Autor: Alceu Sperança

  • Madeira e colonização, o alvorecer do Oeste

    Madeira e colonização, o alvorecer do Oeste

    Em 1946 a região Norte se afirmava como a potência paranaense e no descuidado Território Federal do Iguaçu uma nova força econômica e política também vai se agigantar.

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    É a Madeireira Moysés Lupion, que fez Cascavel ingressar definitivamente no ciclo da madeira do pós-guerra, por meio das serrarias Central e São Domingos.

    Pode-se aferir a importância das serrarias de Lupion pelo impacto que promoveram no fortalecimento da comunidade cascavelense. Toda mão de obra que chegava tinha como destino uma das duas serrarias.

    Os prestadores de serviços tiveram nas famílias dos operários do setor um importante ganho de clientela. Grande parte da produção colonial cascavelense já não ia mais aos portos do Rio Paraná, retida antes de passar por Santa Tereza.

    Para atender aos antigos clientes, os colonos precisaram expandir horizontes, chamando parentes que viviam com dificuldades em outras regiões para vir aproveitar as perspectivas na região.

    Em seu moinho de pedra tocado a água, o colono Antônio Dolla, além da diversificada produção agrícola, também fornecia fubá, farinha de biju, trigo e descascava arroz.

    Até as serrarias de Lupion chegarem, sua rotina era vender o bom excedente da produção em Foz do Iguaçu e de lá retornar com cargas de café, açúcar, sal e combustíveis, sobretudo querosene.

    Logo de saída, toda a sua produção habitual de fubá foi arrematada pela administração da Serraria no São Domingos, encravada na fazenda do mesmo nome – 320 mil metros quadrados, adquiridos do espólio do obragero Domingo Barthe, morto em Paris, em 1917.

    Central Barthe, a capital do Oeste

    Nascido em São Bento do Sul (SC), em 1893, Antônio Dolla estava estabelecido em 1943 no polo regional de Itaiópolis, de onde também vieram as famílias Munhak, Bartnik, Dias e Pfeffer, dentre outras, quando decidiu vir para Cascavel.

    Dez anos depois ele fundava a Associação Rural de Cascavel ao lado de Tarquínio Joslin dos Santos, Munhak e dezenas de outros colonos.

    A família Lupion estabeleceu a Serraria Central no antigo entreposto da Companhia Domingo Barthe, entre Cascavel e Santa Tereza. Herança dos tempos ervateiros, havia ali uma espécie de vila de alta rotatividade.

    Central Barthe teria se tornado o início da cidade de Cascavel, não fosse um dramático episódio da Revolução Paulista (1924/5) em que os revolucionários, acossados pelas tropas do general Cândido Rondon, incendiaram o local para que os governistas não encontrassem ali recursos de abastecimento disponíveis.

    Depois do incêndio, o local ficou abandonado. Com Barthe morto, seus agregados mantiveram interesses apenas na Argentina. Jeca Silvério arrendou em 1928 junto a Antônio José Elias os arredores da Encruzilhada dos Gomes e ali deu início à cidade após outra revolução – a de 1930.

    40 dias e 40 noites

    A Madeireira Moysés Lupion aproveitou a cogitação militar de que Cascavel será um futuro grande centro estratégico e iniciou seu duplo empreendimento no Médio-Oeste precipitando a inclusão desse ainda distrito de Foz do Iguaçu em definitivo no mapa econômico do Brasil.

    As serrarias Central e São Domingos vão se somar ao vasto portfólio de empreendimentos com que Moysés Lupion se tornará a principal força no interior do Estado e na região do Território Federal do Iguaçu.

    Outra força, porém, começará a se desenhar em 17 de fevereiro de 1946, quando um novíssimo caminhão Ford é carregado com camas, colchões, acolchoados, travesseiros, machados, foices, serras, martelos, pás, picaretas e uma reserva de gasolina.

    O caminhão de Alfredo Ruaro, entregue ao irmão Zulmiro Antônio, seguirá de São Marcos para Vacaria (RS), de onde vai a Erechim, em seguida a Chapecó (SC) e ao Paraná, via Clevelândia, passando por Lagoa Seca em direção a Laranjeiras do Sul, esta agora com o nome de Iguaçu, a capital do Território.

    De lá a comitiva gaúcha, formada por 14 trabalhadores, rumou para Rocinha (atual Catanduvas) e alcançará Cascavel em 18 de março de 1946. Pernoitando em Cascavel, o grupo no dia seguinte parte para o arroio Toledo, onde irá começar um vasto projeto de colonização na antiga Fazenda Britânia.

    Para chegar ao Oeste do Paraná, o caminhão levou “30 dias para percorrer 700 quilômetros entre Farroupilha (RS) e Cascavel e tardaria ainda mais nove dias até chegar no Pouso de Toledo” (Marcelo Grondin, O Alvorecer de Toledo no Oeste do Paraná).

    O começo de uma história nova

    Partindo de Cascavel em 19 de março, os pioneiros de Toledo chegam enfim ao território da antiga Fazenda Britânia. O riacho, referência da propriedade, herdara o nome de um pouso montado por um antigo funcionário da companhia ervateira argentina Nuñes y Gibaja: o “Señor Toledo”.

    Esse argentino descendente de espanhóis deu nome não só ao rio, mas também ao futuro município. O lugar se chamava, segundo Moacir Neodi Vanzzo, Pouso do Velho Toledo.

    Naquele instante começava uma nova história para a antiga propriedade inglesa no Oeste do Paraná, sobre a qual já se sabe muito. Entretanto, só será possível compreender o que esse grupo de pioneiros começou no Médio-Oeste do Paraná lançando algumas luzes sobre o longo processo que os levou a esse março de 1946.

    Vibrante crônica da formação de uma rede de famílias de filhos de imigrantes que viria a ser um dos motores do desenvolvimento do Sul brasileiro, a história da colonizadora Maripá, ao contrário de várias outras que atuaram no mesmo período, não vinha da iniciativa de um capitalista que decidiu investir de estalo em um negócio que lhe pareceu promissor.

    Luiz Alberto Dalcanale, filho de João Alberto Dalcanale e Mathilde Jeanne Esquier, contou que os negócios do grupo se entrelaçaram unindo líderes em uma sólida parceria.

    Bortolazzi: cara, coragem e família

    A saga começa em Ponte Serrada, no Oeste de Santa Catarina, iniciativa da firma De Carli e Companhia, de Caxias do Sul (RS), que tinha na liderança local o comerciante José Bortolazzi.

    Ele chegou ao local desabitado em 1.º de agosto de 1926, levando toda a família. A coragem e o espírito de sacrifício dos Bortolazzi nesse primeiro empreendimento é atestada por um emocionante relato contido na memória da Paróquia Santo Antônio de Pádua:

    “Aí permaneceram muito tempo só com a família sem nenhum vizinho, morando em um armazém recém construído pela companhia colonizadora. (…) Parecia-lhe que neste mundo não existisse mais ninguém. Seu único divertimento era a caça: ia acompanhado de sua mulher e filhinhos, levando-os às costas. Eis que no dia 9 de julho de 1929 chega para Ponte Serrada um segundo habitante, o sr. Genoíno Amadori”.

    A esse primeiro projeto colonizador se seguiu a formação da Vila Oeste, hoje São Miguel do Oeste, trabalho iniciado pela firma Barth, Benetti e Cia, que depois virou Barth, Anoni e Cia, tendo à frente Willy Barth e José Anoni, de Carazinho (RS).

    Barth, Ruaro, Dalcanale, Festugato…

    Mais tarde a empresa passou a se chamar Colonização e Madeiras Oeste Ltda e teve como diretor José Festugato II, também de Carazinho. Associados a um grupo de Erechim, liderado por José Sponchiado, Hélio Wasum e Angelino Rosa, fundaram a Industrial e Colonizadora Erechim Ltda, que iniciou a colonização de Barracão, já no Paraná.

    Para aumentar o alcance das atividades na região de São Miguel do Oeste, Alberto Dalcanale, o irmão Luiz e Alfredo Ruaro constituíram a empresa Pinho e Terras Ltda, colocando como seu gerente local Olímpio Dal Magro.

    Além de responsável pela colonização direta de inúmeras áreas no Oeste de Santa Catarina, apoiou e abriu caminho também para a colonização de São José do Cedro e Romelândia, com Romeu Granzzoto.

    Em breve o grupo passaria a estender sua presença por uma ampla área do Oeste paranaense, criando cidades enquanto outros capitalistas criavam empresas.

     

    Fonte: Fonte não encontrada

  • Empresários gaúchos voltam ao Sul

    Empresários gaúchos voltam ao Sul

     

    O ano de 1946 começou como um sonho de progresso para os colonizadores gaúchos Alfredo Ruaro e Alberto Dalcanale, que depois de vistoriar com dificuldades a Fazenda Britânia retornaram ao RS projetando o grande empreendimento de suas vidas na antiga propriedade inglesa.

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    Para o Brasil, porém, o ano novo chegava frustrando os sonhos de democracia inspirados pelo fim da guerra. A Presidência da República, em 31 de janeiro de 1946, passava às mãos do general Eurico Gaspar Dutra, que faria um governo de implacável repressão, sufocando as atividades políticas democráticas e intervindo em cerca de 500 sindicatos.

    Ainda havia chances para a democracia, agora concentradas na Assembleia Nacional Constituinte, que saiu das eleições de 3 de outubro do ano anterior amplamente representativa.

    Encarregada de escrever a nova Carta Magna do país, entregaria um belo texto, embora não imune a frequentes golpes antidemocráticos.

    No Sul, a missão de Ruaro e Dalcanale era convencer os interessados em se associar ao empreendimento a completar os valores exigidos pelos proprietários ingleses pela transferência da Fazenda Britânia.

