridades utilizavam muito seu hotel e restaurante”, contou Irineu. 

    Depois, a família abriu um estabelecimento comercial que vendia de tudo: tecidos, secos e molhados e armarinhos. Em seguida veio o cinema, o Cine Star, em 1951, que funcionou até 1980.

    Cinema, futebol e muita briga

    Italiano turrão, fundador de um clube de futebol – o Flamengo local –, Basso frequentemente entrava em campo para brigar ao lado dos filhos com os adversários nas frequentes confusões dos jogos sem VAR nem árbitros formados.

    “Todos os jogos tinham brigas. Certa vez, Pedro Basso entrou uma briga feia no campo do ABC. Os filhos dele (Irineu e Victório) entraram na briga também, e o Victório escapou de ser morto porque o camarada adversário puxou a arma e ela não detonou. Era um soldado do Exército” (Kid Chocolate, Gazeta do Iguaçu, 1994).

    Irineu, que a exemplo do pai também presidiu o Flamengo iguaçuense, decidiu encerrar as atividades com o futebol depois de uma grande confusão envolvendo facas, facões e espetos de churrasco.

    “Vi a morte na frente. Era espeto, faca e facão estrilando por todos os lados. Cheguei em casa, esfriei a cabeça, chamei meu filho e disse: olha, para mim chega de futebol”.  

    Já fortalecido como empresário e a família consolidada, em 1951 o líder comunitário Pedro Basso desafiou o governador bento Munhoz da Rocha, comprometendo-se a plantar todos os postes entre Foz do Iguaçu e Cascavel se as autoridades prometessem estender os fios sobre eles. 

    A conquista do telégrafo 

    Era uma proposta incomum, abrindo campo a uma parceria público-privada inédita. “Pedro Basso apelou então para todos os segmentos da sociedade e levantou em apenas 35 dias o posteamento necessário para este fim” (João Adelino de Souza, revista Memória).

    Esse movimento comunitário deixa um fruto: a Associação Comercial e Industrial de Foz do Iguaçu (Acifi), que futuramente seria presidida pelo filho Victório, também eleito vereador.

    Pedro Basso morreu em 1961, com 58 anos, vitimado pela doença de Chagas, já reconhecido como um dos heróis da fronteira.

    Enquanto Foz do Iguaçu se mobilizava para trazer o telégrafo, tudo continuava difícil em Toledo, que só contava com um precaríssimo acesso rodoviário. 

    Nesse isolamento, uma surpresa tomou conta dos colonos que transitavam no centro da vila: algo caiu do céu. Na rota de Cascavel, o avião NA, do Correio Aéreo Nacional, acabara de dar um voo rasante sobre a vila, já com cinco anos de existência. 

    Dele se desprendeu um pacote misterioso. Os encantados pioneiros toledanos que observam a passagem do avião correm em direção ao pacote e ao abri-lo encontram um exemplar da revista O Cruzeiro e dois jornais curitibanos daquele mesmo dia.

    Enquanto o avião monomotor continuava sobrevoando a vila, eles acenavam agradecidos e felizes aos tripulantes, que não tinham como pousar na mata fechada, sem ao menos um campo de pouso improvisado. Aquele gentil pacote vai motivar nos toledanos o desejo ardente de construir um campo de aviação.

    Fonte: Fonte não encontrada

  • Governador e topógrafo gaúcho se desentendem

    Governador e topógrafo gaúcho se desentendem

    Duas modestas vilas, Toledo e Cascavel somadas não chegavam a uma população de mil habitantes no início de 1951, situação compreensível quando se sabe que todo o Paraná apresentou no Censo de 1950 um total de 2,12 milhões de habitantes, 455 mil em Curitiba. 

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    Londrina já estava com 67 mil habitantes e Maringá bateu em 40 mil. Foz do Iguaçu, incluindo os distritos de Cascavel e Guaíra, apenas 16 mil.

    Era esse o perfil do Paraná e do Oeste na época do retorno de Getúlio Vargas ao poder pelo voto, em 31 de janeiro de 1951. O Brasil se encaminhava para a combinação entre nacionalismo econômico e a domesticação (via PTB) do movimento operário – o chamado “populismo”, herança do estado-novismo. 

    A situação nacional iria naturalmente apresentar reflexos no Oeste paranaense. Os líderes regionais adaptavam as políticas do Paraná e da União aos próprios projetos como alavancas para suas estratégias de desenvolvimento.

    No país, crescia o papel do Estado na economia, com a criação de empresas estatais e monopolistas nas áreas mais lucrativas e cobiçadas pelos investidores estrangeiros, especialmente norte-americanos.

    Interessava ao Paraná e ao seu interior atrair projetos e verbas para ações estatais que se integrassem aos próprios planos das forças políticas e econômicas regionais. Como em raras ocasiões na história, a política oficial passou a ser encarnada pelo povo como sua.

    Ilusões proletárias

    Se 1930 foi a revolução da classe média, 1951 prometia protagonismo ao proletariado, que avalizava as iniciativas do governo, dentre as quais a fundação de um banco (o BNDE) para financiar projetos de empresas nacionais.

    O governo limitou a remessa ao exterior de lucros de empresas estrangeiras instaladas no País com a Lei de Lucros Extraordinários e criou a Petrobrás, estabelecendo o monopólio estatal do petróleo. 

    Com isso, feria os interesses da Shell, Esso, Texaco e outras multinacionais que operavam no Brasil e manipulavam lobbies informais na política.

    A nação se polariza em dois grupos: a maioria de nacionalistas, que concentram seus interesses na campanha “O Petróleo é Nosso”, e a elite “entreguista”, que defende a exploração do petróleo e demais riquezas do País pelos grupos estrangeiros em associação com as elites locais. 

    Assim, o começo de um grande salto econômico para o Brasil assinala também o início da conspiração que iria resultar no suicídio do presidente, em 1954, e dez anos depois o fim da ilusão de conquista do poder ao proletariado, com a emergência de uma ditadura de viés elitista, não mais apoiada no sindicalismo atrelado ao Estado, mas nas Forças Armadas.

    Reveses e desvios

    O governo democrático de Vargas sofreu reveses e desvios. O revés inicial foi um projeto nacionalista com o viés do extinto Estado Novo, que não permitiu o consenso nacional, fortalecendo assim a ampla oposição ligada aos EUA que explorou os erros do governo até resultar no revés final: o suicídio do presidente, em 1954. 

    Um dos vários desvios foi a opção pelo rodoviarismo, em prejuízo dos planos longamente alimentados de expansão ferroviária desde o Barão de Mauá (Irineu Evangelista de Souza [1813–1889]). 

    Aliás, também nos EUA as ferrovias sofreram as consequências da opção pelas estradas de rodagem, só vindo a recuperar importância e cuidados na segunda metade do século XX.

    Da mesma forma, no Paraná, o declínio da expansão ferroviária, base inicial para a colonização do Norte, foi uma falha estrutural que viria a custar caro ao Paraná e ao Brasil. 

    Em compensação, o número de caminhões circulando pelas estradas se multiplicava e o Paraná se desenvolvia favoravelmente no início da década de 1950. Muita madeira partia das serrarias do Médio-Oeste, transportada via rodoviária aos portos do Rio Paraná.

    Com mais democracia no País e a estrutura de energia e transportes iniciada por Moysés Lupion, o Paraná progredia e ganhava a primeira indústria de cimento do Estado, em Rio Branco do Sul, um marco na industrialização do Estado.

    Oportunidade perdida

    Empossado em 31 de janeiro de 1951, o governador Bento Munhoz revelava pleno domínio dos assuntos do Estado e despachava com fluência, sem frustrar a quem o procurava. 

    Logo ao assumir, o novo governador atendeu ao pedido de audiência de um colonizador gaúcho interessado em abrir um projeto no vale do Piquiri.

    “Respondeu-me ele [o governador] que não poderia permitir, pelo fato de não serem devolutas aquelas terras, mas sugeriu uma outra área de 40 mil alqueires (…), terras que eu não aceitei (…), muito quentes e rasas, quando eu desejava terras para plantio de trigo, parreiras, pomares e para criação de porcos e gado” (Antônio Bordin).

    Para sua surpresa, na área que Bordin recusou nessa ocasião em breve seria formada a futura cidade de Terra Roxa. O topógrafo lamentou ter tudo aquilo nas mãos e deixado escapar, mas ainda havia muito a fazer no Oeste e ele estava só começando a agir no Paraná. 

    Nascido em Casca (RS) em 1912, Antônio Bordin fez nome no Sul participando do planejamento da ferrovia Porto Alegre-Passo Fundo. Casou-se em 1932 com Pierina Sabadin, com quem teve sete filhos: Hélio, Sady, Luciano (que em Cascavel participou da Associação Rural), Félix, Davina, Adolar e Lívio. Ficou viúvo em 1947 e em 1965, casado com Estelina Maria Biazus, teve mais o filho Vicente. 

    O preço de um picadão

    A grande oportunidade para Bordin no Paraná veio ao ser chamado por Alfredo Ruaro para trabalhar com a Colonizadora Pinho & Terras, do Grupo Dalcanale, iniciativa que o levou a morar em Palotina. Até um revólver ele pôs no penhor para poder viajar. 

    Em Curitiba, do contato com Alberto Dalcanale saiu o negócio: receberia 500 alqueires de terras e um caminhão Ford 51 em troca de abrir um picadão até uma serraria na barra do Rio São Camilo com o Piquiri.

    “Nesse lugar enfrentou muitos conflitos de posse de terras. Mesmo assim cumpriu sua missão, lutando também pela viabilidade de ser instalada em Guaíra Usina Sete Quedas em parceria com investimentos japoneses para atrair indústrias com o baixo custo da energia – uma ideia que não saiu do papel pela burocracia e também resistência não só do Brasil como do Paraguai; além da sonhada ponte que ligaria o Paraná com Mato Grosso do Sul que somente foi construída na década 90 pelo então governador Jaime Lerner denominada Ponte Ayrton Senna” (Revista Mosaicos, fevereiro de 2019).

    Lembrado até em Curitiba 

    O veterano empreendedor gaúcho depois se redimiria do erro estratégico de desprezar a região de Terra Roxa, participando da formação de Palotina. Mudando-se depois para Foz do Iguaçu, onde queria instalar uma estação rodoviária, participou na fronteira de tudo que interessava à comunidade.

    Foi assim, por exemplo, com o planejamento da ponte da Fraternidade (Tancredo Neves), ligando Brasil e Argentina, que ele já havia proposto ao então ministro dos Transportes, Mário Andreazza, em 1974.

    Com forte atuação política, Bordin foi eleito vereador por duas legislaturas: uma por Guaíra e outra por Palotina, liderando junto aos órgãos competentes a primeira ligação rodoviária Palotina-Iporã e balsa para travessia do Rio Piquiri.

    Sua mão esteve presente na salvação da Santa Casa Monsenhor Guilherme e até nas ações para a conquista da Universidade Federal da Integração Latino-Americana (Unila). Morreu em 18 de julho de 2004.

    Sua memória foi reverenciada em Curitiba com a criação do Largo Antônio Bordin, próximo ao Parque Barigui, assinalado por uma torre florida também histórica: o primeiro jardim vertical de plantas ornamentais nativas de Curitiba. 

