As interações sociais das famílias Galafassi, Lopes, Pompeu e Paim, ao se entrelaçar com muitas outras ao longo de sua trajetória na região, são encontradas em raras outras famílias vindas para a vila de Cascavel até o final da década de 1940 porque a maioria dos novos moradores seguia para posses no interior, das quais seriam expulsos por jagunços, negociariam transferência aos moradores da vila já com acúmulo de capital ou desistiriam devido às dificuldades de infraestrutura.
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A numerosa família Villaca, como outras que também conseguiram se instalar em chácaras próximas à vila, concentrou-se em uma área rural caracterizada por belos pomares nos arredores de Cascavel.
Pela proximidade, a poucos minutos de carroça até a vila, em breve os domínios da família Villaca seriam incorporados ao perímetro urbano.
Em 1947, já haviam chegado Francisco e Luíza Villaca, trazendo vários de seus doze filhos, provenientes de Candói (https://bityli.com/05vVvP), região de onde também vieram os pioneiros José Silvério de Oliveira, Manoel Ludgero Pompeu e João Turrok.
Os filhos de Francisco
Em junho de 1948 chegava mais um filho de Francisco, o agricultor Euvídio Ferreira Villaca, trazendo a esposa Alexandrina Maria, cujos filhos por sua vez tiveram sempre destacada participação na sociedade cascavelense.
Safrista, Euvídio veio para trabalhar com a criação de suínos e se instalou, como outros familiares já chegados, na região que no futuro viria a ser o bairro Cancelli.
Euvídio foi um dos agricultores que se reuniram para formar a Associação Rural de Cascavel, iniciada por Tarquínio Joslin dos Santos em 1953.
Pioneiros em vários setores, como no setor de saúde, os Villaca também estiveram presentes nas primeiras manifestações culturais, na música e na comunicação radiofônica.
A partir dos anos 1960, Darci Israel dominou os ares com sua arte, mas a música ao vivo irradiada em Cascavel começou com a dupla “Villaca & Brizola” (o primeiro ao violão e o segundo na sanfona), que abriram caminho a outras duplas e trios musicais, um deles o Trio Coração de Ouro, de Israel.
Aliado ao famoso sanfoneiro Brizola, o violeiro era Enezon Subtil Villaca, um multi-instrumentista, filho do rezador* Francisco e da parteira Epiphânia. A própria família Villaca tinha sua própria banda, formada por violão, sanfona e outros instrumentos.
*Rezador era o farmacêutico prático que atendia doentes com ervas e compostos. Usava rezas e passes para reforçar a cura com a fé dos enfermos
Os trabalhadores da Imapar
Além dessas famílias, as campeãs em interação com a comunidade regional, as que mais viriam a tecer relações de parentesco e associações com as demais famílias já radicadas em Cascavel e Foz do Iguaçu foram os núcleos familiares formados pelos trabalhadores trazidos pela Industrial Madeireira do Paraná, contratados na fronteira por Renato Festugato e em Cascavel por Florêncio Galafassi.
Januário Machado Portinho chegou a Foz do Iguaçu em setembro de 1949 já tendo como destino as tarefas que iria desenvolver a serviço da empresa.
Gaúcho de São Luiz Gonzaga, aos 24 anos, sua função, como gerente de transporte, de oficina e máquinas pesadas, era fazer a madeira chegar das serrarias de Cascavel e ser depositada às margens do Rio Paraná, onde as cargas eram colocadas em barcos e chatas para seguir à Argentina.
“O forte mesmo era o pinho. Tinha algumas madeireiras que exportavam em toras canela, magaratuva, peroba, todas essas madeiras de lei que existiam na região e que hoje não tem” (Januário Portinho, Foz do Iguaçu – Retratos).
“Nós tínhamos mais ou menos 180 empregados. Essa madeireira tinha uma vila perto do Batalhão, dava casa para os empregados” e no futuro viria a ser o Jardim Festugato.
Cada jornada de transporte era uma aventura diferente, pelas dificuldades do trajeto, na estrada velha de Guarapuava.
O caminho, na verdade, era uma coleção de diferentes estradas carroçáveis do passado, cujos piores trechos eram atacados pelo poder público para garantir melhor trafegabilidade.
“Esta estrada, longa e sinuosa, sem cortes ou aterros e sem sol, era um dos principais obstáculos para o escoamento da produção que crescia em progressão geométrica”, segundo Roberto Côco Grinet, que também trabalhou na Imapar.
“De 1948 em diante, foram largamente empregados os caminhões Ford F-6, F-7 e F-8 valentes nos atoleiros e nas picadas por onde andavam até chegar ao ponto de carregar os porcos” (Elcio Zanato, História de Corbélia).
