Autor: Alceu Sperança

  • Lupion no governo e a incrível família Zardo

    Lupion no governo e a incrível família Zardo

    O ano de 1946 se encerrou no Oeste paranaense com um misto de frustração para quem apostou no sucesso do Território Federal do Iguaçu e também muita confiança por parte de quem esperava que com a reinserção ao Estado do Paraná a região pudesse compensar o atraso sofrido em relação ao Norte, cuja evidente prosperidade se esgotava nos limites do Território Federal, no Noroeste paranaense.

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    “Capital e Território do Iguaçu terminou! Era como a passagem do cometa − deslumbrou no começo e deixou por fim o rabo”, escreveu em suas memórias o engenheiro Władysław Radecki, um dos fundadores de Virmond, na região da Colônia Coronel Queirós.

    “Dissabor, em toda a extensão da palavra. Funcionários sem ser pagos, sem ser exonerados ou despedidos, aguardando o milagre do pagamento por serviços prestados. Interessante: votar a extinção do Território, sem ser levado em consideração o ato final, isto é, pagar, receber, dispor dos bens etc. De modo que esta parcela da União continua como cachorro sem dono, ou cachorro vira-lata. O governador [Frederico Trotta] abandonou o Território (…) sem ser solucionado o futuro do funcionalismo”.

    O governador Trotta nunca mais reapareceu na região. Um ano depois, foi nomeado governador do Território do Guaporé (atual Estado de Rondônia).

    O homem do interior

    A primeira eleição direta no Paraná após a longa ditadura de Vargas se deu em 19 de janeiro de 1947, sob a presidência do desembargador Antonio Leopoldo dos Santos.

    O resultado não causou surpresa nem contestação: ninguém ignorava que Moysés Lupion seria o vencedor. Era o ápice de uma trajetória iniciada em Jaguariaíva, onde ele nasceu, em 25 de março de 1908, filho de João Lupion de Troya e Carolina Döepfer Wille Lupion de Troya.

    Moysés estudou na cidade natal, depois em Castro, Curitiba, Rio de Janeiro e São Paulo. Nesta última formou-se em contabilidade pela Escola Álvares Penteado. Retornou ao Paraná e fixou-se em Piraí do Sul, onde iniciou atividades no comércio, indústria e agricultura.

    Mudou-se para Curitiba para expandir os negócios, já plenamente vitorioso na iniciativa privada. “Sua participação empresarial e comunitária no Estado conferiu-lhe grande prestígio pessoal” (História biográfica da república no Paraná, de David Carneiro e Túlio Vargas).

    Governador chegou rico ao poder

    A caminhada rumo ao poder começa ao se tornar um grande amigo do interventor Manoel Ribas, dando-lhe assistência, especialmente depois de sua deposição do governo, em 1945.

    Mas o que deu a Lupion a chance de se impor sobre o Paraná foi a imensa divisão reinante na política paranaense, com uma guerra de personalidades que nunca parecia ter fim.

    Lupion chegava ao governo do Paraná na condição de um dos homens mais ricos do Brasil. O Grupo Lupion possuía, dentre outras coisas, e só no antigo Território do Iguaçu, três serrarias em Cascavel; dois grandes depósitos de madeira; transporte fluvial com porto em Foz do Iguaçu, exportando a madeira de Cascavel para a Argentina, com 6 barcos e 3 rebocadores.

    Na campanha eleitoral foi dada a conhecer a lista completa de propriedades do Grupo Lupion.

    Fábrica de caixas em Ponta Grossa, além de vários terrenos junto à ferrovia; indústria de ferro em Castro e diversos terrenos; fábrica de fósforos em Piraí do Sul; fábrica de papel e celulose de Arapoti.

    Serraria do Rio do Peixe, incluindo exploração de pastagens e área agrícola; entreposto de Morungava para fornecimento de madeira à indústria de papel e celulose de Cachoerinha. Entreposto em Itararé, SP com desvio ferroviário particular e instalações para beneficiamento de madeira.

    Uma fortuna imensa

    Tinha ainda 70 caminhões, 20 caminhonetes e 11 vagões próprios operados pela então Rede Viação Paraná-Santa Catarina.

    No Oeste, as fazendas Andrada, São Domingos, Piquiri e La Paz, adquiridas da empresa argentina Barthe, além das fazendas Santa Helena e Barro Preto, com mais de um milhão e trezentos mil pinheiros, além de ervais e um porto particular em Foz do Iguaçu,

    Os pinhais em cinco fazendas abrangiam um total de três mil alqueires. Por fim, as diversas embarcações no Rio Paraná e mais duas no Atlântico, que faziam a rota Paranaguá−Rio de Janeiro.

    O deputado Antônio Augusto de Carvalho Chaves, coordenador da campanha vitoriosa, assumiu o governo do estado por pouco mais de um mês, entre 6 de fevereiro e 12 de março de 1947, com a missão de organizar a posse do governador eleito.

    Assuntos pessoais proibidos

    Presume-se que homens ricos não vão roubar no governo porque não “precisariam”, mas geralmente saem de lá mais ricos ainda. Lupion garantiu aos correligionários que enquanto estivesse no poder não permitiria nem aos irmãos ir ao palácio para tratar de assuntos pessoais.

    Queria deixar bem clara a separação entre o interesse público e os interesses privados. No entanto, sua ampla coligação logo iria fazer água, porque havia duas eleições marcadas para os meses seguintes à sua posse: de imediato, a escolha dos deputados estaduais constituintes; e no fim do ano, eleições municipais.

    A posse do governador Moysés Wille Lupion de Tróia se deu em 12 de março de 1947, já com dezenas de apoiadores ansiosos por aparecer nas imagens de instalação do governo para iniciar suas campanhas rumo à Assembleia Estadual Constituinte.

    No ato da posse, Lupion não só reafirmou as promessas de campanha como, empolgado com a campanha pela Constituinte, na qual pretendia emplacar o máximo de líderes mais fiéis, prometeu ainda mais do que já havia prometido na campanha rumo ao governo.

    Enxurrada de promessas

    Já no dia seguinte à posse no Palácio Iguaçu, em Curitiba, o novo governador recebeu os jornalistas para a primeira entrevista coletiva. Prometeu construir em Curitiba uma nova Biblioteca Pública e um majestoso edifício para o Teatro Guaíra.

    Em seu discurso, elencou as duas obras como “exigências mínimas de uma cidade universitária”. Também prometeu estimular a colonização holandesa nos Campos Gerais, etnia que ao chegar ao Brasil, em 1911, logo se revoltou com a diferença entre as promessas feitas pelo governo e a dura realidade que precisaram enfrentar.

    Lupion não chegou a realizar nada do que prometeu na coletiva do dia seguinte à posse. Elas somente seriam cumpridas no governo seguinte, por seu adversário e futuro sucessor – Bento Munhoz da Rocha Netto.

    Atiçados pelas promessas, no interior os carroções não paravam de se deslocar do Sul para o Oeste. Máquinas também chegavam. Com os irmãos Domingos e Hilário Zardo vinham os tratores que iriam abrir a estrada entre Toledo e Palotina.

    Hilário quase morreu em travessia

    Anunciada como um futuro centro de produção de café pela Companhia Pinho & Terra, a atração e assentamento de colonos sulinos na região da atual Palotina ficaria sob a gerência de Domingos Zardo.

    Na viagem para trazer as máquinas, ao chegar ao rio Cavernoso era preciso retirar os tratores dos caminhões para a travessia por dentro da água. Dirigindo o trator, Hilário Zardo por um triz não perdeu a vida em acidente ao atravessar o rio.

    Quando a Companhia Maripá criou a Agro Industrial do Prata Ltda, em Toledo, para montar serrarias na região, Domingos era um dos sócios da empresa e acabou se firmando na gerência. Um líder incontestável, Domingos Zardo inicialmente fixou residência em Toledo e Hilário viria para Cascavel.

    Nascido em 11 de novembro de 1917 em Nova Prata (RS), filho de Fioravante e Vitória Vigo Zardo, família de madeireiros que faziam revendas em Porto Alegre, Domingos seria eleito vereador pelo Município de Foz do Iguaçu em 1951, pelo Partido Republicano, do governador Bento Munhoz da Rocha.

    Domingos foi o segundo prefeito eleito de Palotina, entre 1966 e 1970. É nome de rua em Foz do Iguaçu e de escola em Palotina.

    Vitória, a mãe jamais esquecida

    Hilário Zardo nasceu em 26 de agosto de 1919, em Rio Vermelho, também em Nova Prata (RS). Em Cascavel desde 1946, Zardo sofreu as limitações de uma pequena vila à qual se tinha acesso por uma porteira que quando chovia era fechada para não arruinar a movimentação dos moradores.

    Para evitar aborrecimentos com o encarregado pela porteira, Hilário era obrigado a desviá-la por dentro dos terrenos onde hoje é o bairro Country.

    Foi exatamente ali, terreno que passou a conhecer muito bem, onde Hilário adquiriu cerca de 40 alqueires e instalou um matadouro de gado para atender a cidade de Cascavel.

    Hilário, fundador da Acic em 1960 ao lado de Ferdinando Antônio Maschio e Celso Formighieri Sperança, criou um parque ambiental e um loteamento denominado “Jardim Vitória”, ambos em homenagem à mãe, Vitória Vigo Zardo.

    Em 1961, Zardo era sinônimo de carne em Cascavel. Fundador do Cascavel Country Clube em 13 de abril de 1963, ele doou 24.621m² de terras para a instalação do clube. Aliás, sua participação também está presente na estrutura da Catedral.

    A família Zardo é emblemática do empenho e da participação ativa dos pioneiros na estruturação da sociedade oestina.

     

    Fonte: Fonte não encontrada

  • Nem bandeira o Paraná tinha

    Nem bandeira o Paraná tinha

     

    Depois dos golpes de mestres dos lideres políticos do interior para impor também na capital a candidatura de Moysés Lupion ao governo do Estado veio o apoio conclusivo do próprio presidente Eurico Gaspar Dutra para dissolver as últimas resistências.

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    A montagem de uma poderosa coligação reunindo PSD, PTB, UDN, PRP e também os partidos de esquerda PSB e PCB, torna a candidatura de Lupion irreversível.

    Ironicamente, o próprio partido de Lupion, o sempre rachado PSD, foi o último a se unir em torno de sua candidatura, oficializada em 7 de novembro de 1946.

    A convenção estadual do PTB, que tomou a iniciativa de lançar Lupion ao governo do Estado, também homologou o apoio à candidatura de Moysés Lupion ao governo nesse mesmo novembro, seguido pelos demais partidos e agora só restava aguardar a resposta das urnas.

    Com a conquista final do apoio do conjunto do PSD por meio do influente líder Antônio Augusto de Carvalho Chaves e uma constelação de partidos importantes, estava lançada a base para o início da Era Lupion.

    Nela, o Oeste paranaense teria o apoio necessário para começar a compensar o atraso sofrido em relação ao Norte com o isolamento sofrido nos anos do Território Federal do Iguaçu.

    Ninguém contestou as urnas

    Na capital, o interventor Mário Gomes concluiu os preparativos para transmitir o poder estadual ao futuro governador. Um de seus últimos atos de governo foi dar à Força Policial o nome de Polícia Militar do Estado do Paraná, em 17 de dezembro de 1946.

    No Sudoeste, Francisco Beltrão já começava a se formar. Cascavel, com as duas serrarias de Lupion, progredia sensivelmente. E Toledo já abria o leque de incursões para formar novas e promissoras cidades no interior da antiga Fazenda Britânia. Era efetivamente um novo Paraná que surgia.