    Bento desfaz arranjo lupionista

    Ainda no clima de intensa participação popular pós-ditadura e de valorização do voto dos anos 1950, Moysés Lupion antes de transferir o governo ao professor Bento Munhoz tratou de criar feudos eleitorais em vários pontos do Estado.

    Com a lei 613, de 27 de janeiro de 1951, o governador criou no quadro territorial do Estado 40 novos municípios. Bento considerou que a lei não convinha aos interesses do Estado e resolveu revogá-la em 6 de abril de 1951, restabelecendo o quadro territorial anterior. 

    A determinação de regras mais precisas para a criação de municípios vem com uma nova lei – 666 –, em 11 de julho de 1951. Com base nos novos critérios, a lei estadual 790, de 14 de novembro de 1951, criará 38 novos municípios e não mais 40, como previa a lei revogada. 

    Não seriam mais municípios atrelados ao ex-governador, mas ao novo. Dois desses novos municípios, Cascavel e Toledo, inicialmente não foram considerados como possíveis sedes municipais. 

    Estavam longe de preencher os critérios estabelecidos de população, estrutura urbana e diversificação de atividades, ao contrário de Guaíra, com seu porto movimentado, a destacada atração das Sete Quedas e uma população de 7.081 moradores. 

    Só Guaíra, nesse caso, podia entrar no projeto final. Cascavel e Toledo não tinham as mínimas condições de se tornar municípios.

    Fonte: Fonte não encontrada

  • Guerra de Porecatu influenciou o Oeste

    Guerra de Porecatu influenciou o Oeste

    10 de outubro de 1950. Lideradas por José Billar e Manoel Jacinto, cerca de 1.500 famílias enfrentam os jagunços dos grileiros, suas colonizadoras e a polícia na chamada “Guerra de Porecatu”. 

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    O conflito enterrava a tentativa do ex-governador Manoel Ribas de transplantar ao interior do Paraná o Homestead Act (Lei da Propriedade Rural), inciativa do presidente estadunidense Abraham Lincoln, em 1862.

    Basicamente, a norma consistia em chegar à terra, fixar a posse, ali trabalhar e cinco anos depois obter a propriedade definitiva. Três anos depois de baixar a lei, por motivos diversos Lincoln foi assassinado. 

    Ribas também sofreria um atentado: deposto do governo, foi hostilizado por manifestantes irados que lhe jogaram pedras ao deixar o Palácio São Francisco (atual Museu Paranaense, na época sede do governo do Paraná), em 6 de novembro de 1945.

     “Próximo a Ribas, um jovem goleiro de 18 anos agarra uma dessas pedras em pleno ar: é Celso Formighieri Sperança, que se torna o herói do dia. Grato por ser salvo, Ribas o chama para se juntar à sua equipe. Virá desse contato o início da imprensa em Cascavel” (Alceu A. Sperança, Quem Manda no Paraná, Livro 3). 

    Lincoln morreu, mas o Homestead Act resultou na bem-sucedida ocupação do Oeste americano e contribuiu decisivamente para afirmar os EUA como uma das principais nações do mundo. Ribas sobreviveu apenas ao Natal e Ano Novo, morrendo em 28 de janeiro de 1946.   

    Causas do levante em Porecatu

    Em 1947, Moysés Lupion começou a enterrar também o legado de Ribas, ao entregar as terras que deveriam ser ocupadas pelos posseiros a colonizadores amigos, como os irmãos Ricardo, Urbano e Geremi Lunardelli, aquinhoados com 17 mil alqueires já com centenas de famílias produzindo na área.

    Prometendo entregar a terra “limpa” a compradores das terras, os irmãos contrataram o pistoleiro José Celestino para comandar a milícia encarregada de desalojar os posseiros que se recusassem a sair da vasta propriedade. 

    A Polícia Militar, corrompida, foi liberada para apoiar os jagunços na ação para a retirar pela força as famílias dos posseiros. Tentando se defender, requerendo a legalização das posses ao governo e na Justiça, os posseiros eram ignorados pelo governo em suas demandas. 

    Para organizar a resistência, em 1944 os posseiros fundaram as primeiras associações de lavradores do Brasil, orientados pelo PCB a se armar e lutar. Quando as lutas começaram, os jagunços eram anunciados como defensores da legalidade e os posseiros, mesmo sem conhecer a doutrina marxista, acusados de ser “comunistas”. 

    Para as autoridades, o movimento de resistência dos posseiros se inspirava no Manifesto de Agosto, do líder comunista Luiz Carlos Prestes, que pregava a formação de um Exército de Libertação Nacional. Impedido de atuar legalmente, o PCB foi posto na clandestinidade em 1947. 

    A vitória dos posseiros

    O movimento dos posseiros até 1947 foi severamente reprimido pela polícia, mas a transição do governo inflexível de Dutra para a promessa de liberdades públicas de Vargas e a eleição de Bento Munhoz, que assumira compromisso com os posseiros, permitirá em 1951 aos líderes da rebelião aproveitar o clima de mudanças para obter conquistas importantes.

    Assim, sob pressão dos posseiros de Porecatu, em armas desde 1950, Bento Munhoz da Rocha permitirá pela primeira vez que um movimento rebelde camponês obtenha uma vitória.

    Em 14 de março de 1951 Munhoz irá declarar de utilidade pública para desapropriação com vistas à reforma agrária as terras em litígio. Jamais algo semelhante havia acontecido no Brasil.

    Em seu decreto, Munhoz da Rocha elegeu como alvo as terras envolvidas na pendenga originada com a família paulista Lunardelli, situadas nos municípios de Porecatu, Jaguapitã e Arapongas, constantes de títulos expedidos pela administração anterior. 

    Considerava que tais títulos violavam o artigo 85 da Constituição Estadual, as determinações do decreto 800 de 30 de abril de 1931 e da legislação vigente na data de sua expedição.

    As terras iriam para os lavradores que, embora sem título hábil, nelas estivessem estabelecidos com cultura efetiva e morada habitual por mais de um ano.

    Inspiração aos colonos do Oeste 

    São decisivas para essa conquista a mobilização dos posseiros, a simpatia das populações urbanas para com a demanda dos agricultores e a consciência política adquirida na resistência frente aos grileiros, seus jagunços e aos policiais corruptos. 

    Sob o novo governo, a Polícia Militar e o Exército fecharam um amplo cerco, desarmando os colonos que ainda se mantinham em estado de conflito. Em junho de 1951, finalmente, encerra-se a “Guerra de Porecatu”.

    Os posseiros venceram, portanto, e ao contrário do que bradavam seus inimigos jagunços, nada tinham a ver com “comunismo”. Tanto que participaram a seguir da formação de uma fortíssima agricultura capitalista.

    A partir daí começava uma nova fase para “a diversificação da agricultura paranaense, com o plantio, em escala comercial, do algodão, milho, feijão, arroz, cana-de-açúcar, amendoim, rami, fumo, hortelã e soja, marcando o progresso na região” (Otto Guilherme Konzen e Irene Domenes Zaparolli, Estrutura agrária e capitalização da agricultura no Paraná).

    O movimento dos posseiros, por sua vitória, inspirou a resistência de colonos na região do Rio Piquiri, ao Norte do Distrito de Cascavel, e no Sudoeste a reação aos jagunços das colonizadoras derivadas da Citla, empresa que se dizia ter o próprio governador Lupion como um de seus sócios.

    No Oeste, empresários gaúchos davam início à formação de Medianeira em outubro de 1950. As colonizadoras que estabeleceram a Rota Oeste, mesmo tendo origem comum com a Maripá, não tiveram a mesma possibilidade de obter áreas livres de posseiros, como ocorreu na Fazenda Britânia.

    A maior grilagem de todos os tempos 

    Embora em episódios pontuais, em que a resistência dos posseiros não foi tão efetiva nem obteve o mesmo sucesso das ações armadas em Porecatu, a Rota Oeste foi influenciada pelos acontecimentos do Norte do Estado.

    As perversidades resultantes dos conflitos jurídicos de domínio entre União e Estado, com consequências dramáticas para colonizadoras, posseiros e colonos, viriam a ser mais longas e amplas no Sudoeste, mas também houve casos de grande crueldade na Rota Oeste. 

    Ainda em novembro de 1950, o governador Lupion, já acusado abertamente de ter sociedade com a Citla, celebrou um acordo com a Superintendência das Empresas Incorporadas ao Patrimônio Nacional que poderia permitir a titulação das glebas Missões e Chopin, num total de 484.680 hectares.

    O projeto poderia iniciar a harmonização entre os interesses estaduais e nacionais, mas na verdade deu início a um novo “Contestado”.

    A suposta venda de alegados direitos do coronel Henrique José Rupp sobre uma ampla porção do Sudoeste à Citla suscitou insinuações de que se tratava de um dos maiores “grilos” de terras da história paranaense.

    O baixo valor do suposto negócio indicava que havia algo muito estranho na operação. Uma área que valia no mínimo 300 milhões de cruzeiros foi transferida por cerca de irrisórios CR$ 10 milhões. A manobra não convenceu os adversários de Lupion e intrigou seus adeptos. 

    Se era grilo, como acusava a oposição, era de fato o maior da história, apoiado por uma trama formidável montada para legalizar áreas públicas em nome de particulares. 

    Estará aí a origem das arbitrariedades e crimes que atormentaram o Sudoeste em 1957, mantendo a fama do Paraná como Estado perigoso e violento.

    Árabes e europeus diversificam a base étnica 

    Colonos das mais diversas procedências passam a chegar em maior número ao Oeste paranaense por conta das iniciativas governamentais de atração do Estado e a volta da União como gestora de projetos de colonização efetivos.

    A incessante vinda de posseiros e sobretudo de novos colonos vindos do Sul coincide também com o início da formação da comunidade árabe-muçulmana de Foz do Iguaçu e Ciudad del Este (Paraguai) em 1950.

    Nesse ano Toledo também ganhava a presença de Rui Zeni, que viria a ter uma importante contribuição para o Médio-Oeste paranaense. Catarinense de Joaçaba (SC), filho de Germano e Olga Zeni, ele acompanhou a família ao Oeste em uma viagem de caminhão que durou uma semana. 

    A Madeireira Zeni & Cia, além de empregar cerca de 40 funcionários, chegou a fornecer energia elétrica para metade da população de Toledo. A atração de famílias de colonos pela Maripá enquanto aventureiros isolados ainda chegavam a Cascavel e Foz do Iguaçu, explica porque o Censo Demográfico de 1950 apontou para Toledo uma população de 475 moradores, maior que o contingente de apenas 404 habitantes em Cascavel.

    Fonte: Fonte não encontrada

  • A história desconhecida de Paulo Marques

    A história desconhecida de Paulo Marques

    As eleições gerais de 1950 não projetaram lideranças oestinas aos cenários nacional e estadual, mas de modo geral a colonizadora Maripá se ligou ao governador eleito, Bento Munhoz, enquanto as lideranças madeireiras de Cascavel mantinham suas ligações com Moysés Lupion.