    Sérias dificuldades para o Iguaçu

    Apesar da instabilidade do país, os colonizadores estavam confiantes no potencial da nova região e na experiência já acumulada em terras gaúchas e catarinenses.

    Enquanto eles faziam suas tratativas no Sul, a instabilidade também afetava o Território Federal do Iguaçu. O projeto inicial perdia fôlego dia a dia.

    Com Getúlio Vargas afastado do poder, seu homem de confiança, o governador João Garcez do Nascimento, também caiu, exonerado por Eurico Dutra em 6 de fevereiro.

    No dia seguinte, Dutra nomeava o major Frederico Trotta (1899–1980) para substituí-lo. Segundo governador do Iguaçu, Trotta vinha do Rio de Janeiro e trazia como assessor direto o capitão Jorge Silva e Souza, com quem selecionou cerca de duzentos funcionários para trazer da ex-capital do país.

     Já funcionavam no Território por iniciativa de Garcez diversos serviços públicos, tais como a Delegacia Regional da Capital do Iguaçu, onde ficava o comando da guarda encarregada de manter a ordem no território, além das divisões de Educação, Obras Públicas e Terras.

     Brasil mudou com a Revolução

    A preocupação com o país em geral, entretanto, era maior que com os problemas do interior brasileiro. Ainda persistiam os maus costumes vindos da ditadura, como a presunção de que a repetição da mentira cria corpo como verdade na consciência do povo.

    Mas o povo brasileiro formado pelos efeitos da revolução de 1930 já não era mais o iludido “Jeca Tatu” rural da Velha República.

    O País percebia uma nova força na vida política nacional: se desde o Brasil Colônia até o Império e durante as duas repúblicas – a Velha e o Estado Novo – as oligarquias sempre ditaram os rumos do País, a classe média se tornara uma força poderosa desde 1930 e agora também o operariado insistia em participar das decisões.

    Cem mil trabalhadores entram em greve em São Paulo contra o arrocho salarial imposto sob a alegação de “esforço de guerra”. Desde janeiro até o fim de fevereiro, cerca de 60 greves aconteceram.

     Começa a Guerra Fria

    A mão pesada do governo que desce sobre as cabeças dos líderes operários se torna ainda mais agressiva a partir de 5 de março, em Fulton, no Missouri, EUA, quando o líder britânico Winston Churchill esbravejou contra a “cortina de ferro”.

    Teve início ali a Guerra Fria, que abalou os esforços democratizantes no Brasil, abrindo uma era de delações e repressão a qualquer pretexto.

    O governador Trotta e sua equipe assumiram o governo territorial sem perceber qualquer esforço do governo federal para satisfazer as necessidades do Iguaçu, embora a propaganda anunciasse realizações fantásticas.

    Objetivamente, o governo federal não pretendia criar confusão com Paraná e Santa Catarina, que exigiam de volta os territórios a Oeste tirados por Vargas para montar o TFI.

    Com o RS sempre a um passo da Revolução, depois de conferir a Luís Carlos Prestes uma consagradora eleição ao Senado, manter PR e SC apoiando a União era uma necessidade.

    O Paraná também mudava – e mudava formando um novo forte elo com o RS quando, em 25 de fevereiro de 1946, o interventor Clotário de Macedo Portugal deu posse no governo do Estado ao ponta-grossense Brasil Pinheiro Machado (1907–1997).

     Referências antigas em nova realidade

     Membro de uma das mais tradicionais famílias gaúchas, o novo governador era sobrinho do senador José Gomes Pinheiro Machado (1852–1915), poderoso político da República Velha, que mandou no país até ser morto a punhaladas pelas costas no Hotel dos Estrangeiros, no Rio de Janeiro.

    Advogado, professor, um dos fundadores do Colégio Regente Feijó, do qual foi diretor, Pinheiro Machado cacifou-se politicamente por ser primo de Manoel Ribas, que em 1932 o nomeou prefeito de Ponta Grossa.

    Deputado constituinte de 1936, Machado perdeu o mandato com o Estado Novo, em 1937, e se transferiu para Curitiba em 1939, para assumir o cargo de procurador geral do Estado, novamente nomeado por Manoel Ribas, ali ficando até cair junto com o poderoso primo e padrinho, em 1945.

     Machado reforçou a ideia do líder máximo

    Com a redemocratização do País, Brasil Pinheiro Machado é incluído em lista quádrupla enviada ao presidente Dutra, que pretendia nomear um interventor com conhecimento da região para comandar o Paraná até as eleições.

    Constavam ainda da lista quádrupla o curitibano Alô Guimarães (1903–1985), o jaguariaivense Moysés Lupion (1908–1991) e o potiguar Antônio Augusto de Carvalho Chaves (1875–1949).

    A bancada federal se dividiu e o professor Brasil acabou nomeado. A luta que se travou nos bastidores a seguir, com vistas às eleições para o governo do Estado, desgastou sua liderança.

    Os mesmos amigos que o fizeram subir ao governo causariam sua queda, em meio a pressões fisiológicas e intrigas palacianas, reportou o historiador Túlio Vargas.

    O drama de Pinheiro Machado, entretanto, alimentou uma suposta necessidade que o Paraná já vivia desde Jesuíno Marcondes, no Império: o sentimento de que só uma liderança forte e apoiada por diversas forças políticas levaria o Paraná a ser um dos principais estados do país.

    Sensação de Estado mutilado

    Na geografia, via-se o Paraná ao nascer, em 1853, com dimensões próximas às de São Paulo. Historicamente, deveria possuir parte do litoral paulista, a parte Oeste que tocava o RS e o Território do Iguaçu.

    Teria, sem as perdas, o dobro do tamanho que tinha em 1943. A redução territorial era atribuída a governantes politicamente fracos. No Estado que se queixava amargamente das mutilações territoriais, vibrava o anseio por voltar a ter um líder como Jesuíno Marcondes, Vicente Machado ou Caetano Munhoz da Rocha, políticos ágeis e capazes de unir o Estado.

    Nesse vácuo, emerge um nome de sucesso empresarial e com excelente padrinho político: Moysés Lupion, não por acaso um dos integrantes da lista quádrupla.

    Quando o grupo reunido por Ruaro e Dalcanale finalmente comprou a Fazenda Britânia, o Paraná já não era mais o mesmo que haviam conhecido e o Território do Iguaçu vivia seu pleno desmonte.

    Fonte: Fonte não encontrada

  • Como cascavelenses ajudaram a criar Toledo

    Como cascavelenses ajudaram a criar Toledo

     

    O período era muito especial, por conta do fim da II Guerra Mundial. Tudo era expectativa positiva, depois de tanto horror. Os sonhos e projetos de progresso precisavam ser postos em prática.

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    Foi assim que os colonizadores Alfredo Ruaro e Alberto Dalcanale passaram o período de festas do fim de 1945, empreendendo uma incrível viagem que começou aérea, seguiu por navio, achou um raro automóvel em Foz do Iguaçu e prosseguiu com carroça, mulas e cavalo depois de alcançar Cascavel, onde encontraram nos irmãos Paulo e Jorge Maceno, servidores dos Correios e Telégrafos, anfitriões receptivos e solidários.

    Ao chegar ao Rio Paraná, haviam feito uma verificação frustrante da Fazenda Britânia em sua região portuária, não encontrando caminhos rumo ao coração da propriedade, no Médio-Oeste. Para chegar a ele, teriam que ir primeiramente a Cascavel.

    Sem ter noção do que precisariam enfrentar quando chegassem à antiga Encruzilhada dos Gomes, os viajantes encontraram em Foz do Iguaçu um único automóvel disponível, um Chrysler inglês que desafiou com sucesso os perigos da difícil Picada do Benjamin, o melhor caminho possível da época, a estrada que ligava a fronteira a Cascavel, substituída pela atual BR-277.

    Sabiam que de Cascavel precisariam partir para chegar ao arroio Toledo, no sul da propriedade que pretendiam adquirir após essa vistoria. Para isso teriam que encontrar a linha telegráfica feita construir pelo general Cândido Rondon e que desde os anos 1930 ligava o lugar a Porto Mendes.

    Os fios telegráficos seguiam a antiga picada da companhia Nuñez y Gibaja que por sua vez ligava antigos caminhos indígenas próximos ao lendário Peabiru.

    Os prestativos irmãos Maceno

    Chegando à vila de Cascavel, a próxima tarefa dos viajantes seria encontrar o responsável pelo serviço postal para saber como chegar ao arroio Toledo acompanhando as linhas do telégrafo.

    Nessa época em que todos os cargos eram ocupados por homens, os viajantes encontraram os Correios em Cascavel chefiados por uma mulher: Maria Nogueira de Maceno.

    Seu marido, o telegrafista Paulo Maceno, prontificou-se a chamar o irmão Jorge, responsável pelo posto telegráfico da localidade então conhecida como Campina, junto ao arroio Lopeí, que poderia fornecer orientações precisas aos visitantes.

    Maria, Paulo e Jorge Maceno integravam uma família cuja história estava ligada aos serviços de interiorização dos Correios. Maria Nogueira de Maceno, a agente dos Correios, era filha do chefe dos guardas-linhas, Joaquim Nogueira.

    Joaquim, por sua vez, era irmão do lendário militar José Nogueira do Amaral, que depois de condenado ao degredo para morrer a esmo na mata paranaense, conseguiu sobreviver, liderar uma comunidade de índios e brancos e fundar Laranjeiras do Sul.

    Os Maceno, por sua vez, destacaram-se nos serviços de extensão e manutenção das redes telegráficas do interior paranaense, além de apoiar o desbravamento e as iniciativas de colonização das regiões Norte, Noroeste e Oeste. 