    As eleições estão marcadas para o dia 19 de janeiro de 1947. O desembargador Antônio Leopoldo dos Santos (1895–1958) presidia o primeiro pleito direto no Paraná após a longa ditadura de Vargas.

    Aberta as urnas, sem contestações por parte do derrotado, Lupion dobra a votação obtida pelo concorrente, Bento Munhoz: 91.059 votos contra 45.941.

    Movimento pró-Município cessou

    Proclamada a eleição de Moysés Lupion pela coligação formada sob a divisa “Tudo por um Paraná maior”, seu PSD conquista 16 deputados e as agremiações aliadas também elegem vários parlamentares.

    A UDN garante 7 cadeiras. O PTB, meia dúzia. Pela oposição, por sua vez, o Partido Republicano, de Bento Munhoz da Rocha, fez apenas quatro deputados estaduais.

    Para Cascavel, foi um alívio. Com a extinção do Território Federal do Iguaçu e o temor de que a região ficasse abandonada pelo Estado, começou ainda em 1946 um movimento para criar o Município, mas a iniciativa refluiu com a confirmação da vitória de Lupion, já que suas empresas eram os motores do lugar.

    Como Cascavel era 100% sua, Lupion em seguida criou dezenas de municípios em busca de apoio para a continuidade de sua carreira política, mas Cascavel não entrou no rol.

    Poderia parecer desconsideração com uma população majoritariamente ligada a seus interesses, mas havia um motivo racional para isso: a vila era sede de um imenso território distrital e não teria condições de se manter independente de Foz do Iguaçu caso se tornasse Município.

    Madeira e estrada desenham o futuro

    Ainda lentamente, até por conta da madeira, Cascavel crescia também como empório de prestação de serviços e centro comercial da região, com um interior que ia se povoando de forma consistente, embora a vila-sede continuasse minúscula.

    No apagar das luzes de 1946 veio mais um motivo de entusiasmo para a comunidade cascavelense: uma lei dos sonhos entrou em vigor de imediato e veio representar um ótimo impulso para a cidade, combinada com os negócios da madeira e o centro de prestação de serviços.

    A lei nº 10, de 20 de dezembro, autorizava o governo federal a abrir, pelo Ministério da Viação e Obras Públicas, crédito especial de Cr$ 11 milhões para o prosseguimento da construção da Rodovia Ponta Grossa-Foz do Iguaçu.

    As obras foram paralisadas pela ditadura, que desviou recursos daqui para a construção de uma frustrada rodovia dentro do Paraguai. A retomada dos investimentos no Oeste projetava o ano de 1947, definitivamente, como auspicioso.

    A volta da bandeira

    Moysés Lupion toma posse em 12 de março de 1947. Caetano Munhoz da Rocha, governador e pai de Bento, havia abolido autoritariamente os símbolos estaduais em 1923, mas a democracia devolvia ao Paraná sua bandeira:

    “Um quadrilátero verde, atravessado no ângulo superior direito para o inferior esquerdo por uma larga faixa branca contendo a representação da esfera celeste em azul e as cinco estrelas da Constelação do Cruzeiro do Sul em branco. A esfera é atravessada, abaixo da estrela superior do Cruzeiro, por uma faixa branca com a inscrição Paraná, em verde. Circundam a esfera um ramo de pinheiro à direita e outro de mate à esquerda” (decreto-lei nº 2.457, de 31 de março de 1947).

    Não era o resgate da primeira bandeira, que tinha o detalhe vermelho do barrete frígio, símbolo da Revolução Francesa, e o lema positivista “Ordem e Progresso”, copiando a bandeira nacional.

    A bandeira original, proposta pelo líder socialista Manoel Correia de Freitas e aprovada em 1891, foi executada pelo artista Paulo de Assumpção, mas a versão mais difundida tinha só uma estrela e não o Cruzeiro do Sul, retomado pela nova bandeira, como também os ramos de araucária e erva-mate.

    Ações de impacto e visibilidade

    Com o propósito de atuar com firmeza na região do extinto Território do Iguaçu, para evitar que a pregação dos derrotados servidores federais pelo retorno do TFI se alastrasse, em 6 de maio o decreto-lei 635 organiza o Departamento Estadual de Estradas de Rodagem, da Secretaria de Viação e Obras Públicas do Paraná.

    Imediatamente, em 10 de maio de 1947, dá-se a fundação oficial de Maringá, ainda como distrito de Mandaguari. É o primeiro passo para a criação de dezenas de municípios arranjados pelos partidários de Lupion.

    O Paraná rompe a marca de um milhão de sacas de café em 1947, feito comemorado pelo novo governo. Moysés Lupion governava com ideias progressistas, liderando uma ampla coligação e à base de muitos compromissos estabelecidos com cada corrente política participante do arranjo pelo qual o interior se impôs à capital.

    O governo do Paraná reassumiu o controle das regiões do Iguaçu tomando uma decisão importante: criou em 20 de junho de 1947 a Fundação Paranaense de Colonização e Imigração, organização oficial de apoio à ocupação do Oeste paranaense.

    Também em 1947, obra emblemática do novo governo em Cascavel, a Casa Escolar foi reconstruída como Grupo Escolar e Escola Reunida, deixando de ser mantida pela comunidade cascavelense e a Prefeitura de Foz do Iguaçu. O Estado assumiu a manutenção do estabelecimento e o pagamento dos professores.

    O nó da questão agrária

    O ritmo inicial da gestão Lupion é forte e ousado. Colocado sob concessão outorgada pelo governo federal, o Porto de Paranaguá também não escapa ao choque de administração imposto pelo novo governador, logo em suas primeiras ações administrativas.

    O decreto estadual 686, de 11 de julho de 1947, institui um órgão estadual para fazer a administração do Porto em nome do Estado. Além de equiparar o Estado à União na gestão portuária, para completar a retomada do extinto Território Federal do Iguaçu, com a Fundação Paranaense de Colonização e Imigração Lupion também se sobrepunha a normas federais.

    A burocracia do Estado e suas providências se chocavam com velhas regras federais e multiplicaram os conflitos entre os posseiros incentivados por Manuel Ribas e os grileiros, ligados a interesses paulistas, que se intensificava nas disputadíssimas terras do Norte paranaense, altamente propícias à cultura cafeeira.

    Um grupo armado tenta retomar em agosto a Fazenda Guaracy, cujos ocupantes reagem a bala, deixando um saldo de vários mortos e feridos.

    “O tiroteio prolongara-se por alguns dias. Os caboclos enviaram suas famílias para recantos mais longínquos e permaneciam atocaiados pelos picadões, com o dedo no gatilho, a fim de defender suas posses contra novos assaltos” (Cecília Maria Westphalen, Altiva Pilatti Balhana e Brasil Pinheiro Machado, Nota prévia ao estudo da ocupação da terra no Paraná Moderno).

    Conflito no Norte e a “Secretaria do Oeste”

    Em Porecatu, na área do Grilo Barra do Tibagi, cerca de 1.500 famílias de posseiros rebelados resistem à repressão por alguns meses, na região entre os rios Paranapanema, Centenário, Ribeirão do Tenente e o leito da estrada entre Porecatu e Centenário do Sul.

    Ainda sem resolver os problemas do Norte, o governo planeja a ocupação do Médio-Oeste, onde já está em curso um projeto bem conduzido na área da antiga Fazenda Britânia, adquirida pela colonizadora gaúcha Maripá.

    A primeira medida concreta do governo para organizar essa colonização planejada é a criação do Departamento Administrativo do Oeste do Paraná, em outubro de 1947.

    A lei 4 de Lupion determina que o Departamento do Oeste será formado pelos municípios de Foz do Iguaçu (que inclui Guaíra, o distrito de Cascavel e a vila de Toledo), Laranjeiras do Sul, Mangueirinha e Clevelândia. Substitui, assim, a estrutura de apoio à colonização na parte paranaense do extinto Território Federal.

    Resolveria vários problemas e criaria novos, mas entregou a principal promessa feita com a criação do DO, que seria a integração efetiva do Oeste ao conjunto do Paraná.

    Fonte: Fonte não encontrada

  • Interior venceu Curitiba com golpes de mestres

    Interior venceu Curitiba com golpes de mestres

    Limitando-se a manobrar na política da capital, o “General da Vitória”, como anunciava a propaganda de José Agostinho dos Santos, foi bombardeado pela mídia do riquíssimo Moysés Lupion, comandada pelo influente major Fernando Flores, o articulador do grupo, apoiado por um reforço decisivo: o presidente do PSD, Antônio Augusto de Carvalho Chaves.

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    Uma espécie de general civil, Chaves reinou por várias legislaturas no Congresso Legislativo, correspondente à Assembleia de hoje. Nascido em Macaíba (RN), em 26 de março de 1875, formou-se em Ciências Sociais e Jurídicas pela Faculdade de Direito de São Paulo, turma de 1895, vindo, a seguir, para Curitiba.

    No ano seguinte já foi nomeado secretário de Estado do Interior, Justiça e Instrução Pública. Em 1900, secretário de Estado dos Negócios das Finanças, Comércio e Indústria. Elegeu-se deputado federal, mas em 1906 preferiu concentrar seu poder no plano regional.

    Foi novamente secretário da Fazenda, Comércio e Indústria no primeiro governo revolucionário estadual, em 1931. Elegeu-se, outra vez, deputado estadual em 1935 até o Estado Novo, sempre na presidência da Assembleia Legislativa.

    De junho de 1935 a julho do mesmo ano, ocupou, interinamente, o governo do Estado. Foi também membro do Conselho Administrativo (secretariado estadual) durante o governo do interventor Manoel Ribas e presidente do diretório regional do PSD, partido que liderou até a morte, em 1949.

    A candidatura única de consenso

    O general Santos foi oferecido pelos curitibanos para a candidato único no Estado, inclusive com o apoio do PSD e do PTB, agremiações criadas e comandadas pelo ex-presidente Getúlio Vargas.

    O general Santos não era um candidato frágil. Foi brilhante como organizador no Ministério da Guerra e cumpriu missões militares no Sul, inclusive em Bagé, cidade natal de Vargas.

    No entanto, sua permanência no Distrito Federal e no Pará não lhe permitiram uma vivência próxima do Paraná multifacetado, composto por regiões novas, como o Norte, Noroeste, Oeste e o Sudoeste.

    A candidatura desse militar brilhante foi proposta para ser o consenso dos líderes curitibanos na intenção de impedir Lupion de se afirmar como o líder representativo de todo o Paraná.

    À sombra do ex-líder Manuel Ribas, entretanto, Lupion só precisaria acertar o apoio unido do PSD, já que o PTB nasceu na manga do colete de Ribas dentro do escritório que Lupion lhe ofereceu depois de ser deposto do governo.

    A equipe de Lupion comprou a ideia da candidatura única, mas vendeu Lupion para ser o candidato. O PSD curitibano e outras forças políticas da capital consideravam vital a tese da candidatura única para unir o Estado, mas inicialmente consideravam que eleger um amigo do presidente Dutra, caso do general Santos, seria interessante para o futuro do Paraná.

    Fake news abalaram o general

    Só havia um jeito para Lupion assumir a posição de candidato único: o jogo do tudo ou nada. Tudo seria desqualificar a candidatura única do chefe militar e entrar no vácuo, o nada que lhe permitiria ser o candidato de todo o Paraná.