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    Com isso, o projeto da Maripá de fazer de Toledo um Município que teria Cascavel como distrito avançou até esbarrar na ação firme de líderes cascavelenses com ligações estaduais: o enfermeiro e farmacêutico Antonio Alves Massaneiro e o agente dos Correios, Horácio Ribeiro dos Reis, cuja família, ligada à numerosa prole de Manoel Ludgero, formava as bases da futura metrópole cascavelense.

    Fundadores do Tuiuti Esporte Clube, eles passaram a se reunir em sua sede social para articular a ação da comunidade cascavelense no sentido de criar o Município de Cascavel, apesar das sérias limitações da vila-sede do distrito, com população inferior à de Toledo.

    Nessas reuniões, com a participação destacada de líderes das etnias italiana e eslava, destacou-se o pecuarista José Neves Formighieri, com propriedade na região do Centenário. 

    Professor de Inglês e líder político 

    Mesmo que o Oeste não projetasse qualquer liderança nas eleições paranaenses de 1950, uma personalidade marcante em Santa Catarina começava uma brilhante carreira política e logo viria ao Oeste para se tornar um dos principais líderes da região.   

    Paulo David da Costa Marques nasceu em Florianópolis em 26 de março de 1933. Os pais, Isidoro Marques e Guiomar da Costa Marques, tinham propriedade rural na qual o filho Paulo começou suas atividades e se destacou a ponto de ser eleito deputado estadual catarinense em outubro de 1950 pelo PTB de Vargas.  

    Permaneceu na Assembleia catarinense de fevereiro de 1951 a janeiro de 1955, voltando a concorrer e obtendo uma suplência. Professor, formado em Letras e Português pela Faculdade Estadual de Ponta Grossa e Universidade Estadual de Michigan (EUA) com especialização na área de Inglês, passou a trabalhar na Embaixada dos EUA, no Rio de Janeiro.

    Em 1960 optou por impulsionar os negócios da família, decisão que o levou a se transferir para Cascavel para se associar ao cunhado Jove Domelski e Pedro Mikosz nos trabalhos de uma serraria e laminadora no bairro Neva. 

    Múltiplas atividades 

    A serraria de Marques era conhecida como “Serraria do Pedro Mico” e também como “Vila Sapo”. Mais tarde, vendeu a serraria e montou outra, sozinho, no Boi Preto, lugar denominado hoje como Lagoa, entre Santa Tereza e Cielito. 

    Depois, vendeu a serraria e ficou apenas lecionando, inicialmente na Escola Normal Carola Moreira. Foi professor fundador do Colégio Estadual Wilson Joffre e da Fecivel, hoje Unioeste. 

    Dirigiu o jornal Diário d’Oeste, de Wilson Joffre, e concorreu à vereança no pleito de 1964 pelo PTB, obtendo 175 votos. Um de seus projetos nesse período determinou a construção e denominação da Praça Wilson Joffre. 

    Com o golpe civil-militar de 1964, aderiu à extinta Arena, pela qual se dispôs a concorrer à Prefeitura em 1968, desistindo, em plena campanha, porque o prefeito Odilon Reinhardt, que inicialmente se comprometera em apoiá-lo, decidiu apoiar seu mentor, Octacílio Mion. 

    Foi um golpe, mas Paulo Marques acabaria se recuperando com facilidade: ingressou no MDB e nas eleições de 1972 voltou à Câmara com a consagradora preferência de 2.003 eleitores. 

    Na Câmara Municipal, Paulo Marques sempre foi um dos mais ativos pela profusão de propostas e pelos debates travados, sobretudo com o combativo vereador Horalino Bilibio, de quem mais tarde se tornou correligionário. 

    Visibilidade na educação 

    Reeleito, não voltou a verear: foi chamado pelo prefeito Pedro Muffato para a Secretaria Municipal da Educação e Cultura. Nessas novas funções, criou 44 escolas e equipou as então existentes. 

    A ascensão política de Paulo Marques, que o levaria à Câmara dos Deputados, resultou de um desempenho brilhante à frente da Secretaria Municipal da Educação, que na época também abrangia a cultura e o esporte.

    Na época, Muffato e Marques trouxeram os primeiros professores de Educação Física encarregados de iniciar a formação “olímpica” da juventude cascavelense. Um deles foi Joel De Lócco, que se destacou nos meios esportivos de Cascavel e Foz do Iguaçu. 

    Joel e outros professores que vieram na época introduziram o handebol, promoveram torneios de basquetebol e outras modalidades.

    No campo da cultura, Marques trouxe peças do Teatro Guaíra e deu destaque aos grupos folclóricos ucraniano, japonês, alemão e português, cujas apresentações eram destinadas a arrecadar fundos para a Associação de Pais e Amigos de Excepcionais (Apae), criada em sua gestão.

    Marques se empenhou particularmente em criar Apaes e associações se proteção à maternidade e infância (APMIs) em toda a região. “Nós iniciamos esse projeto”, disse ele ao Projeto Livrai-Nos! “As primeiras instalações da Apae foram alugadas pela Prefeitura e as carteiras eram fornecidas pela Secretaria da Educação. Os professores eram municipais, cedidos para a Apae”.  

    Luta contra a ditadura

    Em 1974, indicado pelo MDB para concorrer à Câmara Federal, Marques deixou a Secretaria da Educação e assumiu a cadeira no Legislativo municipal. Concorreu a contragosto, pois pretendia se candidatar a deputado estadual. 

    Foi melhor: ganhou a Câmara dos Deputados com uma votação superior a 50 mil votos. Ainda melhor foi seu mandato e a repercussão das atividades que desenvolveu contra a manutenção da ditadura.

    O regime já se desmoralizava por um acúmulo de fracassos em todas as áreas, depois do “milagre” de altos PIBs que deram lugar a uma assustadora hiperinflação e à Década Perdida de 1980. 

    Era a manhã do dia 8 de junho de 1977. A primeira-dama Rosalynn Carter visitava a Câmara Federal na condição de delegada oficial do governo dos EUA para averiguar denúncias de violações de direitos humanos no Brasil quando foi surpreendida ainda na rampa da entrada por uma confusa gritaria. 

    Fora do protocolo, uma mulher se aproximava estendendo um envelope e dizendo: “Yo soy una mujer brasileña. Te saludo”.

    Era a advogada do Movimento Feminino pela Anistia, Therezinha Godoy Zerbini, que teve a carta arrancada das mãos pelos agentes de segurança da Casa, sob os protestos dos deputados paranaenses Gamaliel Galvão e Paulo Marques e do gaúcho Getúlio Dias, que aos gritos retomaram a carta.

    “This is a letter”

    Marques avisou que iria fazer fotocópias da carta para entregá-la à visitante e distribuir à imprensa. Marques entregou a carta original à primeira-dama estadunidense dizendo: “Mrs. Rosalynn, this is a letter. The women of Brazil wish to deliver this for you”.

    Se Therezinha apenas entregasse a carta, seu teor ficaria desconhecido, já que não continha nada além de uma comedida e genérica mensagem: 

    “Apartidárias, como o somos, trabalhamos com princípios absolutos: Liberdade e Justiça, sentido da realização do Ser Humano através do seu destino histórico. No campo dos valores humanos, não há lugar para tergiversações: ou se é justo ou injusto; ou se é livre ou escravo”. 

    A repercussão do episódio no exterior foi enorme. Noticiou-se nos EUA e Europa que agentes da ditadura impediram a delegada americana de receber denúncias de repressão às mulheres brasileiras e que ela só conseguiu receber a carta por intercessão de deputados brasileiros, dentre os quais Paulo Marques, professor de Inglês e ex-funcionário da Embaixada norte-americana, que falava o idioma fluentemente.

    Paulo Marques se reelegeu em 1978 com 43 mil votos, e, já pelo PMDB, em 1982, com 49 mil votos. Como parlamentar federal, empenhou-se pela extinção da “área de segurança nacional”, que impedia os municípios da fronteira de eleger seus prefeitos. 

    Carreira marcada por divergências 

    Uma das causas mais ruidosas defendidas por Marques foi a de colonos em atividade no Parque Nacional expulsos da área.

    Em 1986, divergindo de algumas alas do PMDB, Marques foi prejudicado por esquemas internos do partido e não obteve sucesso eleitoral. Nem por isso saiu de cena: foi chamado a chefiar o escritório do Paraná em Brasília.

    Além disso, foi diretor-administrativo do Instituto de Previdência do Estado (IPE), presidiu a Comissão de Licitação da Secretaria de Estado da Saúde, dirigiu a Imprensa Oficial e trabalhou na Casa Civil do governo paranaense. 

    Na Câmara Federal em sua época não havia a fartura de dinheiro que futuramente o Centrão iria garantir aos parlamentares, “mas com o pouco recurso que nós deputados tínhamos, que era uma verba para assistência social e educacional, eu sempre direcionei minha parte para bolsas de estudo, e hoje orgulho-me de ver centenas de funcionários liberais que exercem suas atividades nas mais variadas áreas, graças a bolsas de estudos que eu forneci”.

    “De vez em quando tenho a satisfação de receber os cumprimentos de alguém que me diz: ‘Eu recebi uma bolsa de estudo sua’ e hoje são advogados, médicos entre outros”.

    Marques se disse feliz por lutar pela conquista da democracia no país, “a satisfação de ter brigado por eleições diretas para presidente da República, a nova Constituição, direito de greve e uma série de outras conquistas que temos e que foi graças à luta que o antigo MDB, hoje PMDB, exerceu a nível nacional, do qual eu tive o privilégio de participar”.

    Mantendo distância das intrigas políticas e dedicado prioritariamente às suas atividades particulares agropecuárias, Marques morreu em 8 de dezembro de 2018. 

    Fonte: Assessoria

  • Toledo tinha população maior que Cascavel

    Toledo tinha população maior que Cascavel

    O Recenseamento Geral do Brasil de 1950 apontou para o Município de Foz do Iguaçu, com sua sede e dois distritos – Cascavel e Guaíra –, uma população oficial de 16.444 moradores. No Brasil, eram 51,9 milhões de habitantes, dos quais 2,1 milhões viviam no Paraná.

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    O Anuário Estatístico do Brasil e algumas publicações terão números divergentes dos oficiais do Censo, indicando a cidade de Foz do Iguaçu com 2.949 moradores. 

    O Distrito de Cascavel teria 4.411 habitantes, dos quais cerca de 90% viviam na área rural, segundo Mariângela Alice Pieruccini, Shiguero Iwake e Olga da Conceição Tschá (Criação dos Municípios e Processos Emancipatórios), o que projeta para a vila de Cascavel uma população de cerca de 150 moradores.

    Já na área da colonizadora Maripá, estabelecida na vila de Toledo, em fins de 1950 a população teria alcançado1.236 habitantes (Dados Estatísticos da Cidade de Toledo, Companhia Maripá, 31/12/1950).

    Seria um salto importante, considerando que a população toledana era de 130 moradores em 1948, subindo para 240 em 1949 para entrar em 1950 com 615 habitantes (Oscar Silva, Rubens Bragagnolo e Clori Fernandes, Toledo e Sua História), ainda não incluso o resultado do Censo de julho de 1950. Saltaria para 2.095 moradores em 1951. 