    Com o apoio deles, a aventura de Ruaro e Dalcanale estava prestes a chegar à etapa final, longe de ser mais fácil que as anteriores. Já levavam a anotação de que não havia caminhos entre Porto Mendes e o coração da Fazenda Britânia e souberam em Cascavel que a partir dali não teriam mais o conforto de um automóvel.

    O palácio recusado

    Ao chegar a Cascavel, Ruaro e Dalcanale localizaram facilmente na vila com meia dúzia de casas a modesta agência dos Correios do lugar, a essa altura já com muita história acumulada.

    Ali foi decidido em 1931 que a vila não teria o nome de “Encruzilhada dos Gomes” nem “Aparecida dos Portos”: seria “Cascavel”.

    O estabelecimento foi também a causa da decisão do primeiro governador do Território Federal do Iguaçu, João Garcez do Nascimento, de rejeitar Cascavel como sua capital, sugerida pelo engenheiro militar Luiz Carlos Pereira Tourinho.

    Única instalação pública de Cascavel, só ali naquele simples ranchinho de madeira sem pintura nem sofisticação seria possível instalar o palácio do governo territorial. Garcez descartou de pronto estabelecer seu gabinete de governo em lugar tão distante e sem recursos para a burocracia habituada ao Rio de Janeiro.

    Travando o contato positivo com a família Maceno, “na manhã do dia seguinte Paulo levou-os numa carroça puxada por duas mulas, e assim chegaram à tardinha na Campina Lopeí, onde ainda se via algumas casas de madeira da antiga sede da obrage Nuñez y Gibaja” (Ondy H. Niederauer, Toledo no Paraná).

    Cama dura e bons sonhos

    Ruaro e Dalcanale jantaram na casa de Jorge Maceno, onde foram assombrados por uma nuvem de insetos que atacavam os pratos de comida quente enquanto se alimentavam.

    Ajeitando-se por cima de uma pilha de couros secos, foram dormir remoendo o cansaço dos últimos dias, a situação de abandono de Porto Mendes e as feras aladas sedentas de sangue que não permitiam uma só refeição sossegada no interior de Cascavel.

    Foi, ainda assim, uma noite agradável pela acolhida que receberam desde Cascavel e pela ansiosa expectativa dos magníficos pinheirais que supunham existir na grande Fazenda Britânia.

     “No dia seguinte, cedo, partiram em dois cavalos que lhes foram emprestados pelos fiscais da conservação da linha telegráfica”, segue a narrativa de Ondy Niederauer:

    “No caminho examinaram atentamente a vegetação, e com especial atenção para a mata e de modo muito particular ao seu maior objetivo, o objetivo número um: os pinheiros. Durante todo o trajeto, viram as grandes árvores que, lá no alto terminavam em forma de festivas taças”.

    Os desejados pinheirais, vislumbrados no espetáculo de copas de pinheiros a perder de vista, apagaram até o cansaço, a longa duração da viagem e o incômodo da esquadrilha de insetos sedentos de sangue.

    “Já escurecia quando chegaram ao arroio Toledo, em cuja margem havia um pequeno descampado tomado por capoeira agreste, e cercado por vasto e frondoso pinhal. Destoando com a mata virgem, alguns cinamomos procuravam também dar sua sombra. Era, sem dúvida, o local de troca de muares que transportavam a erva-mate da Nuñez y Gibaja, o antigo Pouso Toledo”.

    “De Toledo não tinha mais caminho”, lembrou Alfredo Ruaro, já sabendo o tamanho da tarefa que precisariam cumprir para levar seu projeto adiante. “Felizes pelo que viram, regressaram no dia seguinte. Alfredo também estava muito satisfeito com o vasto pinhal que divisava”.

    De volta ao avião

    Como não podiam adivinhar que o Território do Iguaçu iria fracassar, também não souberam com antecedência que a maravilha imaginada como um extenso pinhal terminava uns três quilômetros adiante de onde estavam. Na verdade, ali era o ponto final do pinhal paranaense.

    “Verificamos a área britânica e voltamos à Foz do Iguaçu, onde pegamos um avião e voltamos”, recordou Ruaro.

    A rota aérea os levaria mais facilmente a Porto Alegre que a longa via fluvial para retornar a Porto Alegre, onde eram esperados pelos sócios ansiosos pelo relatório dos emissários para decidir se embarcariam no ousado empreendimento de comprar a Fazenda Britânia.

    Após essa demorada e difícil vistoria, atrapalhada pela falta de caminhos mas estimulada pela vontade de levar o projeto adiante, Dalcanale e Ruaro voltavam ao Rio Grande do Sul já com a decisão tomada de propor o fechamento do negócio com os ingleses.

    Fonte: Fonte não encontrada

  • Saem os ingleses, entram os gaúchos

    Saem os ingleses, entram os gaúchos

    Assim que a ditadura caiu, em outubro de 1945, ironicamente derrubada pelos mesmos generais que desfecharam o golpe de 1937, as lideranças paranaenses já podiam erguer a voz em liberdade e fustigaram fortemente o Território Federal do Iguaçu, insistindo em recuperar as perdidas regiões Oeste e Sudoeste.

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    Para o Iguaçu nada ia bem, com Paraná e Santa Catarina pressionando pela retomada de suas áreas oestinas. O governo federal, inoperante, fazia a transição da estrutura autoritária, centralizada no Rio de Janeiro, para a concessão de mais poderes aos Estados.

    Mas tudo conspirava em favor de Cascavel, apesar da perda de poder por parte do patriarca José Silvério de Oliveira, que via a ascensão dos filhos de imigrantes como a nova força dominante na vila. Nem o péssimo estado dos caminhos rumo aos portos do Rio Paraná prejudicava o crescimento do lugar.

    Abandonados pelo governo federal, que impedia a ação do Estado do Paraná na área, tais caminhos eram impraticáveis para a marcha das carroças dos migrantes, que traziam suas mudanças e animais para criar. Só eram viáveis por meio de cargueiros.

    Culto ao empresariado

    O governo de Frederico Trotta à frente do Iguaçu começou antes de ele ser nomeado oficialmente, limitada ao culto à sua personalidade, proveniente da bajulação de subalternos em busca de nomeações privilegiadas.

    O historiador Oscar Silva, líder toledano que viria a apoiar o movimento pró-criação do Estado do Iguaçu, observou que a incompetência da gestão territorial na ditadura foi notória:

    “O governo do Território do Iguaçu, como os de outras unidades congêneres, tinha atribuições para promover o povoamento e localização de colonos em sua área administrativa, mas não se sabe de nenhuma gestão nesse sentido por parte de Frederico Trotta [o governador]. E a colonização do Oeste teria de vir, como veio, em virtude da iniciativa privada e não em consequência de atividades oficiais ou governamentais” (Toledo e Sua História, de Oscar Silva, Rubens Braganolo e Clori Fernandes Maciel).

    O caso de Érico Francisco Pruner é exemplar dessa iniciativa. Ele, que foi vereador e presidente da Câmara de Foz do Iguaçu, naquele mesmo ano de 1945, à frente de um grupo de trabalhadores paraguaios, começou a abrir caminho na mata já fechada em direção ao Leste.

     O “Rancho dos Gaúchos”

    Supostamente ligado aos interesses ingleses já desmobilizados na região, Pruner partiu de Foz do Iguaçu com sua turma abrindo cerca de 50 quilômetros quando ao abrir a estrada encontrou a família Honeisser, que vinha de Carazinho (RS) aproveitando trechos viáveis.

    Os que chegavam decidiram aproveitar o novo caminho aberto para se fixar em um trecho da estrada com a intenção de abrir uma serraria.

    O acampamento em que a família de migrantes que chegava e a turma de trabalho liderada por Pruner ficaram juntos foi anotada nos croquis como “Rancho dos Gaúchos”. Estava iniciada mais uma cidade oestina – Gaúcha, que viria a ser oficializada como São Miguel do Iguaçu.

    Adiantando-se à retomada das obras da estrada Guarapuava–Foz do Iguaçu, a CER-1 se instalou em Cascavel, de onde marcharia para a etapa final, rumo à fronteira. Com essa obra anunciada e a presunção de que o Território do Iguaçu conseguiria a atenção necessária do governo federal, o Oeste paranaense se tornava foco das atenções dos interesses imobiliários gaúchos.

    É nesse quadro histórico que o colonizador Alberto Dalcanale passou a se interessar pela área da Fazenda Britânia, desde a II Guerra já fora dos planos ingleses para o Brasil.

    Barrow, Lockwood, Bell, Davis…

    A saga da formação de Toledo, Marechal Cândido Rondon e municípios derivados será também a crônica do fim das experiências coloniais inglesas no Oeste paranaense, que a guerra interrompeu e as exigências nacionalistas brasileiras inviabilizam em definitivo em 1945.

    A Fazenda Britânia pertencia à Companhia Madeireira del Alto Paraná, que se formou na Argentina com a finalidade específica de desenvolver seu projeto colonial e madeireiro no Paraná.

    Nas voltas que a história dá, quem abriu as portas para a empresa na região foi o coronel David Carneiro, pai do historiador do mesmo nome que viria a ser um encarniçado inimigo do Território Federal do Iguaçu.

    A Madeireira del Alto Paraná, que viria a resultar 40 anos depois no acrônimo “Maripá”, começou em 6 de agosto de 1906, em Buenos Aires, em reunião dos sócios Roberto Chemburn, Frederico Barrow, Harry Loveday, Nathan Wormser, Carlos Lumb (filho), Carlos Lockwood, Carlos Manifold, David Simson, Santiago Brian e Alfredo Gumpert.

    Na verdade, ação público-privada

    A finalidade da empresa, uma sociedade anônima, seria “adquirir e explorar, com todos os direitos e obrigações correspondentes, uma concessão de uma superfície de 250.000 hectares de terras florestais situadas no Estado do Paraná, na República dos Estados Unidos do Brasil, tendo sido concedida (…) pelo Governo do referido Estado a favor do Sr. Jorge Schimmelpfeng (…), e havendo o dito concessionário (…) transferido a referida concessão a favor dos Srs. Henry Bell e Walter G. Davis”.