    Com todo o interior já garantido pela profusão de empresas que espalhou por todo o território, motores para o desenvolvimento de cada localidade em que se instalara, como Cascavel, Lupion só precisava arrematar a capital, o que passava por conquistar o apoio majoritário do ainda estilhaçado PSD.

    A solução para os lupionistas foi insinuar a suposta tendência do general Santos a pender, por subordinação hierárquica, ao autoritarismo do governo Dutra, que oprimia os trabalhadores.

    Não era o caso, até porque o general Santos desde o princípio se dispôs a apoiar as classes trabalhadoras e o PTB também já concentrava as bases getulistas, preparando o retorno de seu cacique nacional à Presidência da República. A rápida ascensão de Santos na carreira militar, aliás, havia começado em Bagé, terra natal de Vargas.

    Como Santos se salientou durante a ditadura, os partidos novos de Vargas preferiam uma opção também nova, com a cara da social-democracia ainda pura, que teria mais justiça social que o capitalismo norte-americano e mais liberdade que o regime soviético.

    Nem o general era autoritário, nem o PSD era tão puro quanto se dizia, mas venceu a informação distorcida disseminada pelas redes sociais da época: rádio e jornal.

    As três alas internas do PSD

    Grande partido do Paraná forjado depois da Revolução de 1930, o PSD viveu nos anos 1940 uma intensa disputa interna entre as alas que traziam traços da herança autoritária de Vargas e as correntes mais próximas da social-democracia europeia.

    Os únicos obstáculos ao projeto social-democrata estavam dentro do próprio PSD, dividido em três alas. A primeira delas era chefiada pelo ex-interventor Pinheiro Machado, afilhado político de Manuel Ribas, com grande peso na máquina do Estado.

    Outra, a ala lupionista. Depois de ter feito uma sólida amizade com Manuel Ribas nos últimos dias de vida do antigo interventor, Moysés Lupion crescia em riqueza e apoio no interior do Estado, inclusive no vencido Território do Iguaçu. Por fim, a ala que defendia a tese do candidato militar único, que seduzia a capital.

    Faltava, entretanto, um elemento capaz de desequilibrar as forças em favor de um dos lados. Esse elemento seria também uma herança do falecido Manuel Ribas.

    O fator trabalhista

    O entra e sai de líderes nacionais nos últimos dias de vida do ex-governador na sede PSD, instalada por Ribas em sala cedida por Lupion, gerou um fruto que o futuro líder paranaense saboreava com prazer.

    A criação do Partido Trabalhista Brasileiro (PTB), que pretendia representar os operários e “descamisados”, acontecera justamente no interior de uma das numerosas empresas do rico Moysés Lupion.

    O apoio dessas lideranças partidárias nacionais vai efetivamente desequilibrar o quadro, construindo uma ampla coligação partidária concentrada em torno de Lupion.

    Embora com o PSD ainda rachado internamente após a morte de Manuel Ribas, as relações que ele teceu foram a chave para o início da Era Lupion, mediante uma costura comandada pelo interventor Mário Gomes.

    A mão do militar baiano, que inicialmente se anunciara neutro, é notada ao conduzir os arranjos para a montagem da grande coligação, da qual estará ausente apenas o Partido Republicano de Munhoz da Rocha.

    Ao se unir internamente, o PSD sustentou em favor de Lupion a ideia-base da candidatura única e assim se formou um amplo arco de partidos, que iam desde as viúvas da ditadura e de Ribas até os comunistas, aliados ao PTB no movimento sindical.

    No vácuo da oligarquia Camargo-Munhoz

    Levar Lupion ao poder com um mínimo de resistência se desenhava como vitoriosa porque o outrora poderoso Partido Republicano, expressão política das oligarquias do Estado, continuava desarrumado pelo golpe sofrido com a deposição de Affonso Camargo na revolução de 1930.

    Mesmo sendo o herói paranista que resgatou para o Estado a porção tomada pelo Território do Iguaçu, o professor Bento Munhoz da Rocha Neto, herdeiro da tradição Munhoz-Camargo, também sabia que o momento era do PSD.

    Dispunha-se, assim, a concorrer ao governo apenas para deixar o nome bem marcado para o próximo pleito.

    A partir daí a situação vai se consolidar com uma onda de novos apoios. Ninguém mais fala no “General da Vitória”, que em julho de 1946 foi designado para comandar a Zona Militar do Norte, futuro Comando Militar do Nordeste. O militar sequer veio ao Oeste em campanha.

    A coligação quase unânime forjada com o aval do interventor Mário Gomes, porém, não teve uma engenharia simples. Começara com um forte jogo estratégico, primeiramente entre as alas do professor Brasil e do empresário Lupion.

    A cartada decisiva

    Foi no “vão” entre as duas que penetrou a proposta da candidatura militar de consenso. Criado o impasse entre as três alas social-democratas, ergueu-se a voz do presidente do PTB, Maximino Zanon: ele se antecipa e lança Lupion como candidato “trabalhista”. Era o peso que faltava na balança sucessória.

    Ex-alfaiate e várias vezes campeão estadual de futebol, Zanon também atuava nas sociedades beneficentes operárias. Por sua vez, o advogado Oswaldo Queiroz Guimarães, futuro chefe da Casa Civil do governo, abriu o jogo de vez:

    “Não é mais segredo para todo o interior; está sendo trabalhado no sentido de formar ao lado do prestigioso membro da Comissão Executiva Industrial, que é de larga projeção no Estado e destacado elemento social – Moysés Lupion – que, além do mais, conta com integral solidariedade do Partido Trabalhista e fortes simpatias de mais poderosa ala udenista. A opinião paranaense está definida”.

    De fato, depois de ganhar facilmente o PTB, Lupion recebeu a adesão da UDN, que tinha como líder Othon Mäder. Ex-secretário de Terras do Estado e ex-prefeito de Foz do Iguaçu, Mäder em 1931 projetou a cidade de Cascavel mesmo a vila tendo apenas quatro casas. A Cascavel que em breve daria a Lupion 100% dos votos na eleição.

    Fonte: Fonte não encontrada

  • No caminho de Lupion se levantou um general

    No caminho de Lupion se levantou um general

    Os acontecimentos da política palaciana em Curitiba na transição da ditadura Vargas para a democracia precária do pós-Guerra teriam influência decisiva para o futuro do Oeste paranaense.

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    No momento em que Ribas foi deposto, em 1945, um pelotão de correligionários de Lupion já havia partido para lhe dar proteção, de modo que pudesse abandonar ileso o Palácio São Francisco, sede do governo.

    Sabia-se que haveria manifestações de desafetos que poderiam chegar às raias da violência. Os servidores demitidos por Maneco Facão, apelido de Ribas, que descartava sem pestanejar funcionários públicos resistentes a seu esquema de poder, protestaram com ira e energia.

    Na saída, os manifestantes jogaram pedras sobre o ex-interventor. Próximo a Ribas, um jovem goleiro de 18 anos, que trabalhava em uma indústria farmacêutica, agarrou uma dessas pedras em pleno ar: Celso Formighieri Sperança.

    Grato por ser salvo da pedrada, Ribas chamou Sperança para se juntar à equipe. Virá desse contato o início da imprensa em Cascavel e muito mais.

     

    Filhos de pioneiros e imigrantes

    Então já protegido, Ribas recebe de Lupion a principal sala de sua empresa em Curitiba para instalar o QG do PSD. Aliás, o PSD que se oficializou em 1945 era o mesmo staff ribista que já governava o Paraná desde a década de 1930.

    O rumo dos acontecimentos na capital devolvia a Jeca Silvério parte da influência perdida com o Território do Iguaçu porque à sociedade “cabocla”, no dizer de Sandálio dos Santos, juntava-se uma comunidade de filhos e netos de imigrantes com lembranças dos confortos que experimentaram nas florescentes cidades do Sul.

    Estudando em boas escolas, com ascendente padrão de vida na região de colonização italiana no Sul, os jovens traziam em suas visitas aos pais em Cascavel, nos períodos de férias, o anseio de conquistar também para o Oeste paranaense aquele padrão.

    Os filhos das famílias pioneiras também cresciam e se associavam aos filhos dos imigrantes primeiro em travessuras e depois em esportes e logo também iriam se associar – ou divergir – na política.

     

    O legado de Manuel Ribas

    Embora Moysés Lupion ainda não fosse aceito por outros caciques pessedistas, o ex-governador Ribas já o estimava e recebia nos domínios lupionistas as principais lideranças nacionais.

    Havia algo mais, porém. Ali, Ribas também articulava a criação do Partido Trabalhista Brasileiro. O futuro centro do populismo trabalhista no Paraná brotava, visivelmente, nas entranhas do conservador PSD.

    Assim, germinando no interior de uma das dezenas de empresas da família Lupion, o PTB, criado nacionalmente em maio de 1945, depois será o fator decisivo para a candidatura de Moysés Lupion ao governo.

    Maximino Zanon e Abilon de Souza Naves (1905–1959), ligados a Lupion por um amigo comum – Raul Vaz – assumem o comando do PTB no Paraná, mas a manobra é percebida pelos adversários.

    “O PTB do Paraná está dominado por alguns cidadãos sem cultura, sem projeção nem consciência política. Estão submissos ao sr. Moysés Lupion de Tróia, do diretório estadual do PSD. [Ele] custeia as principais despesas do partido, sendo assim o mesmo perdeu sua autonomia. Estão fazendo do partido um rendoso negócio, nem ao menos admitiram a candidatura de ilustre sr. Ivo Leão, que sempre esteve em defesa dos trabalhadores” (jornalista Roberto Barrozo, Diário da Tarde, Curitiba, 4 de novembro de 1946).

    Ao morrer, em 28 de janeiro de 1946, Manuel Ribas deixava o PSD e o PTB imantados por sua personalidade forte. Assim, fosse com Pinheiro Machado ou com Lupion, de qualquer forma Ribas deixava um sucessor. Seu legado estava assegurado por herança.

     

    Defeito: ser do interior

    Ironicamente, se o nascimento do PTB no Paraná se deu nas vésperas da morte de Ribas, seu fracasso político viria depois como consequência da morte de outro líder: o mineiro Abilon de Souza Naves.

    Considerando que o interventor Mário Gomes tendia no mínimo a ser um elemento neutro, a operação de Lupion para chegar ao poder estava em plena marcha.

    Líder do PSD, o major Fernando Flores estruturava o partido no interior, onde ainda era forte o prestígio do falecido Manuel Ribas. Restava aos lupionistas resolver o antagonismo dos curitibanos à ideia de suportar mais um interiorano à frente do governo estadual.

    O ponta-grossense Ribas foi imposto por Vargas e o também ponta-grossense Brasil Machado acabara de sair do governo para preparar a própria candidatura. Como o jaguariaivense Lupion era a alternativa a Machado, as elites curitibanas tentam encontrar uma saída.

    Para Curitiba, Machado ou Lupion apenas manteriam o arranjo armado por Manuel Ribas e pelo ex-ditador Vargas, que manobrara a formação de seus dois fortes partidos de apoio: PSD e PTB.

     

    Jornais eram “comitês” eleitorais

    Lupion, ao chegar rico à capital, era ainda visto com maus olhos pelas oligarquias tradicionais. Elas já haviam engolido Ribas, imposto por Vargas, e não gostariam que isso voltasse a acontecer em uma escolha democrática.

    Mas por mais que tentassem, não haviam alcançado êxito na tratativa de encontrar um nome civil eleitoralmente forte de Curitiba para disputar o governo pelo PSD de modo a conjurar as chances dos interioranos Lupion e Machado de continuar no governo.