    Tomaz começa Cafelândia

    A forma de atração de colonos pela Maripá era selecionar seu público-alvo entre famílias de imigrantes com interesse em investir as economias acumuladas. Cascavel, entretanto, não tinha um eixo único de recepção de novos moradores. 

    Eles vinham para ocupar terras devolutas, para comprar terras vendidas pelo Estado ou por diversas empresas de colonização, situação que vai determinar no futuro uma população maior para Cascavel, por sua situação especial de entroncamento de estradas que a condicionou como a cidade-polo do Médio-Oeste.

    “Para os agricultores que na maioria das vezes se deslocavam de Santa Catarina ou Rio Grande do Sul, restavam apenas duas alternativas: quem detinha dinheiro poderia comprar um pedaço de terra através das colonizadoras, porém, quem não tinha condições para tal, restava ocupar as terras devolutas, ou comprar ‘posses’ a um custo menor” (Luiz Carlos de Oliveira, Luta pela posse da terra em Cafelândia durante a década de 50).

    Passado o recenseamento, feito em julho de 1950, em setembro terá início a corrida para a ocupação do interior distrital de Cascavel, sobretudo ao Norte, com a vinda do primeiro colono à região de Cafelândia, Honoríbio Tomaz, que veio de carroça desde Palmas. 

    Atraídos pela fertilidade da terra, colonos de Santa Catarina foram convencidos pela forte propaganda da região, que fazia um retrato paradisíaco da região, destacando a topografia suave, bem diferente das áreas escarpadas em que viviam. 

    Pfeffer e a Cobrinco

    A propaganda, o estímulo do Estado à colonização e comparação permitiram à Companhia Brasileira de Imigração e Comércio (Cobrinco) vender a primeira de várias chácaras na região de Anahy, no interior de Cascavel, adquirida por Ricardo Pfeffer. 

    Nos treze alqueires das terras compradas, Pfeffer, catarinense de Itaiópolis, logo começou o plantio de café, com a esposa Matilda Hake Pfeffer e os filhos Júlio, Rosalina, Jovino e Joventin.

    Desde que Manoel Ribas ofereceu as terras devolutas do Paraná a quem quisesse ocupá-las, quem viajava pela região sempre encontrava carroças, carroções e comboios de colonos em êxodo ao Oeste do Paraná.

    Aproveitando a oportunidade aberta para ocupar terras gratuitamente, não imaginavam que ao se estabelecer e produzir seriam assediados pelos jagunços dos grileiros que se diziam donos das terras, apresentando documentos falsos envelhecidos artificialmente com datas fraudadas cartorialmente para parecer anteriores à chegada dos colonos.

    Os posseiros reagiram de armas na mão, o que favoreceu aos grileiros invocar o apoio da polícia estadual denunciando “banditismo” nas áreas em que os colonos se organizavam e reagiam.

    As mortes se multiplicavam e a situação de insegurança era propagada pela imprensa nacional lembrando as crueldades do Contestado.

    “Sois os que tendes direito”

    Diante dos conflitos agrários, já com muito sangue derramado, propaga-se com amplitude a voz confiante de alguém que sabia discursar e encantar plateias:

    “Vós, que ocupais as glebas e que as desbravastes, sois os que tendes direito a ficar nas terras”, dizia o ex-deputado constituinte Bento Munhoz da Rocha Neto, candidato derrotado por Moysés Lupion ao governo do Estado em 1947 e agora candidato à sua sucessão. 

    É uma declaração surpreendente, vindo de um parlamentar conservador, filho de um oligarca da indústria ervateira.

    “Ele iniciou sua carreira como deputado por uma coligação do Partido Republicano com a União Democrática Nacional, e, quando candidatou-se a governador, em 1950, foi apoiado por uma aliança envolvendo a maioria dos udenistas paranaenses, o Partido Republicano, o Partido Social Trabalhista e o Partido de Representação Popular” (José Henrique Rollo Gonçalves, Bento Munhoz da Rocha Neto, a reforma agrária e o norte do Paraná dos anos 50 e 60).

    Em 1950, as propriedades rurais no Estado já ocupavam 8 milhões de hectares. São quase 90 mil estabelecimentos: 76,5 mil de pequeno porte, 7,5 mil médios e 5,5 mil grandes. 

    As pequenas propriedades perfazem então 85% do número total, com apenas 29% de toda a área, enquanto as médias e grandes, que não representam mais de 15%, detendo 71% da área total. 

    Guaíra puxa emancipações

    O sucesso das colonizadoras, notadamente a Maripá, pela extensão da antiga Fazenda Britânia, somou-se à polarização eleitoral entre adeptos de Lupion e de Bento Munhoz para motivar as comunidades do interior a fazer reivindicações estruturais.

    O Distrito de Guaíra pediu a emancipação de Foz do Iguaçu. A Maripá, atenta, pôs sua influência política em ação para reivindicar o mesmo para Toledo, que nem distrito era.

    Diante desses fatos, dois líderes cascavelenses também agiram. O farmacêutico Antônio Alves Massaneiro e Horácio Ribeiro dos Reis, funcionário dos correios e telégrafos, propuseram a criação do Município de Cascavel, mesmo a vila-sede do Distrito ainda sendo minúscula, menos populosa que Toledo.

    “[O processo de emancipação] começou em 1950 porque Toledo e Guaíra estavam fazendo a mesma coisa na intenção de se desmembrarem de Foz, que era a sede. (…) Quando saiu a nova divisão administrativa esses dois municípios foram criados, mas Cascavel não. Ficamos pertencendo a Toledo” (José Neves Formighieri, O Paraná, 29/07/1984).

    Massaneiro tinha amizade com o deputado Antônio Anibeli, que havia conhecido em Foz do Iguaçu. Foi assim que começou a ser alinhavado o projeto de emancipação de Cascavel.

    Força do PSD se dilui e oposição cresce

    Mesmo contando com a administração estadual e a maior parte das Prefeituras, o PSD não teve força para sustentar as candidaturas de Cristiano Machado a presidente e Ângelo Lopes, a governador. Ambos seriam facilmente derrotados por Getúlio Vargas e Bento Munhoz da Rocha Neto.

    Cristiano Machado, aliás, viu seu partido correr de volta aos braços de Vargas enquanto seus correligionários crucificavam sua candidatura no episódio chamado cristianização. 

    Ângelo Lopes, prefeito de Curitiba em 1947 e depois secretário da Fazenda, perdeu para Bento Munhoz, que enquanto deputado federal constituinte faz fama como o líder da recuperação das regiões Oeste e Sudoeste ao território paranaense.

    Bento também se beneficia do vazio de liderança nas regiões de conflito agrário, nas quais o Estado era ausente e o PCB, que liderava os posseiros, foi posto na ilegalidade pelo governo Dutra.

    Com uma ótima base eleitoral, escorando-se na tradição do pai, o médico e industrial Caetano, ex-governador no arranjo oligárquico urbano-rural de Affonso Camargo, Bento Munhoz da Rocha Neto é o catalisador dos grupos que abandonam o governador Lupion, forjando uma forte oposição.

    Sob a direção de Bento Munhoz

    Em 3 de outubro de 1950, Bento recebe uma votação consagradora no Paraná e Getúlio Vargas vence eleições arranjadas para permitir sua tranquila vitória. 

    Soma 49% dos votos, segundo a imprensa conservadora provenientes de “miseráveis, analfabetos, mendigos famintos e andrajosos, espíritos recalcados e justamente ressentidos, indivíduos tornados pelo abandono homens boçais, maus e vingativos, que desceram os morros embalados pela cantiga da demagogia (…) para votar na última esperança que lhes restava: naquele que se proclamava o pai dos pobres, o messias charlatão” (Paulo Duarte, em editorial na revista Anhembi).

    Por todo o Brasil, a canalização das angústias e das esperanças dos despossuídos nos trabalhistas “salvadores da Pátria” garantiu a vitória dos candidatos populistas, tendência já verificada na Argentina, com o peronismo. 

    Já sem seu protetor Lupion, com o projeto de redivisão do Estado incluindo Toledo como sede do Município a ser criado na área do Distrito de Cascavel, a comunidade cascavelense ficou em polvorosa. 

    Era preciso unir a população, como se fez ao criar o Tuiuti Esporte Clube. E será na sede do Tuiuti que as reuniões para organizar a criação do Município de Cascavel vão começar.

     

    Fonte: Fonte não encontrada

  • A encarnação do demônio e as primeiras crianças

    A encarnação do demônio e as primeiras crianças

    As condições que agravaram os problemas agrários no Paraná se acumularam desde a famigerada Lei de Terras de 1850, mas a gravidade verificada no interior araucariano um século depois em relação a outras regiões conflitadas do país vinha desde a Questão do Contestado, provocada por interesses ligados ao magnata estadunidense Percival Farquhar e à Companhia Estrada de Ferro São Paulo-Rio Grande. 

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    Nos anos 1950, especificamente, a insegurança aumentou por conta dos conflitos de domínio entre União e Estado, situação piorada pelo fracasso do Território Federal do Iguaçu (1943–1946). 

    Com uma transição truncada entre a região federalizada e a volta ao controle do Paraná, a União, ainda sob o espírito autoritário da longa ditadura, reservou-se por leis antigas ou novas, decretos e outros papéis a iniciativa de ações na área. 

    A pressa do Estado em fazer avançar os projetos de colonização, autorizando rápida e até descuidadamente a cessão de terras a particulares, era o contraponto aos negócios malfeitos pela União na ânsia de apressar a construção da Estrada de Ferro SP-RS.

    O governo do Paraná, desde Manoel Ribas, estimulou posseiros de todo o país a ocupar terras no interior, mas para evitar que as terras fossem consideradas devolutas, interesses políticos bancaram as grilagens.

    Documentos falsos feitos com a conivência de cartórios, amarelados artificialmente em gavetas fechadas com grilos mortos, davam aos papéis a aparência de antigos, para tornar críveis as datas pregressas assinaladas nos documentos fraudados.

    Grilos e jagunços 

    O Estado tratou de se assegurar domínio com suas próprias leis e normas, resultando de imediato na judicialização dos conflitos, enquanto a polícia submissa a interesses políticos e cartoriais deixava de reconhecer posses legítimas em favor dos documentos fraudados.  

    As colonizadoras, procurando proteger seus interesses reais ou supostos, além de se infiltrar na polícia do Estado contratavam um tipo especial de trabalhador rural: o jagunço. Daí à formação de milícias foi um passo. 

    Com isso, posses legítimas também caíam na malha da judicialização e entravam na mira dos grileiros e seus jagunços. 

    Com braços na polícia e nos cartórios, aproveitando-se da judicialização paralisante das questões de domínio entre União e Estado, as colonizadoras trataram de se fortalecer em um Estado democrático ainda frágil, sofrendo a sabotagem de velhos interesses ansiosos para voltar ao status autoritário anterior à Constituição de 1946.

    Nessa conjuntura, em 26 de julho de 1950 a Clevelândia Industrial, Territorial Ltda (Citla), comandada por Mário Fontana, empresário ligado ao grupo do governador Moysés Lupion, alegou ter comprado supostos direitos do coronel catarinense José Rupp no Sudoeste.