Comida argentina, gasolina curitibana
Nas ruas e perto das vilas, o Jeep era o novo “cavalo” dos pioneiros. Depois do antigo “Fordeco” de Nhô Jeca Silvério, o primeiro automóvel a circular pelas clareiras do distrito iguaçuense de Cascavel, ainda em 1948, foi um Jeep* de Florêncio Galafassi.
Portinho contou que saía pela manhã com seu Jeep e chegava a Cascavel pouco depois do meio-dia, mas a volta acompanhando o caminhão carregado nunca seria tão rápida, demorando entre 16 e 17 horas.
Não havia fornecedores locais na região. Pelo rio, chegavam alimentos em latas e conservas vindos de Buenos Aires. O que não vinha da Argentina era preciso trazer de Curitiba.
“A gasolina que nós usávamos para nosso consumo, nossos caminhões, era tudo transportado em tambores. Nós tínhamos quatro caminhões permanentemente viajando daqui para Curitiba buscando gasolina e material”.
Quando a Imapar se transferiu toda para Cascavel, nos anos 1960, Portinho, a esposa Lilita da Fontoura e os filhos Paulo e Leila preferiram continuar em Foz do Iguaçu e desenvolver negócios próprios, com pneus, combustíveis, turismo e pequenos negócios com madeira.
*Jeep era marca da indústria Willys, mas carros similares eram também chamados genericamente de “jipes”.
Madeireiros e ação social
O pessoal que trabalhou na fronteira a serviço da Industrial Madeireira do Paraná veio de diversas origens. Roberto Côco Grinet era argentino, nascido em San Tomé (Corrientes), e desde os 17 anos já vivia em Foz do Iguaçu, onde aos 19 começou a trabalhar na Imapar e pouco depois se casaria com Vicentina Requião, o casal tendo três filhos.
Grinet destacou a participação de Flávio Azambuja Marder na administração da madeireira, que a seu ver “representou o que de mais moderno existiu naquele momento no Sul pais, sucedendo a empresa paranaense M. Lupion – que iniciara a indústria extrativa vegetal (pinho) vários anos antes” (Foz do Iguaçu – Retratos, 1997).
Além de modernizar e ampliar as instalações portuárias de Foz do Iguaçu, a Industrial Madeireira do Paraná “representou muito para o desenvolvimento de Foz, tanto que houve um momento em que muitas decisões comunitárias só foram tomadas depois de ouvida a direção”, segundo Grinet.
“A madeireira também fez atendimento social. Não só aos seus funcionários, mas também à comunidade, tendo inclusive, distribuído cortes de casas populares de madeira de pinho aos necessitados”.
Nesse sentido, a Imapar avançou na concretização dos planos da família Lupion, que agora concentrava esforços para chegar ao Congresso Nacional por meio de seu agente político, o governador Moysés Lupion.
No interior do distrito de Cascavel, novas frentes de colonização se abriam pela iniciativa de colonos que não só adquiriam terras, mas também se dedicavam a ações de infraestrutura.
Neste caso, um dos exemplos mais destacados foi o de Eugênio Kluska, que se meteu no mato com a família ainda em 1948 na região da Corbélia de hoje, então pertencente a Cascavel, construindo estradas e pontes, escolas e igrejas, só adquirindo terras na região quatro anos depois de sua chegada, para constituir lavouras.
O eterno problema da infraestrutura
Famílias chegando em várias frentes só pensavam em trabalhar, mas as crianças cresciam, precisavam de escola e se a juventude geral dos aventureiros não trazia problemas de saúde influenciados pelo transcorrer da idade, acidentes com cobras eram frequentes nas lidas na mata.
Sem médicos nem postos de saúde e raras farmácias em Cascavel e Foz do Iguaçu, os pioneiros levavam seus doentes em penosas viagens de carroção em busca de um dos rezadores afamados, como Francisco Chico Villaca, que foi aprendiz do monge João Maria do Contestado.
Em 1948, no bojo de interesses eleitorais do clã Lupion, foi lançado um plano de obras para a saúde pública, visando aparelhar as unidades sanitárias existentes nos municípios.
“Nessa época, ainda, lançaram-se campanhas de vacinação e de combate à malária, à doença de Chagas, à lepra e à tuberculose. É interessante notar que, no discurso dos governadores, nesses anos, há uma tendência a atribuir parte dos novos problemas a características da população que chega, fazendo do Estado um herdeiro dos problemas do Brasil” (Demian Castro, Mudança, Permanência e Crise no Setor Público Paranaense).
Os problemas, via de regra, eram atribuídos a quem chegava, mas as soluções vinham sempre anunciadas como presentes e virtudes do governo. De qualquer forma, boa base da futura organização do Estado começou de fato com Lupion.
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