    A opção que resta é forçar uma candidatura militar. Afinal, Dutra presidia o Brasil e era um general. Na imprensa claramente controlada pelos interesses eleitorais, a Gazeta do Povo, jornal do próprio Moysés Lupion, trocava farpas com o Diário da Tarde de Roberto Barrozo, seu inimigo.

    Nascido no Rio de Janeiro, Roberto Plens Ferreira Barrozo (1895–1965) foi chefe da Polícia no Estado antes da ditadura e depois também um jornalista com lado definido, intransigente e mordaz.

    Com esse quadro, estão sacramentados dois grupos em choque no interior do PSD: de um lado, Pinheiro Machado; do outro, o major Flores. Mas se o Paraná inteiro já vai fechando com Lupion, dentro de seu próprio PSD a situação ainda era desconfortável.

     

    A tese da candidatura única

    As bases lupionistas encontraram a chefia do partido comprometida com Brasil Pinheiro Machado, mas pretenderam virar o jogo cooptando as lideranças do interior. O Oeste do Paraná, por exemplo, era um terreno desconhecido para os líderes curitibanos, mas se tornara o quintal do lupionismo.

    A ala de Pinheiro Machado tentou a manobra de desqualificar o empresário Moysés Lupion como um arrivista recém-chegado a Curitiba, sem condições de assumir a função de comandante do Estado por desconhecer a realidade do governo. “Que interesses reais Lupion representa?”, perguntam os adeptos do professor Brasil.

    Lançando suspeições sobre Lupion, Pinheiro Machado dá mais uma cartada agressiva, acusando o projeto de Lupion de ser um “golpe”. Mas o ataque já é um sinal de fraqueza, que apenas fortalece a tese curitibana do candidato militar.

    O QG de Lupion, contudo, sente o abalo: uma candidatura militar em País governado por um general de quem o candidato já havia sido chefe de gabinete no Ministério da Guerra poderia se robustecer, representando um sério problema para seu projeto.

     

    A cartada de Brasil Machado

    Pinheiro Machado, ao sentir o avanço de Lupion, tentou enfim uma saída desesperada em 7 de outubro de 1946, anunciando sua opção pelo candidato militar.

    Argumentando que as Forças Armadas garantiram as eleições livres no País e mereciam essa homenagem, os curitibanos propõem o nome do general José Agostinho dos Santos para o cargo de governador constitucional do Paraná, na condição de candidato único.

    Nascido no Paraná em 7 de abril de 1885, aos 17 anos José Agostinho já estava integrado ao 6° Regimento de Artilharia de Campanha, em Curitiba. Em 1903 foi cursar tática no Rio Grande do Sul e em 1909 serviu no 12° Regimento de Cavalaria Independente, em Bagé.

    De volta a Curitiba como segundo tenente em 1912, no 2º Regimento de Artilharia Montada, teve uma carreira admirável, combinando o sucesso em cursos com brilhantes missões exercidas. Sua ligação com o presidente Dutra começou na Revolução Constitucionalista, em 1932, quando foi promovido a tenente-coronel.

    Com a ditadura Vargas, em 1937, Santos acompanhou Dutra como chefe de gabinete no Ministério da Guerra, com a atuação que lhe valeu o generalato em 1941 e retornar a Curitiba como comandante da Infantaria Divisionária da 5° Divisão de Infantaria.

     

    O calcanhar de Aquiles

    Seria difícil derrotar um militar nativo do Paraná que por méritos se tornou tão próximo ao presidente Dutra. E como achar defeitos em um militar que sempre se destacou em tudo que fez?

    Durante a Guerra, embora inicialmente contrário, o general Santos autorizou a permanência na fronteira das famílias italianas Basso e Palma, hostilizadas por suspeitas sem provas de que seriam colaboradores do fascismo italiano.

    Defendidas por Valdrido Pilotto como famílias sem atividades políticas extremistas e com positiva atividade na comunidade oestina, o general consentiu em abrir exceção para algumas famílias hostilizadas pela ditadura, permitindo que continuassem a viver em paz em Foz do Iguaçu.

    O general Santos, porém, sofria do mesmo mal que outras autoridades curitibanas, tomando decisões referentes ao interior por ouvir dizer, sem conhecer a realidade regional.

    Vender Lupion como um homem de todo o Paraná surgiu como arma para enfrentar candidatos limitados aos bastidores da capital paranaense, mas o general Santos não era qualquer um. O jogo ainda estava aberto.

    Fonte: Fonte não encontrada

  • O Oeste volta a ser paranaense

    O Oeste volta a ser paranaense

    Com a extinção do Território Federal do Iguaçu, em setembro de 1946, Cascavel voltava a fazer parte do Estado do Paraná e a comunidade se voltava às atividades madeireiras, que também pautavam a expansão do comércio e dos serviços.

    Por sua vez, chegados recentemente, para ter influência em um Estado já tradicional em seu litoral e capital, com um Norte que se fortaleceu enquanto o Oeste patinava no Território Federal, os gaúchos da Companhia Maripá passaram a intensificar seu projeto de colonização, comércio, indústria e influência política.

    No entender do advogado José Bernardo Bertoli, o projeto da Maripá era transformar a cidade de Toledo no polo regional do Oeste, iniciativa que nos primeiros anos não causou qualquer comoção em Cascavel.

    Para o líder local Jeca Silvério, parentes e amigos com postos de prestação de serviços na vila e no interior, o progresso de Toledo também servia a Cascavel: os trabalhadores da Maripá já em serviço na Fazenda Britânia eram clientes de seus produtos coloniais.

    A compatibilidade entre cascavelenses e toledanos se refletia também na política, já que os líderes toledanos se inclinaram a participar da mesma corrente política em que já estavam os líderes cascavelenses Horácio Reis e José Neves Formighieri: o Partido Trabalhista Brasileiro (PTB).

    Lupion atrapalhou a harmonia regional

    No entanto, a comunidade italiana cascavelense, cujos negócios concorriam com as empresas dos mesmos ramos que se formavam em Toledo, reagiria depois às tentativas da Companhia Maripá de desviar a rodovia federal para que passasse ao Norte de Cascavel e de criar o Município de Toledo tendo a vila de Cascavel como seu distrito.

    Assim, com a criação dos dois municípios e a definição da rodovia seguindo quase o mesmo traçado da atual, somente retirada mais tarde do centro histórico de Cascavel por necessidades urbanísticas, os líderes de Cascavel e Toledo caminhavam juntos, ligados ao mesmo PTB de Horácio Reis e Willy Barth, o líder toledano.

    Os atritos e rivalidades entre Cascavel e Toledo só começaram quando o PTB perdeu as eleições de 1956 em Cascavel e Toledo, por pressão do novo homem forte do Paraná – Moysés Lupion, que depois de inicialmente apoiado pelo PTB optou pelo PSD, iniciando uma forte rivalidade entre os dois.

    Durante uma década, porém, ainda em 1946 e anos seguintes as necessidades de Cascavel e Toledo eram exatamente as mesmas e começavam pela urgência de superar o atraso em relação ao Norte decorrente da paralisia nos três anos de vigência do Território Federal.

    À espera de eleições sem ditadura

    Com a estrela política ascendente de Lupion e a renúncia de Brasil Pinheiro Machado ao governo do Paraná, em 6 de outubro de 1946, caberia ao presidente Eurico Dutra nomear um novo interventor.

    Para preparar o terreno até a posse do futuro indicado, assume o governo o lapeano João Cândido Ferreira Filho (1896–1992).

    Secretário da Agricultura nos governos de transição de Clotário Portugal e do próprio Brasil Machado, o professor João Cândido lecionava agronomia diretamente sobre a terra, sem aulas em sala.

    Era herdeiro político do médico João Cândido Ferreira, que também já havia governado o Paraná – um dos heróis da campanha da Lapa, na qual o general Gomes Carneiro tombou em defesa da República.

    Dutra tirou da cartola um de seus homens de confiança: o tenente-coronel baiano Mário Gomes da Silva (1898–1894), que havia sido seu ajudante de ordens quando foi ministro da Guerra. Desde Zacarias Vasconcelos o Paraná estava acostumado a ter baianos no governo.

    Revolucionário de 1924 e 1930, o tenente-coronel Mário Gomes foi a aposta do presidente Eurico Dutra para conciliar as diversas correntes políticas em disputa e evitar que o governo do Paraná caísse nas mãos da oposição, pois pelo menos desta vez as eleições seriam livres e diretas, sem a manipulação habitual feita pela ditadura, na qual a máquina de governo é usada pelo grupo dominante.

    Gomes conhecia Curitiba muito bem

    Em 26 de setembro de 1946 houve a intervenção federal. Gomes recebeu do presidente Dutra a missão de apaziguar a efervescente política paranaense e assumiu logo em 6 de outubro com a promessa de presidir as eleições de janeiro do ano seguinte como um magistrado.

    Dutra sabia que Gomes não era um desconhecido no Paraná. Além de participar de operações na Guerra do Contestado, o novo interventor havia servido na 5ª Região Militar, em Curitiba, como subchefe de estabelecimentos de Fundos do Exército.

    Ao assumir o governo do Paraná, Mário Gomes completava todo um ciclo iniciado em 1924, quando os revolucionários paulistas viram liquidado em solo araucariano o sonho de reformar um Brasil minado pela corrupção.

    Participante de vários combates revolucionários, Mário Gomes da Silva representava a volta por cima dos tenentes que inflamaram o País no passado. Mas a democracia com a qual os revolucionários de 1924 haviam sonhado não foi a mesma alcançada com a vitória da revolução em 1930, que na mesma década resvalou para a ditadura.

    Poucos eleitores votaram

    As ilusões se esvaíram e era preciso governar com menos ideologia e mais eficiência. Nesse sentido, o coronel Mário Gomes da Silva foi cirúrgico. Ao assumir o governo do Paraná compôs um secretariado pluripartidário, representativo de diversas forças políticas.

    Em novembro de 1946 ele assinava o decreto-lei 533, restaurando a autoridade paranaense nas regiões Oeste e Sudoeste, antes tomadas para compor o Território Federal do Iguaçu.

    Determinando as medidas necessárias para completar a passagem das tarefas da União para o Estado, o decreto do interventor federal devolvia as comarcas e municípios de Foz do Iguaçu e Clevelândia ao Paraná.

    Como Cascavel fazia parte de Foz do Iguaçu e voltava a ter seu nome original, que os chefes do Iguaçu tentaram mudar para “Guairacá”, a iniciativa foi recebida pelos líderes cascavelenses como uma espécie de decreto para a retomada do poder exercido por Jeca Silvério entre 1930 e a criação do Território do Iguaçu.

    No entanto, o poder exercido por Silvério, na verdade, vinha do prefeito, sempre nomeado, de Foz do Iguaçu. Com a eleição livre de 1947 e a posse do prefeito Júlio Pasa, o poder se dividiu entre os nove vereadores eleitos.

    Silvério, Pompeu, Amaral e Ruaro 

    Concorrendo à Câmara Municipal pelo PSD, Jeca Silvério só foi menos votado que João Camargo e o médico Dirceu Lopes, com mais votos até que Acácio Pedroso, que havia sido prefeito de Foz do Iguaçu.

    No entanto, Silvério ficou na primeira suplência da Câmara porque na época nem houve campanha eleitoral. No interior, onde morava 90% da população, sequer havia urnas disponíveis. Votou quem se interessou e estava na vila no dia da eleição.