    O coronel Jorge Schimmelpfeng, na época, havia deixado o cargo de vereador em Curitiba para dar início ao esforço do Estado pela colonização do Oeste, começando por abrir um posto de fiscalização na fronteira para combater o contrabando de madeiras.

    A companhia teria duração de 50 anos, com a intenção de pôr em prática projetos de criação e agricultura, além de “explorar, povoar, colonizar”, construir e explorar serrarias, negociar madeiras, explorar minas e recursos minerais – inclusive direitos sobre águas –, construir edifícios, formar fábricas, ferrovias, abrir estradas, explorar a navegação fluvial, criar represas, moinhos, fornos e instalações elétricas e hidráulicas.

    O passo seguinte se deu em 18 de julho de 1907, quando o presidente Affonso Pena concedeu por decreto autorização à empresa para atuar no Brasil.

    Menos pinheiros do que se imaginava

    Quando Alberto Dalcanale foi conhecer a área da Fazenda Britânia, bastou-lhe observar um pedaço da enorme área total de 274.846 hectares ou 2.748 Km, “coberta por intensa vegetação de mata latifoliada e de algumas manchas de pinheiros” (Valdir Gregory, Os eurobrasileiros e o espaço colonial).

    Mesmo supondo haver mais pinheirais na área do que havia, Alberto Dalcanale e Bernardo Zílio* eram experimentados avaliadores de novas frentes de colonização e chegaram à área da antiga propriedade inglesa em novembro de 1945.

    Eles vinham conhecer e vistoriar a gleba valendo-se do melhor – e único – meio de transporte existente na época para devassar a mata: o lombo de burro.

    Exaustos, mas entusiasmados com o que viram – uma imensa mata virgem cheia de riquezas – voltaram a Porto Alegre e no Natal de 1945 relataram ao sócio Alfredo Ruaro a vistoria na Fazenda Britânia como favorável aos interesses do grupo de empresários gaúchos, que por diferentes iniciativas se dedicavam à colonização e empreendimentos madeireiros.

    Viram que a região estava abandonada, já eram visíveis os sinais negativos do conflito entre os governos federal e paranaense mas perceberam facilmente a cereja do bolo: o que os ingleses já haviam tentado na região não era pouco nem desprezível.

    Em 40 anos de atividades, suas iniciativas avançavam de instalações portuárias e habitacionais até experimentos industriais e a construção de uma pioneira ferrovia.

    *A família Zílio já tentara a colonização da Santa Helena Velha, em 1921.

    Fonte: Fonte não encontrada

  • Jeca Silvério perde poder, mas o recupera nas urnas

    Jeca Silvério perde poder, mas o recupera nas urnas

    Com a deposição do presidente Getúlio Vargas em 29 de outubro de 1945 pelos próprios generais que o levaram a instituir a ditadura do Estado Novo, com ela acabava também a influência política do pioneiro Jeca Silvério, que desde 1930 sempre foi favorecido pelo getulismo.

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    Com o fim da ditadura, acaba também o governo interventorial de Manuel Ribas, em 3 de novembro de 1945. Assume o campo-larguense Clotário de Macedo Portugal (1881–1947), desembargador e presidente do Tribunal de Justiça do Paraná.

    Mas Cascavel não perdeu com isso, pela importância estratégica e geográfica afirmada desde a revolução de 1924. Quanto a Silvério, nem houve tempo para seus partidários lamentarem estar fora do esquema paranaense de poder desde 1930: nas primeiras eleições democráticas da história oestina, realizadas em 16 de novembro de 1947, ele se elegeu vereador pelo Município de Foz do Iguaçu.  

    Já o interventor Macedo Portugal ficou só três meses no governo paranaense, em período instável no qual emergiu a liderança de Moysés Lupion. O Paraná deixava de perder e conquistaria em breve o território perdido com a criação do Território Foz do Iguaçu.

    O Território do Iguaçu, por sua vez, recebeu seu segundo e último governador: o coronel Frederico Trotta, que não foi nomeado por Vargas, mas pelo general Eurico Gaspar Dutra.

    Boicote geral ao Iguaçu

    Depois de oito anos de ditadura, as asfixiadas lideranças paranistas decidiram não mais engolir caladas as imposições sofridas e a sua reação ao Território Federal do Iguaçu foi ressentida e agressiva.

    A tática era dificultar qualquer sucesso da gestão territorial, instalada na verdade mais no Rio de Janeiro e Curitiba que em Laranjeiras do Sul, a contestada capital dos TFI.

    “Redemocratizando o País, intensa campanha paranista pela volta do Iguaçu foi efetivada pela sociedade civil paranaense, com os seus intelectuais à frente, esclarecendo as populações tanto a nível interno do Paraná e do Iguaçu, como da Assembleia Nacional Constituinte, acerca da mutilação territorial sofrida, como das razões históricas, legais e administrativas da inconsistência geopolítica do Território. O Paraná todo se levantou, exigindo o restabelecimento da sua integridade territorial no Ocidente, que datava dos primórdios da sua ocupação” (Carlos Humberto Pederneiras Corrêa, A Descoberta do Oeste Catarinense).

    Para Cascavel, aliás, esses tempos confusos funcionaram como um fermento. A comunidade estava unida e acolhia os viajantes com o sedutor convite a permanecer na área com facilidades para se instalar, nas melhores terras devolutas e na sede distrital.

    A prioridade rodoviária

    Para o novo governo, melhorar estradas era essencial, especialmente no Oeste, sob gestão federal.

    Em novembro de 1945 o coronel José Rodrigues da Silva, gestor principal das obras da futura BR-277, deixou na chefia interina da CER-1 o tenente-coronel Sady Martins Viana e partiu para os Estados Unidos com a missão de gastar 2,5 milhões de cruzeiros em máquinas, veículos e acessórios para as obras rodoviárias do interior.

    “Foram adquiridos diretamente na América do Norte: cinco rolos compressores, dois grandes escavadoras, um trailer, um grande compressor de ar, 10 jeeps, 10 caminhões e um elevado número de peças para automóveis, caminhões e máquinas – o que constituiu uma boa compra, em se comparando com o preço, por que ela sairia se fosse feita através de intermediários, aqui no Brasil” (Oscar Ramos Pereira, Estradas Paranaenses Construídas pelo Exército).

    Krassuski, uma história de trabalho

    Com o maquinário adquirido nos EUA, Cascavel ganharia serviços, obras e empregaria parte da população já existente e em transferência para sua sede urbana, tanto no trabalho direto com a estrada como na prestação de serviços aos equipamentos e seus operadores.

    É o caso do motorista de caminhão Sebastião Alves Krassuski. Nascido em 7 de fevereiro de 1917 em Guarapuava veio para Cascavel em novembro de 1945, já om 28 anos, proveniente de Laranjeiras do Sul, então a capital do Território Federal do Iguaçu.

    Krassuski vinha para trabalhar na Comissão de Estradas de Rodagem que prosseguia as obras da rodovia federal, mas já conhecia bem Cascavel desde 1940, quando fazia o transporte de operários para trabalhar na construção do segundo aeroporto de Cascavel.

    O caminhão utilizado por Krassuski na época, segundo Antônio Coutinho, filho de José Coutinho, um dos operários, pertencia à companhia norte-americana de exploração petrolífera Standard Oil, da família Rockfeller, que perfurou dois poços de petróleo na região de Cascavel operando por meio da Companhia Geral Pan-Brasileira, ligada a Moysés Lupion.

    Krassuski de imediato se integrou ao espírito progressista dos cascavelenses e em 1949 foi um dos líderes da criação do Tuiuti Esporte Clube.

    “Avenida Frederico Trotta”

    A administração do Território Federal do Iguaçu, porém, não se beneficiou do entusiasmo cascavelense com a retomada das obras depois do fracasso de desviar dinheiro desta região ao Paraguai, para uma desastrada obra rodoviária resultante de uma geopolítica infantil.

    Se as autoridades do TFI tivessem sido mais competentes, a população não teria permitido que a unidade federativa se extinguisse tão facilmente nem haveria tantos hiatos na reativação do movimento emancipacionista pró-Estado do Iguaçu.

    O segundo governador sequer conhecia a região. Carioca, advogado, militar, político e apreciador de escolas de samba, logo ao chegar ele e familiares já eram nomes a ruas, avenidas e prédios públicos − a Avenida Brasil de Cascavel foi denominada “Avenida Frederico Trotta” entre a região do atual Terminal Rodoviário e a Rua Sete de Setembro.

    Os cascavelenses perguntavam quem seria esse tal de Frederico Trotta que virou o nome de sua rua principal.

    Seu governo, curto e instável, foi marcado pela controvérsia, principalmente porque Foz do Iguaçu se sentia ainda mais abandonada que em seus tempos de extremo-Oeste do Paraná. Nesse sentido, o curtíssimo governo Trotta foi uma sucessão de melindrosos antagonismos e um indesejável culto à personalidade do governador.

    “Dizem que roubou”

    O historiador David Carneiro (1905–1990) jamais engoliu o Território Federal. Filho do coronel e industrial ervateiro do mesmo nome, estudou no Colégio Militar do Rio de Janeiro e diplomou-se em Engenharia Civil pela Universidade do Paraná (atual UFPR), da qual também foi professor, depois de lecionar História e Economia em universidades dos Estados Unidos.

    Um dos mais respeitados pesquisadores da história do Paraná, David Carneiro em 1940 construiu em Curitiba um prédio em estilo barroco no qual reuniu mais de 5 mil peças em seu acervo.