    Esse jogo de interesses se deu de forma ilegal, segundo o promotor Josaphat Porto Lona Cleto, e vai aumentar até produzir mais uma ruptura violenta na região do antigo Contestado, distribuindo-se em conflitos entre jagunços e posseiros no Norte, Oeste e Noroeste do Estado. 

    Sob pressão, os posseiros organizaram sua própria reação armada, incentivados pelo Partido Comunista Brasileiro (PCB).

    O paraíso virou um inferno

    A iniciativa da União começou positiva, com a finalidade de ocupar rapidamente locais de baixa densidade demográfica em regiões de divisas internacionais. 

    Para isso, foram criadas áreas especiais de estímulo à produção, entre elas a Colônia Agrícola Nacional General Osório (Cango), nas glebas Missões e Chopim, área da antiga Colônia Militar.

    Os colonos se interessavam em seguir à região, também na trilha da propaganda lupionista do Paraná Maior, sobretudo porque além dos terrenos cedidos recebiam madeiras, ferramentas, sementes, assistência médica e odontológica gratuitas. 

    Era um bom modelo de colonização oficial. No entanto, as terras estavam sub judice e os colonos não podiam receber seus títulos de posse. 

    Quando foi negociada com a Citla em 1950 por um valor ínfimo pelo suposto dono, o coronel José Rupp, essa área, correspondente a cerca de meio milhão de hectares, abrangendo grande parte do Sudoeste do Paraná, já estava judicializada.

    Na Justiça, Rupp alegava ter prestado serviços não ressarcidos e com a situação ainda indefinida nos tribunais transferiu a posse por valor irrisório à empresa que logo será considerada pelos colonos esbulhados como “a encarnação do demônio” – a Citla.

    Terra demais e quase de graça

    O coronel Rupp, ao se radicar em Joaçaba (SC) no início dos anos 1920, fornecia material (dormentes) e mão de obra para a Companhia Estrada de Ferro São Paulo–Rio Grande, mas sua equipe não recebeu pagamento pelos serviços prestados e acionou a Justiça para receber.

    A ampla extensão de terra em poder de Rupp teria sido o pagamento por aqueles serviços não remunerados. 

    Respaldada na legislação, a crescente oposição ao governador Moysés Lupion considerou a área ampla demais para ser negociada e sua posse por particulares extremamente suspeita pelas condições tão favoráveis ao comprador. 

    A transação é tão esdrúxula que nenhum cartório da região Sudoeste aceita registrar a imensa propriedade em nome da Citla, empresa colonizadora que a adquire em meio a uma forte polêmica e é tida como ligada ao poderoso grupo econômico do governador Moysés Lupion. 

    A oficialização da área só será possível com a criação de um cartório em Santo Antônio do Sudoeste (Edvino Knäsel Vorpagel, A Revolta dos Posseiros no Sudoeste do Paraná). 

    A origem do cartório cheirou a queimado, no entendimento de uma oposição que aumentava dia a dia, enfrentando o governador Lupion com energia. O conflito iria durar anos, em cenários que se agravavam com violência, luta armada, destruição e mortes.

    A sinfonia dos insetos

    Em Matelândia, Benjamin Luiz Biazus já comemorava o sucesso da atração de colonos de Flores da Cunha (RS), destacando-se inicialmente os colonos Francisco Donadel, Fortunato Antônio Menoncim, Avelino Molon e Gentile Francisco Picolli, que com o jovem Faustino Biazus partiram de Caxias do Sul em maio de 1950 e deram a base para a futura cidade, cuja fundação foi assinalada como 11 de junho de 1950.

    Em meio à mata, a comitiva foi recepcionada ao som de “violinos” pela orquestra dos Borrachudos e Mirins (Mirtis Maria Valério, revista Mosaicos, julho de 1978).

    Caminhões chegando à Rota Oeste e a pressão por uma estrada melhor ligando Cascavel a Porto Mendes, em 7 de agosto a Prefeitura de Foz do Iguaçu recriava o Serviço Rodoviário de Foz do Iguaçu com a lei 54.

    A recriação se dava porque a lei 29, de 14 de junho de 1949, já havia criado o SR também sub judice, por conta do artigo 11 determinando nas Disposições Transitórias que as “dúvidas e omissões” relativas ao setor rodoviário seriam “resolvidas pela Câmara Municipal”.

    Conselho amplo e democrático

    Estava clara a usurpação pelo Legislativo de prerrogativas do Poder Executivo pela Câmara, mas para apressar a criação do Serviço Rodoviário o prefeito Júlio Pasa sancionou o texto aprovado pelos vereadores. Mas não vingou.  

    Em agosto, em nova correlação e forças, a nova lei passava a tarefa ao Conselho Rodoviário Municipal, constituído para ser o “órgão deliberativo rodoviário do Município”, reduzindo a interferência total do Legislativo a um vereador designado pela Câmara como seu representante.

    Nesse caso, o Conselho Rodoviário Municipal de Foz do Iguaçu passava a ter como integrantes o prefeito ou representante, o chefe do SR, mais representantes individuais da Câmara, da indústria e comércio, da lavoura, engenheiro representante do DER estadual, da Associação dos Motoristas de Foz do Iguaçu e da Associação Profissional das Indústrias de Serraria, Carpintaria e Tanoaria do Oeste do Estado do Paraná (os dois últimos a partir de 1963), um dos quais será eleito para presidir o Conselho e nomeará um secretário executivo.

    Parteira guarani para filhos de imigrantes 

    As providências tomadas nas esferas municipal e estadual já davam aos colonos que chegavam a certeza de que participariam de uma obra coletiva. Foi nesse clima que o chefe da Maripá, Willy Barth, trouxe a família de Porto Alegre para Toledo em 15 de agosto de 1950, não sem queixas da esposa Diva Paim Barth, que ao chegar ficou horrorizada ao ver que “a casa ainda não tinha portas nem janelas” (jornal O Paraná, 10/4/2005).

    Entre os colonos que já estavam trabalhando no Médio Oeste o sentimento era de que o futuro prometia riquezas. As dificuldades eram só desafios a vencer com força e coragem. 

    Um marco dessa época, em 17 de agosto de 1950 nasciam as primeiras crianças da nova colonização: os gêmeos Cláucio e Cláucia, em Marechal Cândido Rondon. 

    Fato simbólico das condições da época, a parteira que atendeu à mãe, Alice Weirich, foi uma anônima índia paraguaia. Os paraguaios eram sempre chamados para enfrentar as dificuldades que apareciam, desde abrir estradas, providenciar o tratamento imediato das picadas de cobra e sair ao mato para coletar na grande farmácia da natureza as ervas necessárias a poções e mezinhas.

    Fonte: Fonte não encontrada

  • “Capitais valorizáveis”, a lição dos gaúchos

    “Capitais valorizáveis”, a lição dos gaúchos

    É impossível dissociar a aceleração dos projetos dos colonizadores gaúchos dos grandes eventos políticos da década de 1940: a emenda constitucional que pôs fim ao Território Federal do Iguaçu, proposta pelo professor Bento Munhoz da Rocha Neto, e o projeto Paraná Maior, do governador Moysés Lupion.

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    A projeção conquista por Bento ao resgatar a integridade do Paraná e o sucesso administrativo de Lupion terão como consequências a eleição do primeiro ao governo do Estado – e as sucessivas eleições de Lupion ao Senado e novamente eleição ao governo estadual.

    A conjuntura favorável no Estado proporcionada pelo ânimo de ter o Paraná inteiro novamente e a propaganda de obras inauguradas diariamente por todo o Estado permitiu às colonizadoras deslanchar de uma só vez projetos que poderiam se desenrolar por anos a fio. 

    Nascida na mesma fonte de capitais gaúchos associados da qual jorrou a Maripá, a colonizadora Pinho & Terra de imediato virou a década iniciando mais dois novos focos de colonização em 1950, trazendo agricultores de Farroupilha para formar Céu Azul, com Reinaldo Biazus e Emílio Gomes, e de Flores da Cunha e Caxias do Sul para criar Matelândia, com Benjamin Biazus.

    Se é certo que Cafelândia e Ramilândia têm seus nomes derivados das culturas agrícolas, o nome Matelândia não se deve ao esgotado ciclo da erva que deu riqueza ao Paraná antigo. 

    Homenageia o colonizador Miguel Emílio Matte, o empresário que tentou povoar a região, mas perdeu as terras por não conseguir saldar o empréstimo de cem mil pesos que tomara junto ao argentino Alfredo Giombelli (https://x.gd/sSlCI).

    O curioso caso de Braganey

    A chegada de colonos prosseguiu em abril de 1950 com pequenas caravanas ou famílias que se deslocavam ao Paraná. Em terras devolutas ou adquiridas nas empresas colonizadoras, eles se instalam no interior do Distrito de Cascavel para projetos agrícolas. 

    Foi o caso das famílias de Joaquim Correa e outros pioneiros que se fixaram inicialmente às margens do Rio Tigre, atual Rio Novais, interessados na produção de café, em região que na qual brotaria o Município de Braganey.

    Joaquim Correa mais tarde iria se associar a Isidoro Primo Frare e Pedro Pereira de Godoy em novo projeto de colonização, que além da venda de lotes rurais e previa um centro de prestação e serviços: lotes urbanos dotados de arruamento. O lugar inicialmente recebeu o nome do acidente geográfico mais característico, de acordo com o costume da época: Rio Tigre.

    Todo felino selvagem era chamado de “tigre” pelos colonos, mas o nome foi considerado seria impróprio, já que o animal que não pertence ao bioma paranaense. Logo a influência religiosa fez a comunidade mudar o nome da vila de Rio Tigre para São Roque, enquanto o curso de água passava a ser conhecido como Rio Novais. 

    Mais tarde, São Roque virou Braganey, truque cínico para driblar a lei que impedia dar o nome de pessoas vivas a locais e logradouros públicos. Na tradicional bajulação aos governantes, a negociação para criar o Município de São Roque envolveu a aceitação do nome disfarçado do governador Ney Braga, em campanha ao Senado. 

    Militar, mas político civil

    O general Ney Braga foi iniciado na política pelo cunhado Bento Munhoz da Rocha Neto. Era casado com Maria José Munhoz da Rocha, filha do ex-governador Caetano Munhoz da Rocha, que morreu em 1944, ano em que Ney foi promovido a capitão.

    Ao se eleger para o governo do Paraná em 1951, Bento nomeou Ney para uma discreta participação no Conselho Regional de Desportos do Estado. No ano seguinte, porém, tomou partido no racha militar interno que dividia as Forças Armadas entre os oficiais nacionalistas ligados ao getulismo e a Cruzada Democrática, que iria desembocar na frustrada “revolução” de abril de 1964.

    A destacada atuação na CD valeu ao major Ney Braga em agosto de 1952 o grau de cavaleiro da ordem do mérito militar concedido espertamente pelo presidente Getúlio Vargas. 