    Quando havia vaga na Câmara de Foz, Silvério raramente era chamado a tempo de poder se preparar e seguir a Foz do Iguaçu em longa e penosa viagem para assumir a vereança. Para sorte de Cascavel, a família Pompeu tinha ótimas relações com Pasa, o prefeito eleito.

    Quem defendia Cascavel de fato na Câmara de Foz do Iguaçu era o vereador Antônio Alves do Amaral, da UDN. Também era suplente, mas assumia sempre a cadeira e atuava por orientação do líder toledano Alfredo Ruaro, que também tinha colonizações na Rota Oeste.

    Apoio do Além

    Nessa época, todo o Oeste paranaense pertencia a Foz do Iguaçu, mas o novo interventor ainda tinha pouco entendimento real sobre o conjunto do Estado.

    Nos papéis da mesa do interventor Gomes tudo parecia calmo e pacífico, mas no interior os colonos atacados pelos jagunços das colonizadoras sentiam a omissão do governo, cuja disputa com a União prejudicava os mais fracos, sem meios para se defender.

    Gomes pretendeu assumir o perfil de um gestor de transição e se atribuiu o papel de magistrado, mas não conseguiu manter essa disposição até o fim porque o ex-interventor Brasil Pinheiro Machado, afilhado político de Manuel Ribas, com habilidade montou a própria candidatura ao governo com base no secretariado de seu sucessor.

    Esbarrou, entretanto, em um forte obstáculo: o major gaúcho Fernando Flores, compromissado com o empresário Moysés Lupion e chefe de uma das alas do PSD, partido criado em julho do ano anterior.

    Entre os adversários Machado e Lupion pairava o espectro de Manuel Ribas, morto no fim de janeiro. Padrinho político de Pinheiro Machado, mas nos últimos anos feito amigo íntimo de Lupion, Ribas teria dito alguns dias antes de morrer que o magnata de Jaguariaíva era “o homem ideal” para prosseguir a sua obra no Estado.

    Era voz corrente que em seus últimos dias de vida Manuel Ribas abandonou o afilhado Brasil Machado para se ligar a Lupion. As provas do envolvimento do ex-chefe do Paraná com o novo rico paranaense apareciam em imagens de visitas e trocas de gentilezas.

    O marketing político faz milagres. A antes provável volta de Brasil Machado ao governo virou pó. Toda essa trama política, ao beneficiar Moysés Lupion, naquele ano de 1946 praticamente o dono de Cascavel, terá consequências decisivas para o futuro do Oeste.

    Fonte: Fonte não encontrada

  • A história de irmãos que fizeram história

    A história de irmãos que fizeram história

     

    Com as debilidades deixadas nos serviços públicos pelo extinto Território Federal do Iguaçu em 1946, ano em que começa o longo processo para a reparanização das regiões Oeste e Sudoeste, a Madeireira M. Lupion sentiu a necessidade de prestar atenção em saúde às famílias de dezenas de empregados distribuídos entre as serrarias da empresa, a administração geral e seu estratégico setor de transportes. 

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    Parte importante dessa iniciativa foi reforçar o setor de serviços urbanos de Cascavel com aquisições e contratar o enfermeiro Jorge Pereira do Valle para prestar atendimento de saúde aos operários.

    Na época, os enfermeiros conseguiam se habilitar ou se provisionar como farmacêuticos e montavam seu próprio negócio.

    Ao vir para morar na vila, então uma sede distrital pertencente ao Município de Foz do Iguaçu, Jorge adquiriu a Farmácia Santa Terezinha, de Antônio Massaneiro, cujo nome mudou para Farmácia São Jorge, praticamente um posto de saúde.

    Ficava na Rua Moysés Lupion, atual Sete de Setembro, diante da futura Praça Wilson Joffre, onde mais tarde ficaria a loja Bigolin.

    Nascido em Tijucas do Sul, na Região Metropolitana de Curitiba, em 27 de março de 1920, filho dos agricultores Tobias Pereira do Valle e Ana Isabel do Valle, logo após completar o curso primário Jorge do Valle foi indicado por um parente para trabalhar com a Comissão de Estradas de Rodagem (CER-1), que construía a rodovia federal Estratégica, hoje BR-277.

    Ele auxiliava os seis enfermeiros destacados para prestar atendimento aos operários ao longo das obras.

    Travando conhecimento com Cascavel em 1946, encantou-se com a cidade e sua gente, decidindo ficar ao ser convidado pela Madeireira M. Lupion a prestar atendimento de saúde aos operários.

    O clamor pela infraestrutura

    A necessidade da madeireira de superar as deficiências do setor público já estava clara desde que a União afastou o Estado do Paraná das tarefas que desenvolvia, sobretudo em colonização, antes da criação do Território Federal do Iguaçu.

    Depois, com os contratempos enfrentados pela gestão federal e a nova guinada com o retorno da região ao Estado do Paraná, não restava outra saída à iniciativa privada a não ser tapar os buracos deixados pela ausência da estrutura pública.

    Assim, desde 1946 até o final da década de 1950, a expansão da cidade e do interior se deveu às encomendas de madeira primeiro para a reconstrução da Europa no pós-Guerra e depois para dar suporte às obras de Brasília, tendo a Madeireira Lupion suprido até seu limite as deficiências do poder público.

    Em 1946, finalmente, Cascavel passaria a contar com um aeroporto mais condizente com as necessidades cada vez maiores da técnica aeronáutica da época.

    Os trabalhos de reparos na pista, antes promovidos através de vagonetes, a partir de 1946, sob a orientação do engenheiro Jorge Muniz, passaram a ser feitos através de uma frota de gaiotas, dirigidas por Diamantino Saraiva.

    O empreiteiro Sarauva teve dois auxiliares de destaque: os irmãos Paulo “Dodô” e Amadeu, filhos de Manoel Ludgero Pompeu e Idalina Rodrigues Pompeu, a Dinoca.

    Os dois tiveram mais dez irmãos: Linz, Lélis, Alvina, Adélia, João, Theonília, Judite, Terezinha, Julita e Alberto, o Beto, todos, assim como os pais, presenças ativas na formação de Cascavel.

    Irmãos Pompeu e irmãs Lopes

    Manoel Ludgero Pompeu foi uma das mais importantes personalidades históricas do Oeste paranaense. As coincidências entre sua biografia e a de José Silvério de Oliveira são consideradas por muitos fora do comum e até místicas.

    Os filhos de Manoel Ludgero também fizeram muita história e sua relação com a família Lopes os liga à primeira família que se radicou na futura Cascavel, muito antes da formação da cidade, os Elias/Schiels.

    Paulo Rodrigues Pompeu, o Dodô, nasceu em 15 de dezembro de 1924, em Guarapuava. Sua vinda a Cascavel se deu em 1942, para trabalhar na casa comercial do cunhado Horácio Reis.

    Inquieto, Dodô sempre se dedicou a múltiplas atividades. Foi relojoeiro e radiotécnico, trabalhou no setor de transportes com os irmãos Amadeu e João Aguiar.

    Também foi tesoureiro na primeira administração municipal, do prefeito José Neves Formighieri, e sócio-gerente do primeiro jornal da região, o “Correio d’Oeste”, de Celso Formighieri Sperança.

    Amante de festas e diversões, no início de Cascavel era ele quem organizava tudo, sendo um dos principais companheiros do sargento José Rufino Teixeira, da Aeronáutica, na formação do Tuiuti, clube que presidiu em 1955, além de ser membro ativo da Associação Rural de Cascavel, origem do cooperativismo cascavelense.

    Múltiplas atividades

    Ele e o cunhado Horácio jogavam futebol e Dodô, considerado um craque, desde o início puxou a formação do time do Tuiuti. Também dirigiu o primeiro bar interno do Tuiuti e morava atrás da sede do clube com José Lopes, filho do também fundador do clube Aníbal Lopes da Silva.

    Este, por sua vez, era irmão de Laurentina da Silva Lopes Schiels, integrante da primeira família que se instalou em Cascavel, ainda em 1922. Dodô se casou com Emília, filha de Aníbal, com quem teve cinco filhos.

    Professor de Matemática. Formado na primeira turma da Fecivel, futura Unioeste, Dodô também fundou e presidiu o Clube de Caça e Pesca Guairacá e amava o Carnaval. Ao morrer, justamente no Carnaval de 2019, deixou boas memórias em todas as atividades sociais que desenvolveu.

    Mais novo que Dodô, Amadeu Rodrigues Pompeu nasceu em 1º de março de 1927 na localidade de Cachoeira, no atual Município de Candói, então parte, como Cascavel, do Município de Guarapuava.

    Cooperativa de saúde

    Motorista e agricultor, Amadeu veio para Cascavel ainda antes de Dodô, em 1940, acompanhando o pai Manoel Ludgero nos trabalhos do Censo Demográfico daquele ano. Casou-se em 1959 com a professora Aracy Lopes, de tradicional família de professores cascavelenses, irmã de Emília, esposa de Dodô.

    A certidão de casamento de Amadeu é uma coleção de nomes históricos: nela figuram como casamenteiro o juiz de paz, Francisco Wychocki; testemunhas, Júlio Pasa, ex-prefeito de Foz do Iguaçu; Ramiro de Siqueira, que hoje dá nome a uma creche; os pais de Manoel Ludgero Pompeu e Idalina Rodrigues Pompeu, e os pais de Aracy, o célebre professor Aníbal Lopes da Silva e esposa Anahir.

    Com a professora Aracy Lopes, Amadeu Pompeu teve quatro filhos: Anilson, Adilson, Amilton e Amadeu Jr.

    Além de fundador da Acic, participou da fundação do Cascavel Country Clube, Coopavel, Clube de Caca e Pesca e da construção da igreja de São Cristóvão. Ajudou também na reconstrução da capelinha de Nossa Senhora Aparecida, situada no local onde hoje se encontra a igreja de Santo Antônio.

    Amadeu Pompeu foi um dos acionistas do primeiro hospital de Cascavel, iniciado pelo médico Wilson Joffre. “No princípio eu acreditava que comprando as ações estava perdendo dinheiro”, lembrou Amadeu. “Com o passar do tempo verifiquei que aquele foi o melhor negócio da minha vida”.

    Vidas produtivas

    No início da década de 1980, a convite do coronel Aroldo Cruz, Amadeu foi conhecer a Bahia, adquiriu terras e se estabeleceu naquele Estado, onde também atuou na agricultura. Morreu em 23 de abril de 2011, em acidente automobilístico em Barreiras, no Oeste da Bahia.

    Ainda jovens, em 1946, Dodô e Amadeu trabalharam para Diamantino Saraiva, empreiteiro das obras de construção do aeroporto, na região do atual Terminal Rodoviário Helenize Tolentino, construindo sua segunda pista com o apoio de gaiotas, mais adequadas que caminhões para levar material ao local. 

    A gaiota era uma carrocinha como as utilizadas pelos catadores de papel, mas com duas grandes rodas. Só desta maneira, com uma adaptação consistente da pista, o aeroporto poderia passar a receber aeronaves de maior porte.

    Ao final dos trabalhos sob as ordens do engenheiro Muniz, que depois seria um dos responsáveis pelas obras do aeroporto de Londrina, Cascavel contava com o que seria seu segundo aeroporto, já à espera de futuros voos particulares e comerciais. O primeiro campo de pouso não passava de uma clareira aberta para favorecer os pousos do Correio Aéreo Nacional.