    Logo que teve início o processo de redemocratização do país, David Carneiro abriu as baterias contra a administração do Território do Iguaçu, disposto a combatê-lo por todos os meios.

    O maior adversário do TFI, o historiador afirmava que o Iguaçu tinha muitos funcionários corruptos. Um deles teria chegado a lhe dizer, segundo depoimento de Carneiro:

    − Se tiver oportunidade eu roubo mesmo, porque no Brasil (sic) não vai se saber o que aconteceu, e minha família vai ter as vantagens do que eu puder ter levado para o bolso.

    “Dizem que ele roubou muito”, comentou a propósito o historiador paranista. Não se sabe de fato, porque nada foi apurado, mas era verdade que a burocracia do Rio de Janeiro considerava o Oeste do Paraná uma espécie de Sibéria, para onde iam civis e militares que não faziam parte dos esquemas de poder da República.

    Fonte: Fonte não encontrada

  • Coronel beneficia Cascavel, termina a Guerra e cai a ditadura

    Coronel beneficia Cascavel, termina a Guerra e cai a ditadura

    Em 22 de abril de 1945, o Exército Vermelho da URSS entra em Berlim, o coração do nazismo, e no fim desse mês o mundo recebe a notícia do suicídio de Hitler. A 7 de maio, a Alemanha apresenta sua rendição.

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    A II Guerra agora se resume a pressões sobre o Japão: Little Boy, a primeira bomba atômica, é jogada sobre Hiroshima na segunda-feira, 6 de agosto. Três dias depois, a segunda bomba, Fat Man, desaba sobre Nagasaki.

    A maior tragédia vivida pela humanidade em sua história resultou na paz, embora depois artificializada pela Guerra Fria, perversidade da divisão do mundo em dois blocos (EUA x URSS), que se toleravam mas levaram os governos dos países a ter seus próprios povos como o “inimigo interno”.

    Foi a mentalidade dominante de perseguir cidadãos com base em suspeitas sobre preferências de guerra que havia deixado a fronteira do Território Federal do Iguaçu em situação de miséria.

    Enquanto Foz do Iguaçu ainda lamentava a perda de seus colonos, expulsos devido às perseguições, as péssimas estradas carroçáveis a Foz do Iguaçu e Porto Mendes obrigavam os colonos que pretendiam seguir em direção à fronteira a permanecer em Cascavel.

    O mistério dos carros enguiçados

    Foi o que ocorreu com o adolescente Zilmar Beux, que em 1945 saiu de Lajes (SC) tendo a fronteira como objetivo. Gaúcho de Tapejara, Zilmar viajava com familiares para Foz do Iguaçu quando o caminhão usado para o transporte parou em Cascavel por apresentar problemas mecânicos.

    Carros enguiçados parando em Cascavel nos anos 1930 a 1950 são situações que aparecem em muitos relatos de pioneiros, dando origem a uma suspeita mais engraçada que real: Tio Jeca Silvério, o líder do lugar, mandava avariar ônibus e caminhões para que os viajantes pernoitassem na vila e fossem convencidos a ficar?

    Com Zilmar também aconteceu de pernoitar em Cascavel, gostar do lugar e de sua gente, decidir ficar e chamar os parentes para viver no local em que passou a dedicar sua vida ao trabalho mecânico com veículos: reparação, retífica e esportes.

    Liderou o desenvolvimento do automobilismo em Cascavel e a construção do Autódromo. Outros pioneiros que interromperam a trajetória rumo a Foz do Iguaçu e Porto Mendes apresentaram relatos de sucesso por desistir da fronteira ainda conturbada e permanecer em Cascavel.

    Estrada reabre frentes de trabalho

    Quem parou foi beneficiado pela necessidade da ditadura Vargas, já em pedaços, de compensar o erro cometido ao desviar recursos do Paraná e Santa Catarina para uma desastrada rodovia dentro do Paraguai.

    Em junho de 1945, o governo decidiu recompor a Comissão Construtora de Estradas de Rodagem nos Estados do Paraná e Santa Catarina com o decreto-lei (a medida provisória da época) com o nome de Comissão de Estradas de Rodagem nº1; ou, simplesmente CER-1.

    Não mencionando mais Paraná e SC no nome oficial, caberia à CER-1 promover melhoramentos na rodovia Ponta Grossa-Guarapuava e realizar estudos do trecho ainda crítico entre Guarapuava e Foz do Iguaçu.

    “A deficiência de recursos financeiros, a irregularidade na distribuição de verbas e a incerteza de sua liberação constituíram uma ingrata constante durante as atividades da CER-1, desde as suas origens” (DER/PR, histórico da BR-277).

    Para Cascavel, entretanto, a CER-1 foi seu Big Bang: com a indústria madeireira em ascensão encomendas sem fim de novas partidas de madeira e a necessidade de melhorar imediatamente o caminho até o porto de Foz do Iguaçu trouxeram para Cascavel em setembro 1945 a sábia decisão do coronel Adalberto Mendes da Silva de escolher o lugar para sede da 5ª Seção da CER-1.

    Aeroporto Coronel Adalberto Mendes

    A partir dessa iniciativa Cascavel se torna o embrião do polo regional que se tornou nos anos seguintes. Foi a gratidão de Cascavel para com esse militar que lhe valeu a homenagem de ser o nome do aeroporto local.

    Adalberto Mendes, homenageado ainda em vida com o nome do aeroporto pela gratidão da comunidade cascavelense, trouxe estrutura para a cidade, a começar franqueando aos civis as comunicações do Exército que serviam à população e deixando como legado a primeira pavimentação da Avenida Brasil, com poliedros irregulares.

    A CER-1 locou o eixo da Rodovia Estratégica atravessando o povoado de Cascavel, trazendo mais movimento de veículos e de viajantes. Os filhos de imigrantes que chegavam iam tomando posse de lotes rurais e trabalhando na construção da grande estrada.

    Era gente jovem chegando, cheios da energia dos produtos coloniais e com saúde de ferro, mas não estavam imunes às picadas de cobras e aos tiroteios nessa época em que todos andavam armados para se defender delas e das feras, sobretudo as onças, cuja caça era o grande troféu do imenso clube de tiro que era a vastidão dos pinhais.

    Prefeitura inoperante, gestão burocrática

    Pelas necessidades sociais que a população crescente apresentava, o coronel Adalberto Mendes da Silva decidiu atuar no vácuo da inoperante Prefeitura de Foz do Iguaçu, na época dirigida apenas no papel e sem nenhum poder pelo professor Acácio Pedroso.

    Sem poder administrar, Pedroso cuidava mais de sua casa comercial que do vasto Município colocado burocraticamente em suas mãos. Em 1947, como inspetor escolar, Pedroso se redimiu com a população de Cascavel, ao instalar o Grupo Escolar e Escola Reunida, que deu origem ao atual Colégio Eleodoro Ébano Pereira. 

    Foi para compensar a desatenção da praticamente falida Prefeitura de Foz do Iguaçu que o coronel Mendes montou a primeira estrutura de saúde de Cascavel, ao prover a CER-1 de uma equipe de seis enfermeiros destacados para prestar atendimento aos operários ao longo das obras.

    Foz do Iguaçu também precisava de um empurrão. Com o Exército fortalecido material e financeiramente pela participação no conflito mundial, o engenheiro militar e futuro general Luiz Carlos Pereira Tourinho (1914–1998), encarregado de construir as instalações do 1° Batalhão de Fronteira, repudiou a decisão do governo do Território Federal do Iguaçu de montar sua estrutura de gestão em Laranjeiras do Sul.

    Engenheiro militar defendeu Cascavel

    Tourinho insistia em que a capital do TFI fosse Foz do Iguaçu ou, alternativamente, no centro territorial. Contou em suas memórias que foi bater na porta da casa do interventor do Território, João Garcez, para tentar uma solução mais adequada:

    “Confessei não entender o motivo que o levara a mudar a capital, de Foz do Iguaçu para Laranjeiras. Podia ter aproveitado a confluência dos rios Paraná e Iguaçu. Projetaria a cidade no quadrante de círculo. Alegou que um golpe de mão da Argentina podia, de uma hora para outra, apoderar-se da capital do Território” (Luiz Carlos Pereira Tourinho, Toiro Passante IV, Tempos da República Getuliana).

    Tourinho continua seu relato:

    “Expus-lhe a magnífica situação de Cascavel, chapadão apropriado para ali assentar grande cidade, com possibilidade de obter água potável por gravidade. Bastaria, então, para povoar o Oeste com rapidez, construir as estradas Cascavel-Guaíra e Cascavel-Foz do Iguaçu. Manteve o mesmo ponto de vista. Não arredou um centímetro da decisão já tomada”.

    Com o fim da guerra e a derrota do nazifascismo, o regime ditatorial imposto ao Brasil se esgotava irremediavelmente e Garcez foi jogado no esquecimento.

    Os generais Goes Monteiro e Gaspar Dutra (os mesmos fiadores do golpe fascista de 1937) sitiaram o palácio do governo em 29 de outubro de 1945 e forçaram o ditador Getúlio Vargas a se afastar do poder.

    Com o fim da ditadura, a economia do Paraná deslanchou e o ciclo café-madeira deu força ao interior – inicialmente ao Norte, que já era paranaense, e em seguida ao Oeste e Sudeste, que em no ano seguinte voltariam a pertencer ao Paraná.

    Fonte: Fonte não encontrada

  • Foz do Iguaçu sofre, Cascavel cresce

    Foz do Iguaçu sofre, Cascavel cresce

    1945, o ano em que a II Guerra terminou, foi, para Foz do Iguaçu, um tempo de penúria e escassez, não só resultante da expulsão dos colonos de origem italiana e alemã por conta da paranoia da ditadura com a suposta influência dos simpatizantes argentinos do nazifascismo sobre colonos descendentes de imigrantes, mas também em consequência de ataques de gafanhotos.