    No xadrez político do Paraná nessa época, em dezembro ele foi convidado pelo cunhado Bento a substituir o tenente-coronel Albino Silva, futuro chefe do Gabinete Militar do presidente João Goulart e presidente da Petrobrás, para comandar a polícia do Paraná. Ainda não existia a Secretaria da Segurança Pública nos moldes atuais.

    Cidade Ney Braga

    Como chefe de polícia, Braga se tornou um herói dos colonos do interior ao combater os jagunços. Cm prestígio, elege-se prefeito de Curitiba em 1954, no clima de consternação pelo suicídio do presidente Vargas. 

    Eleito deputado federal em 1958, quando se afasta da liderança de Bento e cria a sua própria, partiu para a candidatura ao governo do Estado. Seu primeiro mandato, via voto popular, transcorreu entre 1961 e 1965, no curso do qual foi promovido a general do Exército. 

    Enquanto no interior do Paraná a colonização particular avançava e os projetos do Estado sofriam embaraços pela grilagem e a reação violenta dos posseiros às arbitrariedades da polícia e dos jagunços das colonizadoras, Braga iniciou uma campanha de desarmamento no interior que também implicaria o desmonte da cumplicidade da polícia estadual com o jaguncismo.

    E assim, por pacificar o interior, prendendo posseiros, jagunços e policiais envolvidos, em lugar da inviabilizada Cidade Munhoz da Rocha, que iria imortalizar Bento, foi seu ex-cunhado e já desafeto Ney Braga quem recebeu a homenagem de dar nome a uma cidade. 

    A Copa do Oeste

    Em 1950, o Brasil em geral vive um clima de euforia e confiança no futuro, com democracia e envolvido no clima da Copa do Mundo, que se realizaria em seis cidades brasileiras – uma das quais Curitiba.

    Enquanto caravanas estrangeiras chegavam a Curitiba para se instalar nos hotéis à espera dos dois jogos da Copa a se realizar no Paraná – Espanha 3 x 1 Estados Unidos, em 25 de junho, e Suécia 2 x 2 Paraguai, no dia 29 –, no dia 11 de junho de 1950 partia do Sul, comandada por Benjamin Luiz Biazus, uma caravana interessada em um jogo mais atraente: iniciar Matelândia, um dos principais elementos de formação da Rota Oeste (Cascavel–Foz do Iguaçu)  

    Em julho, a imprensa gaúcha publicava anúncio que indicava prejuízos para o capital não utilizado ou investido em bancos:

    “Não se prejudique retendo o dinheiro em casa ou depositando a juros. Tudo está aumentando continuamente e quanto mais aumenta mais desvaloriza o cruzeiro*. Adquira capitais valorizáveis comprando terras na cidade de Matelândia. Terras especiais para o cultivo do café bem como de quaisquer culturas. A cidade de Matelândia já possui todos os recursos necessários para o bem-estar dos moradores como sejam: telefones, casas comerciais, hotéis, diversas indústrias, etc, etc, que bem atestam o sólido o desenvolvimento da Matelândia” (Jornal Correio Riograndense, 20 de julho de 1950)

    *Cruzeiro: criado em 1942 e extinto em 1993, devorado pela inflação

    Zanato, olho clínico para terras 

    O mais ativo propagandista da fertilíssima terra vermelha do Oeste paranaense na imprensa do Sul foi o corretor de imóveis Armando Zanato (1907–1973), que também chegou a Cascavel em 1950, contratado pela Fundação Paranaense de Colonização e Imigração.

    Trazia a missão de pacificar os posseiros, negociar com eles a legalização das terras, “possibilitando à Fundação a venda do saldo de terras de cada lote, depois de acertar com cada posseiro o que lhe cabia” (Elcio Zanato, filho de Armando). 

    “Ao andar pelo sertão, descobriu um cruzo de caminhos, ligando Cascavel à barranca do Rio Piquiri e outro caminho que vinha da região de Sertãozinho à estrada que ligava Cascavel ao Piquiri, por outro traçado, passando pela Placa, atual Central Santa Cruz, à época pertencente à Cascavel e hoje pertencente a Cafelândia. No cruzo destes dois caminhos, fundou Corbélia, primeiro Distrito de Cascavel”.

    Armando Zanato também focava a terra paranaense como a aplicação ideal para o capital acumulado pelas famílias sulinas. Para ele, em folheto distribuído no Norte do RS, as terras da região de Cascavel eram “o melhor emprego de capital”. 

    Eleições trazem o passado, mas não o repetem 

    Os símbolos paranaenses – bandeira e hino abolidos em 1922 pelo governador Caetano Munhoz da Rocha – foram restabelecidos oficialmente pelo governador Moysés Lupion.

    O gesto configurava um tapa de luva em seu principal adversário e filho do ex-governador, Bento Munhoz, que surgia como o candidato favorito da velha oligarquia à sucessão de Lupion.

    Em fins de julho de 1950, porém, um novo fator, desta vez político e de cunho nacional, iria robustecer a oposição ao governador do Paraná: o PTB preparava o retorno do “velho” ao poder, oficializando a candidatura presidencial de Getúlio Vargas, então com 68 anos.

    O retorno ao poder de antigos dirigentes com a imagem reciclada depois de uma onda de denúncias e forçado afastamento, como ocorreu com Vargas, não é novidade no país ou no exterior. No entanto, as mudanças ocorridas nas instituições, na economia e na conjuntura externa nos anos de ausência do líder político desmontam a ilusão de que sucessos anteriores possam se reproduzir. 

    Nem Vargas, nem Lupion conseguiram repetir o melhor de seus governos anteriores. O governo Vargas acabou em suicídio e o de Lupion deixou um rastro de práticas corruptas que determinou sua cassação e a perda de direitos políticos. Esta, aliás, forçada por Ney Braga e seus camaradas militares e democratas-cristãos.

    Fonte: Fonte não encontrada

  • Fronteiras abandonadas ou entusiasmo e fé?

    Fronteiras abandonadas ou entusiasmo e fé?

    Puxada pelo jornal fluminense O Globo, em 20 de outubro de 1949, a campanha para tentar impedir o retorno do getulismo ao poder expôs o Oeste e o Sudoeste do Paraná como um caos social e administrativo ao ser devolvidos pelo extinto Território Federal do Iguaçu, em 1946. 

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    O jornal mencionava “fronteiras abandonadas e uma população esquecida”. “O próprio batalhão, sediado em Foz do Iguaçu, para alimentar a sua soldadesca, era forçado a contrabandear gado do Paraguai”, prosseguia o jornal.

    Pelo impacto, amplitude e sensacionalismo da matéria, essa foi a narrativa que prevaleceu na historiografia, até porque seria fácil comprovar as informações factíveis. 

    A alternativa que se apresentou ao governador Moysés Lupion foi o esforço da equipe de governo para demonstrar na prática o cumprimento do programa “Paraná Maior”.

    Para enfrentar as informações negativas que circulavam na imprensa, o governo Lupion mobilizou forças para um contra-ataque publicitário que no plano administrativo implicava a preparação de um elenco de medidas para dinamizar a economia. E, enquanto elas não produzissem efeitos, um roteiro de festivas inaugurações.

    O governador havia prometido em mensagem encaminhada à Assembleia que iria agir com uma “ação planificada”, a ser conduzida por “homens que, como eu, estão empenhados nesta grande batalha da construção de um Paraná Maior e num ensaio único de realizar a grande obra do futuro”. 

    Audácia e fatores morais e fé

    Esse linguajar autoelogioso e ufanista faria escola entre seus sucessores. Lupion desenhava o próprio mandato como uma “obra”, que seria fruto da ação de um empreendedor que puxa a ação para si.

    Para esse gestor, “a falta de audácia na ação, a falta de visão política e a pequenez nas determinações representam traição ao futuro”. A máquina do Estado se reduzia à vontade e às qualidades de uma pessoa, que se apresentava como dotado de visão e muito determinado. 

    As palavras otimistas procuram animar o Estado para a concretização dos objetivos desse governo personalista, que para Lupion iriam compor a sua construção pessoal do Estado – “uma obra de entusiasmo e de fé”, apoiada em “fatores morais”. 

    Com esse discurso individualista e um planejamento progressista Lupion tentava sufocar os conflitos e esconder as debilidades da ausência do Estado no interior, onde havia desvios de conduta dos homens de confiança do governador, corrupção, conivência com a grilagem de terras e perseguição aos posseiros.

    Para o bem, nesse final de década, de fato, o Estado revelava um imenso potencial de crescimento econômico, que adviria da eletrificação e dos projetos no setor de transportes.

    Maripá usou bem a conjuntura 

    Com a propaganda das terras oestinas no Sul em plena operação, o planejamento orientado para a exploração a madeira pela colonizadora Maripá reforçou o discurso progressista de Lupion.

    O embate de versões sobre se o Oeste do Paraná estava abandonado ou assistido vinha a calhar à Maripá, que em 27 de abril de 1949 protocolou no Instituto Nacional do Pinho pedido para instalar sete novas serrarias na região “além da que já mantinha, e derrubada de árvores para aproveitamento de madeira de Toledo e comunidades vizinhas” (Luiz Alberto Martins da Costa, Calendário Histórico de Toledo). 

    “O potencial estimado é de 576 mil pinheiros, com 12 árvores por hectare, em 48 mil hectares. Mais 900 mil outras árvores, como cedro, ipê, cabriúva e grápia, com 4 árvores por hectare, em área de 225 mil hectares. A meta é derrubar 30 mil pinheiros por ano, em área de 25 mil hectares, produzindo 75 mil toras, com 84 mil m3. Mais 20 mil outras árvores, produzindo 40 mil toras, com 50 mil m3. Informa ainda que haviam sido demarcadas 400 colônias que seriam acrescidas de mais 300, da quais 200 em área de madeira de lei e 100 pinhais. A produção prevista para as 7 serrarias é de 4.464m3”.

    O caminho mapeado

    Para Cascavel, sair do marasmo em que caiu com o Território do Iguaçu dependia de providenciar caminhos para quem precisasse acessar os portos do Rio Paraná. Entroncamento de trilhas, os ramos principais à fronteira seriam rumo a Foz do Iguaçu ou a Porto Mendes, a opção preferida pelos italianos que chegavam.

    Já definido pela geografia, via divisor de águas, como polo de bifurcações de caminhos, a rota de Cascavel para Foz do Iguaçu era formada por diversos trechos de antigas trilhas indígenas, ervateiras e também militares, sem mapas à disposição dos colonos em marcha.

    Ao contrário, o sentido Porto Mendes contava com um trajeto já bem mapeado pelas tentativas de colonização da Santa Helena Velha e pela vistoria minuciosa feita em nome do governo paranaense pelo engenheiro Arthur Martins Franco e sua equipe no início do século.

    No entanto, os caminhos a Foz do Iguaçu eventualmente recebiam reparos, pois a Rota Oeste estava começando, mas o trecho Cascavel-Porto Mendes ficava inviável a cada chuva, apesar da notícia de que uma linha de ônibus logo viria se integrar aos esforços da Maripá.

    Sede ou interior?

    Deu-se então um embate na Câmara de Foz do Iguaçu entre vereadores da sede e do interior: os parcos recursos disponíveis deveriam ser usados no remoto interior, onde logo se esgotariam, por ser insuficientes, ou deveriam apoiar os colonos no entorno da cidade-sede?