     

    Fonte: Fonte não encontrada

  • Com o fim do Iguaçu, desorganização e conflitos

    Com o fim do Iguaçu, desorganização e conflitos

    Quem lucrava prestando serviços ao Território Federal do Iguaçu não se conformou com o retorno do Oeste e Sudoeste do Paraná e Oeste de Santa Catarina aos respectivos estados.

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    Apesar de impossível nos termos da nova Constituição, deram divulgação à delirante proposta de um funcionário do Ministério da Justiça segundo a qual o ex-Território passaria a ser uma área à parte submetida à gestão da paz ministerial a que o proponente servia.

    A manobra não teria como vingar, mas quem estava disposto a lutar para não perder as posições conquistadas passou buscar soluções mais viáveis.

    Voltaram à carga com um abaixo-assinado para reivindicar o retorno do Território Federal do Iguaçu, não mais por medida autoritária, do alto, mas por um instrumento democrático: permitir aos residentes na área votar em plebiscito se queriam manter ou extinguir o Território Federal.

    O movimento pela restauração do TFI foi denunciado pelo jornal Diário dos Campos, de Ponta Grossa: “Pessoas grandes, comerciantes e industriais, estão à frente da campanha”.

    No mesmo jornal, repudiando a denúncia, um grupo de 16 pessoas contestava, requerendo direito de resposta, para reclamar o retorno do Território extinto e assim confirmando sem qualquer dúvida a existência da orquestração.

    Paraná satisfeito, mas posseiros desamparados

    Os paranistas, entretanto, estavam satisfeitos com a reconquista e jamais iriam aceitar o retorno do Território Federal.

    “O que pesava mais, o que mais nos afligia era simplesmente ver arrebatado de nosso sentimento regional uma parte de nossa região, uma parte da tradição de nossos mortos, das nossas crenças, das nossas lendas, das sensações de nossa gente, das nossas árvores, das nossas riquezas latentes, com que estávamos acostumados e que eram sinais nossos que nos arrancavam” (Temístocles Linhares).

    Elite intelectual e econômica do Estado, os paranistas e seu espírito combativo estimulavam os operários nos centros urbanos a também lutar por direitos inscritos na Constituição, mas só encontravam repressão policial.

    Os camponeses também acreditavam que chegara a sua vez de ter voz, nos marcos da nova Carta Magna, mas os grileiros de terras se mantinham na ofensiva, beneficiados pela omissão e/ou conivência do Estado, que não atuava mais conclusivamente em defesa dos camponeses desde que o governador Manuel Ribas for afastado da liderança estadual.

    Sem Vargas, Jeca Silvério perde influência

    Desde a deposição de Vargas no fim de 1945 e a extinção do Território Federal do Iguaçu, em 1946, com o consequente retorno ao Paraná, houve uma espécie de vácuo de poder em Cascavel.

    Se confiar em Ribas era a garantia dos posseiros, tudo em Cascavel, desde sua origem, estava ligado a Vargas, em processo iniciado com a campanha da Aliança Liberal, ainda em 1929, quando Jeca Silvério travou contato com Sandálio dos Santos.

    No futuro, a amizade deles se desdobraria também em parentesco. A Aliança Liberal que os uniu foi a resposta de Minas Gerais ao arranjo da elite paulista do café de se manter na Presidência com o governador Júlio Prestes.

    Com o mundo em crise e o abalo na economia cafeeira, São Paulo precisava proteger seus cafeicultores e não abriu mão de manter o controle do país, rejeitando desta vez o arranjo de sua elite com Minas Gerais – a política do café com leite.

    Minas então decidiu apoiar a candidatura Getúlio Vargas¬-João Pessoa nas eleições de 1⁰ de março de 1930. Vencendo em apenas três estados (MG, RS e PB), somando 40,41% dos votos contra 59,39% do paulista Júlio Prestes, a chapa de Vargas também foi derrotada no Paraná, onde os grandes fazendeiros de café eram paulistas.

    Fugindo à polarização eleitoral

    Em tempos de polarização ardente, a derrota custou a José Silvério de Oliveira perseguições e ameaças. Ele decidiu fugir às violências de inimigos vencedores se transferindo no fim daquele mesmo março de 1930 para a Encruzilhada dos Gomes, no Médio-Oeste do Paraná, onde a família e empregados já trabalhavam no sistema safrista – a criação de suínos baseada na safra do milho.

    Em 24 de outubro de 1930, quando a Revolução armada reagiu vitoriosamente à eleição de Prestes e Vargas começou sua jornada rumo ao poder, Silvério passou a ser o dono das terras que arrendou em 1923 e documentou em 1928 junto ao proprietário Antônio José Elias.

    Por apoiar o governo, Elias já havia sofrido grandes perdas na revolução de 1924. Mantendo o apoio ao governo também em 1930, teve suas propriedades confiscadas e foi o maior prejudicado no Oeste com a derrubada do presidente Washington Luís.

    O maior vencedor, então, havia sido Jeca Silvério, que distribuiu terras a parentes e agregados para dar início à cidade de Cascavel, mas em 1946, com Vargas derrubado do governo pelos generais nos quais mais confiava, Jeca Silvério chegava aos 58 anos de idade já sem respaldo na nova ordem brasileira.

    A ascensão dos italianos

    No vácuo de poder existente em Cascavel desde o fracasso do Território Federal, os industriais madeireiros e fazendeiros de origem italiana se projetaram economicamente, beneficiados pelo boom madeireiro registrado no pós-guerra e pelo aumento da população atraída pelos empregos nas serrarias, na prestação de serviços a elas e pela oferta de terras a colonos sulistas em troca de trabalho no interior.

    A Europa precisava ser reconstruída e a madeira de Cascavel foi para lá, além de ganhar mais espaços no mercado nacional.

    Ao ampliar rapidamente seus negócios, os empresários de origem italiana ocupavam a cena urbana enquanto os filhos dos caboclos que no passado prestaram serviços na vila corriam para ocupar os espaços rurais que o governador Manuel Ribas autorizou nos sertões do Paraná, estendendo assim as fronteiras agrícolas.

    Esses posseiros, que tanto confiavam no governador paranaense, viram- soar um sinal de alerta em 6 de novembro de 1945, quando Ribas foi obrigado a deixar o Palácio São Francisco (então sede do governo, depois transformado no  Museu Paranaense), sofrendo ataques dos jagunços das colonizadoras até cair no desespero com a morte do ex-governador, em janeiro de 1946.

    Posseiros duplamente atacados

    “Em Jaguapitã, milhares de lavradores, integrando cerca de 1.500 famílias, posseiros de terras devolutas, ou intrusos em terras particulares, desde 1946, passaram a viver em estado de alarma, face aos problemas de terras e, sobretudo, o comportamento do Governo do Estado ante os mesmos. Muitos foram esbulhados em suas posses, em favor dos grandes proprietários, outros despejados com violência” (Cecília Maria Westphalen, Altiva Pilatti Balhana e Brasil Pinheiro Machado, em Campos Gerais, estruturas agrárias).

    Já sem Ribas no governo para respaldá-los, agora a gente do campo sofria a pressão raivosa dos grileiros que os pressionavam a se retirar das terras nas quais haviam promovido benfeitorias, aberto estradas vicinais e iniciado lavouras já em produção.

    Com Manuel Ribas morto eles já não tinham mais quem os defendesse, a não ser sua própria capacidade de organização. Por isso, estimulados pelos comunistas, decidiram também se armar e lutar para se defender.

    A situação se complicou, pois a partir daí além de sofrer ataques dos jagunços também passaram a sofrer a repressão policial que já alcançava os operários nas cidades.

    Interior sem obras e posseiros revoltados

    Tendo como consequência um rastro confuso de leis, decretos e normas contraditórias, a desorganização no interior do Paraná se agravou por conta da crise em que o país se encontrava.

    Tudo que a ditadura do Estado Novo calou com censura e violência saía agora dos porões e chegava à luz, exigindo um plano de reajustamento da economia nacional.

    As medidas draconianas que vieram levaram em outubro de 1946 à suspensão dos trabalhos da CER-1, a comissão construtora da estrada federal, que depois do afastamento da autoridade paranaense sobre Cascavel se tornou o motor da comunidade no Território do Iguaçu.

    Agora o interior se tornava um teatro de guerra, sem obras para dar confiança aos colonos, ameaçados de perder suas terras, vivendo o triplo conflito Estado x União, paranistas x iguaçuanos e jagunços x posseiros.

    Tendo à frente a mentalidade italiana (filó) de unir a comunidade para se fortalecer, os líderes cascavelenses que ocupavam o lugar de Jeca Silvério decidiram unir civis e militares em uma organização social, que viria a ser o Tuiuti Esporte Clube.

    Fonte: Fonte não encontrada

  • Mesmo proibido, Estado induziu desenvolvimento do Oeste

    Mesmo proibido, Estado induziu desenvolvimento do Oeste

    O mito do desenvolvimento espontâneo e casual da região é demolido a cada nova documentação e histórico familiar. As desventuras da família Formighieri depois de confiar nos contratos com o Estado, por exemplo, comprovam que em muitos casos não havia interesse das famílias em se fixar na região, mas indução governamental para a ocupação do interior.

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    Os colonos se deslocavam pressionados pelo retalhamento dos minifúndios nas áreas de colonização à base de imigrantes alvejados por intensa propaganda do Paraná, cujo governo oferecia terras mediante ocupação efetiva, verificável por benfeitorias mínimas e moradia habitual.

    Também, como no caso dos Formighieri, vinham com a promessa de receber em pagamento por serviços prestados ao Estado terras mais bem situadas e propícias que as áreas devolutas remotas, sem acesso às vias principais de transporte e comércio.

    O governo federal bloqueou as ações do governo do Paraná na faixa de fronteira por conta da criação do Território Federal do Iguaçu, mas já havia historicamente projetos de colonização paranaenses em andamento e eles não cessaram porque o Paraná planejava recuperar seus Oeste e Sudoeste.

    Cofres zerados e terras sobrando

    Viajar a cavalo no geladíssimo fim de junho de 1946 foi uma tortura para o construtor de estradas José Neves Formighieri, que aos 30 anos, em sociedade com a família, já havia aberto vários trechos em Santa Catarina e pontos estratégicos da futura BR-277 da Serra do Cavernoso entre Guarapuava e Laranjeiras do Sul. 

    Partir de Curitiba rumo a Cascavel no conforto de um avião ou de um ônibus em uma estrada asfaltada era um sonho ainda impossível para Neves Formighieri, cuja empresa construtora prestou serviços ao Departamento do Oeste do governo do Estado e se viu em dificuldades para receber os valores contratados.

    Depois de tentar sem sucesso cobrar do governo do Paraná os valores correspondentes à abertura da estrada entre Laranjeiras do Sul a Pato Branco, Formighieri ouviu do Departamento do Oeste que não havia de dinheiro, mas poderia receber em terras. A família ficou de procurar terras compatíveis ao valor devido.

    Frio e pulgas

    Chegando a Cascavel em 24 de junho de 1946 em companhia de dois jovens empregados — Emerson Lóris de Oliveira, gaúcho de Palmeira das Missões, e João Godinho, catarinense de Lajes —, Neves completava a última etapa da viagem do trio, que foi vencer a cavalo a distância entre Laranjeiras do Sul e Cascavel.

    A árdua jornada de cinco dias só poderia ser amenizada por uma confortável estadia num dos hotéis da vila, criados para servir ao crescente número de viajantes que transitavam entre Guarapuava e os portos do Rio Paraná.