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    Quem estava na cidade de Foz do Iguaçu e tinha dinheiro se abastecia nos navios que traziam mercadorias da Argentina, mas eram sobretudo mercadorias enlatadas ou em potes e garrafas.

    Verduras não havia nas terras desprovidas de colonos e os paióis de cereais se esvaziaram logo que eles se retiraram para Cascavel, Guarapuava, Sul do Paraná, Curitiba e Santa Catarina.

    Quem chegava a Foz do Iguaçu para visitar parentes ou ocupar terras no interior se decepcionava.

    Dois anos depois da criação, o Território Federal do Iguaçu estava em frangalhos, triplamente afetado pelas difíceis condições da época: a desestruturação da economia colonial da fronteira pela perseguição aos imigrantes, o afastamento da gestão paranaense de ações na região, cujos projetos de colonização só continuaram a se desenvolver e região Norte do Paraná, e o esgotamento da ditadura, que se esfarelou ao longo de 1945.

    Tudo vira comida

    Raimundo dos Santos Leal transportava periodicamente alimentos de Guarapuava para Foz do Iguaçu e ainda no curso da II Guerra encontrou fome e abandono na fronteira durante a vigência do Território Federal do Iguaçu.

    Levando as provisões em cargueiros*, duas mulas carregadas com bruacas, ao chegar à fronteira vendia tudo que levava. Em certa ocasião impressionou-se quando até as bruacas, grandes sacolas de couro cru de boi usadas para o transporte, foram compradas e de imediato assadas para consumo imediato como se fossem saborosas iguarias.

    Estruturando-se lentamente, primeiro pela ineficiência administrativa da ditadura mas também pela dificuldade para encontrar gente disposta a ir para um lugar desconhecido e potencialmente perigoso para o gosto refinado da burocracia do Distrito Federal, só em 9 de março de 1945 o Território Federal do Iguaçu conseguiu instalar seu Poder Judiciário.

    *Cargueiros: muares levando malas e bruacas nos lombos.

    Entusiasmo passageiro

    No discurso de posse, o juiz Joel Quaresma de Moura chegou a entusiasmar a assistência, tentando convencer a si mesmo com o discurso padrão da época, de era louvar o governo federal na suposição “mágica” de que as afirmações positivas automaticamente transformam as realidades adversas:

    “Aproveitando este momento, não queria deixar passá-lo sem louvar de público o ato do Governo Federal, sábio, honesto, criterioso e bem orientado que criou as novas Unidades Federadas, porque este ato é o início, o marco da melhor participação administrativa do Território Nacional, cujos efeitos benéficos e duradouros não tardarão a aparecer, consubstanciando a velha aspiração de sábios geógrafos, economistas, sociólogos e geólogos pátrios, além de sua alta significação de bandeirantismo e progresso que representa para o nosso, até a pouco abandonado ou esquecido sertão, fontes de todos os nossos bens e de todos os nossos males, força latente de pujança, casa forte, cuja porta só agora se cuidou de abrir para assombrar-nos com o seu potencial de riquezas e capacidade produtiva, cujo efeito estávamos tão longe de imaginar”.

    Estrada ruim, carroça proibida

    Logo que pôde, Quaresma também abandonou Foz do Iguaçu. Foi para o Norte do Paraná, pulando em seguida para o Norte do país e lá sendo cassado, arrastado pelos expurgos de outra ditadura.

    Em Rondônia, sua empolgação de 1945 passou por uma espécie de autocrítica: a criação dos territórios federais “foi uma solução de emergência, solução provisória (…) àquele tempo não mais do que uma experiência e um ensaio destinado a promover a efetiva integração nacional de regiões afastadas e longínquas, sem lei nem administração” (citado por José Júlio Guimarães Lima, O Ministério Público e a realidade dos Territórios Federais).

    Ao contrário, deu-se bem quem parava em Cascavel, detido pelos convites gentis de Jeca Silvério para não continuar até a fronteira por conta de estradas ruins ou restritas.

    Até Foz do Iguaçu as carroças foram proibidas pela necessidade da passagem dos caminhões carregados de madeira para exportar com destino à reconstrução da Europa.

    Até Porto Mendes havia diversos caminhos de origem indígena, mas intransitáveis para carroças e difíceis até para a passagem dos cargueiros.

    Luiz Sganzerla, por exemplo, partiu de Viadutos (RS) em março de 1945 com uma caravana com destino a Santa Helena, formada por três carroças puxadas por bois. Depois de 41 dias de viagem, acampando em um pequeno povoado, foram informados de que não havia estrada a Santa Helena.

    “Pela dificuldade de fazer esse trajeto de navio, Luiz Sganzerla e as outras três famílias decidiram ficar aí mesmo. Essa localidade se chamava Encruzilhada. Mais tarde o nome mudou para Aparecida dos Portos e, finalmente, Cascavel” (Rolvi Martini, histórico da família Sganzerla).

    Foi, mas voltou

    João Miotto, nascido em Nova Prata (RS), até conseguiu chegar a Santa Helena, mas lá percebeu que não poderia permanecer e decidiu retornar a Cascavel, onde foi bem recebido em sua primeira passagem.

    A decisão de Miotto foi favorecida por um dos últimos atos da ditadura para corrigir o desastre de desviar recursos do Paraná e Santa Catarina para a fracassada aventura de construir uma estrada no Paraguai.

    O decreto-lei 7.362, datado de 8 de março de 1945, abria ao Ministério da Viação e Obras Públicas crédito especial de Cr$ 10 milhões para prosseguimento da rodovia Ponta Grossa-Foz do Iguaçu.

    João Miotto foi trabalhar na obra, fazendo parte da equipe que derrubava as árvores para a abertura de novos trechos da estrada, entre Céu Azul e Matelândia.

    Italianos, campeões em associativismo

    Em abril, quem chegava a Cascavel era Carlos Cancelli. Nascido em Guaporé (RS) em 1897, vinha já na plena maturidade. Hospedou-se no Hotel Pompeu Reis e decidiu apostar no desenvolvimento da cidade, adquirindo lotes rurais que transformou no bem-sucedido loteamento Vila Cancelli.

    Os filhos de italianos impedidos de chegar ao destino sonhado logo trataram de se organizar, de ardo com a tradição do filó, prática dos imigrantes que deu força às comunidades nas quais se enraizavam.

    Ao lado das demais forças da nascente sociedade cascavelense, os filhos de italianos participaram da criação do Tuiuti Esporte Clube, da luta pela criação do Município, apoiando e fortalecendo a Associação Rural de Cascavel.

    Foi na ARC que a extensão rural se estruturou e se construiu o projeto cooperativista, durante décadas bombardeado como “coisa de comunista” pelos atravessadores que exploravam os agricultores.

    Devido aos trabalhos da Associação Rural, Cascavel chegou a ser o único Município a contar com duas cooperativas no início do ciclo da soja: a Copacol, no distrito de Cafelândia, e a Coopavel, na sede.

    Fonte: Fonte não encontrada

  • Sonho do coronel, pesadelo dos imigrantes

    Sonho do coronel, pesadelo dos imigrantes

    Foz do Iguaçu foi idealizada como Colônia Militar desde a descoberta de diamantes no centro do atual Paraná, no século XVII.

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    A ordem partiu do Conde de Oeiras (futuro Marquês de Pombal), que determinou em 1765 ao governador paulista, o Morgado de Mateus, a fundação de um estabelecimento militar na fronteira com o Paraguai.

    Os assuntos de governo já não costumavam ser rápidos naquela época e só um século depois começaram os estudos concretos em torno da fundação de Foz do Iguaçu.

    Criada finalmente em 1889, a Colônia Militar fracassou no início do século XX por ineficiência, corrupção e contrabando, levando a União a entregar a área ao governo do Paraná, que em 1914 criou o Município de Foz do Iguaçu.

    O prefeito designado, coronel Jorge Schimmelpfeng (1876−1929), descendente de alemães, tinha grandes projetos para a região. Em 1907, representando capitais ingleses, iniciou a formação da Fazenda Britânia, que futuramente resultaria na bem-sucedida colonização da Companhia Maripá (origem de Toledo, Marechal Cândido Rondon e municípios derivados).

    Em 1922, na até então desprezada Encruzilhada dos Gomes, ele projetava uma futura “grande cidade”.

    De onde vinha o dinheiro

    Para tirar a Vila Iguaçu, como era chamada, de sua situação de abandono e falta de perspectivas, o coronel Jorge jogou com todas as armas de que dispunha.

    Jorge era habituado à luta. Militar, sempre envolvido em disputas (chegou a ser expulso da Academia Militar em 1895), destacou-se como vereador em Curitiba no início do século XX por seu empenho na atividade política.

    Foi nessa atividade, também conflituosa, que recebeu a missão de fazer a transição da Colônia Militar para um Município paranaense.

    Seguiu para a fronteira e investiu de todas as formas, como em 6 de abril de 1905, ao comprar 250 mil hectares de terras devolutas que viriam dois anos depois a constituir a Fazenda Britânia.

    Em tempos de penúria, na I Guerra, o coronel Jorge assumiu a Prefeitura sem nada e de saída mandou construir uma Prefeitura com dois andares, em alvenaria, em imóvel pessoal e com seu dinheiro, mas também avisou aos ricos sonegadores que a partir de agora teriam que pagar os impostos.

    Da vila abandonada à cidade iluminada

    “A cidade, construída em terreno bastante acidentado, a cavaleiro do rio Paraná tem suas ruas niveladas, e algumas arborizadas, e é iluminada a luz elétrica”, surpreendeu-se Jayme Ballão (A Foz do Iguaçu e as Cataratas, 1921).

    Para Foz do Iguaçu progredir, Jorge Schimmelpfeng fazia coisas inacreditáveis. Ia para a Argentina e Paraguai e tentava convencer famílias empreendedoras a se mudar para o Brasil.