    O interior foi descartado, contra a vontade do prefeito Júlio Pasa, mas em benefício do eixo Cascavel-Porto Mendes foi brilhante sua iniciativa de designar Manoel Ludgero Pompeu para assumir as funções de subprefeito distrital de Cascavel.

    A determinação serviu também para compensar o vácuo de gestão decorrente do afastamento do líder local, Jeca Silvério, determinado pelas autoridades do Território Federal.

    A designação teve ainda uma consequência inusitada: aumentou o grau de entrelaçamento entre as vidas de Jeca Silvério e Manoel Pompeu, que já tinham uma grande identidade (https://x.gd/Chaof). 

    Além disso, a combinação dessas personalidades deu a Cascavel, em paralelo às suas sólidas bases familiares, uma inteligência política e administrativa invejável para um distrito cuja sede ainda era uma pequena vila.  

    Pompeu e suas ligações    

    Quando foi enviado a Cascavel em 1949, Manoel Ludgero Pompeu não só conhecia bem a região como já era um nome histórico em Foz do Iguaçu, como um dos fundadores da primeira cooperativa agrícola da região, em 29 de maio de 1932.

    Com 32 agricultores participando da assembleia de fundação, a Sociedade Cooperativista Agrícola Ltda tinha no Conselho de Administração nomes que no futuro seriam decisivos para o fortalecimento de Foz do Iguaçu e do Oeste paranaense.

    Entre ele, Antônio Dotto (presidente), Balduíno Welter (diretor gerente), Sílvio Rorato, Antônio Alves Amaral, Martin Nieuwenhoff, Cristiano Waudscher e Manoel Ludgero Pompeu, que era o diretor tesoureiro. No Conselho Fiscal figurava ainda o prefeito Júlio Pasa. 

    Foi Pasa quem moveu a peça certa para o lugar certo, designando Pompeu como subprefeito do Distrito de Cascavel, para onde ele se transfere nesse mesmo ano decisivo de 1949 para desenvolver uma atuação que ultrapassou os limites distritais e se estendeu para além da criação do Município de Cascavel, instalado em 1952.

    Chamado pelo prefeito José Neves Formighieri, Pompeu se manteve no serviço público municipal entre 1953 e 1959, destacando-se no exercício de suas funções apesar dos mínimos recursos disponíveis.

    Energia atrai colonos

    Um dos feitos notáveis de Pompeu como subprefeito, entre 1949 e 1950, foi buscar uma ligação direta entre o Oeste e o Norte. Nesse caso, fez a exploração, a locação e o desmatamento de toda a estrada que seguia de Cascavel ao Porto 1, no Rio Piquiri.

    O traçado ligava Cascavel a Melissa, Central Santa Cruz, Cafelândia, Iguaçuzinho e Nova Aurora, “desta forma inaugurando a primeira ligação rodoviária com o Norte, até então inacessível, a não ser via Guarapuava” (Alceu A. Sperança, Cascavel, a História). 

    Foi ainda consequência direta da presença de Pompeu em Cascavel e das necessidades expostas pela colonizadora Maripá a criação, pelo prefeito Júlio Pasa, do Serviço Municipal de Luz Elétrica da Vila de Cascavel, em 14 de dezembro de 1949.

    A lei 35/49 fechava o ano determinando a dotação de 12 mil cruzeiros para a “manutenção e regularização” do setor em 1950. 

    Assim, foi já com a disseminação da propaganda de que a região da Maripá contava com energia elétrica que em 7 de março de 1950 chegavam a Toledo os primeiros colonos trazidos pela colonizadora, com famílias que se instalariam também em áreas do futuro Município de Marechal Cândido Rondon.

    Eles vinham para se estabelecer nos núcleos de colonização que darão origem não só a Toledo, Marechal Cândido Rondon e seus distritos, mas também aos embriões de vários outros futuros municípios. 

    Fonte: Fonte não encontrada

  • Os últimos vestígios do Território do Iguaçu

    Os últimos vestígios do Território do Iguaçu

    O Território Federal do Iguaçu fracassou administrativamente e só burocratas aninhados em suas repartições se queixaram quando a Assembleia Nacional Constituinte o desmontou, em 8 de setembro de 1946, por força do art. 8º do ato das disposições transitórias da nova Carta Magna.

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    Desde 1889, Foz do Iguaçu era para os militares e servidores públicos uma versão paradisíaca da Sibéria, para onde os opositores do governo russo eram enviados. Edgard Buxbaum, por exemplo, participara do levante tenentista da Vila Militar que repudiou a eleição de Artur Bernardes para a presidência da República, em 1922. Tido como comunista, foi mandado em 1932 para criar a Companhia Isolada do Exército em Foz do Iguaçu.

    Foi para evitar servir em Foz do Iguaçu que os burocratas do Iguaçu rejeitaram a cidade da fronteira como sua capital. Pra rejeitar também Cascavel alegaram que as instalações do Correio eram um rancho caindo aos pedaços. Não pensaram em construir uma casa melhor, só em evitar o isolamento no distante Oeste paranaense.

    Tão logo o TFI foi extinto, os poucos servidores federais do TFI que atuavam na região correram para embarcar no primeiro avião que os devolvesse às delícias do Rio de Janeiro, então a capital do país, deixando abandonados um caminhão e um automóvel de luxo que a Prefeitura de Foz do Iguaçu passou a usar.

    Apertada pelas reivindicações rodoviárias do Distrito de Cascavel, que desde 1946 também incluía Toledo, a Prefeitura decidiu vender os últimos resquícios do Iguaçu ao pedir à Câmara Municipal autorização para fazer dinheiro com os veículos. 

    Dinheiro era matéria escassa nos cofres iguaçuense. Pasa ficou mais de um ano sem retirar o próprio salário na Prefeitura, decidindo não receber nada até que os salários dos servidores municipais fossem pagos.

    A autorização para a venda veio em 22 de dezembro de 1950, quando a lei 65/50 autorizou o prefeito Júlio Pasa a abrir concorrência pública para fazer a venda. A Câmara, porém, marcou os recursos, determinando que a apuração da venda fosse usada para a aquisição de um caminhão novo para o Município.

    Último a receber e a ter luz

    Júlio Pasa foi um divisor de águas à frente da Prefeitura de Foz do Iguaçu. Mais de uma vez nomeado para a Prefeitura na ditadura Vargas, ele era também seria o primeiro de um ciclo de prefeitos civis, mas não teve facilidades na última gestão. menos por conta de suas ligações com o regime vencido do que por se aliar aos adversários.

    Descendente de italianos, Pasa nasceu em 8 de fevereiro de 1896 em Júlio de Castilhos (RS) e veio tentar a sorte na fronteira paranaense como pedreiro, em 1918. Participando ativamente na vida na fronteira, foi nomeado por Getúlio Vargas para a Prefeitura logo após a vitória da Revolução de 1930. 

    Com as transformações que o país sofria ao retomar a democracia, Pasa também mudou: em 16 de novembro de 1947 ele se elegeu para a Prefeitura nas primeiras eleições diretas do Município, mas pelo partido que era o principal rival de Vargas: a UDN, sigla pela qual também foi eleito vereador e presidente da Câmara Municipal.

    Seu principal desafio foi a energia elétrica. Pressionado pelas lideranças de Cascavel e pela colonizadora Maripá, que iniciava Toledo, Pasa se viu forçado a começar resolvendo o próprio problema de energia elétrica de Foz do Iguaçu antes de conseguir aprovação da Câmara para agir em Cascavel.

    “Fez questão de deixar seu próprio domicílio como um dos últimos do bairro [a receber energia], para que não lhe coubesse críticas” (Jornal Gazeta do Iguaçu, 28/9/1994).

    Pasa, forte ligação com Cascavel 

    Com grande senso de humor e diplomacia, Júlio Pasa era um rábula nas horas vagas, defendendo quem precisasse de justiça. Adorava crianças: casado com Isabel Bonini Pasa, teve com ela 11 filhos e adotou outros 6. 

    Fornecedor de alimentos para o quartel do Exército, teve atuação destacada na Associação Rural e ajudou o Tuiuti Esporte Clube, de Cascavel, a obter o terreno de sua primeira sede.

    Foi para ajudar o Tuiuti que Pasa fez aprovar em março de 1950 a lei 51/50, isentando de impostos e taxas “todas as sociedades ou associações, organizadas ou a organizarem-se, com domicílio e ação dentro do Município, desde que sejam suas finalidades culturais, sociais, recreativas, esportivas ou beneficentes e com personalidade jurídica própria”.

    Além das exigências gerais por energia elétrica em todo o Município que no futuro teria Itaipu, o problema que mais dava dores de cabeça em Pasa eram as estradas sempre em mau estado. 

    Nesse caso, seu principal desafio foi a urgência da transformação em rodovia da velha estrada ervateira que ligava Cascavel a Porto Mendes, exigência de Cascavel e da colonizadora Maripá apresentada na Câmara Municipal de Foz do Iguaçu pelo vereador João Batista de Oliveira, do mesmo partido do prefeito, a UDN, em 15 de junho de 1950.

    Orientado pelo prefeito Pasa, Oliveira fez a indicação apontando até onde estavam os recursos para a estrada, intransitável durante a II Guerra (https://x.gd/IwjH0), só viável nos trechos que interessavam aos colonos com mais recursos, nos quais eles mesmos faziam a manutenção. 

    Sem trânsito aos portos, muitos colonos a caminho do Rio Paraná ficaram parados em Cascavel e várias famílias foram convencidas por Jeca Silvério a se instalar em chácaras ao redor da sede distrital.  

    Lopes, médico de força política 

    “A estrada Cascavel ao Porto Mendes, construída, e até hoje conservada por iniciativa particular, muito tem beneficiado os interesses do Município”, justificava o vereador, eleito pelo Distrito de Guaíra. 

    “E agora que está para ser normalizado o serviço regular de transportes coletivos entre esta cidade e Porto Mendes, com escalas por Cascavel, Lopeí, Toledo, Porto Britânia, Rio Branco, Porto São Francisco e Artaza, que muito virá beneficiar o intercâmbio e a aproximação das localidades intermediárias, justo é que o poder municipal, que dessas atividades tira vantagem, coopere e empregue partes de suas verbas na referida estrada, que é de vital importância econômica e social do Município”.         

    Os argumentos eram poderosos, mas a maioria da Câmara rejeitou a proposta por interferência do presidente do Legislativo, Dirceu Lopes, avesso aos lobbies de interesses particulares que tentavam desviar recursos para seus negócios.

    Uma lenda na fronteira, Lopes foi o primeiro médico a se instalar em Foz do Iguaçu, para onde veio em 1934 com a missão de montar um posto de saúde na cidade em pagamento de um ano de estudos que, sendo aluno pobre, devia à Universidade do Paraná. 

    Lopes se instalou numa saleta da Prefeitura e alinhou numa prateleira todo o material que trazia: algumas latas de comprimidos de quinino, para combater a malária, algumas ampolas de óleo canforado e azul de metileno injetável. 

    Eram suas armas para enfrentar o mal mais ameaçador e temido da época: o chuncho, como a população fronteiriça chamava a malária, que grassava de forma epidêmica no verão. 