    No entanto, o melhor hotel da cidade, das famílias Reis e Pompeu, estava todo ocupado pelos jogadores do Tuiuti Esporte Clube, uma virtual seleção do Paraguai que  Horácio Reis, um apaixonado por futebol, contratava para servir ao clube.

    A saída de Neves e seus empregados foi pernoitar no ainda improvisado Hotel Bartnik.

    “Era pura pulga”, recordou Formighieri. Mas não lhe restou outra opção naquela noite gélida e tenebrosa. Chamou os empregados e estabeleceu uma estratégia de emergência para poder dormir: “Vamos varrer ao redor e jogar sal para afastar as pulgas. Só assim conseguiremos dormir”.

    No Rio Centenário

    Ao procurar seus contatos na vila, Neves Formighieri foi informado de que cerca de 40 a 50 famílias moravam no povoado. Nele, as pessoas mais ligadas ao governo do Estado chamavam o lugar de “Cascavel”, embora alguns não gostassem desse nome.

    O povo, nas ruas, dizia estar em “Aparecida dos Portos”. Os viajantes conheciam o lugar como “Encruzilhada dos Gomes”. Até havia quem tentasse chamá-la pelo nome de “Guairacá”, imposto pelo governo territorial do Iguaçu.

    O primeiro contato de Neves com moradores locais foi com o farmacêutico Antônio Alves Massaneiro, que já conhecia de Santa Catarina, e com João Miotto, que conhecia a família Formighieri desde o Rio Grande do Sul.

    Miotto fez a Neves várias indicações de áreas para escolha. Acabou optando por uma área de 1.200 alqueires entre os rios Centenário e Iguaçu. O Rio Centenário era uma homenagem, aos 100 anos da Independência, completados em 1922.

    Cerca de dois anos depois de sua fria chegada a Cascavel, Neves Formighieri retornaria ao lugar com a família, instalando-se na área que tinha adquirido, dando origem à localidade também denominada Centenário.

    Neves morou cerca de quatro anos na região do Centenário. Fez casas, benfeitorias, abriu estradas para a circulação de veículos, iniciou a produção agrícola e a criação de gado.

    Trabalhando por liberdade

    O melhor plano colonizador do Oeste, desenvolvido pela companhia Maripá, só poderia ter sucesso oferecendo uma infraestrutura mínima para os compradores.

    Não sendo uma área de terras livres para ocupação por posse, a colonizadora teria que oferecer atrativos convincentes a quem quisesse comprar suas terras.

    A infraestrutura teria papel central nesse esforço, mas dependia de contratar mão de obra disposta a suportar os rigores da mata virgem. Alguns dos primeiros convencidos a trabalhar no projeto foram prisioneiros condenados a longas penas pela Justiça no Rio Grande do Sul.

    “O terceiro grupo [de pioneiros que vieram para Toledo] chegou no dia 25 de julho de 1946, e veio a bordo do caminhão Ford, ano 46, com reduzida, e eram os seguintes: Reinaldo Arrosi, motorista; Francisco Studzinski; Ângelo Brogliato; José Bolson com família; Antônio Capelari; Domingos Zambom, carpinteiro; com mais aproximadamente dez presidiários liberados da cadeia de Farroupilha (RS) que se haviam comprometido a prestar serviços em Toledo, em troca de liberdade (Ondy Hélio Niederauer, Toledo no Paraná).

    Coube a Domingos Zambom a tarefa de disciplinar o grupo de prisioneiros.

    Intensa propaganda

    Já se trabalhava com energia na área da antiga Fazenda Britânia quando parte do grupo que constituiu a colonizadora Maripá estabeleceu no Rio Grande do Sul a companhia colonizadora Pinho e Terras Ltda, que mais tarde teria sede em Céu Azul.

    A empresa pertencia à família de Alberto Dalcanale e a Alfredo Paschoal Ruaro, que já haviam colonizado outras cidades, inclusive no Estado de Santa Catarina, e também participaram da aquisição da Britânia.

    No Oeste paranaense, além de Céu Azul, a Pinho e Terras foi responsável pelo povoamento e colonização de Medianeira, Matelândia e São Miguel do Iguaçu. Todo o projeto de colonização da Rota Oeste se fez em área que pertencia à família Matte, detentora de um grande latifúndio na região.

    A região passava a ser alvo de intensa propaganda das qualidades da terra e procurava atrair também operários insatisfeitos com a repressão imposta pelo governo Dutra aos movimentos populares.

    Social-democracia e trabalhismo sob Vargas

    Com a nova Constituição promulgada em 18 de setembro de 1946, os operários urbanos testavam o respeito aos direitos constitucionais avançando em sua organização, mesmo enfrentando as violências e arbitrariedades do governo Dutra.

    O ex-ditador Vargas aproveitou a onda de efervescência operária para iniciar sua pregação baseada na ideologia conciliadora do trabalhismo, uma corrente similar à do justicialismo peronista.

    O PSD de Vargas, criado para concentrar os interesses dos fazendeiros e capitalistas urbanos, tinha como contraponto nos movimentos operário e camponês o PTB.

    Os dois partidos em breve serão decisivos na batalha pelo governo do Paraná. O PSD reunia fartos recursos para as campanhas eleitorais e o PTB convenceria os trabalhadores.

    No Oeste do Paraná, os adeptos de Vargas se concentraram no PTB, que teria em Cascavel a liderança de Neves Formighieri e em Toledo a política empresarial de Willy Barth.

    Debandada e resistência dos federais

    O Território Federal do Iguaçu foi varrido do mapa pelo artigo 8º do Ato das Disposições Transitórias da nova Constituição dos Estados Unidos do Brasil, cujo nome já sinaliza à qual esfera de domínio o Brasil se insere na Guerra Fria.

    O Paraná recupera, assim, os 51.452 Km² que o decreto de Getúlio Vargas lhe havia escamoteado.

    Imediatamente após o anúncio da extinção do Território Federal do Iguaçu, sem que as atividades governamentais já estivessem encerradas, ocorre uma debandada de funcionários públicos federais e suas famílias, abalando a economia da cidade de Iguaçu (Laranjeiras do Sul).

    O fim do Território causa transtornos à população e desagrada profundamente aos burocratas nomeados para a administração territorial. Eles recorrem à imprensa regional outrora compromissada com a ditadura para reagir à devolução do Território aos estados de origem, tentando desesperadamente manter seus empregos.

    Essa movimentação não passou despercebida ao jornal Diário Popular, de Curitiba, que nos tempos da ditadura louvou Vargas por criar o TFI. Em sua edição de 30 de dezembro de 1946, o jornal noticiava as manobras com um artigo-denúncia: “Prepara-se um golpe contra o Paraná”.

    Um alto funcionário do Ministério da Justiça estaria propondo a criação de uma “autarquia administrativa” para atender à área do antigo Território, que ficaria sob a tutela daquele Ministério. No mínimo, organizava um boicote contra a ação do Paraná na região.

    Fonte: Fonte não encontrada

  • O Ponto dentro da curva e o conservadorismo

    O Ponto dentro da curva e o conservadorismo

     

    Na década de 1940 o impressionante progresso da região Oeste estava ligado claramente à exploração da madeira. Já se sabia que o ciclo iria acabar – durou ainda três décadas –, mas a colonização vinha para ficar.

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    Nesse contexto, qualquer iniciativa governamental na região, com ou sem o frustrado território Federal do Iguaçu, passava pelo sucesso dos empreendimentos colonizadores das companhias Maripá e Pinho e Terra, filhas da mesma parceria que resultou na compra da antiga Fazenda Britânia.

    Sob as vistas dos planejadores federais integrados ao Ponto IV, criado pelo presidente Harry Truman para atrelar a América do Sul aos EUA em tempos de Guerra Fria, ocorreu um movimento duplo: o habilidoso Alberto Dalcanale manobrava com os interesses políticos em Curitiba e os técnicos federais ligados ao Ponto IV vinham ao interior para manipular a região em desenvolvimento. 

    “O Ponto IV foi considerado por muitos políticos, educadores e intelectuais como um instrumento de controle político e ideológico dos Estados Unidos sobre o Brasil. (…) Chamavam também atenção para as exigências descabidas dos norte-americanos, como a de controle fiscal e de acesso a informações e documentos oficiais” (Alzira Alves de Abreu, Fundação Getúlio Vargas).

     A surpresa dos técnicos

    Dois itens devem ser destacados sobre a atuação do Ponto IV no Oeste do Paraná. Primeiro, seus técnicos chegaram, omitindo os EUA e se anunciando ligados à ONU, pensando que iriam achar terra inculta, mas encontraram agricultores descendentes de imigrantes já desenvolvendo importantes experiências para melhorar o cultivo.

    Segundo, por mais que de fato os técnicos ligados ao programa estivessem a serviço do modelo estadunidense de cultura e economia, eles estiveram efetivamente na base do desenvolvimento da assistência técnica e da extensão rural na região.

    Com caminhão, a viagem rápida

    Apesar das geadas intensas, a expansão das lavouras cafeeiras foi tão ampla que em 1946 o Paraná já figurava como o sétimo produtor no Brasil.

    Finda a guerra e iniciada a hesitante redemocratização do Brasil, os caminhões passam a dominar o cenário na grande estrada que viria a ser a BR-277, substituindo progressivamente as onipresentes carroças dos pioneiros.

    Vereador do distrito cascavelense de Foz do Iguaçu, batizado como “Guairacá” durante os meses que restarem do Iguaçu, o filho de eslavos Jacob Munhak, acostumado por muitos anos a viajar com seus carroções até a fronteira, comemorou o feito de viajar em um caminhão de Cascavel a Ponta Grossa em “apenas cinco dias”.

    Com tempo bom, isso já era possível. Com chuva, a estrada de terra não permitiria.

    Assim, o Médio-Oeste vai conhecer na segunda metade dos anos 1940 seu grande e bem-sucedido projeto de colonização, mas Foz do Iguaçu, ao contrário, sofrerá um rude golpe no fim de abril de 1946.

    Conservadorismo moralista antijogo

    O presidente Dutra, em sua escalada moralista, proibiu o jogo de azar no Brasil e com essa imposição abalou fortemente a economia do extremo-Oeste do Território do Iguaçu, que tinha no Cassino um de seus mais promissores elementos de sustentação e base para a estruturação do turismo regional.

    A ruína pairou sobre o Hotel Cassino a partir do Decreto-Lei nº 9215, de 30 de abril de 1946, que proibiu o jogo no país.

    O Cassino começou a se formar por uma iniciativa do prefeito de Foz do Iguaçu, Jorge Schimmelpfeng, que pretendia explorar o turismo a partir do apelo Cataratas-jogo-lazer, e assim a construção do hotel começou em 1918.

    “O hotel ocupa um vasto edifício, especialmente construído para este fim, tendo de frente 30 metros e 10 de fundo, com dois pavilhões laterais de 30 metros por 6. Constará de sala para baile, salão de jantar, sala para jogo, quartos para hospedes, banheiros instalações sanitárias. E iluminado à luz elétrica e servido de água encanada” (Jaime Ballão, A Fóz do Iguassu e as Cataratas do Iguassu e do Paraná)..

    A obra demorou tanto que os argentinos ironizavam: “A construção mais demorada do mundo não foi a Muralha da China. É o Hotel Cassino de Foz do Iguaçu”.

    Sua forma final veio de projeto do engenheiro Raul de Mesquita, em 1936, com a obra a cargo da Companhia Construtora Nacional, do Rio de Janeiro.