    E não apenas isso, mas também caluniava outras regiões, para as quais pretendiam seguir os atraídos por ele que não foram bem-sucedidos aqui logo de início.

    Para Schimmelpfeng, o Mato Grosso era “terra de bandidos” e voltar ao Sul seria uma demonstração de fracasso e vergonha (Alceu A. Sperança, Quem Manda no Paraná Livro 2: A Era Camargo–Munhoz).

    Até a estrada para Catanduvas, então intransitável na época em que Cascavel nem existia, ele reparou com seu próprio dinheiro, apoiado pelos cidadãos com mais posses.

    Desde a origem, muito sofrimento

    Schimmelpfeng morreu em 1929 e não viu a emergência da ditadura do Estado Novo nem a criação do Território Federal do Iguaçu, período em que Foz do Iguaçu viveu enormes dificuldades e os imigrantes e seus filhos passaram dias de horror.

    No livro Filha de Imigrantes, a professora Elizabeth [Nieuwenhoff] Neumann recorda o que a família passou, instalada às margens do Rio Carimã, próximo ao local onde hoje se encontra o hotel do mesmo nome, no caminho das Cataratas do Iguaçu.

    Os holandeses Nieuwenhoff chegaram à região em 1928, quando o coronel Jorge ainda era vivo, acompanhando um grupo de 29 famílias que se arrastaram em demorada caravana vinda de Cruz Machado, no Sul do Paraná, também origem das famílias Gurgacz e Wypych.

    Antes de chegar a Cruz Machado já haviam sofrido maus bocados. Uma viagem de navio sem recursos, nenhuma assistência de saúde nem preparação para a vinda ao Paraná. “Pegaram piolhos, bichos-de-pé e outras pragas que não conheciam”.

    Produzir alimentos, vocação e destino

    Chegar a Foz do Iguaçu e ser bem recebidos foi o melhor que aconteceu a eles desde que, sofrendo uma realidade de desemprego e pobreza, saíram da Europa seduzidos pela propaganda das maravilhas da América.

    “Foz do Iguaçu precisava de alimentos, por isso, os colonos foram bem-vindos, mas o que mais preocupava era a malária, uma doença grave e com poucos recursos para tratamento na época”.

    Instalados na região das vilas Yolanda e Carimã, eles participaram da criação da primeira cooperativa do Oeste, em 1932, da qual um dos fundadores foi Manoel Ludgero Pompeu, que depois viria se tornar subprefeito de Cascavel, substituindo o iniciador da cidade, Jeca Silvério.

    A Sociedade Cooperativista Agrícola Ltda, que eles chamavam de “Bauerferein” (Associação Rural) surgiu pelo esforço dos imigrantes e seus filhos.

    A entidade contribuiu ativamente para a prosperidade da população da fronteira até que as agressões nazistas na Europa resultaram na II Guerra Mundial, que por medo à Argentina pró-nazismo resultaram aqui, embora longe do conflito, em perseguição insana aos colonos de origem estrangeira.

    “Naquela época nosso contato maior era com a Argentina. As comunicações e o comércio com cidades brasileiras, quase impossíveis, em virtude das estradas intransitáveis, tornava Porto Aguirre, hoje Puerto Iguazú, o local para suprir nossas necessidades de mantimentos de compra e venda de produtos agrícolas” (Elizabeth Neumann).

    Ida triste, retorno feliz

    A informação era recebida por meio de um jornal impresso em alemão que eles compravam na Argentina. O pai de Elizabeth, Martin Nieuwenhoff, foi preso pelo “crime” de ler esse jornal e as famílias de imigrantes acabaram expulsas pela ditadura só por não saber falar corretamente o idioma português.

    Escorraçado, tendo que deixar tudo para trás, Martin seguiu para Guarapuava, chegando um mês depois com a família em sua carroça, pois ainda não dispunha de veículo motorizado para o transporte.

    Só depois da vitória dos Aliados na II Guerra e o fim da ditadura a família Nieuwenhoff conseguiu voltar para a fronteira, agora em condições melhores, na carroceria de um caminhão.

    Encontraram uma cidade em dificuldades, sofrendo fome e desabastecimento, mas ao retornar se integraram de imediato ao trabalho de legar dinamismo econômico, organização comunitária e um futuro melhor à região escolhida. Era o que Foz do Iguaçu, cidade organizada por um filho de imigrantes, mais precisava.

    Fonte: Fonte não encontrada

  • O final da II Guerra e a Companhia Melhoramentos

    O final da II Guerra e a Companhia Melhoramentos

    Embora distante do teatro de operações, o Oeste do Paraná sofreu influências indiretas da II Guerra Mundial. Tais influências também se deram porque a Argentina de Perón era mais simpatizante e ligada ao nazismo que o núcleo duro estado-novista de Getúlio Vargas, mais próxima do fascismo italiano.

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    O alcance maior das consequências históricas veio do fato de que, sendo tempos restritivos de guerra, a Inglaterra buscava repatriar seus capitais. Além das urgências internas na Europa, os proprietários estrangeiros sentiam o crescimento do nacionalismo getulista e crescentes restrições para manter a posse de grandes latifúndios no Brasil.

    Foi com esse pano de fundo derivado da guerra que a companhia inglesa Paraná Plantations Limited, no Brasil representada pela Companhia de Terras Norte do Paraná, foi vendida em 1944 a um grupo de capitalistas de São Paulo.

    Surge então no cenário paranaense a Companhia Melhoramentos Norte do Paraná. Idealizadas pela companhia inglesa e completadas pela paulista, surgem e progridem cidades como Londrina, Cambé, Arapongas, Mandaguari, Apucarana e Jandaia do Sul.

    No Norte, colonização acelerada

    A rigor, o empreendimento permanecia o mesmo da iniciativa britânica. “(…) ainda em 1944, fundou-se Maringá e prosseguiram as vendas das glebas Ivaí e Cruzeiro, que hoje têm por cidades principais Cianorte e Umuarama, respectivamente, no Norte Novíssimo” (Ana Yara Dania Paulino Lopes, Pioneiros do capital: a colonização do Norte novo do Paraná).

    “De Maringá, a expansão partiu em direção ao noroeste, sobre a área arenosa entre os rios Paraná, Paranapanema e Ivaí. E, ainda, rumo ao sudoeste, para Cianorte, ao longo da ferrovia, até Cruzeiro do Oeste e Guaíra” (Noel Nascimento, A Revolução do Brasil).

    De onde a paulista Melhoramentos parou, logo partiriam as ações dos gaúchos da colonizadora Maripá.

    É de notar que a Companhia Melhoramentos estava fora do Território Federal do Iguaçu. Tinha motor paulista e incentivo paranaense. O Oeste paranaense, sem o primeiro e fora da gestão paranaense, trocada por centenas de burocratas trazidos de fora pelos chefes federais, sofrerá imposições que por não ter base popular não conseguirão perdurar.

    Um governador desconhecido

    Em 1944, por decisão do Território, a atual Avenida Brasil tinha dois nomes em diferentes trechos de seu percurso.

    A partir do antigo aeroporto, na região do atual Terminal Rodoviário Helenise Pereira Tolentino, o trecho foi redefinido pelas autoridades do Iguaçu como “Rua Frederico Trotta” até a Rua Moysés Lupion (atualmente Rua Sete de Setembro). A partir daí, na direção do bairro São Cristóvão, sua denominação passava a ser Avenida Iguaçu. Em suma, não havia uma Avenida Brasil.

    O Território do Iguaçu se caracterizou por erros de formação, ineficiência frente às demandas e carências da área e imposições descabidas, como o culto à personalidade do governador Trotta, que a população regional sequer chegou a conhecer e só permaneceu em Laranjeiras do Sul por breve período.

    No entanto, as falhas de gestão – dentre as quais a concentração de seus chefes em escritórios especiais no Distrito Federal (RJ) e em Curitiba – tiveram inimigos poderosos.

    Os principais foram os governos do Paraná e de Santa Catarina, inconformados com a perda de áreas a Oeste. Além disso, o corte brusco às ações de colonização do Paraná foi seguido de uma atração de colonos sulistas sem planejamento e à intensificação das disputas judiciais entre Estado, União e empresas colonizadoras.

    *Frederico Trotta foi um coronel designado pelo ditador Getúlio Vargas para ser o governador do Território do Iguaçu.

    As armas de cada um

    Em tempo de guerra, conflitos pela posse da terra e armas na cintura para se defender das feras das matas, os colonos entravam com suas foices, o Estado com sua polícia e a União nem sempre podia contar com os militares. Oficiais e soldados rebeldes ou inconvenientes eram remanejados para Foz do Iguaçu como se esta fosse uma espécie de “Sibéria” brasileira.

    Com o fim do segredo sobre os documentos da fronteira ficou ainda mais saliente a disputa existente entre o comando do 1.º Batalhão de Fronteira e os prefeitos nomeados pela ditadura.

    Por sua vez, as colonizadoras contavam com os préstimos dos famigerados jagunços, como eram chamadas as pessoas que portavam armas ostensivamente fora das tropas regulares e forças policiais. Para as empresas, eles eram seu corpo de segurança para se defender da revolta dos posseiros.

    Para piorar o caos, havia a decadência da ditadura, que se esfarelava na ineficiência da gestão e incompetência na administração dos recursos, como na frustrada rodovia bancada pelo Brasil entre Assunção e a fronteira.

    Completava o caos a queda brusca na produção agrícola. Como já havia sido registrado pelos colonos de Guarapuava em 1909, em 1944 o interior sofreu com uma nova praga de gafanhotos (Valdenir Gonçalves, Saga e Colendas, História de São João do Oeste).