    A estrada ficou sem cura

    O médico só tinha acesso aos remotos lugarejos onde se “escondiam” os pacientes a cavalo, pois era impossível alcançá-los de automóvel. 

    “Era uma verdadeira calamidade chegar a uma residência e encontrar quase toda a família acamada. O que é que podia fazer um triste médico com comprimidos de quinino?” (Dirceu Lopes, depoimento a Ruy Christóvam Wachowicz, Obrageros, Mensus & Colonos).

    No entanto, Oliveira contava com o apoio do prefeito e a Câmara até aprovou a indicação, mesmo porque Jeca Silvério, o líder de Cascavel, era suplente de Lopes na Câmara Municipal, ligado ao mesmo PSD do presidente da Câmara, e tinha interesse na obra, assim como Manoel Ludgero Pompeu, definido por Pasa para ser o subprefeito do Distrito de Cascavel.

    Pompeu viria a se notabilizar justamente abrindo e melhorando estradas, mas por ora os recursos da Prefeitura acabaram se dissipando em outras obras de interesse mais direto da população de Foz do Iguaçu e a estrada distrital ficaria só a ver navios no Porto Mendes, continuando a contar ainda por algum tempo só com recursos particulares para permitir a passagem de carroças e caminhões. 

    O prefeito Júlio Pasa, entretanto, reagiu à derrota na Câmara conseguindo em agosto de 1950 a aprovação da lei 54/50, instituindo o Serviço Rodoviário Municipal, “diretamente subordinado ao prefeito, e com autonomia administrativa e financeira”.

    Depois desse embate, o vereador João Batista de Oliveira conseguiu a emancipação de Guaíra, onde também foi vereador, eleito em 1952. Dirceu Lopes não conseguiu conquistar a Prefeitura de Foz do Iguaçu em 1951, quando o eleito foi Francisco Guaraná de Menezes, mas tentou novamente e se elegeu no pleito de 1955.

    Fonte: Fonte não encontrada

  • Boi cascavelense evita deserção em massa

    Boi cascavelense evita deserção em massa

    Como quase todos os soldados do 1º Batalhão de Fronteira, Júlio Bruczcnitski trabalhava com os pais na lavoura quando foi chamado a cumprir serviço militar em tempos ainda tensos de pós-guerra. 

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    Filho de pai polonês e mãe ucraniana, Júlio nasceu em Irati (PR) em 1925. A família trabalhou em Laranjeiras do Sul na época em que essa cidade recebeu o nome de “Iguaçu” e toda a região formava o Território Federal, somada ao Sudoeste do Paraná e Oeste de Santa Catarina.

    Em 1946, Júlio foi apanhado em pleno trabalho na roça pela convocação para se apresentar ao serviço militar. Foz do Iguaçu foi o destino escolhido pelo grupo de jovens de Laranjeiras do Sul em idade de servir ao Exército, por conta da propaganda Paraná Maior, com a qual o Estado assegurava progresso para quem escolhesse viver na região. 

    “Era desejo meu e de um grupo de amigos que íamos prestar o serviço militar e queríamos vir para a fronteira. Nosso desejo foi satisfeito pelos militares e, em fevereiro de 1946 embarcamos num comboio de quatro caminhões e viemos para cá” (depoimento a Juvêncio Mazzarollo, Gazeta do Iguaçu, 23/6/93).

    Vindos de toda a região do centro paranaense, os caminhões foram alugados pelo exército porque na época não havia linhas regulares de ônibus entre Laranjeiras e Foz do Iguaçu.

    Canhões e jipe anfíbio

    Ao todo, eram 140 os novos recrutas a ser entregues ao 1º Batalhão. Foram oito dias de viagem, iniciada aos gritos felizes e algazarras até alcançar o primeiro dos inúmeros atoladouros encontrados pela expedição.

    “Choveu muito na viagem, tivemos que tirar os caminhões dos atoladouros no braço. Já no caminho havia recrutas querendo voltar para casa, desertar” lembrou Júlio. “Mas chegando a Cascavel recobramos o ânimo: o comandante conseguiu um boi e nos serviu uma churrascada. Mais adiante carneamos um porco”. 

    Ao chegar à fronteira, alcançado o ponto final, na Sanga Funda, Júlio contou que dormiu em pé, encostado a um caminhão, tamanho era o cansaço que sentia. “Tomamos banho e ganhamos farda nova para vestir. A roupa que tínhamos no corpo jogamos fora, pois estava toda rasgada e suja devido às peripécias da viagem”.

    A Segunda Guerra havia acabado em 1945, mas o regime no quartel permaneceu o mesmo dos tempos em que os militares viviam diante da possibilidade permanente de ser chamados para a guerra. 

    Além dos tradicionais fuzis, o Batalhão de Fronteira contava com metralhadoras, morteiros “e uns pequenos canhões puxados por burros – só mais tarde passaram a ser puxados por Jeep”, detalhou Júlio. “Tínhamos inclusive um Jeep anfíbio”.

    Das armas às obras

    “Frequentemente o comandante determinava uma prontidão, para exercício”, recorda Júlio. “Soldados e ex-soldados tinham que se apresentar, e ai de quem não atendesse à convocação. Do quartel saíamos em marchas pela cidade. Quase todos os sábados desfilávamos pela cidade. Eu era do serviço de comunicações e tinha que carregar nos braços aqueles rádios e amplificadores pesados e enormes, que funcionavam com baterias”.

    Depois de três anos no quartel, Júlio se viu promovido a cabo e foi encarregado de comandar o pessoal que aterrava o banhado existente no local onde foi construído o primeiro prédio, à entrada do Batalhão.

    Então, ou Júlio esperava a promoção a sargento ou embarcava no surto de desenvolvimento do Oeste paranaense dos anos 1950. A vanguarda, agora, era a construção civil: as casas se multiplicavam na face urbana de Foz do Iguaçu. 

    Cinco dias depois de dar baixa, já metido em obras, Júlio foi chamado de volta pelo comandante do Batalhão com a promessa de imediata promoção a sargento.

    Mas não quis voltar à vida militar, a não ser por uma satisfatória participação nas obras de um barracão para o quartel instalado em Guaíra, origem da 15ª Companhia de Infantaria Motorizada, que em 1949 se limitava a uns poucos galpões cobertos de capim.

    Em 1950, além de construir novas casas na fronteira o agora construtor Júlio Bruczcnitski passou a fazer a instalação da rede elétrica nos novos espaços urbanos. A energia provinha da Usina São João, instalada no Parque Nacional.  

    Depois passou a também fazer a entrega das contas de luz nas casas e trabalhou na construção da Usina de Ocoí, que futuramente seria inundada pelo lago de Itaipu.  

    Telefone, arma contra o crime 

    As moradias de Foz do Iguaçu já contavam com energia domiciliar, mas o telefone ainda era um luxo inalcançável. A instalação do primeiro aparelho foi motivada por uma situação tensa.

    Ao contrário do sogro, Mário Câmara Canto, primeiro diretor do Parque Nacional do Iguaçu, o fiscal Francisco Guaraná de Menezes não gostava de usar armas sequer para a proteção do lar. Gostava de cavalos e das carreiras, preferindo morar na chácara e não na cidade. 

    No entanto, segundo a esposa Ana Alda, que se casara com Menezes em 1946, ele tinha a casa de campo sempre vigiada por contrabandistas que acompanhavam as movimentações do fiscal. 

    Em 1949, porém, o marido sofreu um forte abalo emocional que o levou a se preocupar com a segurança da família ao se deparar na vizinhança com um assalto seguido de morte.

    A mulher assaltada, segundo Ana Alda, clamou pelo socorro do desarmado Menezes aos berros antes de ser executada com vários tiros. A partir desse episódio infeliz, o fiscal decidiu instalar um telefone na residência da família, para segurança da esposa e dos filhos, contou Ana Alda (depoimento a Adriana Alencar, revista Cabeza nº 11, julho de 2003).

    O despreocupado fiscal que gostava de cavalos de raça passou a ser um cidadão vigilante e dois anos depois daquele angustiante episódio ele seria eleito para a Prefeitura de Foz do Iguaçu.

    O curioso caso da Rua “Osvaldo” Cruz

    Tendo recebido a oficialização de seu distrito policial logo em 1934, a polícia de Cascavel estava instalada desde 1947 na quadra delimitada pelas atuais ruas Pio XII, Osvaldo Cruz e Rio Grande do Sul.

    Sobre a Rua Osvaldo Cruz, com essa grafia errada (o nome correto do célebre sanitarista é Oswaldo Gonçalves Cruz), deu-se um curioso episódio. 

    Desde os anos 1950 era de conhecimento geral que a grafia estava errada e a Câmara se dispôs a corrigi-la, mas não agiu. Assim, em 31 de dezembro de 1966, com a morte de Jeca Silvério, iniciador da cidade de Cascavel, o prefeito Odilon Reinhardt se adiantou e decidiu trocar o nome errado “Osvaldo” pelo nome de José Silvério.

    Não se sabe porque, mas a lei 480/67, que fez a correção, jamais foi cumprida. As disposições em contrário não foram revogadas e até hoje a rua continua com o mesmo nome e a grafia errada, depois de meia dúzia de prefeitos e centenas de vereadores indiferentes.

    Quanto à polícia, a instalação da delegacia na quadra citada, próxima à então Praça da Matriz (hoje, Praça Getúlio Vargas), reunia desde a escrivania até a detenção. Sendo na época o coração da cidade, foi também nessa quadra que o governador Moysés Lupion determinou em 1947 a construção do novo e amplo grupo escolar da cidade, cumprindo promessa de campanha eleitoral. 

    Pátio da escola, a “TV” dos presos  

    Lupion anunciou em 1949 que havia aberto 500 escolas no Estado – e a de Cascavel foi uma das primeiras do rol. Seriam escolas rurais, apenas com a primeira série e uma cartilha bem simples para facilitar aos professores sem grande preparo a aplicação do método rápido.

    O responsável pela educação do Estado, professor Erasmo Pilotto, tomou diretamente para si a tarefa de instruir os professores rurais, com a “oferta de cursos de aperfeiçoamento para professoras, geralmente leigas, que trabalhavam em escolas rurais” (Jehnny Zélia Kalb Facchi, História da formação de professores em Cascavel entre 1951 e 1971: a trajetória das escolas normais Carola Moreira e Irene Rickli).

    Assim se formava o Oeste do Paraná entre o fim dos anos 1940 e o início da década de 1950: roceiros que se tornam bravos soldados, militares construtores e meninas pobres levadas aos cursos de formação propiciados pelo secretário Erasmo Pilotto.

    O grande Grupo Escolar de Cascavel, obra-símbolo do governo Lupion, tinha o pátio de recreio vizinho à carceragem da polícia, mas eram tempos em que as obras importavam mais que nuances e moralismos.

    “Construíram a cadeia muito próxima, de fundos com a escola. Na hora do recreio os presos se distraíam assistindo, agarrados às grades, o futebol dos meninos e as cantigas de roda das meninas” (Maria Tereza Samways Lazari, aluna da escola na época).  

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