    O jogo nunca foi esquecido

    A precária democracia brasileira virou o Oeste pelo avesso. O Território Federal do Iguaçu estava a um passo da extinção, mas o Paraná ainda não podia interferir na região e em Foz do Iguaçu houve muita reclamação pela proibição do jogo.

    O Hotel Cassino era gerenciado por um casal de argentinos, substituídos após o fim do jogo pelo major José Acylino e esposa Rosa Cirilo de Castro, que levaram à frente o empreendimento como hotel apenas para acomodações e a instalação de serviços diversos, como sua emissora de rádio.

    Com uma área construída de 1.075 m2, o antigo Hotel Cassino por muitos anos serviu com méritos ao turismo de Foz do Iguaçu, hospedando personalidades ilustres como Moisés Lupion, Getúlio Vargas e Juscelino Kubitschek.

    Invariavelmente, sempre que uma autoridade se hospedava ali, alguém da Prefeitura e da sociedade chegava para cumprir uma dupla tarefa: saudar a honrosa visita e sugerir que se houvesse também a opção do jogo a estadia em Foz do Iguaçu seria ainda melhor.

    No futuro, a jogatina que horrorizava os conservadores passou a ser bancada pelo próprio governo. Recente concurso da Mega Sena registrou quase 70 milhões de apostadores.

     A inviabilidade do Território Federal do Iguaçu saltava aos olhos desde o fim da ditadura Vargas. Fora do poder e sem o apoio dos estados do Paraná e de Santa Catarina, os getulistas viram ruir seu projeto.

     

    A queda final começa em 23 de maio de 1946, quando o deputado constituinte Bento Munhoz da Rocha Neto (1905–1973) vai ao plenário da Assembleia Nacional Constituinte propor a extinção do Território.

    Recuperar a porção Oeste/Sudoeste seria uma consagradora compensação pela perda do Contestado, que só voltaria a ser objeto de disputa no final da década de 1960, com o movimento pelo Estado do Iguaçu.

    A essa altura, seguia em Curitiba em franco a andamento a batalha para governar um Paraná que logo teria sua área ampliada. Desencadeia-se uma aguerrida competição entre líderes que ambicionavam entrar para a história como o primeiro governador da era democrática.

    Na capital paranaense, o influente deputado federal João Teófilo Gomy Júnior rompeu com o governador Brasil Pinheiro Machado, a quem antes apoiou para assumir as funções de interventor do Estado, acirrando a competição.

     O fim do Território Federal

    O Iguaçu tentou resistir à ofensiva de Bento Munhoz em maio de 1946 enviando o novo governador, Frederico Trotta, para conhecer Foz do Iguaçu, cidade sobre a qual ele só ouvira falar.  

    “Ainda, agora, em visita àquela cidade o atual governador do Território o ilustre oficial do Exército major dr. Frederico Trotta determinou a execução de várias e vultuosas obras como sejam uma estrada de rodagem para o Distrito de Santa-Helena, a ser criado por sugestão minha, o qual constitui a mais importante zona agrícola do município; a construção de um hospital como já o merece Foz do Iguassu; melhoria nos serviços de Saúde Pública; fundação e instalação de novas escolas; instalação da iluminação pública e a urbanização da cidade” (Juiz Teodoro Vaz de Assunção, carta de 31 de maio de 1946).

    Obtendo amplo apoio para a proposta, Bento Munhoz apresentou oficialmente o texto da emenda constitucional no dia 10 de junho de 1946. Um mês depois, quando voltou a discursar na Assembleia Constituinte em defesa do projeto, já estava assegurada a derrubada do Iguaçu.

    A partir daí, o fim do Iguaçu passou a ser mera questão burocrática.

    Fonte: Fonte não encontrada

  • Operação Oeste venceu aventureiros e borrachudos

    Operação Oeste venceu aventureiros e borrachudos

     

    Em 1946, já decidida a transferência da Fazenda Britânia ao grupo de colonizadores gaúchos formado por Alberto Dalcanale, Alfredo Ruaro e seus associados, o primeiro fixou sua base de operações em Curitiba.

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    Foi já da capital do Paraná, exercendo influência política sobre o governo do Estado, que além de Toledo o grupo iniciou também a colonização de áreas da Rota Oeste, na qual se situariam no futuro os municípios de Céu Azul (nome escolhido pela filha Ivete [Bornhausen] Dalcanale), Matelândia, Medianeira, São Miguel do Iguaçu, Santa Terezinha de Itaipu e mais tarde também Palotina.

    A colonizadora Pinho e Terra começou a Rota Oeste trazendo agricultores de Farroupilha para formar Céu Azul, com Reinaldo Biazus e Emílio Gomes, e de Flores da Cunha e Caxias do Sul para criar Matelândia, com Benjamin Biazus.

    O nome Matelândia, na verdade, não se deve ao esgotado ciclo da erva que deu riqueza ao Paraná antigo. Homenageia o colonizador Miguel Emílio Matte, o empresário que tentou povoar a região mas perdeu as terras por não conseguir saldar o empréstimo de cem mil pesos que tomara junto ao argentino Alfredo Giombelli.

    Depois, a Pinho e Terra participou da urbanização de áreas nas cidades de Foz do Iguaçu e Cascavel, promovendo grandes loteamentos. A presença da Pinho e Terra ainda é notada em Cascavel: o terreno em que se ergue o amplo parque do Tuiuti Esporte Clube, no bairro São Cristóvão, foi doado pela colonizadora. 

    Planos rural e urbano

    Mais tarde, em Palotina, a Pinho e Terra seria severamente criticada por não avisar os colonos de que estava em conflito com o governo do Estado, mas na Rota Oeste seu comportamento foi amplamente elogiado.

    “A estruturação das colônias, chácaras, vilas e cidades foram pensadas, desenhadas e implementadas. Estas afirmações podem ser verificadas na atualidade, se se observar o espaço urbano e rural das áreas colonizadas por essas empresas colonizadoras. Com o passar dos anos houve alterações, mas os sinais do planejamento ordenado evidenciam a sua força orientadora e influenciadora sobre o espaço” (Valdir Gregory, Os Euro-Brasileiros e o Espaço Colonial).

    “[A colonizadora Pinho & Terra] Foi um exemplo de colonização. Abria uma gleba, loteava e dotava de infraestrutura mínima, com igreja, escola, praça, um núcleo populacional que passava a ser embrião de uma cidade. Assim surgiram Santa Terezinha de Itaipu, São Miguel do Iguaçu, Matelândia…” (João Samek, depoimento a Juvêncio Mazzarollo, Gazeta do Iguaçu, 19.7.1993).

    No relatório apresentado ao governo pela Pinho e Terra está a razão dos elogios gerais recebidos: o desenho de um plano de reforma agrária combinado com sua correspondência urbana.

    “Os lotes coloniais, medindo em torno de 25 hectares, formariam perímetros de áreas diferentes de acordo com o relevo e a hidrografia. Ao redor dos núcleos populacionais foram criados lotes de 2,5 hectares, chácaras destinadas ao cultivo de hortigranjeiros”.

    A rede que se tece

    “Enfim, Alberto Dalcanale tinha visão das coisas e desenvolveu, com a experiência, um leque de atividades empresariais que fizeram dele, sem favor, um dos nomes mais importantes e destacados da colonização do Oeste de Santa Catarina e Sudoeste [sic] do Paraná” (Luiz Alberto Dalcanale, o Neno).

    Nessa ampla rede de famílias e negócios, o pioneirismo de Willy Barth teve igual destaque. Barth já havia trabalhado também com Carlos Sbaraini na venda de madeira, que era embalsada e exportada através do rio Uruguai.

    Foi Barth quem convidou o amigo Alfredo Ruaro, procedente de São Marcos e comerciante em Farroupilha, para ser seu corretor de terras, apresentando-o a Alberto Dalcanale.

    Desse encontro histórico resultou que Ruaro e Dalcanale se empenharam na aquisição da Fazenda Britânia, propriedade começada por Jorge Schimmelpfeng, militar e ex-prefeito de Foz do Iguaçu.

    Ao se aprofundar nessa rede encontra-se uma história ampla, tecida de nomes que se associam para vencer obstáculos, que não foram poucos por conta do desinteresse federal pelo Território do Iguaçu e pela impossibilidade do Paraná de intervir na região enquanto a proposta de reintegração da área não fosse aprovada pelo Congresso Nacional.

    É no vão entre a inoperância do Iguaçu e a ausência do Paraná que se constituiu a companhia Maripá, à qual Barth primeiro se integrou como associado e depois viria a comandar.

    Na terra e no cartório

    Segundo o filho Neno, Alberto Dalcanale comprou a totalidade das ações da Cia. de Madeiras Del Alto Paraná S.A., uma sociedade com sede na Argentina, mas de propriedade de um grupo inglês.

    Esta empresa era proprietária da Fazenda Britânia, no Oeste do Paraná, com uma área de 124 mil alqueires. É quando Dalcanale lidera, então, a incorporação desse latifúndio pela empresa que fundou com seu grupo de associados: a Industrial e Colonizadora Rio Paraná S.A. (Maripá).

    O primeiro grupo de pioneiros trazido por Zulmiro Ruaro em março de 1946 já trabalhava duro junto ao arroio Toledo quando, em 7 de abril, Dalcanale se reuniu em Porto Alegre com os sócios Alfredo Ruaro (o maior), Willy Barth, Júlio Gertrum, Azevedo Bastian, Curt e Egon Bercht para efetivar a compra da área da antiga Fazenda Britânia e constituir oficialmente a Maripá logo em 13 de abril.

    No trabalho árduo de abrir a mata os colonos eram atacados pelo mosquito borrachudo. Não aguentando, muitos se “boleavam de volta, muitas vezes a pé, até Farroupilha” (Alfredo Ruaro, depoimento ao jornal Mensageiro, 17/10/2013).

    Os pioneiros coincidem em afirmar que não encontraram resistência nem violência humana, mas poucos suportavam os ataques maciços e coordenados tanto dos borrachudos quanto de incômodos carrapatos.

    O tripé da colonização

    O que levou o projeto colonizador a deslanchar foi a atração focada em famílias, já que os aventureiros, em busca de lucro rápido e vida melhor que no Sul, logo desistiam da aventura.

    Para Ruaro, o que deu consistência aos projetos de colonização do grupo foi a infraestrutura montada para atender às necessidades das famílias, com base no tripé igreja/escola/hospital.

    Surge, assim, o bem-sucedido megaprojeto de colonização da Maripá, que espelhou no interior paranaense, ex-Território do Iguaçu, a transição do domínio britânico para o estadunidense, por exemplo, ao colher o interesse do Ponto IV, programa de cooperação técnica internacional criado pelo presidente americano Harry Truman em janeiro de 1949.

    Os acordos em torno do Ponto IV permitiram aos técnicos norte-americanos meter o dedo em tudo que acontecia no interior do Brasil nos campos da economia, gestão pública, administração orçamentária e financeira, agricultura, recursos minerais, energia nuclear, saúde, educação, transportes etc.

    No setor de agricultura, diversos programas de ensino e pesquisa foram implementados por um órgão misto brasileiro-norte-americano denominado Escritório Técnico de Agricultura (ETA) sob a promessa de ampliar a produtividade, expandir o poder aquisitivo e melhorar a saúde das populações.

    Para o bem ou para o mal, começava assim a arrancada oestina para se tornar um dos centros do agronegócio mundial, mas isto só aconteceria realmente depois de vencer os ditatoriais anos de chumbo, que levaram os colonos ao endividamento entre a década perdida (1980) e o quinquênio da asfixia (1991-95). 

    Fonte: Fonte não encontrada