    Pracinhas vão à guerra

    Na reta final da II Guerra Mundial, depois de muita pressão popular, em 2 de julho de 1944 o primeiro contingente de pracinhas da Força Expedicionária Brasileira (FEB) partiu do Rio de Janeiro rumo à Itália.

    Até instantes antes da partida eles estavam convictos de que iriam lutar na África. Só embarcados souberam que seu destino era a Itália, onde os primeiros soldados brasileiros aportam em 16 de julho.

    O batismo de fogo da FEB se dá em Vada-Ospedaletto, dois meses depois. Todo o contingente brasileiro mobilizado na guerra somou 25 mil soldados.

    Ainda sob o estímulo do incentivo dado aos posseiros no interior do Paraná, no interior do futuro Município de Cascavel, sem se importar que a que a área agora fazia parte do Território Federal do Iguaçu, chegava para se fixar na região da atual São Salvador, a Sudeste da atual cidade de Cascavel, a família do catarinense Domingos Manoel dos Santos, o Dominguinhos.

    Nascido em Rio do Sul (SC), onde as oportunidades se estreitavam, Dominguinhos e a carroça da família se deslocaram até Guarapuava, de onde partiram para o Oeste até encontrar uma área de mato fechado na qual estabeleceram a posse.

    Carroça trocada por milho

    Os colonos que tentavam se estabelecer na região do antigo Território federal não tinham apoio para nada, apenas a promessa do governo do Paraná de que poderiam se apossar de terras desocupadas no interior.

    Em São Salvador, chegando sem nada, a família de Dominguinhos se viu na necessidade de trocar a carroça por uma roça de milho. “Sobrevivíamos de carne de caça” (Revista SindiRural, ed. 43).

    Contornando os terríveis gafanhotos, era preciso repor o milho e espalhar roças de mandioca e feijão, lançando as bases da pecuária, de modo particular a suinocultura, paralela ao milho.

    A guerra, de fato, estava muito longe, mas alguns efeitos perniciosos da crise que causou chegavam até ao isolado interior em 1945, o ano em que a II Guerra Mundial iria acabar e o Território Federal do Iguaçu tentava finalmente começar a ser uma região autônoma.

    Fonte: Fonte não encontrada

  • Dinheiro desviado da infraestrutura paranaense

    Dinheiro desviado da infraestrutura paranaense

    Com os estados do Paraná e de Santa Catarina desmoralizados pela perda de suas porções a Oeste para a formação do Território Federal do Iguaçu, a ditadura do Estado Novo decidiu se imiscuir no Paraguai, que tinha como grande projeto a construção de uma boa rodovia entre a capital, Assunção, e a fronteira com o Brasil.

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    Com a construção da atual BR-277 ainda em pleno andamento, Getúlio Vargas atendeu a um pedido do embaixador Negrão de Lima e chamou ao Palácio do Catete, sede do governo brasileiro, no Rio de Janeiro, o chefe das obras, coronel José Rodrigues da Silva.

    Vargas disse a Rodrigues que o sucessor do marechal José Félix Estigarribia (1888–1940) à frente do governo paraguaio, o futuro ditador colorado Higinio Morínigo Martínez (1897–1985), pretendia construir uma ligação rodoviária entre Assunção e Foz do Iguaçu.

    O presidente brasileiro pretendia impedir que a Argentina controlasse o Paraguai. Supunha que se o nazismo vencesse, a Argentina, pró-Hitler, iria ter apoio para também conta do Brasil. Mapas foram forjados para simular uma grande Argentina que também incluía o Paraguai e o Brasil.

    Vantagens sob nenhum aspecto

    Negrão de Lima sustentava e Vargas se convenceu disso, que além de importante para o desenvolvimento do Paraguai, a obra seria uma homenagem ao marechal Estigarribia, que sonhava com o acesso dos produtos paraguaios ao Atlântico, mas morreu em acidente aéreo, em 7 de setembro de 1940, antes de iniciar ações concretas nesse sentido.

    Mandado a estudar a obra no Paraguai, o coronel José Rodrigues da Silva a considerou a obra um mau negócio para o Brasil, mas estava sob ordens, obedeceu à determinação e deu o melhor de si para que o Paraguai tivesse a rodovia necessária para chegar no futuro ao Oceano Atlântico por meio da BR-35 (futura BR-277).

    No entanto, Rodrigues, em antológico relatório secreto datado de novembro de 1944, escrito com pormenores e recursos de hábil escritor, sustenta que o Brasil não teria vantagens econômicas bancando a estrada – quem teria vantagem seria a Argentina, que absorvia 66% da produção paraguaia.

    Também não teria vantagens militares, motivo pelo qual Estado Maior do Exército brasileiro era contra construir a dita estrada. A única vantagem seria espionar a região da fronteira com autorização do próprio governo paraguaio. “Só esses conhecimentos justificariam as despesas”, supunha o coronel Rodrigues.

    A origem do dinheiro

    No livro “Rodovias Paranaenses construídas pelo Exército”, o major Oscar Ramos Pereira relatou o rumo dos acontecimentos:

     “Entabolados os entendimentos com o general Morínigo, por intermédio do coronel José Rodrigues, para saber ao certo com que recursos entraria o Paraguai, ficou combinado que seriam feitos, em primeiro lugar, os trabalhos de campo (reconhecimento e exploração) entre Foz e Coronel Oviedo”.

    Foi então organizada uma turma de exploração para os serviços, composta pelo capitão de corveta paraguaio Marcos González e pelo tenente-coronel brasileiro Othon Fragoso, que em 1945 seria substituído pelo tenente-coronel Hugo de Castro.

    As despesas foram custeadas só com os recursos brasileiros, desviados da Comissão Paraná−Santa Catarina. Nos dois estados, perguntava-se porque a Comissão passava a servir ao Paraguai.

    Seria justo que recursos necessários para a infraestrutura paranaense e catarinense fossem despejados no país vizinho se nem o Exército considerava a obra realmente útil para o Brasil?

    Faltaram 70 quilômetros

    Rodrigues, sob as ordens expressas de Vargas, ainda em 1944 levou ao Paraguai uma turma de topografia da CER-l, com todo o equipamento necessário e comandou com a máxima rapidez os trabalhos de campo (reconhecimento e exploração) entre Foz do Iguaçu e a localidade paraguaia de Coronel Oviedo, de onde já havia ligação com a capital paraguaia.

    Em meados de 1944 já estavam concluídos os estudos do terreno e começou a se desenhar o traçado entre Assunção e Foz do Iguaçu. Passaria por Caaguazú, seguindo até o Porto Presidente Franco, com extensão encurtada para 135 quilômetros.

    As obras começaram em fevereiro de 1945, mas depois desse início competente da Engenharia Militar brasileira, a estratégia montada pela ditadura desabou como um castelo de cartas quando os trabalhos foram paralisados por falta de recursos financeiros, em dezembro daquele ano, ainda a 70 quilômetros do Rio Paraná.

    24 anos de atraso

    Enquanto os recursos e pessoal técnico eram desviados ao Paraguai, o Território Federal do Iguaçu sofria com o cipoal de dificuldades para sua implantação: as obras necessárias tinham a projeção de recursos, mas iam para as gavetas do poder, sem chegar às cidades para a execução.

    Em plena ditadura, o que menos interessava era respeitar leis e aguardar que a Justiça decidisse validades e competências. A pressa, a vontade do ditador, a propaganda em torno da Marcha para o Oeste e a busca pelo progresso justificavam qualquer desvio de finalidades.

    Com isso, recursos destinados ao Paraná e Santa Catarina foram desviados para o Paraguai sem o retorno esperado. Arrastando-se ao longo do tempo, a BR-277 somente foi concluída em 1968, 24 anos depois que o ditador Vargas prometeu na ponte do Tibagi que iria liberar os recursos necessários para concluir a obra, então estimados em 90 milhões de cruzeiros. Apenas cinco milhões foram de fato liberados.

    Enquanto esse desastre se consumava, a roda da história continuava se movendo. Historicamente obrigadas a explorar só a erva-mate, mas descaradamente tirando madeira, cuja exportação disparou após a destruição causada pela II Guerra, as obrages estabelecidas no Rio Paraná se recusavam a cumprir as leis brasileiras.

    A até então poderosa Companhia Matte Laranjeira sofreu encampação ainda em 1944 pelo Serviço de Navegação da Bacia do Prata.

    Mundo em mudanças

    Na Europa, o 6 de junho de 1944 será para sempre lembrado como o Dia D: os Aliados desembarcavam na Normandia (França), então ocupada pelos nazistas.

    Um mês depois, em 7 de julho, a Conferência de Bretton Woods é uma espécie de declaração de posse do planeta por parte dos EUA: determina-se ali como será a ordem financeira mundial no pós-guerra, pautada pelo Banco Mundial e pelo FMI.

    A guerra se encaminha ao final, com vitórias incessantes dos Aliados sobre as forças do Eixo, já empurradas para uma desalentada defensiva. Em paralelo, no Brasil, a mobilização pela democracia se intensificava.

    Os impactos desses acontecimentos no Paraná serão decisivos: o capitalismo avançará vitorioso por todo o interior e a geopolítica frustrada na aventura rodoviária paraguaia será compensada futuramente pela Ponte da Amizade e Itaipu.

    Em 26 de janeiro de 1945, o I Congresso Brasileiro de Escritores, no Rio de Janeiro, reclamou eleições diretas para presidente. Em todo o mundo, a vitória sobre o nazifascismo estimulava os povos a derrubar governos autoritários que simpatizavam com as ideias derrotadas no conflito.

    Getúlio Vargas não tinha mais como resistir. Em 28 de fevereiro um “Ato Adicional” reinstituiu as eleições para presidente e governadores, além de convocar uma Assembleia Nacional Constituinte. Negociava a entrega do poder para não sofrer uma revolução. 

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